Dante estava de olhos fechados, e ele sabia o porquê daquilo: havia morrido novamente. Apesar de não ter sido brutal como da última vez, aquilo ainda o deprimia. Tentava de tudo para se manter vivo sempre, mas falhava. Às vezes ele chegava a pensar que algo conspirava contra ele para isso acontecer.
O garoto já chegou a pensar em como seus pais reagiriam a isso. Com certeza ficariam abatidos, mas teriam forças o suficiente para suportar esse fardo? Bem, Dante não teve forças, e isso só o fez se isolar ainda mais. Nesses momentos de morte, ele sentia falta de sua vida antes de tudo dar errado, e pensava em sua família.
— Então você acordou? — Foi a primeira coisa que ouviu. Quando estava ciente de estar acordado, avistou logo a sua frente um rosto infantil de uma garotinha na sua frente. O Jovem se afastou, olhando ao redor.
— Mas que porr… — Nem ao menos conseguiu completar a sua frase, quando viu onde estava.
Era uma floresta, só que feita de doces. Tudo era doce, o chão era feito de marshmallow, havia uma cachoeira de calda de chocolate. As nuvens eram bolas de sorvete de baunilhas no céu. As árvores eram pirulitos gigantes. A verdadeira terra dos doce! Uma loucura! O paraíso para as crianças, e o pesadelo mais mortal para os diabéticos.
Dante estava chocado. Como pôde sair de um lugar escuro e assustador para um que era a representação perfeita de um mundo de um desenho estupidamente bobo para crianças de seis anos? Bem, de qualquer forma, era melhor isso do que ser perseguido por um homem nu, balançando a sua “rebellion” enquanto tentava o matar com uma marreta.
— Hihihi! Está impressionado, jovem?
A garotinha que havia visto antes apareceu em sua frente com um sorriso ardiloso.
E, a vendo bem, pôde prestar atenção nas vestimentas que usava: que era uma um casaco sem capuz vermelho, junto de uma calça branca com listras pretas. Sapatinhos de unicórnio e uma touca preta. Mas algo que chamava a atenção eram seus olhos de cor escarlate que emanavam um pouco de brilho.
“É uma deusa? É uma criança!”, pensou, incrédulo, principalmente pela esquisitice que era ver uma criança no posto de deusa. Não era que ele esperava, e parecia mais uma espécie de fórmula repetida de obras japonesas.
— Bem-vindo ao meu quarto, Dante Katanabe! — disse ela, estalando os dedos.
Quando estalou, várias partículas no ar foram para a frente de sua mão, se juntando e formando um pirulito de morango. A deusa pegou o doce e o ofereceu ao garoto.
— Quer? — disse, esperando que aceitasse.
Felizmente para ela, o garoto aceitou, mas não colocou na boca. Apenas segurou enquanto fazia a seguinte pergunta:
— E quem é você? A Deusa dos Doces?
A garotinha começou a rir.
— Não seja tolo. Nem existe essa tal de “Deusa dos Doces”, e nem sei de onde você tirou essa ideia estranha. Haha.
Bem, o lugar em volta poderia dar essa impressão a qualquer um.
— Meu nome é Candy Emily! E sou a Deusa dos Sentidos.
Além de ter achado seu nome esquisito e mais um indicativo de que seria uma “Deusa dos Doces”, Dante franziu a testa, não entendendo o que ela quis dizer com “Deusa dos Sentidos”.
— Como assim?
Após ter perguntado, Candy segurou dois dedos do garoto. Estranhamente, Dante não conseguiu sentir ela tocando seus dedos.
— Seus dedos são tão bonitinhos… Seria uma pena se alguém fizesse isso! — Fechou a mão em seus dedos, os segurando fortemente e levando para trás, quebrando-os instantaneamente.
— Quê? O quê?! Aaaaaah! — Se desesperou ao ver seus dedos quebrados como se fossem galhos. No entanto, parte do medo que sentiu na hora desapareceu quando percebeu que não sentia dor, apenas agonia por ver aquela cena.
— Entendeu agora? Posso controlar o que você sente fisicamente. Se eu não tivesse feito você perder temporariamente a capacidade de sentir dor, você estaria rolando e chorando pelo chão como um bebezinho muito fofo!
O garoto achou aquilo cômico, no entanto. Mesmo que fosse para sentir uma dor insuportável, a não sentiu. E isso o trazia felicidade, já que não estava sofrendo por causa da dor. Logo, teve uma ideia.
— Deusa, o quanto você me conhece?
— Hah! Muito, meu garoto. Você é bem famoso no paraíso. Todo mundo te conhece.
— Oi?
Pensou no motivo daquilo, e foi provavelmente por causa das vezes que voltou a vida. E esperava que fosse por esse motivo mesmo. Bem, ignorando isso, foi logo ao seu pedido:
— Se você já sabe o que eu tenho passado ultimamente. Você poderia me deixar com essa imunidade a dor permanen…
— Não!
Dante ficou decepcionado. Para ele, enfrentar todo o terror que estava passando seria mais fácil se simplesmente parasse de sentir dor, mas a garotinha não cooperou.
— Por quê? — perguntou ele.
— Dante, meu rapaz. A dor é um artifício importante na vida de qualquer ser humano. Sem a dor, como saberemos se estamos machucados ou não? Ou se precisamos do hospital? Por isso, me recuso.
O garoto apenas aceitou, desistindo do seu plano.
— Tudo bem então… E por que eu acordei aqui no seu quarto ao invés do Himawari?
— Ah, eu disse para aquela garotinha idiota que queria ver você pessoalmente. Queria conversar um pouco e fazer uns testes em você.
“Testes?!”, ficou curioso. Como era uma deusa que falava isso, não esperava que viesse nada de anormal, ruim, ou anormalmente ruim.
— Mas não é como se tivéssemos tempo para isso agora. Venha comigo.
Candy estalou os dedos novamente, e uma entrada para o próximo lugar foi aberta como se tivesse uma porta deslizante invisível.