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Capítulo 23 – O Nome Errado

O tempo não passava.

Martim já estava empanturrado. Tentava se distrair do enorme tédio e do clima terrível comendo o máximo que conseguia, mas logo atingiu seu limite e teve que se contentar em ficar sentado olhando para o nada e contando as batidas de seu coração. O pior era quando o tal criado voltava ao seu lado, soltava um pigarro e começava: “Aham, a rainha gostaria que vocês dançassem…” ou “A rainha lembra que…” ou “A rainha INSISTE em lembrar…”. Depois de repetidas vezes, a própria rainha resolveu cortar o intermediário e ela mesma dirigir o olhar para eles, com a reprovação no rosto. Martim e Maria não podiam fazer nada exceto ir até a pista de dança e aguentar mais alguns minutos de tortura.

Ele já previa que a noite seria ruim, mas nada tinha preparado-o para aquilo. Ficava imaginando como Maria aguentava ficar calada, naquela situação, sem fazer um comentário, soltar uma reclamação ou mesmo um xingamento. Cogitou uma nova tentativa de conversa, apenas para ser pisoteado de novo e ter alguma coisa para fazer, ter algum tipo de interação com ela. Mas não teve coragem, e eles continuaram sofrendo por um tempo interminável.

Depois da vigésima dança, se é que Martim contou certo, a rainha começou a ficar entediada. Ela também parecia ter comido e bebido muito, e seus olhos estavam sonolentos. Balançava o corpo ao som da música, com um sorriso bobo no rosto. Algumas vezes, fechava os olhos completamente e parava, aparentemente adormecendo por alguns instantes. Acordava em um susto e voltava a beber vinho ou conversar.

Em um desses momentos de aparente cochilo, seu criado apareceu ao seu lado e encostou a mão em seu ombro. Ela se assustou e se levantou. Pegou uma faca e colocou-a no pescoço do homem. Assustado, ele levantou os braços e começou a dizer algo. Martim não conseguia ouvi-lo. Um dos nobres ao seu lado levantou-se e segurou-a pelos ombros. Ela não se acalmou. Virou-se para trás e apontou a faca para sua barriga, fazendo-o se afastar.

Sem saber direito o que estava acontecendo, Martim ficou paralisado. Somente quando um terceiro homem chegou e tirou gentilmente a faca das mãos de Catarina foi que ela se acalmou. Rindo, ela começou a gesticular alegremente, parecendo pedir desculpas. Os nobres se entreolharam, e o criado fez sinal para trás, chamando duas serviçais. Elas seguraram as mãos da rainha e levaram-na embora, cambaleando, para fora do saguão.

Martim soltou a respiração, aliviado. Olhou para Maria e viu que ela também estava assustada. Reparou que ela tinha colocado as mãos embaixo da mesa. Olhou para baixo e viu que ela tinha levantado a saia até os quadris, revelando toda a sua coxa esquerda, onde havia um pequeno mas comprido punhal amarrado por duas tiras de couro. Sua mão segurava o punho fortemente. Ao reparar que Martim a olhava, ela rapidamente desceu a saia e se levantou.

— Onde vai? — ele perguntou, preocupado.

Ela não respondeu. Começou a tirar os brincos e o colar, colocando-os na mesa à sua frente. Em seguida, removeu a tiara, soltou as presilhas e as colocou junto com as outras jóias. Passou a mão nos cabelos algumas vezes e soltou-os, deixando-os cair até sua altura natural, perto dos ombros. Ficaram meio enrolados, meio embaraçados.

Lindos!

— Vai me deixar aqui? — ele perguntou.

— Vou — ela respondeu, secamente.

Depois disso, ela se sentou e colocou as mãos embaixo da mesa novamente. Martim não conseguiu desviar os olhos quando viu que ela começava a levantar a saia.

— Dá licença? — ela disse, brava.

Ele imediatamente corou e olhou para o seu lado direito. Para seu espanto, todos os nobres já estavam também se levantando ou já tinham se levantado. Alguns já se misturavam à multidão, e outros conversavam alto, parecendo bem mais animados do que minutos atrás. Aparentemente, estavam apenas esperando a rainha se retirar para poder enfim se juntar à verdadeira festa que acontecia ali na frente.

Martim ouviu a cadeira de Maria se arrastando e olhou novamente para ela. Ela tirou todo o enchimento por baixo de sua saia, o que deixou seu vestido bem mais discreto, com uma caída rente que destacava ainda mais sua cintura, quadril e coxas. Um pequeno e comprido volume denunciava que a faca ainda estava ali.

Sem olhar para ele, ela pegou as jóias com uma das mãos, depois pegou uma garrafa de vinho e virou seu conteúdo em uma taça até quase transbordar. Pegou a taça com a mão livre, virou-se de costas e saiu andando rápido, desaparecendo entre as pessoas. Martim estava agora sozinho na mesa.

Não queria ficar mais nem um segundo ali. Começou a se mexer à procura de uma bebida — da qual estava precisando muito. Levantou várias garrafas em busca de uma que não estivesse vazia. Encontrou uma cheia de cerveja.

Perfeito!

Achou uma caneca vazia, encheu-a e estava prestes a se levantar, quando uma mão apareceu na sua frente.

— Olá, campeão. Posso me sentar aqui?

Era uma senhora de meia idade, de cabelos negros e uma maquiagem exagerada no rosto. Ela sorria para ele, com os olhos arregalados. Segurava sua mão quase encostada nos lábios de Martim. Ele a pegou, sem graça, e a beijou, dizendo:

— Bem… eu já estava de saída.

— Mas eu acabei de chegar! Estava olhando para você a noite toda, sabia?

— Estava, é? — Ele começou a olhar para os lados, pensando em uma desculpa para sair dali.

— Sim, eu vi você dançando, e agora que a sua companhia foi embora, pensei que você gostaria de trocar de dançarina um pouco.

Ela fez aquele movimento irritante com os braços, espremendo os seios ao mesmo tempo que fechava os olhos e abria um sorriso enorme. A maquiagem em sua boca estava borrada, por causa da comida ou porque já tinha beijado alguém antes.

— Eu já dancei muito, estou cansado. — Martim levou a caneca à boca e começou a beber a cerveja o mais devagar que podia.

— Ah, que ótimo! Então vamos ficar aqui mesmo. Você descansa enquanto a gente conversa.

Martim tomava goles minúsculos, esvaziando a caneca com eficiência terrível. Quando não havia mais líquido dentro, ele a colocou de volta à sua frente e começou a procurar por uma garrafa que não estivesse vazia, mas não encontrou nenhuma. Ele disse:

— Ah, eu vou pegar uma cerveja, com licença.

— Não seja tolo. CRIADO! — ela gritou, fazendo surgir um homem ao seu lado. — Traga mais cerveja para o campeão, sim?

Maldizendo pela milésima vez sua condição de vencedor do torneio, Martim revirou os olhos e esperou até que uma garrafa de cerveja aparecesse à sua frente. Pegou-a imediatamente e encheu sua caneca, ainda tentando ser o mais devagar possível. Assim que a encheu, levou-a à boca e voltou a beber para ganhar mais alguns segundos.

— Nossa, quanta sede.

Ele assentiu com a cabeça, ainda sem tirar a caneca da boca. A mulher continuou:

— Isso, deixe essa boca bem úmida. Eu vou querer experimentá-la daqui a pouco.

Martim cuspiu um pouco do líquido, se levantou e disse:

— Com licença.

Pegou a garrafa em uma mão, a caneca em outra e foi embora, deixando a mulher lamentando atrás dele:

— Não, me desculpe, volte aqui, lindo!

Enfiou-se em meio à multidão e andou pelo saguão até achar que estava longe o suficiente da maluca. O lugar estava muito apertado. Encontrando um caminho em meio ao mar de pessoas, achou um espaço mais vazio. Para seu assombro, ao chegar ali deu de frente com outras duas mulheres pegajosas e de vestidos enormes que ele já tinha visto antes naquela noite. Elas o viram e exclamaram, com suas mãos estendidas em direção a ele:

— É o campeão!

— Venha dançar com a gente, campeão!

Ele virou-se de costas rapidamente e voltou pelo caminho que tinha feito. Para seu verdadeiro terror, viu a doida de cabelos negros vindo em sua direção. Ela olhava para todos os lados, buscando-o entre as muitas pessoas que lutavam pelo espaço cada vez mais exíguo.

Martim enfiou-se entre dois homens à sua direita, passou por trás de alguns ombros, empurrou alguns braços e costas para o lado e foi desaparecendo cada vez mais. Chegou a uma parede escura e encostou-se, respirando aliviado. Terminou de beber sua cerveja e soltou um grande suspiro. Voltou a encher sua caneca e deixou a garrafa vazia no chão. Tomou alguns goles para se acalmar e voltou a caminhar entre as pessoas.

Decidiu que iria tentar achar algum amigo ou conhecido para conversar e tentar se distrair ao menos um pouco naquela noite, mas havia muita gente que ele não conhecia. Não parecia que eram as mesmas pessoas de antes. Não via soldados, nem serviçais do castelo, nem qualquer rosto conhecido. E parecia haver muito mais gente agora.

Esgueirou-se para fora do saguão até o pátio interno, onde sentiu um agradável ar fresco no rosto. Ali estava bem mais vazio, e Martim agradeceu por sair da enorme aglomeração de dentro do castelo. Aproximou-se de uma tocha para afastar o frio e continuou bebericando sua cerveja. Enfim, viu rostos conhecidos. Paulo e Marcel conversavam a poucos metros dali. Cumprimentaram-no e ele se aproximou, sorrindo.

— Martim, chega mais!

— Do que estão falando?

— Do que mais? Do torneio — disse Paulo. — Eu estou dando a Marcel as dicas para ele ser o próximo campeão.

— Que nada — disse Marcel. — Vai demorar para eu chegar ao nível do Martim.

— Deixa de modéstia — disse Martim. — Você luta muito bem.

Ficaram conversando e bebendo por um bom tempo, e Martim sentiu-se grato por voltar ao seu tipo de conversa e poder enfim ficar um pouco mais à vontade. Depois juntaram-se a eles outros soldados. As bebidas foram mudando o tom da conversa, que invariavelmente chegou a um único assunto: mulheres.

— A mulherada está doida, hoje — disse Emílio, um soldado bastante alto e simpático, que Martim não conhecia muito bem. — Não dá para dar dois passos sem tropeçar em uma raba.

— Pois é, está muito estranho — disse Paulo. — Esse castelo não está acostumado. Normalmente só tem homem aqui dentro.

— Eu acho que os portões abriram — disse Marcel. — Eu vi uma garota lá da minha vila, e não tem como ela ter sido convidada.

— Ô louco! Sério? — disse Martim. — Mas como deixaram isso acontecer?

Depois que Marcel falou isso, Martim começou a reparar melhor e achou que o colega tinha razão. Não apenas o lugar estava muito mais cheio do que deveria estar, mas também parecia haver muitas pessoas desconhecidas ali.

— Disfarcem, mas tem um batalhão interessante daquele lado — disse Paulo.

De fato, um grupo de cerca de cinco mulheres estava a alguns passos dali. Elas conversavam entre si, sorriam e olhavam constantemente para eles. Martim percebeu que uma delas o olhava com muita insistência. Ela era bonita e ele imaginou-se conversando com ela, distraindo-se um pouco.

Esqueça Maria! Vá lá e converse! Divirta-se! Você merece dançar com uma garota de verdade, e não com uma estátua fria lhe pisando nos pés.

Lembrou-se de Ricardo dizendo: “Não vai ficar a noite toda choramingando por causa da capitã”. Respirando fundo, ele decidiu ceder. Na próxima vez que trocaram olhares, Martim sorriu para a moça. Ao perceber, ela imediatamente se virou para as amigas e colocou a mão na boca. Ajeitou os cabelos e começou a andar em sua direção. Martim sentiu-se momentaneamente aliviado por ela ser uma garota normal, com roupas normais, sem maquiagem exagerada. Seus cabelos loiros eram simples e estavam amarrados atrás da cabeça em um arranjo modesto, porém muito bonito, feito com flores.

Assim que ela chegou a uma distância onde poderiam se cumprimentar, a imagem de Maria olhando para ele materializou-se em sua mente. Estavam dançando, e ela estava prestes a pisar em seu pé. Mas ela não pisou. Ficou ali, olhando para ele. Eles dançavam.

Martim virou-se e saiu andando rápido, deixando a moça paralisada. Paulo segurou seu braço e disse:

— Martim, onde vai? — Ele apontou a cabeça para a desiludida garota ao seu lado.

— Desculpe, preciso ir. — Desvencilhou-se do aperto do amigo e entrou mais uma vez no abafado castelo.

Não adianta, não vou conseguir me distrair hoje. É melhor aceitar.

A primeira coisa que fez ao entrar no saguão foi procurar mais uma garrafa para reabastecer sua caneca vazia. Encontrou uma sobre uma das mesas próximas à parede, mas não era cerveja, e sim vinho. Sem dar muita atenção para isso, encheu sua caneca e retomou a caminhada.

A música estava muito abafada agora, devido à grande quantidade de pessoas ali dentro. Martim tentou chegar perto do palco para apreciar um pouco a melodia. Quando estava bem próximo, finalmente viu seus melhores amigos. Carlos o abraçou, dando um grito muito alto em seu ouvido:

— Martiiim! Onde você estava?

— Carlos, até que enfim te achei. Eu estava lá fora.

— Chega mais! Chega mais!

Tomás e Ricardo se juntaram a ele, e os quatro se agarraram em um abraço coletivo. Rindo muito, Martim sentiu-se em casa. Eles o puxaram até bem perto do palco. A música ali era audível, e eles pulavam seguindo o ritmo animado, derramando suas bebidas e rindo muito.

Martim esvaziou mais uma caneca, mas ela foi rapidamente reabastecida por alguém. Finalmente divertindo-se, sentiu sua mente relaxando e começando a girar, fruto da bebida da qual estava abusando. Em uma situação normal, teria tomado a decisão de parar de beber imediatamente, mas estava cansado demais e a noite era terrível. Decidiu não se preocupar com isso.

Os amigos pulavam juntos agora, abraçados. Deslocavam-se aos poucos pelo saguão. De repente, Martim viu três mulheres dançando à sua frente. Eram Teresa, Romena e Maria. Elas tomavam vinho, dançavam e sorriam.

Maria está sorrindo!

Ele parou de pular imediatamente, o que acabou atrapalhando a dança dos amigos abraçados a ele. Maria percebeu o movimento e olhou para eles. Ao pousar seus olhos em Martim, sua cara se amarrou imediatamente. Ela virou-se de costas e desapareceu.

Romena e Teresa reconheceram Martim e vieram abraçá-lo e beijá-lo. Elas continuavam dançando, agora acompanhadas pelos homens. Ele ficou mais um tempo ali, dançando, mas se sentiu mal. Entornou mais uma caneca e decidiu se afastar. Quis deixar seus amigos sozinhos para que Maria pudesse voltar e se divertir também, se assim quisesse.

Suas pernas relutavam em obedecê-lo, agora. Ele sentia que precisava se apoiar nas pessoas ao seu lado para não cair de cara no chão. Por sorte, tinha gente por todo lado, então nem que ele quisesse poderia cair. Continuou cambaleando, o mundo todo girando, pessoas entrando e saindo de sua frente. Alguns cumprimentavam, outros olhavam de forma preocupada. E ele continuava caminhando sem rumo.

De repente, alguém o agarrou. Era uma mulher. Ela pulou em seu pescoço e o apertou com muita força, antes de gritar em seu ouvido:

— Martim!

Xingando a ousadia cada vez maior das mulheres daquela festa, ele tentou segurá-la pelos braços e se desgarrar, mas ela mesmo o fez, afastando-se um pouco. Em seguida segurou seu rosto com as duas mãos, e deu-lhe um beijo na boca. O beijo era familiar, carinhoso, sem língua. Ao se afastar novamente, ele a reconheceu:

— Clara! O que está fazendo aqui?

— Eu invadi a festa. Sou uma penetra. Não é legal?

— Não! Claro que não, é perigoso.

— Metade da cidade fez o mesmo. O que vão fazer com a gente? Mandar prender todo mundo? Os guardas estão todos bêbados. Aliás, irmãozão, pelo seu bafo, você já passou do limite também.

— Não enche! Olha, acho que você precisa ir embora. Essa festa não é apropriada para você…

— Ih, já vi que está naquele mau humor. Tchau.

Ela saiu dançando à sua frente, desaparecendo na multidão, antes que ele conseguisse segurá-la.

Martim continuou andando.

A música tocava.

As pessoas pulavam.

Mais uma caneca vazia.

Deve ter dado mais uma volta completa no saguão, pois voltou ao lugar onde seus amigos estavam. Maria tinha voltado. Estava feliz de novo. Era só ele ficar longe, e ela continuaria feliz.

Andou mais um pouco.

Mais uma caneca vazia.

A música estava baixa.

Em algum lugar, viu Clara mais uma vez. Estava dançando com Marcel. Ela rebolava, de costas para ele, e se abaixava, encostando todo seu corpo no dele. Ele dançava junto com ela, colocando suas mãos em sua cintura, seu quadril e em suas nádegas.

Martim não conseguiu se segurar. Projetou seu corpo em direção aos dois e empurrou Marcel com as duas mãos. O colega caiu no chão, sentado, com os olhos esbugalhados e a boca aberta em assombro.

— Martim, você está louco? — Clara surgiu à sua frente, dando-lhe um empurrão.

— TIRE AS MÃOS DA MINHA IRMÃ! — ele gritou para Marcel, que ainda estava sentado no chão.

— Ele nem encostou em mim, Martim! — reclamou Clara. — Vai embora, você está muito bêbado.

Martim olhou para Clara. Ela parecia alucinada. Virou-se de costas e deu a mão para Marcel, ajudando-o a se levantar. O colega deu uma última olhada para Martim antes de sumir atrás de Clara.

Não se sentia bem. Sua visão estava estranha. Será que estava alucinando? Podia jurar ter visto Marcel apalpando cada centímetro de Clara. Olhou ao seu redor. As pessoas o encaravam de um modo esquisito, um misto de pena e nojo, não sabia dizer bem.

É isso, já chega por hoje. Vou dormir.

Começou a procurar um caminho para sair dali. Tropeçou algumas vezes, mas conseguiu permanecer em pé, pois podia se apoiar nos corpos ao seu lado. Aos poucos a aglomeração foi diminuindo e ele chegou a um local mais vazio. Sem o apoio de uma multidão ao seu redor, acabou caindo de verdade algumas vezes. Devia estar mesmo muito embriagado, pois ele não sentia nenhuma dor, mesmo tendo atingido o chão com força, e batido os joelhos e cotovelos repetidas vezes. Em determinado momento, caiu e não conseguiu se levantar.

— Oh, você está bem? — Era uma voz feminina, desconhecida.

— E-estou sim. Tudo bem. — Sua cabeça girava. Ele não conseguia ver a dona da voz.

— Sua cabeça… Está sangrando — ela disse.

Martim colocou a mão na cabeça e não sentiu nada. Esfregou os dedos na testa, nas têmporas, nos cabelos, mas não havia nenhum sinal de sangue neles.

— Acho que não. Estou bem.

— Eu sou curandeira. Meu nome é Marina, eu trabalho aqui no castelo. Venha, vou lhe fazer um curativo.

— Não, é sério. Eu estou bem.

Ela apareceu em sua frente agora. Era loira, com os cabelos lisos e compridos. Os olhos eram castanhos e seu rosto era pequeno, fino e delicado. O nariz era também pequeno, mas sua boca era grande e arredondada. Ela mordia metade do generoso lábio inferior, em sinal de preocupação ou outra coisa que Martim não estava sóbrio o suficiente para identificar.

Ela ajudou Martim a se levantar, segurando-o em pé por alguns segundos. Ela disse:

— Pronto, apoie-se em mim e vamos andando devagar.

Ele segurou em seu braço. Era quente e macio. Caminharam por algum tempo, até que não havia mais ninguém ao seu redor.

Para onde estamos indo? Ah, sim, para a sala de cura. Eu estou machucado.

Passou mais uma vez a mão na cabeça e não sentiu sinal de sangramento.

— Onde está sangrando? E-eu não estou sentindo.

— Está sim, está sangrando. Confie em mim, precisa de um curativo.

Quem era aquela moça, afinal? Olhou para ela de novo, e não a reconheceu. Era loira, e seu rosto era bonito. Não tanto quanto o de Maria.

Maria!

Ela estava ali, com eles. Estava à sua frente, com seu vestido amarelo, seus cabelos negros, soltos.

Não estava usando um coque, antes?

Seu braço era quente e macio, e Martim segurava nele para não cair.

— Oi. — Ouviu a moça loira dizendo. — Estou levando ele para fazer um curativo na testa. — Ela riu. Um riso estranho.

— Oh — Maria respondeu. Ela olhou para Martim, primeiro nos olhos. Depois olhou para sua testa. Depois olhou para a moça. Ela não estava sorrindo.

Ela estava feliz, antes, não estava?

A moça loira segurou nas mãos da moça morena, dando uma risada nervosa. A moça morena abaixou a cabeça e saiu de sua vista. Martim olhou para trás e achou que a moça morena que se afastava parecia com Maria.

Mas Maria não está aqui, está dançando com Clara.

Martim e a curandeira continuaram caminhando até chegarem a um lugar aberto, cheio de camas.

Não era para estarmos na sala de cura?

Foi guiado entre as camas, que estavam todas vazias, exceto por uma. Havia um homem deitado. Ele estava nu. Uma mulher com um vestido vermelho bastante decotado estava em cima dele, com a cabeça abaixada. Seus cabelos castanhos, longos e ondulados, cobriam toda a região da cintura e coxas do homem. Sua cabeça subia e descia, no mesmo ritmo em que o homem gemia.

Quem são esses dois?

— Martim, cachorrão!

Ele conhecia aquele homem. Era Ricardo, seu amigo.

— Fala, Ricardo. Eu e-estou machucado.

Ricardo olhou para ele, depois para a moça loira, e deu um sorriso. Depois ficou sério e disse, dirigindo-se à curandeira:

— É verdade, ele está muito machucado. Cuide dele com carinho.

A mulher de vestido vermelho que estava em cima de Ricardo parou seu movimento de sobe-e-desce, levantou a cabeça e olhou para Martim. Seus olhos grandes o fitaram, e a boca vermelha se abriu num enorme sorriso quando ela disse:

— Oi, Martim.

Ele não a reconheceu.

Por que diabos todos parecem saber meu nome?

Mas o rosto dela não lhe era estranho.

Ele foi levado até uma cama perto dali. Sentou-se e olhou para a moça à sua frente, mas não conseguia focar nela. Estava escuro. Ela tinha cabelos lisos, mas pareciam escuros agora. Não eram loiros?

— Deite-se, eu vou cuidar de você.

Sua voz era fina, um pouco rouca. Era agradável aos ouvidos. Ela usava um perfume doce.

— Erva-cidreira e hibisco — ele disse.

— O quê? — ela perguntou.

— Seu perfume. É erva-cidreira e hibisco?

— Pelo que eu sei, isso é um chá.

— É mesmo, como sou idiota. É seu chá favorito, né?

— Na verdade, é sim, como adivinhou?

— Eu levei um pouco para você, não lembra?

Ela ficou quieta.

Será que ficou brava?

Ela estava brava com ele. Ele tirou seu elmo na frente de todo mundo e ela ficou muito irritada. Mas agora não estava mais. Ela passava suas mãos macias em seu peito, em seus ombros. Ela disse:

— Faz muito tempo que eu desejo você.

— Eu também.

— Eu fico te olhando, enquanto anda pelo castelo, mas parece que você nunca olha para mim.

Martim achou muito estranho. É claro que ele olhava para ela. Estava olhando para ela agora mesmo. Os olhos amendoados, os cabelos escuros, o nariz com uma pequena bolinha na ponta, lindo. Ou ele estava com os olhos fechados? O mundo estava girando, era difícil saber.

— Você não está brava comigo?

— Eu? É claro que não? Por que estaria?

É verdade, ela estava brava com a rainha, e não com ele. Isso explicava tudo. Ela gostava dele. Continuava passando suas mãos em seu peito, seus cabelos. Ela desceu as mãos até sua cintura, e o toque macio e quente em sua barriga acordou cada centímetro de pele de seu corpo.

— Isso é bom. Continue.

Ela enfiou a mão por baixo de sua camisa e a puxou para cima, devagar, até passar por sua cabeça. O movimento enviou novas ondas de calor ao seu rosto. Em seguida ela abaixou a cabeça e colocou os lábios em seu peito, beijando-o delicadamente. Os cabelos escuros roçavam a sua pele suavemente, dando-lhe arrepios que se propagavam pelo corpo todo, dos pés à nuca. Ela disse, ao seu ouvido:

— Oh, Martim, eu esperei muito por isso.

— Eu também, Maria.

— Marina. — A voz ficou séria.

— O que?

— Marina. O meu nome é Marina! — A voz agora estava brava.

Martim abriu os olhos instintivamente e percebeu que tinha estado com eles fechados o tempo todo. Assustado, viu uma mulher loira sentada em cima dele. Ela parecia muito irritada, por algum motivo.

— Q-quem é você? — ele perguntou. — Onde está Maria?

Martim só sentiu um tapa dolorido esquentando-lhe a bochecha. A mulher saiu de cima dele e foi embora em passos rápidos, deixando-o sozinho na cama. Olhou para seu corpo. Estava sem camisa. Olhou de um lado para outro. Estava no seu dormitório, em uma cama que não era a sua. A algumas camas de distância, um casal sentado olhava para ele. Ricardo disse:

— Martim, uma dica, meu velho. Nunca erre o nome da moça. Elas não gostam nada disso.

Martim coçou a cabeça e se levantou, zonzo. Perambulou um pouco até encontrar sua própria cama. Deixou-se cair nela, exausto. Antes de pegar no sono, ouviu o casal conversando:

— E você por acaso sabe meu nome?

— É claro que sei, querida. Eu pedi especialmente pelos seus serviços lá no Diversão e Arte.

— E qual é?

— Hum, é um nome de flor… Begônia? Petúnia? Rosa? Aaaaai, não belisca meus mamilos, isso dói!

— Meu nome?

— Sua tonta. Eu estou só brincando. Você é a flor mais bela do jardim da Pérola. Seu nome é tão lindo quanto seus olhos.

— Pare de enrolar e diga logo!

— Tá bom, tá bom! É Violeta.

Violeta. Onde foi que eu ouvi esse nome antes?

Antes de encontrar a resposta, Martim adormeceu.

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Olá, eu sou Daniel.Lucredio!

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