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“A superfície é apenas o começo; a verdadeira jornada está nas profundezas. Explorar a profundidade da existência é enfrentar nossas próprias limitações e superar as barreiras do desconhecido. O verdadeiro entendimento surge da vontade de ir além do visível. Desvendar a existência requer coragem para mergulhar na complexidade da vida.”

Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.


Aurora permanecia ali, paralisada diante da devastação que se desenrolava diante de seus olhos. Seu rosto exibia uma expressão de puro horror, seus olhos refletindo a dor e a incredulidade diante da cena de destruição que se desdobrava diante dela. Harley, ao observar a expressão abalada de Aurora, percebeu que aquela era uma sensação nova para ela, uma experiência que jamais imaginara presenciar.

Mais do que a destruição da estrutura majestosa da Academia de Combate Tradicional, reduzida a meros fragmentos de concreto e aço retorcido.

Mais do que o fogo voraz que iluminava o céu noturno e aumentava a temperatura ao redor, mais do que as vidas ceifadas brutalmente naquela tragédia, mais do que as perdas irreparáveis de conhecidos e entes queridos, e mais do que a destruição de uma instituição de ensino venerável, o que verdadeiramente se perdia e era destruído naquele momento era a inocência. 

Era a crença ingênua de que certas coisas eram eternas, de que tudo teria sempre um fim distante e que a segurança do mundo ao seu redor era inabalável. Era a perda da fé na estabilidade e a descoberta dolorosa de que, no final, todas as coisas estão sujeitas a um fim. 

Para Aurora, aquela tragédia era como um choque de realidade, uma violenta interrupção em sua percepção do mundo. Nunca antes ela se deparara com algo tão terrível, algo que desafiasse suas crenças e a confrontasse com a feiura da vida. 

O impacto da destruição era avassalador, dilacerando não apenas a estrutura física da Academia de Combate Tradicional, mas também os alicerces emocionais da garota.

Era como se a vida, em sua crueldade implacável, decidisse mostrar seu lado mais sombrio, sem aviso prévio. Aurora sempre contara com a estabilidade do mundo ao seu redor, na continuidade das coisas que considerava certas e definitivas. 

Contudo, diante daquele caos, ela se via confrontada com a efemeridade de tudo o que conhecia, com a fragilidade das estruturas que construíra em sua mente.

Aurora estava impotente diante da realidade que se desenrolava diante de seus olhos. Era como se um véu tivesse sido arrancado de seus olhos, revelando a efemeridade de todas as coisas que antes considerava seguras e estáveis. 

O imponderável não podia mais ser ignorado. Não podia mais ser relegado às sombras ou escondido sob uma falsa sensação de segurança. 

O impacto emocional que uma tragédia como aquela causava era profundo e avassalador. Era um novo tipo de despertar, uma aproximação inevitável do lado mais sombrio da existência.

Era impossível para Aurora afastar o pensamento incômodo de que tudo o que tomara como certo não passava de ilusão, de que as perdas podiam ser maiores do que suas apostas e crenças; de que as certezas podiam ser tiradas a qualquer momento, deixando para trás apenas cinzas e ruínas. 

Ela sentiu o peso da decisão pesar sobre seus ombros enquanto as palavras escapavam de seus lábios: 

— Eu preciso ir…

Ela finalmente saiu da paralisia. Para Harley, que observava atentamente, a garota movia-se com uma agilidade que sugeria uma fuga ou, talvez, agindo com uma determinação silenciosa, como quem se dirige para um confronto inevitável.

Girando algumas pequenas estrelas fixadas no painel de controle, a tela do veículo de transporte ganhou vida, iluminando-se novamente com um mapa detalhado de várias localizações do Mundo Mágico. 

O jovem observou mais uma vez fascinado por todo aquele espetáculo representativo de lugares, mas desta vez, ao invés de iniciar a movimentação, a cápsula se dividiu em duas partes, cada uma ficando com metade da tela de controle. 

Uma nova divisão foi se formando entre Harley e Aurora. Em vez de uma cápsula, formaram-se duas, separando totalmente os lados em que os jovens estavam. Era uma divisão simétrica e aparentemente igual. 

Ele não conseguia mais ver a garota, mesmo tão perto dela. Essa separação abrupta ecoou em sua mente, deixando-o com uma sensação de vazio e desamparo.

A parte do invólucro contendo Aurora se dividiu e ganhou movimento. Sem uma palavra ou um último olhar para trás, a garota partiu, deixando Harley sozinho em sua metade reduzida da cápsula. 

Enquanto ele observava o espaço vazio onde ela estava momentos antes, uma torrente de pensamentos tumultuava sua mente. Mais uma vez, a solidão mostrava-se como única companheira estável nesta sua ainda curta vida. 

Já que, ao contrário das outras companhias, que exigiam avaliações constantes e adaptações às suas demandas mutáveis, a solidão não impunha filtros ou receios. 

Harley começava a compreender que todo contato humano inevitavelmente minava sua autonomia. Era como se cada interação fosse uma aposta na roleta da vida, na qual entregava-se parte de si mesmo, sujeitando-se às consequências das escolhas alheias e enfrentando o peso do remorso ou da rendição. 

O outro se tornava um antídoto perigoso para suas indecisões e fraquezas, uma armadilha complexa que a vida lançava para testar suas certezas e sua independência. 

Harley observando o invólucro que se afastava, já distante, ratificou a percepção de que cada contato humano representava um desafio, uma oportunidade para discernir quais partes de si mesmo seriam subjugadas pela dependência.

Voltando sua atenção para sua parte do invólucro, encontrando-se agora sozinho diante de controles e ativações desconhecidos, ele se viu imerso em um mar de possibilidades incertas, sem saber ao certo qual caminho seguir. 

Deixar o invólucro e seguir a pé significava se aventurar em território desconhecido sem um rumo preciso, enquanto girar as estrelas poderia resultar em consequências imprevistas. 

Outra opção seria tocar a tela, uma ação que Harley avaliava como a mais segura, já que suas memórias sobre as ações de Aurora indicavam que nenhuma mudança de estado, velocidade ou direção ocorria apenas com o toque na tela. Assim, ele decidiu tocar levemente a superfície, buscando uma ação segura e previsível. 

A tela se iluminou, causando um leve sobressalto no jovem, que estava atento e preparado para reagir a qualquer eventualidade. Uma luz envolveu seu corpo, mas não provocou qualquer mudança ou sensação perceptível nele. 

No entanto, após essa breve alteração, não ocorreu mais nenhuma mudança, e todas as suas tentativas subsequentes de tocar na tela foram recebidas com nada além de silêncio e escuridão

A frustração crescia à medida que nada mais parecia acontecer, e, internamente, a convicção de que acionar qualquer comando ou alavanca não traria resultados positivos e previsíveis aumentava ainda mais. 

Harley se recriminava novamente por ter sido tão passivo e por não ter perguntado ou investigado um pouco sobre o funcionamento do veículo.

Cada segundo era um lembrete cruel de sua impotência diante das circunstâncias. Prometendo a si mesmo depender menos da sorte e das casualidades no futuro, ele reconhecia a importância crucial do conhecimento sobre seu próprio destino.

Ao lembrar-se dos transportes e utensílios simples de seu mundo natal, onde a praticidade e a simplicidade reinavam, ele percebeu o abismo entre sua terra natal e esta sociedade avançada em que agora se encontrava.

Enquanto, por exemplo, em sua terra natal, o transporte muitas vezes dependia da força animal e podia ser compreendido através da interação com os animais de tração e suas estratégias, aqui neste novo mundo, os veículos de alta velocidade eram como enigmas complexos, impulsionados por sistemas invisíveis e intrincados. 

Seu funcionamento exigia não apenas conhecimento técnico, mas uma compreensão profunda dos sistemas avançados e sobrepostos que haviam evoluído da simplicidade para uma complexidade insondável.

Cada objeto neste novo mundo parecia ser um quebra-cabeça, com múltiplas camadas de complexidade que não podiam ser desvendadas apenas pela observação ou pelo uso intuitivo. Aqui, tudo era um grande mistério, exigindo um conhecimento prévio e, muitas vezes, experiência para compreender seu funcionamento. 

Talvez, refletia Harley, as habilidades marciais de meu mundo natal possam servir como um bom ponto de comparação. Enquanto as ações e movimentos habituais, como andar, eram intuitivos e simples, cada golpe e técnica marcial exigiam tempo e prática para serem dominados, além de uma orientação adequada para o refinamento das habilidades. 

Sem os passos estudados e testados ao longo do tempo, todo o potencial e as variações comprovadas da técnica não poderiam ser dominados ou deduzidos. A tentativa e erro teriam um ciclo enorme e talvez até impediriam a obtenção ou o domínio de todo o conhecimento.

Quando finalmente compreendeu que a falta de conhecimento lhe negava o uso do transporte, ele decidiu que não podia mais esperar. Assim, ele seguiu sua trajetória para fora do veículo. Nesse momento, uma voz familiar interrompeu o silêncio, e a imagem de Doravam apareceu na tela, trazendo consigo uma luz de esperança.

— Harley que bom que estar vivo. Estou conduzindo remotamente este veículo de volta ao Departamento de Ciência e Tecnologia — disse Doravam, dissipando as sombras da impotência que pairavam sobre o jovem.

— Aurora… — iniciou Harley, desistindo do complemento depois de refletir que Doravan com todos os seus controles e informações já deveria saber. 

— Ela está bem! Aurora tem suas obrigações… — respondeu Doravan, captando a intenção do jovem e suas dúvidas.

O olhar de Doravan permanecia fixo em Harley, como se estivesse ponderando se deveria prosseguir com a conversa. No entanto, essa hesitação foi tão breve quanto o silêncio que se seguiu à sua última fala.

— Vou precisar de sua ajuda para recuperar as armas roubadas — completou Doravan, mudando de assunto e adicionando uma demanda inesperada. 

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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