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Meu corpo continuava a crescer. Cada parte de mim se expandia, esticando-se além do que eu imaginava possível. E então, sem aviso, o casulo ao meu redor estourou, como se não pudesse mais conter o que eu me tornara. A luz invadiu meus olhos de forma tão intensa que precisei de um momento para me acostumar.

Tudo era tão claro, tão diferente do que eu lembrava, sempre vou ter essa mesma sensação? Realmente não sabia, mas o mundo realmente parecia outro, como se eu estivesse vendo pela primeira vez. Pisquei várias vezes, ajustando-me à luminosidade, enquanto meu corpo estranho, começava a se mover lentamente.

“Pesado…”

Essa foi a primeira coisa que notei. Muito mais pesado. 

Cada movimento era carregado de uma força nova, porém desajeitada. Quando tentei mover minhas articulações, parecia que algo não estava certo. Eu não me sentia mais rígido como antes. 

“O que aconteceu com meu exoesqueleto?”

Eu olhei para meu corpo, não havia mais a carapaça sólida que me protegia antes. Em vez disso, minha pele estava coberta por uma fina camada, algo quase macio, mas ao mesmo tempo firme, e, para minha surpresa, percebi que agora eu tinha ossos!

“Estranho. Muito estranho. Mas não é tão ruim…”

Meus olhos desceram rapidamente para minhas pernas e, então, eu vi. As duas que haviam sido arrancadas estavam de volta! Eu tinha minhas pernas de novo! Um alívio profundo me invadiu. Mas, logo percebi que a carapaça de joaninha, que antes me protegia tão bem, agora mal cobria meu corpo. 

Uma pena. Era como se ela tivesse encolhido ou meu corpo tivesse crescido demais para ela. 

E, para completar, meu corpo inteiro estava coberto de pelos espessos. Pelos! Isso era… bem, meio estranho.

Eu precisava testar isso. Precisava sentir meu corpo funcionando. Sem pensar duas vezes, dei um salto, me lancei do galho onde repousava. 

“Uou! Muito alto!”

O salto foi incrível! Minhas novas pernas eram incrivelmente fortes, quase me senti flutuando no ar por um instante. Elas me lançaram como um projétil, e por um instante, eu quase me senti invencível. Quase… Porque logo em seguida, as coisas começaram a dar errado.

Eu comecei a girar no ar. Minhas asas batiam loucamente, tentando estabilizar meu corpo, mas não conseguiam. Algo estava errado. Eu estava pesado demais! Meu novo corpo, tão poderoso, não era feito para essas asas frágeis.

“Não consigo voar!”

A realidade bateu em mim como um soco. Meu peito se apertou de medo. Eu estava caindo — e rápido.

Minha mente gritou em desespero, um grito silencioso que ecoava dentro de mim, enquanto o chão se aproximava mais e mais. Eu batia as asas freneticamente, mas era inútil. O pânico tomou conta de mim até que, por pura sorte, meu corpo atingiu um galho no caminho. A colisão foi brutal. A dor explodiu através de mim. Tudo doía. Doía muito. 

“Mas já senti piores”

Eu não estava gravemente ferido, então bastava suportar.

“Mas não conseguir voar é uma merda!”

Não pude deixar de resmungar. Foi então que olhei novamente para minhas pernas. Eu tinha que aprender a andar direito agora. Com um suspiro frustrado, me levantei e dei alguns passos cautelosos. Eu cambaleava, tropeçando de um lado para o outro, tentando encontrar algum equilíbrio. Mas, claro, em um momento de distração, tropecei nos meus próprios pés e caí de cara no chão.

“Maldito mundo!”

Xinguei com raiva. Eu estava furioso, frustrado com a minha nova condição. Mas eu não podia parar ali. Com esforço, me levantei, rangendo os dentes. Eu precisava tentar de novo.

Com paciência, comecei a caminhar novamente. Um passo. Depois outro. A cada passo, as coisas pareciam fazer um pouco mais de sentido. Meus músculos se ajustavam. Meu equilíbrio voltava. 

Logo, os passos se transformaram em uma corrida. 

Eu estava correndo!

Meus pés fortes batiam no chão com vigor, impulsionando-me para frente com uma velocidade que eu jamais tinha experimentado. O vento soprava contra meu rosto coberto de pelos, era tão bom!

Enquanto eu corria, uma sensação familiar voltou com força: a fome. Ela crescia dentro de mim como um fogo insaciável, algo que nunca desaparecia completamente. Mas, dessa vez, eu não estava tão preocupado. Olhei para meu corpo, forte, poderoso. Eu tinha metade do tamanho do esquilo que enfrentei antes. Isso era uma vitória em si. Eu me sentia diferente, me sentia imparável!

Corri mais rápido, os músculos das minhas pernas trabalhando cada vez mais em harmonia. Eu olhava ao redor, buscando algo, qualquer coisa para saciar minha fome. Mas o campo estava estranhamente quieto. Nem um zumbido, nenhum movimento. 

“Agora, justo agora, tudo decidiu ficar em silêncio?”

Foi então que, do nada, algo veio na minha direção como um borrão. Uma massa rosa e viscosa, rápida e certeira. Por sorte, eu estava alerta! 

Meu corpo se moveu no último segundo, e desviei por milímetros. O ar ao meu redor vibrou com o impacto do que quase me atingiu. Meu coração disparou, e minha mente imediatamente se encheu de raiva e curiosidade.

“Quem diabos ousou me atacar?”

Me virei num reflexo, pronto para uma briga, mas não vou mentir: um arrepio percorreu minha espinha quando vi o que era. 

Uma rã-touro enorme estava à minha frente. E era realmente um touro! Tinha até chifres curvados como os de um verdadeiro!

Sim, chifres!

Se bem que eu não posso dizer nada sobre partes estranhas que nascem nos corpos alheios…

Bem, aquelas protuberâncias imponentes, que curvavam-se ferozmente de sua cabeça, a faziam parecer mais um demônio do que uma rã. Seus olhos, grandes e frios, estavam fixos em mim, vazios de emoção, mas cheios de fome. A pele verde viscosa refletia a luz de forma quase ameaçadora, brilhando com uma camada de muco espesso que parecia impenetrável. O corpo largo e musculoso pulsava a cada movimento, e suas pernas eram robustas, claramente prontas para saltos poderosos.

Antes que eu pudesse reagir, ela atacou de novo. A longa língua veio direto em minha direção, rápida e letal. 

“Isso é o inimigo natural dos insetos, não é?”

Como vou lutar contra uma rã? Eu me virei, tentando fugir, minhas pernas batendo contra o chão com toda a força que consegui reunir. Era uma péssima hora para não poder voar.

Ela era rápida, muito mais rápida. Cada salto cobria uma distância que minhas pernas, por mais fortes que fossem, não podiam acompanhar. Cada vez que eu olhava para trás, via a massa enorme da rã se aproximando, seus olhos fixos em mim, calculando o momento exato do ataque. Eu xingava em minha mente, lutando contra o desespero. Se eu continuasse fugindo, acabaria morto de qualquer forma.

Decidi enfrentar.

Com um rugido de fúria na minha mente, corri diretamente para o rosto dela. Eu sabia que era arriscado, mas a raiva e o instinto de sobrevivência me empurravam para frente. 

Mas vacilei, claro. Eu sempre vacilo.

A língua da rã veio direto na minha cara antes que eu pudesse reagir. Eu sabia que não seria capaz de desviar. 

Eu estava prestes a ser devorado.

Era o fim.

Foi quando, de repente, ouvi um guincho alto e desesperado. Sangue espirrou para todos os lados, o gosto metálico preenchendo o ar. 

“O que esta acontecendo?”

Chocado, vi a língua da rã se contorcer no ar, cortada ao meio! Eu mal acreditei no que aconteceu. 

Meu probóscide, sim, essa maldita coisa afiada, minha boca, que eu achava útil só para me alimentar, estava cravada com força na carne de meu inimigo.

Eu ri. 

A surpresa e o choque transformaram-se em uma risada que subia pela minha garganta, primeiro devagar, depois mais forte, até se tornar uma gargalhada alta e incontrolável. Eu cortei a língua dela!

Foi decepcionante. Era o som de um esquilo. 

Bom, não há o que fazer.

A rã guinchava de dor, se sacudia em pânico, tentando se afastar, mas eu já sabia o que fazer. Eu estava no controle agora. Sem perder tempo, me joguei sobre ela. Meu corpo pesado caiu com toda sua força diretamente em sua cabeça, como uma pedra.

Ela tentou se sacudir, mas eu estava firme. Sangue escorria de sua boca enquanto eu fincava profundamente o probóscide em sua pele. 

Ela guinchou ainda mais desesperada. Ainda não tinha acabado, mas eu já sabia em meu coração.

Eu venci.


7

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