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Essa paisagem era tão familiar, mas, ao mesmo tempo, tão única e especial. 

“Onde eu est—”

 “Você está no mundo que deixou há cinco séculos.” A mesma voz reconfortante disse ao me interromper inesperadamente.

Quando olhei para a origem da voz, encontrei uma silhueta branca e brilhante que me trazia uma sensação reconfortante.

“Por mais que você não lembre, esse mundo foi sua casa um tempo atrás, uma casa em que você deixou muitas marcas e história. Marcas o suficiente para ser notado pelos outros deuses.” A silhueta declarou com os braços abertos.

“Eu não te entendo, eu não entendo nada do que está acontecendo! Por que você não limpou minha alma e me libertou do meu sofrimento? As memórias daqueles anos infernais continuam ardendo na porra da minha cabeça!” Gritei em desespero, deixando a angústia tomar conta de mim.

Um silêncio se seguiu, até que percebi algo na silhueta intocada. O que parecia ser uma lágrima caiu.

“Este era meu desejo, mas os outros deuses me impediram. Eles ainda buscam se vingar do homem que um dia você foi.” Disse ela, com uma voz levemente trêmula e melancólica.

“Perdoe-me novamente, meu filho. Falhei em protegê-lo dos outros deuses, e também falhei em libertá-lo de sua amargura. Apenas peço que viva normalmente, te apoiarei com todos meus poderes para impedir as garras dos outros deuses de encostarem em você, mas sua jornada será perigosa.”

“Saiba que o mundo e aqueles que o governam acima do céu são seus inimigos, tenha cuidado.” 

A silhueta começou a sumir para o céu, e quando percebi estava sozinho.

“Lhe deixo dois presentes, meu filho. Seu nome e sua espada.” Disse a voz doce uma penúltima vez em minha cabeça. “Adeus, Sirius.”

Permaneci ajoelhado por alguns minutos. Não sabia o que pensar. Agora estava largado em um mundo desconhecido novamente, sem nada além de um nome e uma espada.

‘Viver normalmente? Com deuses querendo me matar?’ Pensei antes de socar o chão em uma tentativa vã e ilógica de tentar sentir algo.

Me virei para analisar o novo ambiente e percebi uma espada familiar enferrujada ao meu lado. Era a mesma espada que me acompanhou durante meus anos infernais, mas tinha algo de diferente. Seu tamanho parecia muito maior do que antes, e levantada era quase da minha altura.

Não sabia se me sentia feliz ou não ao olhar para ela. Ela me salvou muitas vezes, mas me trazia lembranças ruins.

O vazio que senti rapidamente sumiu quando lembrei de tudo que passei. A raiva e angústia se misturaram dentro do meu peito, e lá se reuniu todo o sofrimento de séculos de apenas uma vez.

Sofri tanto pelos simples caprichos de um deus e agora eles estavam brigando como se eu fosse um objeto de aposta.

‘Não me importo mais.’ Pensei enquanto deixava de lado meus sentimentos amargurados.

Levantei e olhei em volta. O ambiente em que estava era familiar, mas nada fresco na memória. Quase tudo era verde, o chão e o que cobria o céu.

Haviam feixes de luz que passavam pela grossa camada de folhas acima da minha cabeça.

Explorei e descobri coisas novas, como o fato de que meu novo corpo era completamente inútil. Corri apenas alguns minutos e já me senti cansado, e ele era muito menos rápido do que o outro.

Meus braços eram finos e frágeis, e minha pele sensível. Meus dentes quase quebraram quando tentei morder uma pedra.

Me fortalecer era algo que meus instintos gritavam para fazer, e concordei com eles. Lembrei-me da sensação horripilante que o abismo me trouxe, e os deuses que lá moravam me queriam morto.

Parando de pensar nisso, um tempo depois encontrei algo estranho, mas familiar. Um grande rio interrompeu meu caminho.

Senti um desejo natural ao olhar para aquilo, e instintivamente bebi. Me senti refrescado e percebi que estava necessitando daquilo há um tempo. ‘Acho que dei sorte pela primeira vez.’ Pensei enquanto comparava o sabor insípido da água com o sangue amargo que tinha que beber.

Entretanto, quando retirei meu rosto da água gelada, observei alguém nela. Seguia meus movimentos, e percebi ser meu reflexo.

Era completamente diferente daquele que vi no sangue carmesim dos demônios. O meu novo corpo era menor, mais frágil e patético.

Meu rosto era pequeno, com cabelos negros e lisos que se estendiam até meu ombro. Tão negros quanto o abismo que tentou engolir minha alma.

Minha pele era branca e meus olhos amarelos-claros. A luz refletia de maneira mais brilhante neles.

Não tinha nenhuma escama para me proteger de ataques ou pelos para me proteger do frio, eu não sobreviveria nem um segundo com esse corpo naquele lugar infernal.

“Isso não importa mais, afinal não estou mais lá, estou finalmente livre.” Declarei e acabei conhecendo minha nova voz, o que me surpreendeu. Ela era fina, estranhamente fina. 

Limpei meus pensamentos e analisei o ambiente novamente. A floresta continuava do outro lado do rio, na verdade, continuava por todos os lados e isso me fez perceber que eu estava perdido.

Não sabia para onde ir, então segui meus instintos, já que eles eram minha única ajuda.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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