Capítulo 320 – Nenhum Plano Sobrevive ao Primeiro Contato
Tradutor: Cybinho
Fa Bi De respirou fundo e então soltou. Seus olhos se abriram. A escuridão o cumprimentou. Escuridão e paredes de pedra. As paredes do pequeno santuário que eles criaram nos túneis do lado de fora da base inimiga, escondidas pelas ilusões de Nezan.
Ele se perguntou distraidamente como ele continuava se encontrando no subsolo, porque ele odiava muito estar cercado por pedras. Primeiro o mapa que o levou às memórias de Xiaoshi, depois os macacos da Colina dos Cristais, e agora uma passagem lateral secreta onde eles estavam se preparando para enfrentar cultivadores demoníacos.
Pelo menos dessa vez, irônico dado o que esse lugar continha, as paredes não pareciam tão opressivas. Talvez fosse o fato de que ele estava mais forte agora… ou talvez fosse porque estava tão perto do solstício. Ele podia sentir a presença da lua aqui neste lugar abaixo da terra. Era a mais poderosa que ele já havia sentido; na véspera da noite mais longa do ano, nessa escuridão perpétua, brilhando na tundra fria.
Ajudou, refrescando-o e rejuvenescendo-o após a jornada brutal pela tempestade conjurada pelo Mestre Varredor da Floresta. Mesmo com as proteções que o Casco de Trovão havia concedido a eles, não tinha sido agradável. O terreno tinha sido um pesadelo para navegar na melhor das hipóteses, e foi somente devido a Shao Heng e Spooks que eles chegaram aqui tão rápido. Mas aquela jornada árdua foi apenas a primeira metade de sua tarefa. Eles conseguiram entrar furtivamente nos túneis que cercavam a base de seu inimigo sem serem detectados. Agora, eles precisavam realmente derrotar seu inimigo. Eles já tinham encontrado o que seria sua entrada para a base de seu inimigo: um túnel parcialmente desmoronado que Ri Zu havia encontrado com suas construções de Qi sombrias.
Ele olhou para onde Shen Yu e Nezan estavam. O velho e a raposa seriam mantidos em reserva para fazer a luta pesada — se o oponente que derrotou Zang Shenhe levantasse a cabeça, ele seria esmagado por Shen Yu. O resto? Isso caberia a Bi De e seus companheiros administrar.
O velho acenou para Bi De.
Bi De se levantou; ele havia notado que sua aparência natural… bem, não inspirava tanta confiança em seus companheiros. Uma forma humana era mais fácil para eles verem como igual. Provavelmente era algo natural e instintivo, e ele queria que eles se sentissem confiantes até que houvesse necessidade de sua fúria total.
Bi De virou-se para o pequeno e apertado túnel e olhou para trás, em direção aos seus companheiros. O Qi deles, antes vacilante, havia se estabilizado. Embora alguns deles ainda não estivessem cem por cento… mover-se agora era preferível a esperar e arriscar ser pego antes que seu ataque pudesse começar.
Virando-se para seus companheiros, Bi De os chamou para a frente. “Está na hora,” ele declarou simplesmente.
Yun Ren, que estava descansando sua testa contra o Céu de Verão, soltou um suspiro suave. Suas mãos tremiam levemente, mas ele as cerrou em punhos. Seus olhos âmbar, presos em seu olhar perpétuo, traíam um pouco de seu nervosismo. No entanto, ele embainhou sua espada e avançou, seu andar predatório de uma maneira além daquela de um caçador experiente. Um lábio se curvou, expondo dois dentes afiados e carnívoros. Orelhas de raposa se contraíram no topo de sua cabeça, e uma cauda balançou de seu traseiro.
Yushang se empurrou para longe de onde estava encostada na parede e rolou os ombros. Não havia um sorriso brilhante e borbulhante em seu rosto hoje; em vez disso, seu olhar estava focado, e sua intenção tão afiada que rivalizava com a de Tigu.
Han assentiu com a cabeça para as palavras de Bi De. O homem corpulento terminou de mastigar a barra de ração que tinha, sua cabeça erguida e seus olhos queimando. “ Para o Clã Che,” ele murmurou baixinho. “Heróis. Matadores de Demônios. Não mais forragem para lâminas.”
Shao Heng deu um tapinha no ombro do homem mais jovem enquanto ele se alinhava ao lado de Han. Shao Heng estava simplesmente preparado, como o veterano que era; o que lhe faltava na intensidade que Yushang e Han tinham, ele compensava simplesmente por estar calmo e no controle. Uma rocha em um rio furioso, sem se incomodar com a turbulência ao seu redor.
Spooks, o Casco de Trovão, soltou um pequeno bufo, embora mantivesse sua presença reprimida, o jovem Besta Espiritual parecia ansioso para começar.
Fenxian e Yingwen simplesmente se acomodaram, alinhando-se com os outros e ficando de pé com as mãos atrás das costas e as espadas na cintura.
“Agradecemos novamente por nos dar a chance de ajudar a resgatar nossos camaradas e a Élder Shenhe”, disse Yingwen. “Não hesite em gastar nossas vidas se elas nos comprarem a vitória.”
Bi De inclinou a cabeça diante da determinação deles.
Finalmente, Bi De se virou para Ri Zu. Ela abriu os olhos e nas sombras que a cercavam um enxame acordou. Cem olhos vermelhos brilhantes se abriram, formas sombrias começaram a saltitar, chiando e guinchando.
Todos eles estavam preparados. Todos eles estavam focados. A hora estava realmente sobre eles. Bi De falou no silêncio tenso.
“É minha maior honra lutar ao seu lado”, disse Bi De. “Ter companheiros tão valentes para a luta que temos pela frente. Nomeio cada um de vocês como meus irmãos e irmãs; pois o que mais vocês poderiam ser, quando estamos prestes a derramar sangue juntos?” Ele juntou as mãos e fez uma reverência. “Agora, para a brecha, meus queridos amigos. Para a brecha nós vamos. ”
Não houve grito de concordância. Não houve elevação de vozes, embora Bi De soubesse que a maioria deles queria — gritar e aliviar um pouco da tensão.
Bi De se virou e caminhou para frente. Seus companheiros o seguiram. Era como ir confrontar Sun Ken todos aqueles anos atrás, marchando com todo o poder de Fa Ram em suas costas.
Bi De tinha sido arrogante então; cheio de si, e seguro de sua superioridade absoluta. Ele tinha se pavoneado, cheio de insultos e comandos. Ele tinha caminhado abertamente, pois ele achava que ninguém poderia resistir a ele.
Agora ele sabia melhor.
Eles se moviam rápida e silenciosamente, suprimindo seu Qi. Ratos sombrios corriam ao lado deles, seus olhos vermelhos brilhando na escuridão. Eles tagarelavam ocasionalmente para Ri Zu enquanto exploravam à frente.
‘A entrada está chegando. A guarda acabou de trocar,’ Ri Zu sussurrou, sua voz levada aos ouvidos deles somente por Qi.
Bi De assentiu e levantou o punho enquanto se aproximavam do túnel parcialmente desmoronado que tinham visto ontem. O buraco era pequeno demais para um humano passar.
Mas não para um rato.
Houve um pop abafado quando Ri Zu se transformou e sacou sua arma. A agulha prateada que Han havia feito para ela estava manchada de preto com veneno.
Ela olhou para Bi De, que assentiu.
Ri Zu desapareceu pelo buraco. Eles esperaram que Ri Zu lidasse com o guarda, seus corpos tensos.
Um momento depois, um rato sombrio apareceu na brecha e guinchou.
Bi De segurou sua mão como uma faca e, com vários golpes rápidos, aumentou a abertura. Ele estava atento para não fazer barulho, suas mãos eram um borrão enquanto ele pegava cada pedaço errante de destroços antes de rapidamente jogá-los de volta para serem pegos por seus companheiros, que gentilmente baixaram para o chão.
E então… eles estavam lá dentro. Estavam em um corredor de pedra bem iluminado. Ri Zu estava em cima do ombro de um homem. Ele estava de pé, ereto, com uma arma na mão, mas seus olhos estavam vazios.
Todos os seus músculos, exceto o coração e os pulmões, estavam completamente congelados — um manequim perfeito que resistiria a um exame superficial se alguém passasse por aquele corredor, embora as chances de que ele realmente acordasse novamente fossem pequenas.
Eles tinham invadido com sucesso a base do oponente, sem que o inimigo percebesse. O plano era ficar o mais quieto possível, despachando os inimigos conforme os encontravam, sem dar o alarme, e continuar pegando patrulhas isoladas de surpresa.
Mais construções de Ri Zu mergulharam nas sombras nas paredes. O pequeno rato escutou atentamente por um momento, antes de apontar para o corredor a leste.
Eles seguiram pelo corredor até encontrarem outros dois guardas, que estavam parados em seus postos.
Bi De pegou uma. Shao Heng, com sua lâmina coberta pelo veneno de Ri Zu, pegou a outra.
Eles pararam novamente, e Ri Zu ponderou sobre as informações que suas sombras traziam.
‘ Há muitas-muitas passagens ‘, ela sussurrou, mergulhando em sua fala natural de rato. ‘Esta leva ao centro, enquanto esta contém o leve cheiro de sangue.’
“Então devemos ir—’ Bi De começou, mas então parou quando de repente houve um pulso. A montanha inteira estremeceu.
Um lamento começou a ecoar pela base.
“Intrusos! Intrusos na base! Quadrante sudeste!” uma voz ecoou através das paredes. “Todo o pessoal não combatente deve prosseguir para os pontos de evacuação!”
Bi De recuou surpreso e se virou para Shen Yu. O velho parecia aprovar as ações deles um momento atrás, mas por um breve instante uma carranca surgiu no rosto do velho.
“Não houve nenhuma proteção acionada”, afirmou Shen Yu.
Houve um barulho que ecoou pela base.
E então uma série profunda de rugidos estrondosos e gargalhadas estridentemente.
“Para o centro!” Bi De fez um julgamento rápido. “Veja se conseguimos localizar o que nos encontrou e decapitar qualquer líder antes que eles tentem escapar!”
Todos eles explodiram em movimento, correndo pelo corredor, enquanto Bi De de repente sentiu um mau pressentimento.
Quem ou o que os revelou?
