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Dentro de uma sala de chão e paredes vermelhas, dois demônios se encontram. Um deles é pequeno, com pele vermelha e grossa. Ele possui asas nas costas, uma cauda fina e longa, dois chifres na testa e um nariz enorme. Veste uma calça parcialmente rasgada, e está de pé, tremendo de apreensão enquanto observa a outra demônio sentada ao seu lado.

Ela usa uma blusa negra adornada com joias roxas, que destaca seus ombros e um decote que realça sua delicada pele de um tom rosa vibrante. Seus olhos vermelhos e brilhantes, junto com os chifres negros com partes brancas que emergem de seu longo cabelo prateado, lhe conferem uma aura quase divina. Uma fina cauda negra com ponta se estende por trás da cadeira onde ela senta. Atrás de sua cabeça, flutua uma auréola translúcida de cor amarela, formada por sete folhas.

A sala onde eles estão é iluminada por alguns globos luminosos pairando no ar e pela luz da lua que passa pela janela. Nas paredes, há estantes de madeira negra com muitos espaços vazios e poucos livros guardados, e desses poucos, a maioria está danificado de alguma forma. 

No meio da sala está uma mesa e uma cadeira onde a deslumbrante demônio está sentada. Ela encara, visivelmente descontente, um espelho que está de pé na mesa. Ele é redondo e possui uma grossa borda dourada dividida em dez partes, cada uma dessas partes possui uma joia de cor diferente. 

Cinco dessas joias estão apagadas, enquanto as outras cinco brilham fortemente. As joias apagadas são verde, rosa, dourada, branca e azul. E as que brilham são vermelha, laranja, amarela, roxa e preta. 

Uma voz sai do espelho, não do vidro que reflete a face da deslumbrante demônio, mas da joia preta, que cintila conforme a voz se manifesta.

“… E foi assim que ela impediu Edric”, diz uma voz masculina bem grave.

“Pode confirmar de novo como ela se apresentou?”, pergunta a demônio na sala.

“… Rubi”, responde a voz que sai da joia negra.

A demônio solta um longo suspiro e, com os punhos fechados sobre a mesa, deixa transparecer sua frustração.

“Ela parecia estar sendo controlada ou algo do tipo?”, pergunta uma voz masculina vinda da joia laranja, que também fica cintilante durante a fala.

“Em meu… breve contato, não percebi nenhuma resistência da parte dela” , diz a voz da joia negra. “As testemunhas que acordaram disseram que ela parecia ter pleno controle de si.”

“Houveram muitos feridos?”, pergunta uma voz masculina suave e sibilante, como o sussurro de uma serpente, vinda da joia roxa, esboçando preocupação.

“Todos que se envolveram em batalha contra ela e aquele grupo ficaram no mínimo severamente feridos. Os ferimentos que levei deixaram grandes cicatrizes”, responde a voz da joia negra. “Mesmo agora, duas semanas depois, muitos dos nossos não acordaram e receio que nem irão. Também houve baixas…”

“Ela tinha qual arsenal com ela? Uma espada dourada? Um arco de madeira ou metálico?”, questiona a voz da joia laranja.

“Eu vi apenas um arco amarelo. Eu… não cheguei a olhar muito, pois estava… sem muito controle. Ele disparava flechas feitas de magia”, responde a voz da joia negra, notavelmente nervosa.

“Entendo… então ela está sem aquela espada. Interessante”, pontua a voz da joia laranja.

Depois dessa última afirmação, o espelho fica quieto. Até a demônio na sala permanece quieta.

Depois de algum tempo assim, o silêncio é quebrado pela voz da joia negra. “Mais alguma… dúvida?”

“Como é seu nome mesmo?”, pergunta a demônio na sala. 

“… Zorvax”, responde a joia negra. 

“Devo presumir que ninguém tem mais perguntas?”, questiona a demônio na sala. 

“Não”, diz a voz da joia roxa. 

“Nenhuma”, diz a joia laranja. 

“Não tenho nada a perguntar”, diz uma voz grave e estridente vinda da joia vermelha. 

“Então, senhor Zorvax, obrigado pelas informações. Elas foram… reveladoras”, diz a demônio na sala, com muita eloquência. “Agora iremos deliberar sobre o que fazer. Obrigado.”

“Eu que… agradeço. Por favor, não a deixem impune. Ela é vil, e traiu, atacou e matou todos nós que precisávamos dela”, pede Zorvax. 

“Não iremos”, diz, cheio de confiança, a voz da joia Roxa. “Ela irá pagar pelo que fez a vocês.”

“Ela também nos deixou na pior, brother”, responde a voz da joia laranja. 

“Aquela coisinha rosa não vai ficar solta por aí”, alerta a demônio sentada na sala, em um tom ameaçador. 

“Obrigado”, diz Zorvax. Logo, a joia negra apaga-se. 

A demônio olha para o pequeno que está ao seu lado. “Nariz Torto”, diz ela, chamando sua atenção.

“Sim, minha senhora!”, ele responde. 

“Iremos deliberar a sós aqui. Vá para o andar de baixo e não deixe ninguém subir.” 

“Sim. Como desejar.”

Rapidamente, Nariz Torto sai voando daquela sala e fecha a porta. 

A demônio dá um longo suspiro, relaxa seus ombros e reclina-se na cadeira, assumindo uma posição mais desleixada. Preciso achar roupas melhores para ele, ela pensa. Tenho quase que aquilo era um saco de batatas velho.

Ela se volta para o espelho. “Já estão a sós?”, pergunta.

“Sim”, responde a voz da joia roxa.

“Não havia ninguém comigo desde o começo”, fala a voz da joia vermelha.

“Comigo também não”, diz a voz da joia laranja. “Aliás, vermelhão, você fala bem pouco, hein? Não falou nada na reunião. Tô começando a achar que não gosta da gente.”

“Não pretendo estender esse encontro além do necessário”, responde a voz vinda da joia vermelha.

“Nossa amiguinha gulosa não apareceu até agora”, comenta a voz da joia laranja. “Ela não vai ficar brava por terem começado sem ela?”

“Ela anteriormente me avisou que não compareceria”, responde a voz da joia vermelha.

“Podia ter me avisado mais cedo”, reclama a voz da joia laranja.

“Foi avisado no começo da reunião”, diz a voz da joia roxa.

“Mas alguém chegou atrasado…”, comenta a demônio na sala.

“Eu estava enrolado com outros assuntos”, explica a voz da joia laranja.

“Espero que compensem seu atraso”, a voz da joia roxa pede.

“Vão compensar”, responde a voz da joia laranja. “E aí… já tem algum outro plano para irmos embora? Alguém vai testar um /suicide?”

“Arty, sem piadas agora”, exige a demônio na sala, irritada. “Por que diabos a Rubi ferrou com a gente?”

“Camélia, como eu vou saber disso?”, a voz da joia laranja responde, revelando-se como Arty. “Eu nem sabia que ela era a sexta. Até o dia em que eu vim para esse mundo, ela não tinha pegado nenhuma coroa.”

“Você era amigo dela”, comenta a voz da joia roxa. “Deve saber alguma coisa.”

“Não vem com essa pra cima de mim não, Ronin”, responde Arty, referindo-se à voz que sai da joia roxa. “Eu só fiz alguns conteúdos em grupo com ela. Não me joga no mesmo saco que ela não.”

“Sejamos diretos ao ponto”, interrompe a voz da joia vermelha. “Pouco importa o motivo. Aquele conhecido Zorvax nos informou que ela sabia as consequências do que estava fazendo.”

Camélia dá um suspiro. “E agora estamos presos aqui”, diz ela, frustrada e logo se irrita novamente. “Ela é burra?!”

“Independente disso, ela fez com que toda a luta dos demônios e dos nossos outros aliados fosse em vão”, diz Ronin.

“Precisamos elaborar um plano de ação”, comenta Camélia.

“Isso seria bom”, comenta Arty. “Aquela última batalha foi complicada no final.”

“Arty, você avançou demais e muitos dos nossos aliados morreram”, repreende Ronin.

“Vocês me deixaram sozinho. Ninguém do time foi me ajudar.”

“Não podíamos. Nossos aliados na retaguarda iriam ficar desprotegidos”, explica Ronin.

“A intenção daquela batalha nunca foi avançar”, pontua a voz da joia vermelha. “Era apenas proteger o objetivo e ganhar tempo.”

“A pergunta é, por que você foi à frente?”, Camélia questiona.

“Por que não? Só tinham Mobs e NPCs fracos naquela ruína. Não tinha visto motivo para não conquistar terreno”, diz Arty, despreocupadamente. “E os servos que me seguiram eram todos de baixo nível. Não tenho culpa por eles morrerem.”

“Devia ter mais respeito pelos que morreram ao seu lado”, adverte Ronin.

“Me lembro bem de ter visto você ferido e sendo arremessado longe por um dos fracos que você disse”, comenta Camélia.

“Aquilo não era um Mob comum, era um anão chefe de Raid”, explica Arty.

“Aquilo foi muito feio para nossa moral”, comenta Ronin.

“Mesmo assim, não foi de todo mal”, comenta a voz da joia vermelha. “Graças àquilo, agora sabemos que existem pessoas nesse mundo que são ameaças para nós.”

“Viu só”, Arty fala se vangloriando. “E eu poderia solar ele. Só fui pego de surpresa.”

“Isso serve como um aviso”, Camélia adverte. “Vamos com cautela e na encolha. Devemos buscar mais informações sobre esse mundo. Deve existir outra forma de voltar ou de trazer o tal senhor de abismo de volta.”

“Deveríamos cuidar dos nossos comandados”, Ronin sugere. “Tivemos muitas baixas e já estávamos em menor número.”

“Concordo com a Camélia”, diz a voz vinda da joia vermelha. “Mas nosso intuito primário deveria ser encontrar informações sobre as principais ameaças contra nós.”

“Já estou fazendo isso. Estou naquela cidade que tomamos”, Arty pontua. “Vou atrás de qualquer coisa útil. Ainda tem alguns anões vivos por aqui. Eles devem saber algo.”

“Aí é muito longe de onde estamos”, adverte Camélia. “É melhor você voltar.”

“Você não é nossa líder. Não pode me dar ordens”, afirma Arty, com um tom bastante insolente. “Eu só sairia daqui se você fosse me dar outra coisa.” Ele conclui soltando uma risada ao final.

Camélia, na sala, demonstra uma raiva profunda. Antes de falar algo, ela respira fundo. “Você tem razão. Continue com esse seu genial”, ela pede, completamente calma. “Atraia aquele anão. Vai ser bem útil saber o que acontece se um de nós morrer.”

“Você está falando que eu poderia morrer para ele?”

Camélia solta uma risada leve. “De jeito nenhum,” responde ela, com uma ironia afiada.

“Quer saber? Vou continuar meus afazeres aqui na cidade”, Arty afirma, irritado. “Quando quiserem tomar ações úteis ao invés de brincar de rei, me contatem. DemonArtystic saindo.” E a joia de cor laranja se apaga.

“Camélia. Não foi nada delicado de sua parte”, Ronin pontua.

“Perdão”, ela responde, ainda deixando escapar uma risada. “Foi força do hábito. Mas ele mereceu.”

“Por mais que tenha receio em concordar com o DemonArty, ele tem razão em alguns pontos”, afirma a voz da joia vermelha. 

“Em quais pontos você se refere, Abaddon?”, questiona Ronin.

“Devemos dar prioridade às coisas realmente necessárias e agir”, a voz da joia vermelha responde, assumindo-se como Abaddon. “Ronin, concordo que devemos organizar nossos servos, mas você aparenta estar mais preocupado com eles do que com a nossa situação.”

“Os Maelitas sofreram muitas baixas e os diabos estão debilitados”, explica Ronin. “Precisamos nos reestruturar e nos organizar ou então, caso sejamos alvo de um ataque, eles podem ser exterminados e não teremos mais uma base.”

“Eles não são soldados, são agentes. Eles já estavam em uma guerra que, sozinhos, não poderiam ganhar.”

Camélia fica tensa observando o clima pesado que se forma entre os dois. “E qual sua sugestão, Abaddon?”, ela questiona.

“Deixe-os agir pelas sombras”, Abaddon responde, com sua grave voz. “Não precisamos de uma grande base para nos esconder e agir.”

“Eles podem fazer isso”, diz Ronin, concordando. “Mas vou ficar nessa terra e a defenderei. Os que permanecerem comigo me ajudarão a estruturar uma defesa sólida. Darei apoio a qualquer um da nossa causa que precisar.”

“Se vai seguir fazendo como bem entender, eu também irei”, afirma Abaddon. “Vou buscar por mais informações sobre o que aconteceu na última batalha. E não espere que eu apareça por aí quando essa terra estiver sendo destruída.”

“E se você precisar de ajuda na sua empreitada, pode nos chamar. Estaremos prontos por aqui”, afirma Ronin, determinado. 

“Mais uma vez, ressalto que tenho receio em concordar com o Arty, mas você devia seguir o conselho dele”, Abaddon alerta. “Cuidado ao brincar de rei.”

Ninguém diz mais nada por alguns segundos e a joia vermelha apaga. Carmélia respira aliviada agora que o clima denso se desfez.

“Falou sério quando disse que iria ficar por aí?”, questiona Camélia. “Ou foi apenas para irritar o Abaddon?”

“Você também acha que é uma ideia ruim?”, pergunta Ronin. 

“Não. Gosto da ideia de ter um ponto seguro. Além de ser um bom jeito de aumentar a moral do nosso lado.”

“Obrigado”, diz Ronin, aliviado. “Fiquei preocupado de você pensar que eu estava agindo como o Arty.”

“Quer que eu vá ajudar?”

“Não. Eu… preciso de um tempo para pensar. Botar a cabeça no lugar.”

Camélia fica um pouco apreensiva. “Me desculpa”, ela pede. “As coisas não saíram como eu planejei. E agora você….”

“Não, de forma alguma”, Ronin interrompe. “Você precisava de mim. Não tinha escolha. Eu também viria de bom grado se soubesse que você estava presa. O problema foi o que a Rubi fez.”

“Eu sei. Ela foi muito egoísta.”

“Nós vamos dar um jeito”, diz Ronin, buscando animá-la. “Sempre demos.”

“Nós vamos”, ela diz determinada.

“Já se acostumou com o corpo novo?”

“Até que sim, mas se eu soubesse que ficaria presa, não teria escolhido uma cauda tão grande”, ela responde, olhando para sua cauda balançando atrás da cadeira.

“É bom ouvir isso”, diz Ronin, tranquilo. “Eu vou sair aqui. Irmã, lhe desejo uma boa noite.”

“Até mais.”

A joia roxa se apaga. Camélia toca a joia amarela, pressionando-a por alguns segundos até que também se apague. Em seguida, ela se levanta da cadeira e se dirige até a janela.

Lá, ela contempla a lua quase oculta entre as montanhas da paisagem árida e silenciosa. O vento que entra pela janela faz seus cabelos prateados balançarem suavemente.

Juro que vou te encontrar, Rubi, ela reflete, cheia de angústia e ódio. Nem que eu tenha que quebrar tudo. Você vai pagar por ter deixado meu irmão e eu presos nesse mundo.

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Olá, eu sou Vila!

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