Selecione o tipo de erro abaixo

Mais um dia tranquilo na vida de Dante Katanabe.

Após vários eventos que o levaram a retomar ao seu primeiro emprego, um de meio período, mas, desta vez, em tempo integral, o garoto dedicava-se ao máximo ao seu trabalho. Afinal, nenhum chefe ficaria satisfeito com um empregado preguiçoso, não é mesmo? Porém, algo muito inesperado aconteceu com ele hoje.

O jovem estava limpando uma estante que estava em um dos quartos de hóspede. Nenhum de seus amigos funcionários estavam juntos dele. Entretanto, uma garota com cabelos vermelhos e um olhar curioso o observava atentamente.

— Hehe… hehe… hehe…

Aquela garota não respeitava um limite de distância entre duas pessoas que nunca se viram na vida. Ela estava ao lado de Dante, olhando para seu rosto de forma curiosa, e sem dizer uma palavra. Aquilo deixava o jovem sem graça.

Toda aquela situação para ele era estranha. Uma pessoa que nunca viu na vida, com um rosto japonês o chamou pelo nome e disse que finalmente o encontrou. Nem a Sophie tinha uma resposta certa para aquilo.

Quando questionado à Chap sobre a entrada daquela garota, a conversa não foi muito esclarecedora sobre sua identidade e quanto sabia sobre o garoto.

— Ela disse que te conhecia, e eu permiti a sua entrada.

— Quê? Como assim? Você é o dono da mansão e permite a entrada de uma pessoa que o seu funcionário não conhece?

— Ela disse que te conhece, mas você diz o oposto. Bem, aquela jovem não vai trazer problemas, então lide com ela.

Essa foi a conversa entre os dois. Chap literalmente deu de ombros e não se importou nem um pouco. E aquilo deixou Dante frustrado e curioso sobre o porquê daquilo, “por que o dono da mansão não expulsou a desconhecida?”, essa era a pergunta que não queria se calar. O garoto não entendia muito bem o que se passava pela cabeça do seu chefe, mas pra permitir algo assim, começou a pensar que não deveria ser nada de tão normal.

Até agora, a desconhecida só ficou na cola do garoto, o observando trabalhar em uma aproximação muito curta, ao ponto de incomodá-lo. Não trocaram nenhuma palavra até o momento, e Dante tentava se focar em seu trabalho, mas com aquela garota ficava difícil.

“Sophie, você pode ver se essa garota tem segundas intenções?”

[Nada que eu tenha identificado, mestre.]

“Tudo bem… Será que se eu ignorar ela vai embora?”

[Não creio que essa garota seja um animal, apesar de humanos serem animais racionais. Mas você já estava fazendo isso enquanto trabalha, né? Por que não tenta outra abordagem?]

“É mesmo… ‘Outra abordagem’, é…? Hummm…”

Se o garoto não achava isso tudo já estava estranho o suficiente, tinha alguém os observando, e ele sabia quem era.

“Por que a Chloe está nos vigiando de trás da porta?”

Sua colega de trabalho estava os espiando pela porta, achando que ninguém a veria. Porém, duas coisas entregavam a sua posição. Primeiro: a sua sombra que estava sendo refletida no chão. Do campo de visão de Dante, era possível ver, não o corpo todo, mas o suficiente para identificar uma mulher ali. Segundo; uma pequena mecha de seu cabelo estava aparecendo. Inclusive, foi por isso que consegui identificá-la. Havia cinco cinco empregadas na mansão, e a única que tinha cabelo preto era Chloe.

[Então você percebeu? Ela realmente está bem escondida lá.]

“Sim, eu percebi.”

[Incrível! O mestre é realmente um bom observador.]

— Haha…

Ele tentou conter o quanto aquelas palavras o pegaram desprevenido e o fizeram corar. Se aquela desconhecida visse isso de repente, achara isso estranho, e toda aquela situação ficaria ainda mais esquisita para o garoto. Todavia, deu uma pequena e envergonhada risada.

“V-você realmente sabe bajular alguém, né?”

Por fim, finalmente acabou de limpar a estante. Porém, ao invés de partir logo para a próxima tarefa, parou ali mesmo. Aquilo fez a garota desconhecida ficar confusa e se afastar um pouco.

— Beeeem, você ainda não me disse seu nome…

— Meu nome, huh? — Sorriu — Meu nome é Kaori Ono. Me chame apenas de Kaori, Dante.

Aquilo o deixou desconfortável.

— Certo… Kaori…

Não soube como continuar aquela conversa. Um silêncio desconfortável pairou, e a garota inclinou sua cabeça, sem mudar sua expressão facial, esperando que essa conversa continuasse.

Pensou, pensou e pensou, e a única coisa lógica que surgiu na cabeça do garoto para continuar, e também que deveria ter perguntado antes, era sobre o significado da presença dela aqui. Por que Kaori Ono estava ali? E o quanto ela sabia sobre ele? Bem, sobre esse último caso, não sabia de forma clara como começar, então, optou pela primeira opção.

Como alguém que não queria nada, pegou o pano novamente e continuou a passá-lo na estante. Já estava limpa. Aquele quarto inteiro estava limpo e perfumado. O jovem fez um ótimo trabalho. Entretanto, não queria sair daquele quarto por ora, até entender quem era essa pessoa ao seu lado. Essa misteriosa pessoa que o conhecia e tinha conhecimento disso, mas que o garoto não compartilhava do mesmo conhecimento.

Ela ficou confusa ao vê-lo passar o pano na estante novamente. Pensou um pouco, e chegou à conclusão que foi muito precipitada ao pensar que o garoto limpou tudo. Então, chegou mais perto da estante para checar o quão sujo estava… Estava brilhando.

— Acho que isso já está limpo, não?

— É-é mesmo!

Dante se envergonhou. Ele demorou mais do que deveria em fazer suas perguntas, a partir do momento em que pegou o pano novamente e fingiu continuar a limpar a estante. A garota riu e deslizou o dedo na madeira. Estava brilhando e refletindo seus rostos, junto com parte do quarto que estava no campo de visão do móvel.

— Então… Huh?

No momento em que ia fazer as suas perguntas, o garoto se calou e olhou novamente a porta do quarto. Ele percebeu sua colega de trabalho, Chloe. Porém, havia algo diferente desta vez, parecia que tinha mais alguma pessoa ali, mas ele não conseguia ver com clareza, só uma pequena sombra irreconhecível que estava ao lado da empregada.

Bem, ele ignorou aquilo e decidiu tentar perguntar novamente. Limpou a garganta, e olhou em seus olhos.

— Como… você veio parar aqui?

Fazia um bom tempo desde que o jovem cortou a ligação do seu mundo original para aquele mundo fantasioso. Como uma televisão, quando puxada fora da tomada, ela perde completamente sua conexão. A diferença era que, normalmente, lembrávamos do que acabávamos de assistir em uma TV, mas, segundo Sophie, o pessoal do mundo original de Dante esqueceriam completamente. No caso, já devem ter esquecido.

Seguindo essa lógica, a garota chegou naquele mundo a mais tempo do que aparentava. E ela com certeza deu sorte. Pessoas que tentavam entrar neste mundo, quando ele ainda estava ligado à Terra, morriam de forma abrupta. Vários países se juntaram e tentaram, mais ou menos no início do século 20, mas foi perda de tempo. Muitos morreram, de formas inexplicáveis.

De início, os governos de vários países não divulgaram que pessoas podiam morrer se tentarem entrar no “continente”, isso só foi revelado após o período da segunda guerra mundial.

Não se sabia o quanto já foi tentado no passado, a não ser por esse fato que aconteceu no início de um século. Nas aulas de geografia, havia uma breve passagem sobre o que na época era o continente Asgras. Como não tinha muitas informações, sem muitas aulas. Dante nunca se importou com isso de verdade, e nem sua família.

O garoto esperou sua resposta. A garota estava parada, o olhando sem mudar a expressão facial ou se movimentar muito. Ela poderia estar pensando na melhor resposta que poderia dizer, ao menos, foi isso que cogitou, enquanto esperava em silêncio.

— Huh!

— Hmm…?

Ela deu uma curta e baixa risada. O garoto não conseguia entender o que se passava por sua cabeça.

— Da mesma forma que você, acho.

“Acha?”

Ter dito “acho” fez o jovem pensar que ela não tinha certeza de como havia chegado ali. Aquilo não o deixou muito tranquilo. Se isso que a garota falou fosse verdade, então, significa que teve sorte em entrar naquele local, assim como Dante.

— Tá, e… como você me conhece?

Ele decidiu ir para a segunda opção.

“O que eles estão fazendo?”

Enquanto os dois estavam dentro do quarto, Chloe, com curiosidade, os espiava, de uma forma que achava completamente discreta.

Estava agachada no chão, encostada na parede e vendo de relance Dante e Kaori conversando.

De forma abrupta, sentiu dois toques em seu ombro. Olhou para trás e viu a pessoa que chamou sua atenção…

— Emi?!

…A mesma pessoa que Dante havia percebido anteriormente. Parecia que Chloe não havia percebido sua presença ali. Emi, uma outra empregada da mansão, estava atrás da garota, a olhando de forma curiosa.

Ela não entendia porque sua colega de trabalho estava atrás dela, e ficou muito surpresa por não a ter percebido antes.

— O que você está fazendo aqui? — disse mantendo um tom quase silencioso em sua voz.

— Eu que pergunto. Chloe, você não deveria estar trabalhando? — Emi disse no mesmo tom da garota.

Não entendeu o porquê disso, mas decidiu manter a mesma tonalidade sonora.

— Bem… você não acha estranho aquela garota estranha do nada?

— Hm? Aquela garota no quarto com Dante? Não é uma conhecida?

— Eu ouvi a conversa deles, e parece que o Dante não sabe quem ela é!

— Hm… você ouviu a conversa dos outros… Não, está espiando eles. Que falta de educação…

— B-bem…!

Não sabia como responder a isso. Decidiu apenas desistir e aceitar. Ela decidiu não explicar e continuar espiando, porém, acabou ouvindo um som peculiar…

“Passos?”

Chloe se levantou do chão rapidamente. Emi fez o mesmo.

— Então, pra onde fica o banheiro?

Eles andaram até a entrada. Kaori não respondeu a pergunta de Dante, e o jovem estava começando a achar que aquilo era algum tipo de piada por parte de seu chefe. Talvez Chap decidiu tirar um dia para pregar uma peça no garoto, colocando uma pessoa que diz ser uma conhecida, mesmo nunca tendo visto essa pessoa na vida.

Se aquilo fosse verdade, Dante mal via a hora de dar um soco em sua cabeça, ou cuspir em seu café quente.

Após explicar a trajetória correta para encontrar o banheiro, Kaori agradeceu, e seguiu o caminho conforme explicado. O caminho que ela seguiu estava a frente das duas outras empregadas, ou seja, a garota passou por elas enquanto andava. E se percebeu ou não a presença das duas ali, Dante não sabia, e aquilo lhe deu um pouco de curiosidade. Ele havia as percebido há um tempo, e desconhecida? O garoto não tinha conhecimento.

Quando ela se afastou o suficiente, o jovem olhou de forma curiosa para as duas colegas de trabalho atrás de suas costas. Chloe envergonhadamente, como se uma pessoa fosse pega com seu histórico do google completamente sujo, virou para o lado.

— O que vocês estão fazendo?

— “Vocês”? Não, eu acabei de chegar. Perguntei a mesma coisa pra Chloe — disse Emi, apontando para a outra empregada ao seu lado.

— Veterana?

— D-desculpa! Eu só estava curiosa.

Estava com o rosto vermelho feito um tomate e balançava os braços para cima e para baixo rapidamente.

Dante não estava bravo e nem nada, só achou aquilo estranho. E depois do pedido de desculpas dela, ele achou tudo isso bem cômico, e deu uma pequena risada.

— Bem, isso não me interessa muito, na verdade. Tenho que voltar ao trabalho. Mas, eu queria esclarecer uma coisa que esqueci de te dizer. Ainda gem aquele cartão, Dante?

Ela se referia àquele cartão que lhe entregou há algumas horas. O endereço do restaurante estava na parte de trás, e o nome na parte da frente. O garoto só havia lido o nome do lugar e a localização, tinha mais um texto, mas não deu muita importância.

— Sim. Guardei no meu quarto.

— Ótimo. Não o perca. É um cartão especial, que lhe concede um dia de refeição grátis.

“Oooooh!!”, como se fosse a Terra colidindo com outro planeta, a mente dele explodiu com essa informação.

Ficou bastante animado. Nunca comeu de graça em um restaurante, claro, seus pais pagavam quando ele ia comer, mas não era de graça, já que alguém tinha que gastar dinheiro.

— Não se esqueça, amanhã às dez horas.

— Não se preocupe, não iriei esquecer.

Enquanto ouvia aquela conversa toda, a cauda demi-humana de Chloe apareceu, sem ninguém perceber, e se arrepiou.

— Bem, até mais, irei voltar ao trabalho, e vocês deviam também.

Emi preparou-se para se retirar.

— Verdade. Até — disse o garoto.

— Até — falou Chloe.

Então, a garota se retirou do local.

As orelhas demi-humanas apareceram na cabeça de Chloe, de forms abrupta. Ela não percebeu, estava perplexa demais por causa dessa conversa.

— Vocês vão sair juntos?

— É. A gente vai ler em um restaurante.

— Mas por que em um restau… Ai! — gritou de dor.

Dante havia percebido a cauda deka se mexer, e então, a puxou. Não sabia se puxou forte demais, ou aquilo era muito sensível, mas, sem querer,  machucou sua veterana, ao ponto dela dar um pulinho.

— Você tem problema, seu animal?!!

— D-desculpa! Não sabia que iria te machucar. Mas, você também não deveria se tão descuidada assim! Não quer que as pessoas saibam que você é uma demi-humana, não?

Com pequenas lágrimas nos olhos, ela acaraciou sua cauda, tentando conter a dor.

— Tudo bem. E obrigado por mostrar a minha indentidade sendo comprometida…

Antes que alguém mais visse, fez suas orelhas de gatinho e cauda desaparecerem.

Essa situação fez o garoto lembrar de Angel, e como se conheceram. Dante só sabe que tem um Anjo da Guarda, porque a garota foi descuidada. Isso meio que acabara de ocorrer. Chloe estava sendo descuidada, mas a diferença entre os dois casos, era que, tanto o garoto quando Ren já sabiam de seu segredo há bastante tempo.

— Uhuuuu! Dante!

[Oh, ela voltou.]

Kaori havia retornado do banheiro, e se encontrou com o garoto e a empregada no mesmo local onde estavam.

— Ah, oi. Encontrou o banheiro direitinho?

— Sim. Já usei também. Dei descarga, como uma boa menina.

— Ah, entendi.

Um silêncio pairou.

Dante não sabia como continuar uma conversa. Chloe não sabia sobre o que conversar. Kaori estava silenciosa, com sorriso no rosto e os olhando… Foi quando ela decidiu falar:

— Bem, acho que deverei me retirar. Eu queria ver como você estava, depois de todos esses anos. E, provavelmente, não nos veremos de novo.

Aquilo fez vários pontos de interrogação surgirem em sua cabeça. Aquilo era algum tipo de despedida. Dante não estava triste, mas sim confuso. Ele não a conhecia, não era seu amigo, não se importaria em não vê-la novamente. Porém, aquilo tudo o deixava mais curioso. “Quem era ela afinal?”, essa pergunta martelava em sua cabeça.

— Ok…?

Tudo que conseguiu responder foi isso. A garota não pareceu se impotar com uma resposta tão sem graça.

— Ah, e, provavelmente, em breve você se encontrará com “ele”.

“Ele?”

Aquilo não o deixou nem um pouco feliz. A primeira coisa que pensou quando a figura “ele” foi citada, fora no Rei Demônio. Dante ficou com medo.

Sua mente imaginou um Rei Demônio super poderoso, usando um manto roxo com azul escuro e luvas pretas, um olhar assasino e de superioridade, com poderes além da compreensão, e isso o apavorou ainda mais. Seu rosto estava quase pálido. O jovem sabia que o demônio superior queria algo com ele, queria caçá-lo. Foi avisado disso. Começou a pensar que se desse de cara com esse ser, levaria uma surra.

“R-Rei Demônio?!”

Estava começando a tremer. Entretanto, para sua felicidade…

[Não acho que ela esteja falando dele. Não sei de quem ela esteja falando, mas não acho que seja o Rei Demônio.]

…Sophie o tranquilizou um pouco. O garoto ainda não sabia quem era “ele”, mas, se não era o Rei Demônio, Dante poderia ficar mais tranquilo, já que tinha a chance de esse “ele” não querer caçá-lo.

Picture of Olá, eu sou Master!

Olá, eu sou Master!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥