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Os horrores que passaram naquele lugar não poderiam ser contestados por ninguém. O arrependimento de terem pisado naquele lugar causou calafrios na alma de Grey, que a essa altura pensava em desistir do mundo. A deusa Lithia não respondia mais suas preces, e ver os companheiros de equipe sendo torturados um por um estava drenando a sua pouca sanidade.

Primeiro, começaram com Joan, que já estava machucada. O sangue escorrendo de suas feridas foi sugado com seringas e tubos, ao ponto dela se tornar um cadáver ambulante. Os ossos marcaram a pele, enquanto as veias apareceram coloridas nas mãos e braços, destacando-se mais do que os pelos no corpo. Urros de dor ecoavam pelas paredes, minutos tortuosos e cheios de agonia correram diante dos olhos de Grey, acorrentado dentro de uma jaula próximo à outras pessoas que seriam os sacrifícios. 

Naquele ritual, ele se tornou um número, alguém a ser usado para sacrilégio. 

— Ela é uma virgem — disse um dos cultistas, após inspecionar o corpo da mulher.

— Hm? Que surpresa agradável, quanto mais pura a alma, mais satisfeito estarão os nossos amigos… — Um sorriso surgiu na face do líder, enquanto ele analisava com os orbes arroxeados por baixo da máscara a face de Joan. — Trate de não matá-la, só tirem o máximo de sangue e de algumas partes do corpo.

O paladino engoliu seco, notando como Brutus, deitado ao seu lado, estava com o rosto vermelho. Era raiva, as correntes em seus pulsos e pés ganharam tons escuros devido a ele tentar se libertar das amarras. Grey queria compartilhar da mesma raiva, no entanto, a covardia era muito maior, o que só trazia uma vergonha monstruosa quando olhava para Relena. 

Quando entraram em contato direto com os cultistas, ela sofreu um ataque direto no peito, um raio sombrio que perfurou o coração e a envolveu em energia demoníaca. Colocaram-na ao centro do círculo demoníaco, com as mãos presas por pregos e o corpo despido. Convulsões tomavam conta dela, seus olhos revirados indicavam uma agonia tão grande que morrer seria piedade.

Grey chorava diante de toda a desgraça. Ele não sentia a presença de Lithia, parecia que a qualquer momento morreria e sua deusa se manteria longe. 

“Ela me avisou… A deusa me avisou mais de uma vez.”

O primeiro aviso foi quando chegaram na vila e a energia demoníaca estava em todo lugar, o segundo aviso veio ao invadirem aquela casa abandonada e encontrarem o garotinho, e então, a luta contra Jessia se tornou o último alerta. No entanto, ele ignorou todos, sem perceber a gravidade do perigo que estava enfrentando. A deusa queria tempo, queria que segurasse seu senso de justiça para outros do Exército Branco e seus seguidores viessem acolhê-los. 

Sua língua ficou com um gosto amargo, misturando-se ao ferro aparecendo depois de tanto mordiscar os lábios em busca de controle, algo impossível de se obter diante dessa loucura. 

— Algum problema, Grey? — perguntou o líder, ajoelhando-se na frente da cela para olhá-lo diretamente. — Desespero? Medo? Agonia? Ou você é do tipo nojento e está com inveja da sua amiga?

O paladino quis responder, mas as palavras travaram na garganta, impedidas de demonstrarem a verdade.

— Hm, isso é medo, que pena. — Ele se sentou, retirando sua máscara. — Eu sei que você não me conhece, retirar essa máscara não adiantará de nada mesmo, eu só queria ter uma conversa mais franca com outro paladino…

A face do cultista estava cheia de queimaduras, a pele parecia em carne viva e as cicatrizes eram as marcas de diversos rituais demoníacos. Os olhos, antes humanos e radiantes, eram opacos e somente tons arroxeados contornavam a íris, dizendo o quanto a loucura atingiu aquele homem. Grey teve arrepios, aquela pessoa não era alguém capaz de derrotar, nem mesmo com a benção da deusa sobre si.

— O-Outro paladino…? — gaguejou, suor frio escorreu do rosto.

— Sim, antes de ser quem sou hoje, eu era um paladino como você. Queria convidá-lo para ficar ao meu lado, já que os ingratos da igreja de Lithia nunca veem o potencial daqueles que cuidam.

O escárnio na face daquele homem era enorme, e de repente labaredas surgiram na sua pupila, refletindo a raiva dentro do coração.

— Eles me traíram no momento que ganhei destaque, Grey. Eu não concordei com as formas de controle deles, de como usavam os outros iguais escravos e abusavam dos pequeninos. Me dá nojo lembrar o tempo que passei ao lado deles, e então, vendo você nesse caminho de destruição, vim te oferecer uma proposta: largue esses caminhos e venha comigo, eu irei libertar as pessoas manipuladas pelos malditos para vivermos melhor nesse mundo.

“Ele é insano.” Os olhos de Grey se arregalaram, o homem na sua frente se rendeu aos demônios e queria usá-los para criar um tipo de justiça ao mundo.

Quem acreditaria num plano tão ridículo? Demônios eram asquerosos e as pessoas sob suas cordas eram ao tempo todo consumidas para ficarem mais fortes, um humano tentar controlá-los e construir um mundo justo com eles era simplesmente demais para se acreditar. 

— Ah, desculpe a bomba, eu sei que é difícil de entender na primeira vez. Você terá bastante tempo para pensar, além do mais, eu não sou o único paladino desse grupo.

Um sorriso sinistro cresceu na face daquele homem, ao mesmo tempo que certas pessoas dentre os encapuzados viraram na direção dos dois. Grey nunca ficou em tamanho choque, já bastava Milea ter se transformado num demônio, e agora ele acabara de descobrir que até os paladinos da sua deusa trocaram de lados. Lágrimas caíram aos montes, seu espírito estava aos poucos se destruindo.

O líder se afastou, achando que seria melhor deixá-lo pensar. Enquanto isso, terminariam os preparativos para o ritual. Tudo estava indo nos conformes, nada impediria a invocação de uma criatura que levaria os humanos à evolução… se não fosse por um tremor incomum assolando o solo inteiro.

Os demais cultistas também se assustaram com o terremoto anormal, até verem uma simples bolinha de gude rolando pelo chão. 

— Cubram os olhos, rápido! — alertou o líder, antes de uma explosão luminosa inundar o lugar.

Passos ecoaram para dentro do porão, o som de espadas saindo das bainhas e o choque de armas se tornou inevitável.

— Aproveitem, rapazes! — gritou uma senhora, na entrada do porão. — Quem sobreviver, vai ser considerado herói, ouviram bem?!

Ela era ninguém mais que a comandante de uma rebelião: Jessia.


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Olá, eu sou Zunnichi!

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