Para entender a razão de toda esta animosidade entre Shizukana e Moon, voltemos alguns minutos atrás.
A este ponto, Silver havia acabado de cortar o rosto de Shōri com a espada de madeira e, vendo isso, a matriarca tinha uma expressão orgulhosa estampada no rosto.
— De onde vem todo esse orgulho? Você não fez absolutamente nada.
Palavras frias doaram ao dela, trazendo um leve tom de dúvida nelas.
— Se Seiji vencesse Komori-Uta, você ficaria orgulhosa?
— Sim.
Foi uma resposta instantânea e Moon provou seu ponto. Já porque ela não usou Silver ou Shōri como exemplo era simples.
Por um Silver jamais perderia para aquele projeto de herói e sobre Shōri, era incerto se Shizukana se sentiria em conflito por se sentir feliz com sua melhor amiga ser derrotada pelo seu amor.
Não querendo se envolver neste triângulo amoroso, a jovem se absteve de mencionar a invencível.
— Tá ai sua resposta.
— Mas somos diferentes — afirmou a Yuki-onna.
— Oh? Como exatamente? — perguntou Moon, genuinamente curiosa com o rumo que a conversa estava tomando.
— Seiji também ficaria feliz se eu vencesse.
E com isso o coração de Moon esfriou.
— Fuuu… — Ar saiu e entrou por seus em um ritmo predefinido, enquanto ela olhava diretamente nos olhos de Shizukana.
A matriarca já havia tirado suas próprias conclusões sobre o significado desta frase, mas lentamente fechando os punhos ela perguntou:
— E o que isso quer dizer?
— É simples. Silver não se importa tanto com você quanto Seiji faz comigo — Ignorante aos punhos cerrados de Moon, a garota continuou explicando seu entendimento da situação.
— Faz sentido… — As mãos da matriarca relaxaram e lentamente, mas continuamente se abriram.
— Se ele fosse como Seiji então eu já teria sido trocada por outra.
O clima de repente ficou gelado, não metaforicamente e sim fisicamente mais frio. Olhando para o chão, Moon viu gelo se espalhando com os pés de Shizukana como fonte.
— Ver acontecendo pessoalmente é realmente mais interessante.
Tal coisa não era anormal durante a novel, poderia ser considerada até normal com a quantidade de vezes que aconteceu.
Para a garota que mal conseguia se controlar e congelava o chão no qual pisava, congelar um pouco mais por estar emocional não foi estranho.
— Seiji não é assim — Dando diversos passos a frente, Shizukana parou ficando perigosamente próxima de congelar os pés de Moon.
Se mantendo firme, a matriarca não se intimidou com a ‘ameaça’ involuntária e seus olhos tomaram o familiar tom azul claro, usando apenas o suficiente para fazer a jovem se sentir pressionada.
— Mesmo? A situação dele com Mari me diz o contrário — Atirando mais lenha na fogueira, ou então, mais gelo na nevasca, Moon sorriu para Shizukana.
A disputa parou por alguns instantes, enquanto as duas contemplaram se deveriam interferir ao ver Silver e Shōri começarem a trocar ferimentos.
Decidindo contra, a dupla ainda assistiu apreensivamente a disputa até o dragão desarmar a invencível.
— Ele nem se importa tanto com você — A voz de Shizukana reviveu o assunto anterior, do qual Moon havia praticamente esquecido.
— De novo com isso?
Se ela tivesse escutado isso durante os primeiros dias na academia, a matriarca teria reagido muito mais agressivamente.
Essa obsessão dela com Silver era muito pior nesta época. Desde o tempo que passou na gangue de Silver, ela chegou a termos mais razoáveis com essa obsessão.
Isso já não a incomodava tanto quanto antes se não, Moon teria mandado Shizukana para bater um papo com o núcleo da Terra muito tempo atrás.
— É a verdade.
— Mas não a questão.
Voltando a olhar diretamente nos olhos de Shizukana, a matriarca adotou uma expressão nostálgica.
— Quantas vezes nestes últimos dias Seiji parou para conversar cara a cara com você? — Ela sorriu se lembrando de alguns momentos atrás, seletivamente esquecendo a razão deles estarem lá.
— Quando foi a última vez que ele te elogiou? Ou te provocou de propósito porque percebeu seu nervosismo?
Deixando de lado a fachada fria, Shizukana olhou para Moon com uma expressão que a matriarca não conseguia distinguir o este misto de emoções em sua face.
Talvez esse sentimento nem fosse direcionado a ela mas, as expressões que dominavam o rosto da garota fizeram parecer que, dada a oportunidade, ela mataria a matriarca sem hesitação.
— Querem aproveitar que já estamos aqui para se resolverem?
O estopim da situação atual perguntou, completamente ignorante ao fato dele ser o principal causador desta discussão.
— Não, tá tudo bem entre a gente — disse Moon, olhando brevemente para a jovem.
— … Sim — Shizukana respondeu, mas os dentes cerrados e o clima anormalmente gelado gritavam o contrário.
Shōri chegou logo após, porém diferente de quando elas eram crianças, ela não correu imediatamente para proteger sua amiga.
Isso porque a jovem estava perdida demais nos seus pensamentos para se preocupar com o assunto, e por acreditar que Shizukana poderia se virar sozinha assim como Seiji se virou sem elas.
Foi neste clima tenso que o quarteto voltou, não antes de conseguir roupas novas para a dupla como cortesia da atendente, a qual pediu apenas uma foto com Silver em troca.
No fim o dragão saiu com mais dinheiro no seu bolso para gerenciar a cidade recém adquirida, Shōri saiu parcialmente satisfeita com a luta além de vislumbrar um novo caminho para se tornar mais forte.
Já para Moon, mesmo tendo sido interrompida antes de contar seu maior segredo, pegou a dica de que Silver também sabia de algo e não colocou um peso enorme em suas origens. Ainda sim, a matriarca estava determinada a contar considerando o fato do jovem não ter colocado tanto peso nisto.
A única pessoa que saiu perdendo foi Shizukana, quem após uma breve conversa com a matriarca se encheu de emoções negativas sem ter ideia de para onde direcioná-las.
O lado bom disso, foi o fato de dar um motivo para ela exercitar os ensinamentos de sua tia, os quais não precisou usar por um bom tempo.
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Um rastro de gelo seguiu a jovem cuja expressão fria poderia tentar, mas o ar frígido ao seu redor entregava a intensidade de suas emoções.
Conforme ela atravessava o salão do hotel, as poucas pessoas presentes nele sequer ousaram encarar por muito tempo, com medo de atrair sua ira.
O normal era eles a observarem o quanto fosse possível, porém o clima que a cercava soou como um alarme mantendo os transeuntes em silêncio puro.
Grace sentada ao longe se perguntou a razão de sua amiga estar tão irritada, no entanto, assim como os demais permaneceu no próprio lugar esperando que Shizukana se acalmasse antes de fazer uma pergunta sensível demais.
A garota fez seu caminho até seu próprio quarto, sentando na cama de pernas cruzadas, congelando-a como consequência.
Mesmo sem sentir o conforto do colchão, ela não se incomodou. O gelo era quase uma segunda pele para a jovem, então não era incômodo algum.
Fechando os olhos, Shizukana reviu os ensinamentos de sua tia.
Inspire.
E assim ela fez, juntando todo ar possível.
Expire.
O ar congelado escapou de seus lábios e a garota repetiu o processo.
Agora imagine o mar. Como ele está?
— Tempestuoso.
Uma resposta diferente da primeira vez que ela foi ensinada, onde o mar estava agitado e não completamente irado como agora.
Esse é o seu estado de mente. Reflete como suas emoções estão agora, mas elas não são importantes durante um combate.
Então congele-as.
Da primeira vez foi um processo demorado, foram dias até que ela conseguisse congelar completamente suas emoções e, mesmo assim, elas retornavam de tempos em tempos.
Mas agora o gelo cobriu todo o mar quase que instantaneamente, tornando o antes letal mar tempestuoso em um reino glacial.
Soprando mais uma vez o ar congelado para fora de seus pulmões, abriu os olhos nos quais já não mostravam indícios de qualquer emoção.
O ambiente continuou gelado, porém o frio já era familiar para ela.
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Chegando no seu quarto Shōri se jogou na cama, olhando fixamente para o teto.
Ela reviu várias e várias vezes a sua luta com Silver, tentando ao máximo se lembrar da sensação de ter acessado sua [Autoridade].
A jovem perdeu a noção do tempo durante as tentativas, mas nunca conseguiu alcançar este estado novamente. Sempre sentindo que faltava algo toda vez que se aproximava deste estado.
Uma vibração quebrou sua concentração e a jovem ainda mais frustrada, procurou a fonte dessa interrupção.
O culpado foi seu [SC] encostado na mesa ao lado da cabeceira da cama, que vibrou em acordo com as mensagens recebidas.
Lendo as notificações, Shōri viu apenas duas novas mensagens, vindas de Silver e Moon.
[Aqui está a conta por tomar meu tempo. Sem negociações, não é como se você tivesse dinheiro o suficiente certo, invencível?]
[Não me chame assim!!]
Respondendo a mensagem rapidamente, a jovem ignorou o número e partiu para a notificação seguinte.
[A atendente deu um desconto, provavelmente por conta de Silver. Sorte a sua não acha?]
‘Ela pode fazer isso?’
Foi o que Shōri pensou inicialmente mas, após olhar a conta, ela apenas agradeceu a mulher silenciosamente.
A escola dava a oportunidade para seus estudantes se juntarem ao exército apenas no fim do terceiro ano e, até então, eles não recebiam nenhuma renda.
Como a maioria dos estudantes eram de clãs, sendo grandes ou não, dinheiro não se tornou um problema. Porém, para alguém como Shōri que não vinha de clã nenhum era o completo oposto.
Sua renda vinha principalmente das apostas que as pessoas faziam durante suas lutas, das quais ela tirava 70% da renda total apenas pelo seu nome estar envolvido.
Enfim, com isso ela estaria vivendo no vermelho até o fim do torneio e sua volta para a academia.
‘É só o preço da força’
Graças a sua derrota pelas mãos de Silver, o número de desafios iria disparar, o que significa que sua renda também iria aumentar.
Enviando seu dinheiro adquirido com muito esforço para a dupla, a jovem se jogou novamente na cama e voltou a revisão da luta.
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Recebendo o dinheiro da ‘invencível’, Moon guardou seu [SC] e seus pensamentos passaram brevemente por sua conversa com Shizukana, mas ela os parou rapidamente.
As palavras da jovem eram verdade, mas não uma difícil de mudar e ela já estava trabalhando nisso.
Uma vibração chamou sua atenção e a matriarca pegou novamente o [SC] para verificar a mensagem que recebeu.
Era um relatório de Arai sobre o andamento do clã. Tudo seguiu sem nenhum imprevisto, fora a menção sobre um baile para o qual seu clã foi convidado.
São nestes momentos que ela gostaria de ser apenas um personagem extra para poder evitar este tipo de evento. Uma noite cercada de pessoas tão presunçosas quanto os Ludewig não eram exatamente divertidas.
Jogando isso para o fundo de sua mente, Moon decidiu se preocupar com isso outra hora e fechando os olhos ela se entregou ao conforto de sua cama.
‘Espero que Silver consiga resolver seus assuntos’
Foi o último pensamento da jovem antes de cair em sono profundo.
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Caminhando por ruas nada movimentadas, Silver sorriu brevemente ao ler a resposta de Shōri, guardando seu [SC] logo em seguida.
Parando sua caminhada, ele moveu os olhos pelo local onde estava.
Era uma rua comum, larga o suficiente para ter duas calçadas com alguns estabelecimentos comerciais ao longo do caminho. Haviam apenas dois becos quase perfeitamente alinhados dos dois lados e nenhuma pessoa à vista.
— Você vai sair voluntariamente ou vou ter que te forçar?
Terminando estas palavras, o jovem levantou o braço direito a tempo de bloquear um golpe súbito, sendo arrastado até um dos becos.
Movendo o braço agora dormente, a mente Silver passou por diversos possíveis mandantes deste ataque.
‘Hm… Agora que parei pra pensar, eu tenho muitos inimigos…’
Voltando sua atenção novamente para a situação atual, o jovem se preparou para a luta que viria.
