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Tradutor: Asu | Editor: Asu

Odin, o rei dos deuses, guarda muito segredos.

A localização do Poço de Mimir, o qual é dito existir em uma das raízes de Yggdrasil, é um desses segredos.

As três irmãs que deram à Odin a capacidade de ver o futuro também são uma projeção de Mimir. Sua localização é desconhecida.

O pai dos deuses não estava só. Junto dele havia mais outra pessoa fitando a cabeça de Mimir.

“Pai.”

O deus do trovão, tido como o mais forte dentre todos os guerreiros, estava ali parado, sua postura orgulhosa. Enquanto Odin e Mimir conversavam silenciosamente, Thor chamou a atenção de seu pai, como se não suportasse mais esperar.

Mesmo que ele estivesse feliz que seu pai tenha revelado um de seus muitos segredos, a espera lhe era insuportável.

Odin assentiu para Thor.

“Então ela foi desbastada.”

Odin se levantou. Quando curvado ele se parecia com um homem velho, mas com a postura ereta ele possuía a dignidade do rei dos deuses.

Passando a mão pelos cabelos cinzentos e tocando o tecido que encobria um de seus olhos, ele se aproximou da cabeça de Mimir. Na mão direita de Odin estava o fragmento da alma de Garmr.

“O que eles estão procurando certamente é Fenrir, não é?”

“Provavelmente. Como você sabe, Garmr é um demônio incrivelmente forte. Entretanto, eu não acho que eles estejam fazendo isso apenas por causa dele”, disse Mimir, fechando os olhos. Odin se convenceu, mas Thor era outra história. Seu olhar transitou entre Odin e a cabeça de Mimir.

“Qual é a relação entre o fragmento da alma de Garmr e a ressurreição de Fenrir?”, ele perguntou, como se não tivesse certeza.

Thor fez sua pergunta para Mimir, mas parecia querer indagar Odin, já que seus olhos estavam fixos nele.

“A coisa que irá acordar o morador do poço de seu longo sono será o rugido do guardião do submundo Garmr. Ele é uma das chaves do despertar de Fenrir”, a cabeça de Mimir respondeu.

O mesmo ocorreu durante a Grande Guerra. As correntes que prendiam Fenrir, feitas a partir de coisas que não existem no mundo, foram despedaçadas pelo rugido de Garmr.

“Thor, destrua-o.”

Odin estendeu a mão que segurava o fragmento da alma de Garmr. Thor, que acabara de descobrir sua importância, piscou como se estivesse surpreso.

“Pai?”

“Essa é a melhor forma de impedir a ressurreição de Garmr. Nós não precisamos dele, tampouco de Fenrir”, disse Odin. Embora o inimigo estivesse coletando os fragmentos de alma, essa era uma coisa que Asgard não necessitava. Destruí-lo e impedir que eles fizessem qualquer coisa com ele era o método mais simples e efetivo.

Thor eventualmente assentiu, colocando o fragmento apoiado entre algumas raízes e então erguendo Mjölnir. Ele começou a acumular o poder dos relâmpagos e então o rugido de Garmr e o reverberar dos trovões soou simultaneamente.

O trovão eclipsou o rugido de Garmr. Eles puderam sentir que até Nidhogg ficou surpreso por conta do som estridente.

O fragmento da alma de Garmr, que acabou virando pó, foi espalhada pelo vento sobre a fonte de Mimir. Tudo o que agora restava neste lugar eram ambos os deuses e a cabeça de um gigante.

Thor guardou Mjölnir e então se virou para fitar Odin e a cabeça de Mimir, como se estivesse perguntando se aquilo era o bastante. Mimir foi o primeiro a falar.

“A coisa que os gigantes precisam é do rugido do guardião do submundo Garmr, capaz de acordar o lobo. Eles não necessitam da forma completa de Garmr. Se eles conseguirem recolher alguns fragmentos, eles poderão alcançar esse objetivo.”

“Também há alguém dentre eles que consegue usar Saga.”

Com a força de uma Saga poderosa, eles conseguiriam recriar o rugido de Garmr com apenas alguns fragmentos.

Esse alguém era Loki, o traidor de Asgard.

Thor pensou no nome do rei gigante, que um dia fora seu irmão e melhor amigo, rangendo os dentes para suprimir o pesar e a dor.

Odin sentou-se novamente e disse:

“O rei mago Utgard Loki é astuto. Embora você possa acreditar que a sorte está do nosso lado, eu sinto que os planos dele foram revelados cedo demais.”

“Você está querendo dizer que tudo isso é uma armadilha?”

“É possível. Contudo, eu só posso jogar com as cartas que tenho em mãos.”

Odin fez um gesto para o corvo, Muninn, pousado sobre seu ombro. Dessa forma, ele transmitiu a ‘vontade do rei’ para Huginn, que estava em um local distante.

Ele certamente ativou o poder de sua Saga. Contudo, nada aconteceu. O fragmento de equipamento continuou inerte e a Presa Rúnica que Tae Ho mentalizou não foi recriada no mundo físico.

Talvez não tenha dado certo porque ele tentou recriar uma espada?

Tae Ho ativou sua Saga novamente. Desta vez ele mentalizou uma ‘Lança de Iniciante’. Nada mudou. Sua Saga não deu sinal de ter funcionado.

Erguendo a cabeça, Tae Ho fitou Heda e Ragnar. A expressão de ambos diferia da dele.  Ragnar estava olhando intensamente para o fragmento, enquanto Heda ergueu a cabeça abruptamente, olhando para Tae Ho. Ela tentou gritar algo, perplexa.

A voz de Heda.

Ele não conseguia escutá-la.

Foi então que Tae Ho notou algo. Não é como se nada tivesse acontecido, pois sua Saga funcionou. Entretanto, ela se despedaçou logo em seguida. O poder que restava no fragmento rejeitou a Saga de Tae Ho.

E não parou por aí.

Uma luz intensa emanou do fragmento, envolvendo o corpo de Tae Ho.

“Tae Ho!” gritou Heda, erguendo a mão.

Entretanto, ela não conseguiu alcançá-lo. O mundo ao redor de Tae Ho mudou.

Aquele lugar era uma ilha.

Um homem, que atravessou o mar usando um pequeno barco, sorriu. Sua estatura robusta era similar a de um adulto, mas seu rosto ainda continha traços infantis. Na verdade, ele se parecia mais com uma criança do que com um jovem.

O peito do garoto começou a bater. Seus olhos brilharam curiosamente ao encarar aquele novo mundo.

Tae Ho não conseguia ver a face do garoto. Ele estava enxergando o mundo através dos olhos dele.

O ar, que carregava o odor do mar, ia na direção da ilha. Era uma terra estranha que poderia ser chamada de mundo das sombras.

Aquele garoto queria se encontrar com alguém na ilha. Ele ouvira alguns rumores, mas poucos já tinham se encontrado com essa pessoa. Alguns desses rumores eram assustadores, insinuando que ela era um canibal que se banhava no sangue de virgens.

Essa pessoa vivia em um lugar extraordinário. Uma fortaleza cercada por sete muradas e nove cercas de madeira, com cabeças de pessoas presas nelas, era a sua casa.

Entretanto, o garoto não estava com medo. Ele pretendia fazer um julgamento baseado em seus próprios olhos, ao invés de escutar rumores sem fundamento.

O barco atingiu a costa e ele desembarcou.

O garoto estava olhando para uma bela dama. Ela era uma das mulheres mais bonitas que Tae Ho já tinha visto e sua beleza até rivalizava com a de Heda.

Apesar disso, ela passava uma impressão diferente. Comparada com a doce e refinada Heda, ela era uma dama com olhos tão afiados quanto os de um gato. Tae Ho percebeu que esta era a pessoa com quem o garoto queria se encontrar.

O garoto amava e apreciava essa dama e a dama também amava e apreciava o garoto.

A mulher, que tinha cabelo preto e volumoso, deu ao garoto um baú feito de madeira. Ela estava aguardando para ver que tipo de reação ele teria. Tae Ho observou os lábios dela, que estavam pressionados para esconder sua animação, e pensou em Idun.

O garoto abriu o baú. A coisa que estava ali dentro parecia ser familiar para ele. Por conta disso, o garoto ficou surpreso e olhou para a dama.

“A partir de agora, isso é seu.” A mulher, que estava satisfeita com a expressão do garoto, disse num tom suave.

O garoto tornou a olhar para dentro do baú e não conseguiu deixar de sorrir como uma criança que não sabia esconder suas emoções.

No baú estava uma lança branca feita com os ossos de uma criatura das profundezas.

O garoto deixou o mundo de sombras. Contudo, a lança dada pela mulher estava sempre ao seu lado.

Ele conquistou inúmeros campos de batalha. Ele derrotou o exército da rainha gananciosa, matou inúmeros monstros e lutou contra bandidos cruéis para salvar uma bela dama. O rapaz sempre ganhou. As pessoas o adoravam e seu nome se espalhou por inúmeros locais ao redor do mundo.

Entretanto, houve um fim para a vitória do garoto que parecia eterna.

O mundo ruiu.

O homem lutou junto de seus aliados mas, no final, foi derrotado.

“Loki.”

O homem, que estava tão exausto quanto podia estar, apoiou seu corpo contra uma rocha e disse num tom cansado. Um homem alto, de olhos verdes e longo cabelo preto estava parado na frente dele.

Uma trovoada soou ao fundo. O som foi certamente emitido por aquele que estava nas linhas de frente com a intenção de salvar o mundo despedaçado, mas era tarde demais.

Loki olhou na direção onde o trovão foi ouvido com uma expressão vaga e então sorriu. O homem tentou segurá-lo, mas ele já estava se aproximando de seu limite. Ele não tinha mais forças para tentar resistir, tendo perdido sangue demais.

“Mestra”, ele disse. Fechando os olhos, o homem largou sua lança, que não soltara até então, pensando na mulher com olhos de gato.

O mundo foi consumido por chamas e então destruído.

Aquele homem perdeu seu mundo.

Ele perdeu sua família, sua parceira e seus amigos. Tudo o que lutou para proteger foi destruído.

Entretanto, o homem não desistiu. Ele não podia.

Por ainda estar vivo, ele não podia suportar a morte de sua mestra. O homem não se desesperou nem mesmo na mais profunda escuridão. Ele lutou até o fim, mesmo numa batalha em que ele não tinha esperança alguma de ganhar.

E então, sua lança quebrou.

A memória do homem acabou ali. Talvez ele tivesse visto as memórias contidas na lança.

Tae Ho estava envolto pela escuridão. Ali ele viu, pela primeira vez, a face daquele homem.

Era um rosto bonito. Ele, que tinha cabelo preto e olhos cinzentos, se virou de costas ao invés de olhar para Tae Ho. O homem brilhava mesmo em meio às trevas.

Naquele momento, Tae Ho soube o nome desse homem.

Ele lembrou que essa memória fazia parte do mundo destruído.

O nome do homem era Cú Chulainn. Sua alcunha era “Príncipe da Luz”. O maior e mais forte dentre todos os heróis na mitologia celta, mesmo entre os guerreiros do já destruído Erin((Erin é basicamente Asgard da mitologia celta/irlandesa, considerado o reino celestial dos deuses e o símbolo da identidade e da cultura de seus povos. Erin representa a Irlanda. Também é o nome da deusa personificadora da Irlanda.)).

O homem lhe disse o nome da lança presenteada por sua mestra, a mulher que ele mais amava, Scathach((Scáthach é uma figura da mitologia celta, conhecida como uma guerreira e instrutora de artes marciais, que viveu na região da atual Escócia. Ela era considerada uma das maiores lutadoras de sua época e seu treinamento era disputado por guerreiros em busca de habilidades e conhecimentos de batalha. Segundo as lendas, ela treinou o lendário herói celta Cú Chulainn em suas habilidades marciais. Scáthach também é associada à ilha de Skye, na Escócia, onde é acreditado que sua fortaleza ficava localizada. Ela é frequentemente retratada como uma mulher forte e independente, capaz de defender-se e de proteger aqueles que buscam sua ajuda.)).

Tae Ho abriu os olhos.

Ele segurou o fragmento de equipamento que ainda estava quebrado mas que começara a emitir outro tipo de força e então ativou os olhos do dragão. Ele leu os nomes formados pelas letras iriadas.

Gae Bolg

A espada do príncipe da luz, Cú Chulainn.

Uma intensa luz foi emitida pelo fragmento, como se ele estivesse respondendo ao seu chamado.

Olá, eu sou o Asu!

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