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Grey tinha uma memória sobre os tempos da infância, de quando os dois tomaram seus próprios rumos. Enquanto Relena havia ficado na vila e trabalhou duro para ganhar dinheiro usando a arte das armas, o paladino se integrou na igreja de Lithia a pedido da própria mãe. Ainda era claro em sua mente o dia que se separaram, de quando a carroça veio e eles trocaram olhares chorosos. No entanto, depois dali, as coisas vieram a piorar.

A vida no campo era bastante difícil, sua mãe na época estava grávida e não duraria muito com a situação na casa, por isso ela contactou uma amiga acólita para oferecer abrigo para que a criança nascesse bem. Quando chegaram no templo, ambos foram muito bem recebidos, especialmente pela amiga de sua mãe, que os deu tudo o que precisavam, desde um teto, comida e até ofereceu um espaço para Grey estudar dentro da igreja com os demais garotos.

Só que, lá havia um monstro escondido na noite. O paladino lembrava de sua face, do cabelo grisalho e olhos no meio da escuridão, junto das roupas negras. Aquele sorriso cheio de dentes amarelos fazia seu coração se assustar, enquanto os olhos cheios de malícia e fúria queriam matá-lo. Seu corpo tremeu quando os sons de passos vieram, quando no meio da noite seus pulsos foram agarrados e…

— Grey! — chamou Relena, tocando nos ombros dele. — Acorda, não fique preso nisso.

— Hã…? — O homem recobrou a consciência e sentiu seus olhos molhados, então rapidamente se corrigiu e limpou o rosto. — Não foi nada, já passou.

— Não foi nada? Você tá chorando, como isso é nada? Eu sei o que tá passando na sua cabeça, então levante o rosto e deixe os pensamentos fluírem para fora, evite ficar parado imaginando essas coisas.

Grey fungou, aproveitando para arrumar o cabelo parcialmente bagunçado. Ele de fato odiava ter essa memória persistente dentro de si, e muitas vezes se viu perdido em meio aos pesadelos pelo trauma. Precisou de alguns segundos de silêncio para as coisas se organizarem, para que tivesse uma vista mais clara e pudesse varrer os problemas para baixo do pano novamente. 

Relena percebeu como sua expressão continuava tristonha, o que estava afetando ela mesma. Seu senso de empatia era forte, mesmo querendo esconder tudo por trás de uma carranca forte, ainda reconhecia facilmente a tristeza dos outros e absorvia uma parte dela. Como o sentimento permaneceria com ambos, sua solução foi retirar um cachimbo e um palito vermelho.

Ao riscar o palito contra a sua braçadeira de metal, a cabeça do palito se incendiou, queimando logo em seguida as ervas dentro do cachimbo. Parecia um costume de velho, mas fumar era uma tradição repassada pelo seu pai, um fumante ávido e que recomendava sua filha fazer os mesmos nos momentos de estresse. Por mais que desse problemas para respirar, era bom para acalmar o coração.

Círculos de fumaça subiram em direção ao céu.

— Pegue um pouco, vai te dar uma coisa boa — disse, retirando o cabo de madeira da boca e oferecendo.

— Não posso, é contra as regras dos paladinos usar qualquer coisa ilícita ou que cause mal ao corpo. — Ele ainda balançou a mão para negar. — Além disso, tem muitas doenças que vem dessas ervas.

— Não tem como ter um bom corpo se não houver uma boa mente. — Já que o homem se recusava tanto, Relena se aproximou e colocou o cachimbo na boca de Grey contra sua vontade. — Faça pela sua amiga, ou você vai dizer que o seu trabalho como “guerreiro sagrado” é mais importante que ela?

 Sem saída daquela armadilha, o paladino inalou parte da fumaça e fechou a matraca. Era realmente difícil enfrentar alguém como ela, independente da época, mesmo durante a infância Relena possuía habilidade em forçar coisas nele. No entanto, estava certa quanto a parte de ser mais importante do que os deveres de santidade, já que no final do dia a vida era o bem mais importante do universo.

Inclusive, essas palavras estavam nas palavras da deusa, de como a vida deveria ser considerada a mais requintada forma de existência e que todos deviam prezá-la. Então, se aquela situação melhoraria um pouco a sua e quem sabe ajudasse a amiga ao lado, por que não pecar um pouquinho? Depois de uma tragada, ele devolveu o cachimbo, tirando a neblina de pensamentos da mente.

— Não faça isso de novo, dessa vez foi por necessidade.

— Aham, necessidade, sei — repetiu a mulher musculosa, trazendo o cachimbo novamente para boca e abastecendo as labaredas com mais folhas. — Você sempre gosta de enganar os outros com seu sorrisinho, mas é impossível fazer isso comigo. Te conheço por dentro e por fora. 

Grey suspirou, notando como a fortona era inflexível como sempre. Agora havia um gosto esquisito na sua boca e a garganta queimava devido a fumaça. Pelo menos, não estava mais com a cabeça pesada.

— Obrigado. Você sempre vem nessas situações.

— De nada. É só um favor para um amigo. Tá me devendo outro jantar.

— Outro? Mas eu te dei uma poção de cura da última vez…

— Eu falei que queria um jantar, não uma poção de cura. Você me deu de otário.

Uma veia pulsou no pescoço do paladino, que tentou conter a raiva perante aquela malandragem. 

— Vou dar um jeito depois de resolvermos a situação aqui. É meio imprudente relaxar demais dentro dessa vila. 

— Não sou precoce igual você, tenho paciência, mas é, tem razão. — Outra baforada saiu da sua boca e foi carregada pela brisa. — Há muita gente estranha e as pessoas são pouco receptivas. Tive que usar força bruta em alguns casos, só que não tive sucesso algum. E você?

— Com exceção daquele culto, nada. A energia demoníaca está espalhada por todo lugar, mal consigo identificar direito as fontes. Às vezes parece ter inúmeras ao meu redor, mas quando chego lá, não tem nada.

— Então só tem uma saída…

Os dois olharam para o prédio da prefeitura na distância. Grey havia esperado e trabalhado demais, mas sempre aquele ponto era o lugar com maior poder e constantemente caia no seu milagre de detecção, sendo assim, eles em breve teriam que tomar uma ação para descobrir o que diabos havia lá.


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Olá, eu sou Zunnichi!

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