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— Ela disse que perdoa você.

Martim suspirou e sorriu pela primeira vez depois de muito tempo.

— Obrigado, amigos. Muito obrigado!

— Mas a gente, não — disse Carlos.

— Desculpa, caras! Eu realmente sinto muito. Pisei na bola.

— Você e aquele idiota do Ricardo — disse Tomás.

— Ricardo… — disse Martim. — Ele só quis me ajudar… eu… — As lágrimas impediram que ele continuasse a falar.

Martim estava em pé, apoiado na grade de sua cela. Em sua frente, Carlos e Tomás o olhavam, tristes e cabisbaixos.

— Calma, cara — disse Tomás. — Tenho certeza que Ricardo te perdoaria.

— É, ele era o melhor de nós — completou Carlos.

— Ele morreu à toa — disse Martim. — Por minha causa! Oh, Deus, o que foi que eu fiz?

Afastou-se da grade e sentou-se no chão, encostando-se na parede de pedra. Respirou fundo e disse:

— Bem, em poucos dias eu vou me encontrar com ele, posso pedir perdão pessoalmente. E direi que vocês mandaram um olá. — Deu um sorriso triste e olhou para os amigos. Estes, por sua vez, não tinham resposta para aquilo, e o trio ficou em silêncio por mais alguns instantes.

— Droga, eu só queria falar com Maria uma última vez! — disse Martim, depois de um tempo.

— Ela não quer te ver.

— Eu entendo. Eu prometi a ela, sabem? Que ficaria longe de confusão. Oh, Deus, tudo o que eu queria era abraçá-la, beijá-la uma última vez!

— A gente pode te tirar daqui — disse Tomás. — Vamos pensar em algo.

— Não! — disse Martim. — Não tentem nada. Pensem em Romena e Teresa. É horrível causar dor a quem você ama, acreditem em mim.

Ficaram em silêncio por alguns instantes. Tomás disse:

— Você sabe que é ela quem vai fazer, né?

— O quê? — perguntou Martim.

— Maria é a capitã. É ela quem deve levar a cabo a sua execução.

— Acham que ela vai conseguir? — perguntou Carlos.

Martim estremeceu. Pensou em Maria e no que ela estaria sentindo, sendo obrigada a matá-lo. De todos os desafios que ela passou, de todas as dificuldades e sacrifícios que teve que suportar, essa seria de longe a sua maior provação. E tudo por culpa dele.

Me desculpe, Maria. Eu realmente sinto muito.


Ouviu-a se aproximando. Mesmo com o vento açoitando-lhe os ouvidos, pôde ouvir o som metálico de sua armadura e de seus passos afundando o chão.

Foi difícil vê-la imediatamente. À distância, sua armadura negra confundia-se com o ambiente escuro, mas à medida que ela se aproximava, pôde ver sua figura claramente. Andava rápido, com as costas eretas, e não olhava para os lados.

Assim que chegou ao seu lado, não olhou para ele. 

Claque. Um barulho metálico, dos soldados saudando sua capitã. Ela disse:

— Soldado! Você conspirou contra a coroa, o reino e o povo de Évora, sendo condenado à morte pela rainha! Se tem algo a dizer, faça-o em suas preces e peça a Deus para ouvi-las!

Martim abaixou a cabeça e fechou os olhos. Ouviu-a posicionando-se atrás dele.

Desculpe-me, Maria.

Escutou quando ela desembainhou a espada.

Ela é muito técnica.

As palavras de André, por algum motivo, repetiram-se em sua mente. Isso lhe trouxe um pensamento reconfortante. Suas mãos precisas produziriam um corte indolor, e não teria que passar por uma demorada tortura, como aconteceria caso seu destino estivesse nas mãos de outra pessoa. Agradeceu por isso.

Ele escutou Maria respirando fundo.

Força, Maria!

Ouviu-a soltando a respiração e um gemido baixo, seguido pelo som da espada cortando o ar.

Por um instante, achou que tinha morrido. O corte tinha sido muito preciso, e ele não sentiu dor alguma. Se isso era morrer, era realmente fácil.

Mas ele sentiu algo. Parecia um puxão entre seus pulsos.

Minhas mãos! Estão livres?

Abriu os olhos e viu o pelotão à sua frente. Cada soldado tinha a mesma expressão no rosto, os olhos abertos e o queixo caído. Martim olhou para trás e viu Maria olhando para ele. Seu olhar era feroz, e ao mesmo tempo assustado. Ele disse:

— Maria? O que fez?

— Me desculpe, Martim, mas não posso viver sem você.

Olhou para as próprias mãos e confirmou que estava de fato livre das cordas que o imobilizavam. Foram cortadas pela espada de Maria.

— Mas e agora? O que a gente faz? — ele perguntou.

— Não sei. Eu não pensei direito.

— A gente vai morrer!

— Talvez. Você está com medo?

Ele não hesitou ao responder:

— Não! Agora que estou ao seu lado, está tudo bem.

— Então vamos lá, soldado! Fique atrás de mim até conseguir uma arma.

Martim sabia que por baixo do elmo ela estava com um sorriso no rosto. Ele sorriu também, antes de se posicionar um pouco atrás dela.

Maria avançou dois passos e levantou sua espada. Ela gritou para o pelotão à sua frente:

— Quem quer morrer primeiro?

A expressão no rosto dos homens mudou de espanto para o mais absoluto terror. Era o mesmo tipo de expressão que Martim tinha visto no dia da nomeação, quando Maria se apresentou junto com seus arqueiros. Mas um deles não demonstrou medo ao se destacar, com o rosto resoluto:

— Vou matar você, vadia! Você e esse traidor!

Era Silas, com seu corpo forte e troncudo. Ele levantou sua espada e correu em direção a Maria e Martim, gritando.

Ela se desviou do primeiro golpe com um movimento lateral. Em um pequeno salto, ela levantou a espada e a enfiou na nuca do soldado rapidamente, no espaço entre o capacete e o torso da armadura. Ele morreu antes de cair no chão, com um baque surdo.

— O próximo! — ela gritou, ainda mais feroz.

Dois outros soldados vieram em sua direção imediatamente. Eles vieram de lados opostos, e Maria precisou se afastar um pouco. Um deles levantou sua espada ao mesmo tempo que o outro dava uma estocada. Maria rebateu o golpe deste último e jogou sua espada para cima, ao mesmo tempo que saltava para longe do alcance do golpe do outro.

Maria contra-atacou rápido. Em um movimento lateral, ela passou a ponta de sua espada no pescoço de um dos soldados, que imediatamente largou sua espada e caiu no chão, com o sangue espirrando de sua garganta. O outro hesitou, e nessa hora Maria avançou. Atacou de frente, e o homem desviou. No segundo ataque, ela enfiou a espada na fenda de seu elmo, perfurando seus olhos. Ele caiu de costas, morto.

Com a respiração já ofegante, ela repetiu sua ameaça:

— Próximo!

Os homens estavam imóveis, impedidos de avançar por uma parede invisível, que os afastava de Maria. Seus olhos exibiam o mais puro pavor. De repente, um soldado vindo de outro lugar do pelotão veio correndo com a espada levantada. Martim ficou horrorizado ao reconhecer Marcel avançando contra eles.

Assim que ele chegou perto, no entanto, Martim percebeu algo estranho. Sua empunhadura estava diferente. Maria também notou, pois ela não o atacou diretamente. Ao invés disso, defendeu seu golpe usando o braço coberto pela armadura. Martim ouviu-o sussurrando:

— Acerte-me! Vamos!

Entendendo imediatamente sua intenção, Martim avançou e deu um soco na cara de Marcel. Sentiu muita dor por ter golpeado uma armadura de metal, e soltou um urro. Para sua satisfação, viu quando o colega caiu no chão e deixou sua espada jogada ao lado.

Martim rapidamente pegou a espada e posicionou-se ao lado de Maria. Sorriu para ela, antes de virar-se para encarar o paredão de homens à sua frente.

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Olá, eu sou Daniel.Lucredio!

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