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Choque se espalhou na expressão facial de Roger. De repente, senti uma ondulação no ambiente e alternei minha visão. Fios azuis surgiram na frente de seus olhos, e eles voaram em minha direção ao tomarem uma forma emaranhada.

Então, um fragmento de gelo foi criado. A forma era lenta o suficiente para eu conseguir desviar simplesmente ao mover minha cabeça para o lado, e foi isso que fiz.

Entretanto, a forma se desfez quando estava prestes a se aproximar de mim. Acabei desviando completamente à toa. Um sorriso se espalhou no rosto do homem ao perceber que eu era capaz de desviar daquele ataque. “Vejo que se acostumou rápido com a energia prismática.”

Imediatamente percebi que aquilo foi um teste, já que o homem se virou e entrou no cômodo. Fiquei sozinho com meus pensamentos por alguns segundos, antes de subir as escadas.

Me encontrei em um corredor com quatro portas, e uma delas estava aberta. Entrei nela e vi um quarto pequeno, com uma cama e um armário. Dentro do armário tinha vários objetos quebrados e aleatórios, e debaixo da cama havia sujeira acumulada.

Provavelmente Roger tentou limpar o quarto apressadamente durante minha caçada. Observei os arredores, antes de me permitir abaixar minha guarda. Com isso, senti o peso que o cansaço causou quando se espalhou pelo meu corpo, e deitei na cama imediatamente.

Porém, pesadelos e vozes acompanharam meu sono. Nenhum deus falou comigo, e nem identifiquei o dono das vozes. Elas eram cacofônicas, chamavam-me pelo nome, com tons recheados de raiva e tristeza. 

Era algo sem sentido, me vi fugindo de criaturas demoníacas e muitas vezes caindo em abismos infinitos. Entretanto, o ambiente era familiar. A areia cinza, a lua vermelha, o céu escuro. Tudo isso remetia ao lugar que perambulei e sobrevivi.

Fiquei preso nessa tortura metafórica, até que Roger me acordou com uma tigela de madeira, recheada com um ensopado e pedaços de carne.

Na hora, eu não sabia dizer quanto tempo meu sono durou. Mas imediatamente me sentei na cama e aceitei a comida dada a mim.

“Coma rápido e volte a dormir.” Ordenou Roger, com olheiras debaixo dos olhos. 

Rapidamente devorei o ensopado, ignorando as queimaduras que causou em minha língua. Por mais que a temperatura fosse alta, me senti refrescado ao ter meu estômago preenchido com comida.

Obedeci ao homem e lhe devolvi a tigela vazia, antes de retornar ao meu sono. Infelizmente, os pesadelos voltaram.

Eles não incomodavam muito, afinal eram apenas reflexos de uma memória que vivi fazia pouco tempo. Não eram tão assustadores quanto a parte real. Mas mesmo assim, eles atrapalharam meu sono e minha recuperação.

Acordei um tempinho depois, com os raios solares passando pelo vidro da janela e encontrando-se com minhas pálpebras.

Ainda estava com sono por conta dos pesadelos, mas me levantei e saí do quarto. Enquanto caminhava pelo corredor, vi uma porta aberta e testemunhei Roger deitado em sua cama, com inúmeras garrafas de vidro espalhadas pelo chão do quarto. Algumas delas estavam do lado dele.

Não o acordei, e desci as escadas. Entretanto, em uma mesa de madeira no lado esquerdo da casa, estava algo que chamou minha atenção.

Andei até a mesa, e um envelope vermelho vibrante decorava a superfície empoeirada da mesa.

“Para os olhos amarelos” Li em voz alta, surpreso por conseguir entender as palavras.

Abri e tirei o conteúdo do envelope, revelando uma carta escrita com letras confusas e inúmeros rascunhos. Alguns desenhos de flores e pequenos coelhos estavam no canto do papel.

Felizmente, as palavras eram simples, e isso me fez entender tudo. 

‘Obrigado por nos libertar, garoto de olhos amarelos. Fomos resgatados por uma mulher ruiva de manto preto logo após você fugir, e agora estamos em um orfanato no norte do reino. Espero que um dia venha nos visitar! Abraços de Karla, Rosa, Maria, Nira e Horn.’

Não sabia como reagir a isso. No momento que fugi da mansão, não me importava muito com as crianças. Meus instintos apenas ligavam para minha sobrevivência, libertá-las foi uma consequência inconsciente de minhas ações.

Entretanto, elas ainda estavam no fundo de meus pensamentos. Saber que elas estavam bem me trouxe algo que nunca havia sentido, e que no momento não sabia como descrever.

Junto com o papel que continha essas palavras, cinco pétalas secas azuis enfeitavam o fundo do envelope vermelho.

“Vivian me trouxe essa carta enquanto você dormia.” Disse a voz de Roger atrás de mim, e me virei para encontrá-lo sentado no sofá do outro lado da casa. Isso não me surpreendeu, afinal escutei seus passos.

“O que ela diz?” Questionou o homem, após beber alguns goles de uma garrafa em suas mãos.

“Nada.” Declarei enquanto colocava as pétalas em um bolso no meu manto preto.

“Então, já quer começar as aulas?” Perguntou Roger.

Concordei quando me sentei no sofá frente ao homem. 

“Me diga o que aprendeu sozinho sobre a energia prismática, para que eu saiba seu nível de conhecimento.” Pediu Roger, encarando-me.

Tentei colocar minhas descobertas em palavras. “Sei que ela possui o formato de fios coloridos, e cada cor é um tipo de magia diferente.”

“Pode me dizer quais são os tipos de magia que você descobriu?”

“Fogo, gelo, terra e raio.” Declarei, ansiando respostas.

“Esses fios são chamados de magia elemental. E existem mais deles, como o ar, a luz e a escuridão. Todos os magos são capazes de usar magia elemental.” Revelou Roger.

“Além disso, a magia elemental não é o único tipo de magia que existe. Existe a magia irregular.”

“Magia irregular?” Perguntei, curioso.

“Isso. Não sabemos muito sobre ela, afinal os magos irregulares são poderosos o suficiente para responderem apenas o que querem. E revelar seus poderes é algo que ninguém faz.”

“O nome já se explica, magia irregular é o tipo de magia que é única. Magos irregulares são extremamente raros, e são os alvos principais da realeza.”

Um silêncio se seguiu após isso. “E nós suspeitamos que você é um mago irregular. Esse é um dos motivos principais para estarmos te apoiando tanto.”

“O quê?” Questionei. Ser um criminoso já era ruim, agora ser um criminoso entre criminosos era pior. Entretanto, se o que Roger disse for verdade, eu seria capaz de ficar muito mais forte do que o esperado.

“Isso mesmo. Vários magos espalhados no continente analisaram seu eclipse durante sua duração, e a energia que se espalhou pelo mundo não era como a escuridão elemental. Era algo único. Sabe que toda a luz se apagou durante seu eclipse? Nenhuma tocha se manteve, nenhum fogo, nada. Você escureceu o mundo. Por sua culpa eu tropecei na escada e quase quebrei minha perna.” Declarou o homem, rindo após sua última frase.

Não falei nada depois disso. Muitos pensamentos tomaram conta de minha mente, mas um sorriso se espalhou em meu rosto.

“Como faço para aprender minha magia irregular?” Perguntei, encarando o homem.

“Não faço ideia, você terá que descobrir por conta própria. Só poderei te ajudar com magia elemental.” Declarou Roger, quebrando minhas expectativas.

Coloquei esses pensamentos no fundo de minha mente, depois eu tentaria aprender algo sobre isso. Agora uma dúvida específica era mais importante.

“Preciso aprender tudo sobre os cristais de mana.” Declarei, tendo certeza de incorporar a seriedade de minha ânsia por respostas em meu tom de voz.

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