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Grey detinha diversas obrigações, ele respondia diretamente a igreja de Lithia quando a circunstância aparecia e punia imediatamente qualquer responsável por magia negra ou por crimes cometidos contra a humanidade. Era uma concepção geral entre as pessoas que assumiam o risco de empunhar uma espada e um escudo diante de seu deus, todos os outros paladinos possuíam um código moral que seguiam à risca e os tratavam de maneira superior às leis do mundo comum.

Porém, mesmo que alguns homens e mulheres dentro das igrejas parecessem fanáticos pelos mandamentos da sua religião, haviam aqueles que acreditavam na humanidade e discerniam os extremos. Grey se encaixava no caso, pois qualquer outro paladino teria matado Liane no instante em que energia demoníaca entrou nele, causada pela marca no peito.

Era comum que eles expurgassem os afetados pela magia, sendo o mais misericordiosos possíveis com uma morte indolor. Como o garoto não demonstrou traços de energia demoníaca, Grey escolheu apenas observar de perto, achando muita covardia apontar a espada para uma criança inocente. Um suspiro escapou dos pulmões enquanto relembrava da noite anterior, de quando enfrentou Jessia, a suposta protetora do garotinho, e como a maestria dela na esgrima era muito superior a sua.

Uma parte da culpa vinha na sua cabeça, imaginando se a criança se sentiria muito só sem aquela mulher, e por o paladino estava de pé na frente da porta, tomando coragem para dar as notícias. Ele bateu duas vezes, o coração estava subindo pela garganta. Passinhos vieram do lado de dentro, a porta abriu e a luz do sol do enorme buraco na parede veio aos seus olhos.

Buon dia — disse Liane, com a cabeça completamente levantada para cima. 

— Bom dia, garoto. — Grey se ajoelhou, ficando na altura do pequeno. — Vim ver como você está… e também dar algumas notícias.

O menino balançou o rosto para o lado, em dúvida. Quanto a Grey, ele seguiu explicando o que houve, romantizando boa parte como um bom adulto faria. Liane permaneceu de boquinha fechada, ouvindo atentamente as palavras. Sua expressão sequer mudou, para o choque de Grey, que esperava o mínimo de curiosidade vindo da criança, ou quem sabe até uma faísca de lágrima.

Indo contra o senso comum, o garotinho somente respondeu:

— Obrigado por avisar, tio.

Aquilo só espetou ainda mais o coração do paladino, porque imaginou ter dito algo de errado no meio da conversa para deixá-lo tão sem reação.

— Calma, calma, você ouviu tudo certinho? A sua amiga não poderá vir por um tempo, ela fez algo muito errado e…

— Sim, eu entendi, tio. Tá tudo bem, ela voltará logo logo.

Uma gota ameaçou escapar do olho de Grey, cuja culpa esmagava o peito igual a um martelo. Ele se estendeu para frente, oferecendo a mão, muito envergonhado para deixar de fazer um pedido tão tolo.

— Enquanto ela não volta, eu cuidarei de você, tudo bem?

Uma surpresa enfim apareceu no semblante de Liane. Ele encarou os dedos da mão do homem, cheio de dúvidas se devia ou não aceitar, ao mesmo tempo que aquela indagação pareceu ter dado defeito na sua cabeça. Levando um pequeno empurrãozinho nas costas, o garoto pegou na mão do paladino.

— Tá bom!

Grey teve uma ótima sensação. Seu objetivo era cuidar do garoto até a maioridade, levando em conta que Jessia não sairia tão cedo da prisão por ter atacado uma santa, sendo assim o paladino tomaria a obrigação de proteger a criança até que pudesse ser independente. Um sorriso bobo surgiu em sua face, notando que talvez tivesse ido longe demais oferecendo tal acordo.

Segurando a mão de Liane, pediu para acompanhá-lo, dizendo que iria apresentar o restante do pessoal. O pequeno ficou meio apreensivo, o que era esperado, aquelas pessoas de rostos novos e gente desconhecida deixariam qualquer um com dois pés atrás. Felizmente, as coisas correram de boa forma, com o paladino descendo as escadarias e chamando seus amigos para se juntarem à mesa.

Ludio, Brutus, Joan e Relena se juntaram na mesma mesa, somente Milea estava de fora, sabe-se-lá onde havia parado desde ontem a noite. Por prezarem pela vida pessoal uns dos outros, as mulheres decidiram não incomodá-la, já que de fato o mundo feminino exigia cuidados especiais. Os seis se juntaram numa mesa, ainda era de manhã e mal haviam comido direito, então era uma boa oportunidade para encaixá-lo dentre os demais.

— Grey — chamou Ludio, com uma carranca —, não era mais fácil colocá-lo num orfanato? Trazer uma criança consigo é custoso e perigoso, além de que, ele precisa ser protegido e nutrido a todo instante. De onde veio essa sua brilhante ideia?

— Ele tem coração mole — explicou Relena, arrancando um pedaço de pão com os dentes. — Duvido muito que aguentaria dois segundos vendo o moleque andar sozinho pela rua. Além disso, teve também o caso do ritual demoníaco, é óbvio que Grey continuaria vigiando.

— Faz sentido… Como sempre, senhorita Relena, você é uma ótima analisadora. Tiro meu chapéu.

O paladino soltou uma risada, nem precisou falar para que os demais justificassem suas próprias ações. Para Liane, no entanto, era extremamente incômodo estar no meio daquelas pessoas, se não fosse um certo alguém pressionando-o, ele com certeza daria um jeito de viver por conta própria.

Grey estava ignorante quanto aos pequenos detalhes, na verdade, seus pensamentos articularam uma pequena hipótese que talvez o garoto não fosse relacionado com a mulher, e que andavam juntos por uma espécie de laço fraternal. Ao menos, ela sendo superprotetora demonstrou bastante da sua natureza, de como dava valor a esse garoto, o que foi um dos motivos pelo qual tentou aliviar o fardo cuidando da criança.

Ainda estava preocupado do que fariam mais tarde, quanto a invasão à prefeitura e também sobre formas de ajudar o pequeno a crescer. Isto é, se voltassem vivos. Os preparativos não demorariam para serem terminados, em breve a investigação naquele lugar misterioso e rodeado de energia demoníaca ocorreria, só precisavam de um pouco mais de tempo.

Mal sabia Grey que havia cometido um grande engano durante seu planejamento, de como aquela criança, Liane, era um erro de cálculo impossível de se prever.


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Olá, eu sou Zunnichi!

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