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‘Qual o sentido de tudo isso?’

O cheiro de ferro preencheu as narinas do homem, algo familiar demais para o gosto dele. Seus punhos apertaram o cabo da kunai em sua mão, lâmina que o acompanhou todo o caminho até aqui.

Pilhas e pilhas de corpos jaziam espalhados no chão, com um mar vermelho atravessando as aberturas daqueles há muito caídos. 

Aliados e inimigos arrastaram seus membros cansados e carne ferida, utilizando cada fagulha de sua energia para se juntarem novamente ao combate. A colisão entre aço soou outra vez no local, e o sangue subiu ao ar.

Balançando seu corpo para a direita, a mão do homem se moveu e uma linha se formou no pescoço de mais um oponente, retirando a vida de mais um ser humano.

‘Por que ainda lutamos?’

Limpando a linha vermelha de suas sobrancelhas, ele começou a caminhar, afundando seus pés nas poças sangrentas formadas pela queda das cascas que um dia encapsularam a alma dos mortos.

Os gritos de agonia e fúria que outrora ecoavam pelo terreno cessaram, e o homem observou seus aliados apoiando os feridos retirando-os do campo de batalha.

Ele então vagou sem rumo, atravessando os campos manchados sem intenção de se juntar aos seus iguais.

A luz da lua banhou um lago presente no ponto mais afastado da floresta. Folhas se desprenderam das árvores que circundavam o local, pousando na água e criando algumas ondulações. 

— Vencemos outra vez… — O homem não sabia o porquê dele dizer isso em voz alta embora estivesse sozinho. Talvez ele desejasse apenas desabafar, tirando esse peso de suas costas ao lançar suas palavras ao vento.

Ajoelhando, ele mergulhou a mão no lago, manchando as águas límpidas com um vermelho carmesim.

[O que te trouxe aqui, humano?] 

Sentindo o fluxo da água pelos seus dedos, o homem escutou a voz de um estranho vindo da floresta. Levantando-se rapidamente, seu corpo entrou em posição de combate pronto para encarar a possível ameaça.

A tensão em seus membros aumentou ainda mais quando ele não encontrou nada. 

— A guerra. — Sem relaxar, o homem respondeu a pergunta.

[Olhe ao seu redor humano. Vê alguma batalha aqui?]

Estas palavras levantaram outra questão na mente dele: Onde exatamente era este lugar?

Tendo analisado o mapa do campo de batalha antes da disputa se iniciar, ele sabia que este tipo de bioma não deveria existir nos arredores do local.

[O que te trouxe aqui?]

— A guerra… 

A resposta foi a mesma, porém a expressão do homem afundou ao perceber algo.

[Além da guerra, qual o significado da tua vida?]

‘Não… Há mais nada…’

Desde que seu povo se submeteu a um conflito de outros povos, sua vida girou apenas em prol de sobreviver outro dia. Batalha após batalha, o único objetivo restante para o homem foi viver por mais um dia, vagando enquanto carregava o peso dos corpos que ele mesmo pôs no chão.

Olhando para o sangue, que aos poucos se espalhava pelas águas do lago, ele voltou a se questionar.

‘Quanto tempo até que a guerra também manche esse lugar?’

Ela sempre alcança, não importa onde ou quando, todos estão sujeitos a serem manchados por ela.

[Se odeia tanto esta batalha sem sentido, porque continua seguindo-a?]

— Porque não há forma de escapar dela. — Os olhos do homem se afogaram em melancolia e, mesmo com a presença de um possível inimigo, seus ombros despencaram.

— É apenas uma questão de tempo até que ela encontre este oásis também.

[Estás enganado, humano.  Nenhuma outra alma encontrou este lugar antes de ti]

A voz parecia convicta de suas palavras, fazendo o homem se questionar novamente onde diabos ele estava.

[Esta não é a pergunta certa. Você deveria estar se perguntando se irá permanecer aqui, ou retornará aos seus?]

Os olhos do homem escanearam novamente o local, encontrando um senso de calmaria no simples soprar do vento nas árvores, o qual obviamente nunca encontrou em nenhum campo de batalha.

— Eu gostaria de ficar.

[Você terá que abandonar toda sua história, e dedicar-se apenas a manter a paz neste lugar. Ainda deseja permanecer aqui?]

— Sim. — Seus olhos estavam mais claros do que nunca, e qualquer resquício de tensão ou desconfiança em relação a voz já não existia.

[Então, como um símbolo de sua nova vida nomeio-te Yoru, e que as sombras de seu passado não mais te alcancem]

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— Essa é a história sobre a criação do meu clã. — Terminando suas palavras, Hikari tomou um gole de sua xícara de chá, dando algum tempo para o grupo digerir suas palavras.

Contar esta história levou algum tempo, então ela teve que se refrescar um pouco.

— E por isso ninguém aqui vai tentar nos matar, ao menos até a meia-noite. Eles simplesmente não podem fazê-lo — comentou Silver ao lado.

Se tem algo que este conto ensinava era que a paz sempre seria algo a se prezar, portanto, virou uma tradição do clã abraçar esse conceito por um dia no ano.

— Deixa eu ver se entendi. — Pausando um pouco, Freud lutou para traduzir seus pensamentos em palavras antes de continuar — Nós vamos quebrar uma tradição de sei lá quantos séculos atrás porque vocês querem matar alguém?

Ele não sabia se sua incredulidade foi passado pela sua expressão mas, considerando os olhares planos nos rostos do trio, apenas isso não foi o suficiente. Buscando se acalmar, o jovem levantou sua xícara tomando goles largos do líquido nele.

‘Oh, certo. Ainda estou vestindo a máscara’

O jovem somente levantou o objeto um pouco para permitir que ele tomasse o chá.

— Você entendeu errado. — Silver cortou diretamente — Primeiro, tecnicamente não estamos quebrando nenhuma tradição já que vamos matar ele só ‘amanhã’. E segundo, quem toma ou come qualquer coisa oferecida no território do inimigo? Quanta coragem!

O primeiro ponto foi dito como se fosse óbvio. Já no segundo, o tom do dragão prateado estava pingando de sarcasmo enquanto ele alternava o olhar entre Freud e a xícara.

Levaram alguns segundos para o raiju registrar o que havia escutado e, quando o fez, imediatamente cuspiu o chá. 

O líquido foi evaporado antes de alcançar Silver, mas, sem perceber isso, o jovem tossiu várias vezes, buscando expulsar tudo que ingeriu.

— Essa é a casa da Hikari. Acha mesmo que ela te daria algo envenenado? — Levantando uma sobrancelha, o dragão prateado ignorou o olhar furioso de Freud.

Antes da ‘vítima’ expressar sua frustração, a porta do local abriu completamente, e uma sombra atravessou o cômodo se lançando na direção da kunoichi.

Ajustando o corpo para não cair, Hikari abraçou a ‘sombra’ e um leve sorriso surgiu em sua face.

— Hihi você voltou mesmo! A tia estava certa! — A garota exclamou com um tom animado.

A recém-chegada tinha a pele pálida, assim como todos os habitantes que eles encontraram anteriormente. Seus cabelos eram curtos pretos que ganharam um grande destaque junto aos olhos de mesma cor. 

As roupas da jovem eram totalmente pretas, com mangas longas que ultrapassavam a linha de suas mãos, escondendo qualquer coisa que poderia estar lá.

Silver e Hikari franziram brevemente a menção da ‘tia’, mas a garota escondeu isso rapidamente retornando o sorriso aos seus lábios. A expressão do garoto voltou à tranquilidade não muito depois, pouco antes da recém-chegada se voltar para ele.

— Silv, você também voltou! — Esbanjando duas fileiras de dentes brancos, a jovem acenou animadamente para Silver.

— Estamos de volta, Nikkō — Sorrindo, ele levantou a mão reciprocando o gesto.

Nikkō era a ‘discípula’ e irmã de consideração da kunoichi, além de ser a pessoa que eles buscavam proteger ao eliminar Mutsuri.

— Ora, a quanto tempo ‘Silv’ e Hikari — Outra voz feminina atravessou a sala.

Com passos calmos, uma mulher caminhou na direção do grupo. Os cabelos dela eram tão pretos quanto os de Nikkō, amarrados em um coque despojado, com mechas dele escorregando pela amarração. 

Uma franja pequena escorregou pela testa da mulher, descansando ao lado de seus olhos de cor piche. Um leve sorriso adornou seus lábios vermelhos, salientando uma pinta na parte superior do seu lábio.

O kimono que ela vestia escorregou por seus ombros, expondo sua pele pálida que foi interrompida por uma tatuagem presente na base de seu pescoço.

— Que desprazer te ver outra vez Natsumi. — Silver olhou para a recém-chegada, o jovem não tinha muita emoção no rosto, contrário ao tom que usou na sua frase.

Ele realmente não odiava a mulher, o único problema foi que a simples presença dela no vilarejo o forçou a mudar levemente seus planos.

‘Não duvido que a “sombra” tenha a chamado justamente por isso’

— Ara, que pena. Estou feliz por rever seu rostinho bonito. — O sorriso no rosto dela se aprofundou, e ela levou um dedo ao lábio enquanto olhava diretamente nos olhos dele.

Completamente indiferente a ‘tensão’ entre a dupla, os olhar de Nikkō permaneceu grudado no cabelo e nos olhos de Iris, quem espelhou tal curiosidade. 

— Hihi, quem é a irmãzona com o cabelo bonito? — Chamando a atenção de Hikari, a jovem perguntou.

— Iris… Eu me chamo Iris. — Escovando seus cabelos multicoloridos para trás, inclinando sua cabeça levemente para o lado sem tirar os olhos da garota.

Se desvencilhando da kunoichi, Nikkō se aproximou cautelosamente da garota. Não sentindo nenhuma rejeição da outra parte, a jovem estendeu a mão antes de oferecer:

— Quer brincar comigo? — Expectativa brilhou nos olhos da menina, aguardando esperançosamente pela resposta.

Lentamente, mas muito lentamente Iris estendeu sua palma, a qual foi agarrada repentinamente deixando ela um pouco tensa, porém, o sorriso que Nikkō mostrou a acalmou.

Logo a dupla desapareceu no quintal, deixando o quarteto restante sem palavras.

— Então, quando vocês vão me apresentar ao seu amigo mascarado? — Alcançando a mesa em que o trio estava, retirando uma cadeira para se sentar.

— Pode me chamar de Mask. — Antes de Silver ou Hikari dizerem qualquer coisa, Freud respondeu usando uma entonação excessivamente grossa.

Isso rendeu olhares embasbacados do duo, que expressaram seu desdém pela escolha do nome.

— Ok… Então, que tal colocarmos o papo em dia? — Jogando a apresentação do raiju para o lado, Natsumi propôs.

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