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Em um quarto, uma garota de cabelos curtos e pretos arruma roupas dentro de uma mala. A garota usa uma camiseta preta e uma calça moletom cinza e o quarto é simples, com paredes brancas, um piso de madeira, uma grande janela aberta, um guarda-roupa pequeno, uma cama, sobre a qual estão a mala e algumas roupas jogadas. Ao lado da cama está uma mesa com luminária e uma escrivaninha com um computador e um silver glass ao lado.

Uma parte do quarto está bem bagunçado. As portas e gavetas do guarda-roupa estão abertas, algumas roupas ainda estão penduradas nos cabides, mas a maior parte delas está disposta na cama, algumas já dobradas dentro da mala. Pequenos objetos estão jogados pelo quarto, alguns no guarda-roupa, outros na mesa, alguns sobre a cama e alguns simplesmente espalhados no chão.

A garota aos poucos pega as roupas jogadas sobre a cama, dobra-as e coloca sobre a mala. Eventualmente ela vai até o guarda-roupas e pega mais peças, as deixa sobre a cama e volta a dobrá-las para guardar na mala. Ocasionalmente ela retira do chão os objetos que estão esparramados. Boa parte disso é para desobstruir o trajeto que ela faz entre a cama e o guarda-roupas.

Depois de colocar boa parte das roupas jogadas na cama na mala, a garota dá um suspiro. Já foi quase tudo. Acho que dá para dar uma parada e ir pegar os bonûs de login no HTO, pensa Liz, olhando para o console conectado ao computador na escrivaninha.

Com os pés, Liz joga para o lado os pequenos objetos que estão sob o que parece ser um tapete verde. Ela pega um cabo que sai do tapete, conecta-o ao computador. Ao fazer alguns clicks, ela abre o launcher do jogo e pega o óculos.

Se bem que seria um desperdício entrar só para pegar o bônus diário. Aqui nem tá tão bagunçado e tenho tempo. É melhor já fazer as missões diárias de uma vez, pensa Liz, colocando o silver glass sobre a cabeça.

Os óculos fazem o processo de inicialização e, com um pequeno apito, dá o sinal de validação de login de Liz, que começa a entrar em sua personagem do jogo, Rubi.

Que estranho, ela pensa. Tá sem aquela musiquinha da tela de login, talvez tenha bugado. Talvez seja melhor reiniciar, ela pensa enquanto faz menção com os braços para retirar o silver glass, porém mesmo sem a música, o processo de login inicia e em um piscar de olhos, ela já está no corpo de sua personagem, como normalmente acontece.

Ela se manifesta como um Rubi na região de espera, um espaço negro desprovido de paredes, chão ou gravidade, onde se aguarda o carregamento do mapa de destino. É comum entrar nessa zona durante o processo de login ou ao teletransportar-se de uma região do mapa para outra. O tempo de espera pode variar, mas desta vez está demorando mais do que o habitual,  ela resmunga.

Mais uma vez, Liz faz menção em retirar o óculos, mas antes que complete a ação, ela vê um ponto branco em sua frente, normalmente esse é o sinal que o tempo na região de espera já está para terminar.

Agora vai, pensa Liz, mais aliviada.

O ponto branco se expande e toma conta da visão, quando ela abre os olhos, já esta fora da área de espera, porém se assusta com o que está vendo.

“Que isso?!”, exclama em voz alta, agora no corpo da demônio de cabelo rosa.

Ela surge em um campo gramado, à noite, iluminado pela luz da lua e algumas tochas fincadas no chão. Espalhadas ao seu redor, várias pedras enormes de pé, formando um círculo, onde ela parece estar no centro. Nunca vi um lugar assim, ela pensa, examinando os arredores. Porém não é a paisagem que mais chama atenção, há pessoas por perto, e uma grande confusão entre elas.

Próximo a Liz está um grupo usando mantos vermelhos. Cerca de oito ou nove pessoas, em sua maioria encapuzadas, que são bem iguais entre si, a não ser pelo que está mais próximo de Liz. Ele é um homem alto, seu traje possui mais detalhes, algumas jóias coloridas, tem um cavanhaque e algumas cicatrizes na face.

Desse grupo, alguns encaram a demônio de cabelo rosa, com alegria, dentre esses o homem com cicatrizes. Outros estão assustados, porém estes não estão encarando Rubi, estão olhando um outro grupo de pessoas à sua frente.

São três garotas completamente distintas dos outros naquele local. Elas estão tentando avançar enquanto lutam contra o grupo de mantos vermelhos.

Uma delas é grande, muito maior do que Rubi, com pele clara e cabelos castanhos, usa uma armadura com partes metálicas brancas e outras partes em couro, em suas mãos estão um escudo de ferro com um emblema de leão e um machado. Ao lado dela, uma garota de pele morena cabelos longos e negros, usando trajes em couro e uma espada. E bem atrás das duas, uma garota de pele pálida, orelhas pontudas, cabelos dourados, avança lentamente pois ela está lançando pequenas rajadas de fogo nos mantos vermelhos que estão mais atrás.

As garotas parecem ser uma party organizada e os mantos vermelhos… talvez sejam algum tipo de grupo de cultistas?, Liz delibera.  Isso é um evento? Tinha uma nota no site sobre isso?!

Ela  está visivelmente confusa com a situação. Pois mesmo que fosse um evento, ela deveria aparecer no último mapa onde fez logoff, e não no meio de algum mapa aleatório. Tem algo acontecendo, e parece meio errado, ela divaga.

A briga segue por alguns segundos, até que as garotas que mais no fundo avançam, avistam a demônio de cabelo rosa, e param. Liz as vê brevemente aterrorizadas.

O homem com cicatrizes olha para o grupo de garotas e ri alto, erguendo os braços. “Eu falei que não iam passar pela barreira”, diz ele, vangloriando-se com sua voz grave e reverberante.

E quando ele faz isso, o grupo de garotas esboça raiva. A garota que empunha a espada volta a lutar. “É matar ou morrer. Talvez ainda dê pra derrotar ela”, ela diz.

A grande mulher de cabelos castanhos acena com a cabeça, continua sua luta ao lado de sua companheira e diz, “Tem razão, ela parece mais uma rata demônio do que um Lorde demônio.”

Rata?, se questiona Liz, mantendo sua expressão confusa, porém agora um pouco mais inconformada.

Enquanto as garotas voltam a lutar contra os poucos mantos vermelhos de pé que restaram, o homem de cicatriz se aproxima de Liz.

“Grande Lorde Demônio, peço perdão pela confusão, mas eu gostaria de lhe pedir um favor. Poderia cuidar daquelas problemáticas ali na frente? Ainda temos outros assuntos para resolver antes do grande evento de renascimento, não podemos nos arriscar aqui”, diz o homem de cicatriz enquanto aponta para as garotas que acabam de derrubar mais um dos mantos vermelhos.

“Grande evento?”, questiona Liz.

“Sim. Peço ajuda, três dos meus homens já caíram e nós de pé, já lutamos muito. Gostaria de explicar tudo que está acontecendo, mas não temos muito tempo”, diz o homem, apontando para seus companheiros.

Liz olha ao seu redor, os homens de manto estão ofegantes e feridos, certamente eles não têm muita chance contra o grupo de garotas.

Tem algo errado com eles. Nunca vi NPCs cansados. Eles capricharam bastante nisso aqui, pontua Liz enquanto tira o arco que está em suas costas e acena com a cabeça para o homem de cicatriz, que esboça um sorriso.

Então é um evento, cultistas contras garotas boladas. Agora saquei, elas devem ser o time inimigo. O matchmaking tá meio ruim, ein? PVP de três contra uma. Se bem que, pela magia e o equipamento delas, elas não parecem de nível tão alto, Liz analisa, enquanto encara o grupo de garotas.

O homem de cicatriz começa a recuar e sinaliza aos outros dando um assovio. Os outros estão de pé, começam a segui-lo. As garotas que enfrentavam a resistência formada pelos poucos homens agora se veem livres, sem ninguém para se pôr entre elas e Liz. Elas param e respiram ofegantes, encarando a demônio de cabelo rosa.

“Muito obrigado, Lorde Demônio. Mandarei alguém para encontrá-la depois”, diz o homem de cicatriz pouco depois de passar pelas grandes pedras e seguir correndo com seus seguidores pelo campo gramado.

O lugar fica silencioso, apenas o som do vento na grama e o do fogo nas tochas acesas é ouvido. O círculo de grandes pedras é como uma grande arena, onde estão quatro lutadoras e, no centro, está a demônio de cabelo rosa.

Até que parece legal, pensa Liz, com um sorriso malicioso.

O silêncio é quebrado quando a garota de cabelos castanhos solta um verdadeiro grito de guerra, dando o sinal para começarem. Ela e a garota com a espada começam a correr em direção a Liz, enquanto a garota pálida atrás começa a preparar uma magia de fogo e a demônio permanece imóvel.

Agora, sem ninguém para ficar em sua frente, é possível ver que a garota com espada é muito mais veloz do que a garota armadurada de cabelos castanhos, pois sem muita dificuldade deixa sua companheira para trás.

Porém, muito mais rápido que ela, é a magia de fogo que a conjuradora dispara, que instantaneamente corta a arena, passando entre a garota de espada e a garota de cabelos castanhos em direção a Liz.

“Muito lento”, pontua a demônio de cabelo rosa, enquanto com um simples pulo para o lado, desvia do raio de fogo que atravessa a arena.

“E agora, o contra-ataque”, Liz diz, puxando a corda de seu arco. Uma flecha de energia vermelha se forma, e ela a dispara em direção à garota de espada, que, sem reação, é atingida em cheio.

No impacto, um estrondo é ouvido, a garota de espada é arremessada vários metros para trás e só para quando acerta uma das grandes rochas. A garota de cabelos castanhos só se dá conta do ocorrido ao ver sua companheira sendo arremessada para trás. Quando olha para ela, caída no chão, fica em choque.

A conjuradora se assusta e cobre a boca com as mãos. “Não é possível! Jenny!”, com uma voz fina e trêmula, diz a conjuradora pálida e paralisada de medo.

Liz ainda em posição de combate, se mantém atenta às três, mas ela também se assusta com a potência de seu disparo. Será que foi um crítico?, ela se questiona.

Ela vê as outras duas garotas distraídas, percebendo a oportunidade, prepara uma nova flecha. Porém ela para quando olha para a garota de espada encostada na pedra.

Que isso?!?, grita a demônio de cabelo rosa, assustada.

Caída sobre a pedra, está a garota que usava espada, porém agora, existe um grande buraco em seu ombro esquerdo, local acertado pela flecha, por onde sai sangue.

Sangue?!!? Desde quando o HTO tem isso?, pensa Liz.

Ela olha ao redor e vê os outros três mantos vermelhos derrotados, talvez devido a confusão ou a cor dos mantos, mas os homens caídos também estão com feridas de verdade e sangue de verdade.

Liz começa a ficar nervosa, ela tenta tirar o console de sua cabeça, mas nada acontece. Também tenta apertar o ar, como se procurasse um cursor na tela, mas nada acontece.

Ela começa a ficar ofegante, e finalmente percebe o que era a sensação de estranheza que vem tendo desde que apareceu naquele lugar. Tudo está real demais. Ela sente o vento na pele, o chão irregular sob seus pés, até o calor das tochas próximas a ela. Por mais que o jogo fosse realista, nem ele poderia emular essas coisas, ela pontua.

Após alguns segundos, a garota de cabelo castanho recupera seus sentidos e vê a demônio de cabelo rosa distraída. Vendo a chance de vingar sua companheira, parte para cima com um golpe de machado, que acerta Liz pela lateral de sua perna esquerda.

Liz sente o impacto do golpe, que a empurra um pouco para trás. Ela olha para sua perna onde nota um arranhão causado pelo machado. Ele dói como se fosse de verdade.

“Monstro! Aberração!”, exclama a garota com ódio no olhar, que continua desferindo golpes com o machado.

Mesmo que Liz receba os golpes, aquele machado é muito fraco para causar algum dano de verdade nela, porém seus golpes são de verdade, o que a deixa atordoada a ponto de não conseguir se esquivar dos golpes subsequentes da garota de cabelos castanhos.

A garota de cabelos castanhos vê que seus golpes mais fortes não causarem danos na demônio. Ela olha para sua companheira conjuradora que ainda permanece no mesmo lugar e diz gritando, “Arielle, caramba! Ela é muito forte, não sei quanto tempo eu seguro ela. Foge e avisa quem puder.”

Arielle, que com o grito de sua amiga recobra seus sentidos, vê a cena. “Helga, mas e a Jenny?”, ela responde ainda com a voz trêmula.

“Nem sabemos se ela tá viva, e é mais importante avisar que eles estiveram aqui. A Jenny ia querer isso”, diz gritando a garota de cabelo castanho enquanto desfere mais um golpe na demônio de cabelo rosa.

Enquanto a garota de cabelo castanho conversa com Arielle, a velocidade com que ela desfere golpes diminui. Graças a isso, Liz tem tempo de respirar e consegue dar um passo atrás saindo do alcance imediato do machado da garota de cabelo castanho.

Agora me dei mal, pensa a garota de cabelo castanho, assustada com o que a demônio de cabelo rosa pode fazer.

Arielle, que fazia menção de fugir, vê a demônio sair do alcance de sua amiga Helga e, mais uma vez, ela se paralisa com medo do que vai acontecer com elas.

Helga segura firmemente o machado, se preparando para o que está por vir. Em todos esses anos como aventureiras. Arielle e eu sempre ouvimos muitas histórias sobre grupos inteiros sendo mortos por encontrarem monstros muito mais fortes do que esperavam em suas missões, ela divaga, pensando se serão seus últimos momentos. Mas em todas as vezes, a Jenny sempre dizia a mesma coisa. ‘Isso só acontece com gente tola ou azarada, nunca vai acontecer com a gente’. Se eu morrer justamente por isso, vou caçar a Jenny até no inferno.  

E para surpresa das garotas, talvez Jenny esteja certa.

“Eu me rendo! Eu me rendo. Vocês ganharam”, diz a demônio de cabelo rosa, jogando seu arco em frente a garota do machado.

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Olá, eu sou Vila!

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