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Liane nunca teve talento para atuar, ele confessou isso desde muito cedo para Er’Ika sobre como seu talento para mentir era quase nulo. Quando Zana o avistava fingindo doença para dormir mais um tempinho na cama, ele sempre levava um tapinha nas costas e era carregado no colo para que pudessem começar o dia, porque a mulher conhecia cada truque e trejeito do garotinho.

A entidade reconheceu desde cedo a falta de habilidade. Até preferia, em múltiplas ocasiões, tomar o lugar de Liane e persuadir quem estivesse na frente, por ter mais confiança na lábia que ele. No entanto, foi também por culpa de Er’Ika que os dois pararam no meio daquela mesa de adultos sem jeito. O garoto originalmente foi contra, reclamando de milhares de formas quanto ao plano e como não gostava de ficar muito tempo perto de estranhos.

Mas aquela velha não é uma estranha também?

Esse argumento fez as reclamações de Liane caírem, e então eles decidiram acatar o plano de ficar entre aquelas pessoas por tempo indeterminado. Também era uma ótima forma de se aproveitar da ingenuidade humana com indivíduos mais jovens da espécie, com certeza todos ali acreditariam que a criança não tinha maturidade o bastante para viver sozinha e cedo ou tarde morreria pelas mãos de alguém. Era uma útil ferramenta de empatia, ninguém esperava que um espécime com metade do tamanho de um adulto possuísse uma entidade primordial dentro dele.

Em meio a discussões mentais entre receptáculo e divindade, ambos perceberam como um certo olhar desconfortável recaia sobre si. No caso, vinha de Relena, cujas íris de cores diferentes miravam em sua direção como se procurasse da cabeça aos pés qualquer problema. Ter os olhos com pigmentação diferente indicava um talento natural em magia, porém uma pessoa como ela, com músculos saltados e uma expressão de quem odiava ler, indicava o completo contrário.

Ou ela está te vigiando, ou ela percebeu que você também é semelhante a ela.

“Eu sou semelhante no que? Não sou foite!”

Não, seu idiota. Os olhos, lembre deles! Desde que você saiu do esconderijo dos bandidos, a cor do seu olho esquerdo mudou. Não sei como exatamente, aconteceu após terminar sua recuperação.

Liane ponderou quanto àquilo. De fato os dois se assemelhavam nesse quesito, só que era nada demais comparado ao todo. Trazia um certo desconforto ser encarado por tanto tempo, na verdade. 

— Eu queria saber — falou Ludio, tendo pendurado o chapéu pontudo na cadeira. —, será que esse garoto tem mesmo aptidão para magia?

No mesmo instante, todos os demais da mesa viraram a cabeça na direção do garotinho, aumentando sua vontade de se esconder debaixo da mesa e desaparecer da face da terra. Relena, que ouviu a indagação do mago, cruzou os braços.

— Eu só esperei falarem. Fiquei me perguntando a mesma coisa.

Ludio acenou com a cabeça. Já que todos estavam na mesa, não havia problema em usar um item naquele momento e averiguar, por isso retirou um orbe cristalino de dentro do bolso. Todos os aventureiros sabiam para que servia aquilo, o garoto inclinou a cabeça para o lado em plena dúvida, e vendo sua reação, o velho falou:

— É claro que não faz ideia do que seja essa coisa. Bem, garoto, é uma Esfera Arcana. Ela serve para medir o mana dentro das pessoas, eu de vez em quando uso para rever meu progresso nas artes mágicas e também para destruir os sonhos de quem não tem talento.

Brutus e Joan imediatamente fecharam a cara, a aura ameaçadora deles indicava que em breve voariam na direção daquele debochado e enfiariam socos em seu rosto. 

Ludio riu e pôs o orbe bem na frente de Liane. A superfície era cristalina e polida, ao ponto de ter o reflexo do seu rosto distorcido na superfície, com ambos os olhos de cores diferentes e uma franja escura jogada para o lado, deixando fofo com seu cabelo curto e negro. 

— É só tocar, não precisa de medo. A Esfera Arcana vai transmitir uma luz, essa luz vai definir qual seu nível de mana. Todas as pessoas tem alguma mana, então poderemos ver o quão hábil você é com ela.

Que idiotice. Está mais do que na cara que mana não existe, e ainda assim esse mago, alguém que era para conhecer as supostas artes mágicas, diz essas bulhufas… mas fiquei bastante curioso quanto a essa coisinha. 

Liane concordou mentalmente. Como não tinha nada a perder, encostou na bola de cristal. Uma friagem invadiu a ponta do dedo e subiu pelo braço, fazendo com que a entidade entrasse em modo de alerta, rapidamente convertendo a energia estranha em energia comum, que rapidamente se dissipou pela corrente sanguínea. Por causa disso, o objeto não transmitiu brilho algum, permanecendo com sua coloração acinzentada e vazia. 

Como diabos usam um teste tão assustador para só medir a aptidão de alguém?!

— Hmm? — Ludio levantou a sobrancelha e coçou sua barba, o aparelho não demonstrava sinal algum de funcionamento.

— Oh, tá quebrado — falou Brutus, vendo como aquela coisa não reagia. — Então quer dizer que os testes que fizemos não contaram!

— O que? Seu cabeça oca, óbvio que contaram, eu comprei esse item mágico mês passado! Já havia experimentado também e funcionava plenamente bem! 

— Ah é? Então por que não demonstrou nada? Hein? Vai me dizer que o velho tá gagá e não sabe mais fazer compras direito?

O deboche de Brutus trouxe uma fúria descomunal em Ludio, que odiava mais do que tudo ser caçoado pelo brutamonte cabeça oca. Liane ficou ainda sem entender o que aconteceu, mas isso atiçou a curiosidade dos demais aventureiros que não entraram no meio da briga entre mago e bárbaro rolando dentro da taverna. Se o aparelho falasse a verdade, queria dizer que o garoto não tinha mana.

— Que estranho, por que você não tem mana? — indagou Grey, analisando-o. — Hmmm, também não tinha energia demoníaca, nem divina. Se você não tem mana, então deve ser uma coisa não viva, eu acho? 

Relena, ouvindo aquilo, levantou a sobrancelha.

— Deixa ele fazer o teste mais uma vez. Não acho que deva ter problema.

Liane observou o orbe novamente. Por livre e espontânea pressão, tocou-o, e de repente uma luz intensa inundou a taverna. 


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Olá, eu sou Zunnichi!

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