Liane gostava muito mais de coisas práticas. Ele detestava passar muito tempo parado, tendo que ver uma pessoa andar de um lado para o outro gesticulando e dizendo bulhufas das quais não entendia nada. Felizmente, Er’Ika se encaixava no completo oposto, sendo sua atividade favorita ouvir os outros que buscavam falar sobre o que viesse a mente. Enquanto um se doía por dentro de tédio, o outro concentrava seu ser naquela atividade, adicionando e modificando detalhes a seu bel-prazer.
Mais cedo, Ludio e Grey tiveram uma importantíssima conversa. Não era certeza se o ataque à prefeitura estava garantido, e a entidade lembrava muito bem da conversa deles na taverna a respeito, logo, o mago combinou de segurar um pouco mais a investida para ensinar o máximo possível o garotinho. Havia um risco de não retornar vivo, se acontecesse, era melhor entregar o máximo de ferramentas e conhecimento a nova geração para pelo menos morrer sem arrependimentos.
Dito isso, no dia seguinte, todos iam de uma vez por todas resolver aquele problema. Er’Ika se aproveitou do tempo sozinho para espioná-los, usando Milea para descobrir todos os detalhes. Por isso, naquele exato momento, entidade, criança e mago estavam dentro do quarto dos aventureiros, lendo livros, anotando coisas e aprendendo a como usar magia.
Para a surpresa da entidade, muitas coisas foram simplificadas a níveis absurdos, ao ponto de duvidar como a humanidade veio a progredir com um arsenal de conhecimento tão limitado. Para começar, as magias precisavam de entonação específica para serem utilizadas, como Liane não usou nenhuma, Ludio deduziu que seu contato com a mana era ainda mais próximo. Casos de pessoas que usavam feitiços sem entonação eram raros, mas foram documentados e se explicava como eram muito mais poderosos que pessoas comuns.
Também houveram mais detalhes, tal como a “Fusão de Mana”, um processo de bombear energia no corpo para reforçá-lo. Era mais comum em pessoas com aptidão física, pois seu corpo mais desenvolvido permitia o uso mais prolongado dessa função e evitaria problemas fisiológicos. Não existia discernimento exato entre as pessoas que podiam ou não usar isso, podia-se até dizer que todos eram farinha do mesmo saco, com a diferença que quem externalizava a mana se tornava um mago.
Como a criança conseguiu de primeira realizar um feitiço para externalizar a energia, feitiço esse chamado de “Raio Elétrico”, de certa forma ele tinha o direito de usar o nome “mago” para si. No entanto, havia uma gama muito maior de circunstâncias, tal como o caso das entonações.
— Ó fogo, icendeei e queimi! — entoou Liane, com a mão estendida, apenas para ficar com uma expressão irritada ao perceber que nada aconteceu.
— Está tudo bem, criança — confortou Ludio, analisando a tentativa. — Muitas pessoas não conseguem de primeira, muito menos falam rápido o bastante para ser efetivo. Você precisa somente de prática, com o bastante, seus feitiços serão capazes de destruir tudo!
Er’Ika de fato acreditava naquelas palavras conforme conduzia experimentos. O cântico para feitiços servia para direcionar energia pelo corpo, como se a fala movesse partes do poder dentro do corpo e redistribuísse. Quando começa com “Ó”, geralmente a energia fluía para os braços, então o restante da sentença definia a forma e composição da coisa. Porém, sempre que errava, a energia se dispersava pelo corpo e retornava ao seu usuário, por vezes se perdendo quando a fala era rápida demais.
Hm, essas coisas são bastante valiosas, mesmo que inúteis agora. Pergunte sobre um lugar de ensino em que as pessoas aprendem a usar, urgh, que nojo falar, que usam mana.
— Professor Ludio, tem uma escola que a gente aprende a usar magia?
— Ora, claro, pequeno pupilo! As duas principais instituições de ensino são a Escola de Esgrima Nello e a Academia Arcana Aquaria. Elas ensinam a como usufruir de mana de formas diferentes, uma foca somente na habilidade com o corpo e nas técnicas de espada, bastante inferior se eu devia dizer. Já a consagrada Academia Aquaria é a melhor do país, e também foi lá onde me formei. Se eu conseguir uma carta de recomendação, te enviarei lá por meio da minha tutora.
Então realmente existe. Atualmente, me parece mais interessante a parte da magia, podemos encontrar tópicos relacionados a divisão de corpo e espírito. Acho que as pessoas da escola de esgrima focam muito em balançar um pedaço de metal do que realmente pensar.
Liane queria discordar brutalmente disso, porque ser um espadachim devia ser maneiro para caramba. Uma longa e chata aula continuou, dessa vez indo ao tópico de itens mágicos. Diferente do que se acreditava, de ser algo encantado por uma criatura superior, itens mágicos eram apenas a tecnologia humana usando mana. A maioria deles era acionado ao entrar em contato com mana em certa forma, como eletricidade ou fogo, mas alguns exigiam mecanismos específicos para funcionarem.
Um exemplo era a Esfera Arcana. Ela lia o poder dos outros ao inserir mana em quem a tocasse, refletindo assim a sua fonte mágica total, mas existiam outros. Os primeiros a virem à mente eram a Pedra de Comunicação de Jessia e o filtro d’água no esconderijo dos ladrões. Ludio também explicou como isso também era aplicado a coisas mais simples, como um objeto chamado “Luminorbe”.
Existiam várias de tamanhos diversos, a mais comum eram aquelas do tamanho de uma bolinha de gude, que ao entrarem em contato com o chão explodiam em um enorme fulgor. Por outro lado, havia as de tamanho maior, que muitas vezes serviam como substitutas para velas e tochas por terem uma fonte de luz mais segura, o contra era o gasto de energia constante, precisando de magos para reabastecerem as Luminorbes.
Toda a sessão fez a cabeça de Liane fritar com informação, enquanto Er’Ika degustou cada segundo igual uma pessoa que nunca tinha comido na vida. No entanto, próximo a noite, eles tinham terminado uma parte do estudo, sobrando muito conteúdo a ser visto. Indo desde a coisas chamadas “Focos Mágicos”, “Selos”, “Energia Demoníaca e Divina”, dentre outros assuntos colocados para trás.
— Agora, terei que sair… — disse Ludio, muito descontente por dar a notícia. — Meus livros ficarão à disposição com você. Se quiser lê-los, fique à vontade, são seus.
A entidade ficou mais do que agradecida, lembrando-se o máximo possível da face daquele homem para recompensá-lo se houvesse a chance. E assim, o homem saiu do quarto, tendo deixado alimento o bastante para o pequeno monstro crescer. Er’Ika, como o bom aproveitador que era, abriu um largo sorriso ao ver a pilha de dados na sua frente, prestes a serem devorados.
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