— Ufa! Essa foi a última.
Angel estava no topo de uma escada, e colocou o último tronco de madeira para a fogueira. Era verdade que ela poderia usar suas asas para facilitar o trabalho, mas não queria revelar sua identidade como anjo para ninguém do vilarejo.
— Angel, minha jovem, conseguiu aí?
— Sim, chefe!
A garota falou, levantando o polegar e mostrando um sorriso no rosto.
Ela estava ajudando com os preparativos para a festa que rolaria no vilarejo, e, com sua força sobre-humana, facilitou a vida das pessoas que estavam com o trabalho mais pesado, acelerando o processo.
Desceu as escadas e viu, de baixo a cima, a fogueira que acabara de ser completa: vários troncos de madeira posicionados, um em cima do outro, formando um grande retângulo, junto de vários gravetos e folhas caídos de árvores em seu centro.
— Muito obrigada mesmo, minha jovem — o Chefe do Vilarejo, um homem idoso, puxou levemente sua camisa, e disse — Terminamos o trabalho antes do pôr do sol, e isso com a sua ajuda que facilitou muito as coisas, e, claro, com a ajuda de todo vilarejo.
— Não há de quê — disse com alegria — Mas, eu e minhas amigas estamos convidadas, né?
— Mas que pergunta idiota, mas é claro! Não era para ter nem dúvidas quanto a isso.
— É que somos novas neste local. Nos mudamos para cá faz pouco tempo.
— Oh, sei, sei. Mas, no meu aniversário, todos do vilarejo estão convidados.
“Ah! Então era sobre isso que se tratava!”, como ela não sabia com credibilidade sobre o que seria essa festa, imaginou hipóteses, como ser uma data especial, ou estavam fazendo apenas isso sem compromisso algum, só para se divertirem um pouco.
— Meus parabéns, chefe! Quantos anos?
— Huhuh, 58 anos. Estou velho, mas grande e forte! — Abaixou sua manga, mostrando seu braço musculoso com orgulho.
“Forte pode até ser, mas grande…”, ele era menor que Angel.
— Por falar nisso, chefe, tem certeza que isso não irá cair na hora do fogo, né? — Olhou para aquele amontoado de madeira.
— Pode confiar. Todos os anos foram assim, não tem porque cair agora.
— Se você está dizendo.
E, mesmo que caísse, a garota tinha a capacidade de salvar alguma pessoa que acabasse sendo acertada pelo fogo. Então, sem problemas.
— Angel, Angel!
Vozes dizendo seu nome animadamente ecoaram. Eram alguns homens que estavam admirados com a força que a garota tinha.
— Por favor, nos diga como você é tão forte sendo tão magrinha?!
Isso era justamente porque não era humana, e a garota preferia não falar isso. Então, resolveu encontrar uma boa desculpa.
— Malhem! Malhem como se não houvesse amanhã! Mas não exagerem tudo bem? — falou, como uma líder liderando o seu grupo.
— Tudo bem! — disseram, correndo para longe, aparentemente para começarem a malhar.
“Aparentemente eu consegui fãs.”, ela ficou bem feliz com isso.
— Hehe, aqueles rapazes estão bem animados, não é? — disse o chefe.
— Acho que sim.
— Por falar nisso, além de todos do vilarejo, pretendia chamar os membros da Mansão Elliot, mas eles estão ocupados com os preparativos para alguma outra coisa. Foi o que o senhor Chap disse.
Sendo assim, Angel não veria Dante novamente no dia da festa. Mas isso não era um problema. Ela tinha outras três amigas para aproveitar junto à festa.
— Hum?
Por falar em amigas, a garota avistou Freya, que estava vestindo um casaco marrom. Ela via as outras crianças brincando de longe, e tinha um olhar de preocupação no seu rosto.
Angel sorriu ao avistar a garotinha.
— Ei, chefe, eu vou ali rapidinho.
— Oh, tudo bem, sem problemas.
— Me chame caso precisar de alguma coisa.
A garotinha estava cutucando seus dedos, e, ainda com um olhar preocupado, tentava olhar de várias formas para as outras crianças.
— Freya?
— Senhorita Angel?!
Ela pulou de susto quando a mulher a chamou. Olhou para o anjo e depois para aquelas crianças novamente.
As crianças estavam brincando, e Angel deduziu que essa fosse a fonte da inquietação da demi-humana.
— Você quer brincar também?
— Eh? Não, não, não! Eu não quero não!
Seu rabo dizia o contrário. Ele estava balançando rapidamente para cima e para baixo. Além de que suas orelhas de lobo estavam em pé. Angel percebeu isso, afinal, não era muito difícil.
— Além do mais, eles nem perceberam que eu estou aqui, senhorita…
“É mais provável que só estejam ignorando você…”, essa hipótese fez com que ela pensasse que as crianças poderiam ser mais cruéis do que imaginava. Definitivamente não iria contar isso para Freya.
— Mas por que você não vai brincar com a Flora, hein?
Curvou seu corpo para baixo, chegando o seu rosto mais perto da garota.
— Com a Flora?
— Sim. Ou vá pedir para se juntar àquelas crianças. Ficar parada aqui não vai adiantar de nada.
Freya pensou no assunto. Tentar conversar com aquelas crianças seria difícil para ela, então, a primeira opção.
— Eu vou procurar a Flora.
A garotinha saiu em busca da fada.
Angel suspirou.
— Amanhã já é a festa. O dia está quase acabando.
Olhou para o céu.
O dia dos preparativos acabou, e o dia da festa e aniversário do chefe do vilarejo começou.
O lugar inteiro estava sendo iluminado por pedras mágicas pelas casas e árvores.
Boa parte da neve no chão foi varrida, apenas restando o gramado verde. Várias pessoas conversavam entre si, bebendo ou comendo. Haviam grandes mesas, onde as pessoas estavam servindo umas às outras.
— Essa festa está muito legal, não acha? — disse Alice, olhando para Angel.
— Concordo com você.
As duas estavam sentadas, enquanto comiam, em troncos de madeira, juntas de Freya e Flora.
— Ainda bem que o Dante conseguiu a casa para nós aqui! Se não, não conseguiríamos participar disso! — a fada comentou.
Aquela noite de festa estava boa, mas não 100% satisfatória para Angel.
“Eu queria que ele estivesse aqui para aproveitar com a gente.”
Infelizmente, Dante não podia participar, já que a festa na Mansão Elliot também estava chegando. Os funcionários estavam se dedicando para aquilo.
— Olá, minha jovem — o Chefe do Vilarejo sentou ao lado de Angel —, o que está achando da festa?
— Estou achando bem legal. O pessoal está se divertindo, e, o principal de tudo, tem comida. Se bem que estou com saudades de comer pizza…
— Pizza? O que é isso?
— Aaah… uma comida.
— Entendo… Bem, está demorando para alguém dançar na frente da fogueira — ele comentou.
— Hã?
— Algumas pessoas dançam em frente da fogueira. É a minha parte preferida da festa.
— Ah… Sendo assim.
Angel se levantou e andou em frente à fogueira.
— Eeei! Todo mundo! Se junta aqui! — ela gritou, fazendo com que toda a atenção fosse tomada à ela.
Todo mundo foi ver o que estava acontecendo no vilarejo, e viram Angel, que estava com um sorriso determinado do rosto.
— Imagino que vocês não saibam o que é o moonwalk.
— Moonwalk? O que é isso? — uma pessoa perguntou.
Angel acertou, ninguém dali sabia o que era isso.
— Boa pergunta! O moonwalk é um passo de dança. Quer que eu ensine ele para vocês?
Todos do local ficaram interessados com o que ela havia dito. Haviam assentido, e com a confirmação de todos, Angel começou, de forma lenta, a fazer esse passo de dança.
— Primeiramente vocês deixam um pé na frente do outro. O pé de trás tem que está levantado, desse jeito. E, então…
A garota começou a fazer o moonwalk para trás, surpreendendo a todos. Aquilo era uma coisa nova para aquele povo, e ficaram extremamente impressionados.
“A Angel está deslizando para trás?”, “Como que ela está fazendo isso?!”, “Isso é incrível!”. Isso foi algumas coisas que as pessoas disseram entre si.
— E aí? Gostaram?
— Faz de novo! Faz de novo! — disseram.
— Tudo bem.
Ela fez novamente o moonwalk para trás. Algumas pessoas adoraram tanto aquele passo, que tentaram replicar, mas sem sucesso.
— Também tenho outro passo de dança! Querem ver?
— Mostra! Mostra! — O povo falou em animação.
— Vocês que mandam!
Angel se preparou, saltando para frente e para trás, depois, levou seu corpo ao chão, e começou a girar rapidamente no chão — praticamente, um break dance —, só parando quando olhou para todos com uma expressão de satisfação em seu rosto, junto de uma mão na cintura, e outra apoiando seu rosto.
Todos aplaudiram o que ela fez, a deixando extremamente feliz.
Antes de agradecer, se levantou de um jeito bem extravagante, girando e levando suas pernas para cima, depois, consequentemente, seu corpo inteiro.
— Muito obrigada! Muito obrigada!
Depois disso, a festa rolou sem problemas algum.