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“Em tempos de caos, as leis da realidade se curvam e se quebram. Apenas aqueles que compreendem a natureza mutável da existência podem marchar através das sombras e emergir vitoriosos.”

Sussurros das Sombras XXXV, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.


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ABADDON, A SERPENTE DO CAOS:

Os três aliados temporários, Sergio Romanov, Guardiã Sombria e Isabella, se afastaram, cada um com suas missões a cumprir. Enquanto os observava partir, Abaddon não podia deixar de compará-los mentalmente a meros peões em seu jogo meticuloso, considerando-os ferramentas cruciais para seus planos de fuga da ilha-prisão.

Determinado, ele estava decidido a usar todos os recursos disponíveis para alcançar seus objetivos desta vez. Ele havia aprendido com o passado que até mesmo uma simples mosca ou formiga poderia desempenhar um papel crucial, uma distração oportuna capaz de fazer toda a diferença.

Abaddon observou seus aliados até que desaparecessem de seu campo de visão, ciente de que cada um deles desempenhava um papel específico e crucial em seu plano de fuga. Com maestria, os manipulava habilmente, guiando-os pela rota que melhor servia aos seus interesses.

— Três seres se reunirão com Abaddon, ex-mestre dos mundos, e o prelúdio do caos se iniciará — murmurou novamente, buscando reforçar a promessa auspiciosa. 

O líder aprisionado dos Demônios Sombrios sussurrava a quarta profecia, imerso em suas reflexões sobre o significado oculto por trás das palavras. 

Com milênios de existência, ele compreendia melhor do que ninguém, que interpretar uma profecia era como decifrar um desenho em uma caverna; nossas próprias crenças e convicções inevitavelmente se entrelaçavam com a verdadeira realidade, distorcendo-a e complementando-a. Especialmente quando se tratava de algo tão distante da realidade como toda a energia de uma dimensão estranha à sua. 

Abaddon retirou e girou em sua mão seu artefato mágico favorito, como quem acaricia um antigo e confiável companheiro. Um osso capaz de mapear visualmente várias dimensões e a expansão da criação de todos os universos. 

Esse conhecimento, essa percepção única, tornava-o uma figura singular. Mas, ao longo dos milênios, ele se questionava se fora o artefato que o influenciara ou se sua interação com ele moldara sua determinação de explorar todas as dimensões. Era um ciclo de pensamentos que o consumia.

Ainda recitando mentalmente a quarta profecia, Abaddon mergulhava em seu passado fragmentado, relembrando sua busca incessante por respostas que o levou a estudar cada detalhe do artefato mágico que se desenrolava diante de seus olhos. 

Relembrando suas especulações iniciais sobre a existência de outras dimensões. Descobrindo que elas eram fontes de energia capazes de moldar a realidade, formas diferentes de energia que poderiam ser usadas para criar coisas inimagináveis, alterando leis e verdades estabelecidas. Descobrindo após incontáveis esforços que não estava sozinho em sua busca pelo poder.

Abaddon novamente era forçado a recuar sua consciência para o local de sua prisão: o Continente das Terras Esquecidas, oculto por uma névoa intransponível. O tempo limite de ausência tinha sido excedido. 

Conforme retornava, cada passo o conduzia de volta a esse lugar odioso que, mais uma vez, reavivava lembranças sombrias do passado. Flashes de memória da guerra irrompiam em sua mente, relembrando as perdas dolorosas, o derramamento de sangue e os inimigos poderosos que se uniram contra ele. 

Cada pedra, cada sombra, evocava um fragmento da derrota que ele preferiria esquecer, mas que estava gravada indelevelmente em sua mente.

Todos os recursos e vidas foram usados contra ele, até que, sem alternativa de vitória, ele foi aprisionado em um mundo onde não podia ser derrotado. Condenado à solidão, preso em uma ilha cercada por uma névoa implacável que devorava suas memórias e conhecimentos.

Ao acessar os fragmentos de outras dimensões, Abaddon descobriu que fora aprisionado na dimensão do esquecimento. Neste lugar sombrio, os fragmentos de todos os outros mundos se manifestavam como profecias que, com o passar do tempo, desapareciam gradativamente.

Ele tinha desenvolvido uma teoria ao longo de sua permanência forçada na ilha-prisão, de que o que era vivido na dimensão do esquecimento permanece imutável, intocado pelo tempo. E essa crença se fundamentava no fato de que as memórias de sofrimento e dor sofridas neste lugar nunca se desvaneciam, permanecendo vivas e prontas para retornar à consciência a qualquer momento.

Em contraste, mais do que uma simples convicção, o líder aprisionado dos Demônios Sombrios mantinha uma certeza inabalável de que o que era vivido fora da dimensão do esquecimento, seja sentido ou desejado em outras realidades, estava irremediavelmente fadado à corrosão pelo implacável avançar do tempo. 

Essa dualidade entre a preservação e a inevitável degradação das experiências moldava não apenas sua existência atual, mas também sua luta constante para relembrar e reforçar o que tinha vivido fora do seu cativeiro atual. 

Portanto, o demônio se via obrigado a projetar sua consciência em outras realidades para resistir ao efeito devastador do esquecimento. Ele se encontrava enredado em um plano sinistro no qual o inexorável avançar do tempo o transformaria em um ser sem memórias, uma folha em branco desprovida de vontade ou desejos, um invólucro vazio preenchido apenas pela dor e frustração, sem compreender a origem desses sentimentos.

Saindo de suas preciosas e ainda intactas memórias, Abaddon sabia que não tinha sido derrotado totalmente, nem suas esperanças tinham esmorecido. Milênios tinham se passado naquela prisão, onde travava uma batalha interna entre sucumbir e resistir. 

Com a mesma dedicação que empregara ao estudar o primeiro artefato, agora ele se dedicava aos conhecimentos contidos nos fragmentos das outras dimensões presentes naquele local. Cada uma dessas profecias representava um pedaço de outra realidade, uma mensagem suscetível a interpretações diversas. Eram conhecimentos que poderiam ser explorados em seu benefício.

Contudo, era a quarta profecia, oriunda do Mundo Mágico, que mais o intrigava, pois citava seu nome textualmente. Foi por meio dela que encontrara energia para conquistar, ao menos, a liberdade de sua consciência, mesmo que todo o seu poder ficasse restrito ali. 

Observando a névoa que o cercava, Abaddon sabia que não estava sozinho em sua busca pelo poder das dimensões. Independente dos obstáculos, estava determinado a suprimir seus inimigos e dominar todas elas, custasse o que custasse.

Ao contemplar seus artefatos, ele reconhecia que a magia se tornara um vício para ele, uma fonte de prazer e poder que o impelia a explorar cada vez mais. Nem mesmo aquela prisão havia conseguido arrefecer essa paixão. Sua mente ansiava por novas descobertas, novos sabores da magia, e ele estava disposto a fazer qualquer coisa para saciar essa sede insaciável.

Agora, mais cauteloso do que nunca, Abaddon sabia que precisava escapar daquela prisão que o aprisionara por tanto tempo. E para conseguir isso, entendia que devia dar os passos necessários com a ajuda de seus três ajudantes.

E como um hábito que acalmava sua mente e lhe dava esperança, ele sussurrou mais uma vez:

— Três seres se reunirão com Abaddon, ex-mestre dos mundos, e o prelúdio do caos se iniciará.


SERGIO ROMANOV:

Sérgio Romanov encontrava-se novamente diante de uma experiência não vivida. A missão confiada por Abaddon agora o confrontava com um dilema: avançar, mesmo que isso o afastasse da trilha familiar revelada por seu ‘eu’ do futuro.

Ele entendia que essas novas escolhas delineariam um futuro desconhecido, repleto de possibilidades inexploradas. Cada passo em direção ao desconhecido era uma promessa de vivências novas, desafiando seu ‘eu’ do presente a se aventurar por territórios inexplorados. 

Sem trocar uma palavra com Isabella, ou com a misteriosa Guardiã Sombria, ele sem olhar para trás, sem hesitar, ergueu o último artefato de viagem dimensional fornecido pelo líder aprisionado dos Demônios Sombrios e o esmagou com força.

O artefato, mais um fragmento dos ossos dos lendários dragões, brilhou intensamente por um instante antes de se estilhaçar em milhares de fragmentos reluzentes. Uma onda de energia pulsante irrompeu do centro da esfera, criando uma abertura no tecido do espaço-tempo diante dos olhos de Sérgio. Uma espécie de vórtice dimensional se formou, emanando uma aura de poder e mistério.

Sem hesitação, ele se lançou em direção ao vórtice, sentindo uma poderosa sucção puxá-lo para dentro. O ar ao seu redor parecia vibrar com intensidade, e ele mal conseguia manter os olhos abertos diante da luz cegante que o envolvia. Em um instante, tudo à sua volta se desfez em um borrão de cores e formas distorcidas, enquanto ele era arrastado para o desconhecido.

Sérgio sentiu seu corpo ser lançado em um turbilhão vertiginoso. O tempo parecia distorcido, esticado além do reconhecimento, enquanto ele mergulhava cada vez mais fundo na escuridão.

Então, subitamente, a sensação de movimento cessou, e Sérgio Romanov se viu em pé, pronto para avançar em direção a um futuro desconhecido, determinado a alcançar a vitória desta vez. Diante dele se estendia um cenário familiar, porém repleto de novas oportunidades para superar os fracassos das inúmeras tentativas anteriores.


GUARDIÃ SOMBRIA

A Guardiã Sombria, liderava seu grande exército de sombras em uma fuga audaciosa. Sua pele negra destacava-se sob os raios de luz, enquanto seus cabelos encaracolados dançavam ao vento. 

Após roubar todas as armas do maior arsenal existente em todo o universo, a Guardiã Sombria e suas sombras se retiraram, cada uma carregando mais de uma arma. Era uma onda gigantesca de sombras, talvez composta por milhares delas ou algo próximo disso. Com agilidade de um comando mental, ela recolheu as sombras para seu interior, deixando apenas a forma sombria de um imponente dragão.

Montando a sombra do dragão, a Guardiã Sombria continuou sua fuga com destemor. 

A missão dada por Abaddon havia sido cumprida com sucesso, e além das armas roubadas, ela havia semeado a dúvida entre as outras forças de poder do Mundo Mágico. 

No horizonte distante, iluminado pelo espetáculo do segundo pôr do sol, a Academia de Combate Tradicional era engolida pelas chamas, tornando-se gradualmente uma visão mais e mais distante para o dragão e sua mestra, que voavam em alta velocidade.

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