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No dia seguinte, após outra série de pesadelos horríveis, meus instintos me acordaram logo quando amanheceu.

“Acorde.” Falei no rosto da garota, que abriu os olhos. Seu cabelo roxo despenteado e olheiras mostraram nossa condição ruim.

“Eu preciso de um banho.” Stella disse ao se levantar e esfregar os olhos, e concordei.

Não havíamos encontrado nenhum rio ou lago, mas não tinha problema. A magia oferecia soluções quase infinitas para os problemas humanos.

“Não faz sentido existir magia de gelo mas não de água… Por que precisamos derreter magia com magia?” Questionei ao me virar de costas.

“Eu não sei.” Stella respondeu timidamente.

Estávamos tomando banho, e por mais que fosse um momento constrangedor, preferimos não nos separar. Apenas prometemos um para o outro não bisbilhotar.

Eu não ousei fazer isso, mas achei engraçado meus sentidos e instintos captarem olhares curtos e aleatórios em alguns momentos.

Criei uma pedra de gelo acima de mim e a mantive flutuando com magia de vento, antes de esquentá-la com fogo e criar vapor.

Então o gelo começou a derreter e me lavar, repeti o processo até que consegui esfregar meu corpo completamente.

Assim que terminamos, retomamos nossa jornada para o norte. Caminhamos por árvores e trilhas naturais repletas de flores e galhos.

Era comum pensamentos sobre o Exército Prismático aparecerem. Eu ainda me sentia culpado, e sinceramente, a ficha que tudo havia acabado caiu apenas recentemente. Isso deixou a viagem bem depressiva.

As palavras de Roger e Vivian, as promessas com Hark, a conversa com Lívia e sua fada, a pequena disputa com Trevor e Mirn, a cena horrenda com Amanda sendo um martírio para minha consciência.

Entretanto, minha melancolia foi interrompida e substituída por cautela quando senti o cheiro de sangue. Era estranho, diferente do sangue de ferimentos, o que me preocupou.

“Stella?!” Gritei ao olhar para onde a garota estava, mas ela havia sumido. “Onde você está?!!” Continuei gritando ao empunhar Caedes e envolver minha lâmina com gelo e raio.

Usei toda a capacidade dos meus sentidos e segui o cheiro de sangue próximo como uma besta, me aproximando do outro lado de uma árvore por perto.

Tinha pegadas na terra e instantaneamente cravei meus dedos na árvore e cheguei do outro lado, me encontrando com uma visão confortável.

Era Stella, ela estava completamente bem, com exceção de seu rosto completamente vermelho. Eu estava pendurado na árvore como um animal, e ela estava sentada, apoiada na árvore, olhando para cima com os olhos tímidos.

Seus dois braços estavam entre as pernas, e quando reparei nisso, ela se abaixou e me impediu de ver mais.

“O que aconteceu?” Indaguei, soltando-me da árvore e me aproximando. “Você se machucou? Está bem?”

“Não chegue perto!” Ela exclamou ao levantar a mão em minha direção. O cheiro de sangue ainda era forte, o que me incomodou.

“Mostre-me o ferimento.” Ordenei ao colocar minhas mãos sobre ela, que tentou me impedir e persistiu em não deixar eu ver o que quer que fosse a origem do sangue.

“Anda logo!” Dessa vez usei minha força para levantar a garota, que não conseguiu me impedir. Eu consegui puxá-la para cima e vi um rastro de sangue escorrendo por sua perna branca.

Sua expressão se tornou completamente aterrorizada e ela gritou, antes de dar um tapa no meu rosto. Não entendi nada do que aconteceu.

“O que foi isso?” Indaguei ao esfregar minha bochecha. Seu tapa fraco não me afetou fisicamente, mas foi um golpe no meu humor.

“Eu… Eu…” Stella murmurou, extremamente envergonhada. “… Estou naqueles dias.” Revelou, me deixando confuso.

“Naqueles dias? Que dias?” Continuei perguntando, mas me afastei dois passos para trás. Não queria assustá-la mais.

“Nós mulheres sangramos todos mês… É natural, daqui uns dias para, mas é muito chato.” Stella explicou ao desviar o olhar.

“Não sabia disso.” Declarei friamente. “Você não pode usar magia de cura para estancar o sangramento? E por onde você sangra? Alguma ferida na pele?” Continuei perguntando, aquilo era novo para mim. Convivi com Vivian por alguns dias, mas não sabia disso.

Seus olhos ficaram tensos por um segundo. “Um dia eu te conto.” Murmurou ao olhar para o lado enquanto fazia beicinho, apenas me restou aceitar sua resposta vaga.

“Vou me limpar, me espere.” Stella ordenou e eu obedeci. Me afastei alguns metros, mas mantive a cautela.

O que aconteceu foi estranho, mas logo aceitei. No final descobri que não sabia muito sobre o corpo feminino, então tentei ser mente-aberta com Stella.

Alguns minutos se passaram e ela retornou, completamente constrangida. “Não diga nada.” Pediu ao passar por mim.

Apenas suspirei com Caedes apoiada em meu ombro e seguimos em frente.

Continuamos viajando por alguns dias sem problemas. Stella continuou tendo que fazer algumas pausas para se limpar, mas não me importei em esperar todas as vezes.

A viagem estava sendo tranquila. Não encontramos nenhum sinal de civilização, infelizmente.

Nos deparamos com alguns animais selvagens em noites em que não encontramos lugar para descansar, mas não foi um problema grande.

Eu matei cada fera em questão de segundos, sem precisar dar um passo. Apenas movi Caedes com magia de vento e decapitei todas as bestas.

Confesso que queria me gabar um pouco para Stella, que sorria toda vez que eu a protegia.

Dias e noites se passaram e apenas nossa companhia manteve a jornada tolerável. Confesso que eu gostava de conviver com ela, por mais que o preço para isso tivesse sido quase tudo.

Seu sorriso mantinha meus pensamentos violentos e me afastava da loucura que há muito me afoguei.

Entretanto, algo aconteceu depois de um mês. Não encontramos uma cidade nem nada do tipo, mas um campo de batalha completamente destruído.

Esqueletos que vestiam armaduras simples criavam montes de cadáveres sobre uma terra infértil e morta.

Espadas, foices e machados enferrujados eram cravados em quase todos os corpos decompostos.

Era uma cena bem mórbida e violenta, mas parecia ser o resto de uma luta antiga.

“Pelo que eles lutaram?” Indaguei ao me aproximar do campo repleto de cadáveres. Os esqueletos eram claramente humanos e nenhum brasão ou bandeira podia ser visto.

As armas também eram simples, algumas nem armas eram, pois enxadas e martelos também estavam presentes.

Poucos esqueletos vestiam armaduras, e os que vestiam eram de couro velho e desgastado.

“Todos parecem ser camponeses.” Stella comentou ao se aproximar pelo meu lado esquerdo. “Pode ter alguma fazenda por perto!” Falou animadamente.

“Tem razão, apenas torça para que sejam mais receptivos com a gente.” Falei ao atravessar o campo de batalha.

Uma grande árvore morta estava no centro da área. Esqueletos enforcados lotavam todos seus galhos tortos.

O cheiro era horrível, mas não me importei. Mandei Stella esperar enquanto eu escalava o tronco e subia até o topo.

Mas acabei me segurando nas botas de couro de um cadáver, o que foi um erro. A perna se desprendeu e um líquido negro e grosso me cobriu.

Foi literalmente o pior odor que já havia sentido. Nada no mundo ou no inferno que sobrevivi poderia se comparar com aquele cheiro.

Provavelmente eram os órgãos e restos decompostos do cadáver que desceu e se acumulou na bota.

Fiquei com vontade de vomitar e Stella também, mas eu consegui segurar, ela não. A garota vomitou ao ver a cena completamente nojenta do líquido me cobrindo e caindo perto dela.

Persisti e cheguei no topo da árvore, e para ter pelo menos uma única coisa boa acontecendo no dia, vi uma construção de madeira no leste.

Estava a alguns poucos quilômetros de distância, mas foi a primeira estrutura que havíamos visto até aquele infortuno momento.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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