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‘Que dor de cabeça…’

Foi a primeira coisa que Freud sentiu ao abrir os olhos, suas pálpebras estavam pesadas então ele teve que colocar alguma força para abrí-las. 

Uma dor se espalhou pelas costas do jovem, não só graças à postura estranha em que ele se encontrava no banco, mas também pela batalha em que esteve há pouco tempo atrás.

A visão de uma planície bastante familiar deixou claro para o raiju sua localização atual.

Era uma das cabines de um trem igual ao que eles usaram para chegar até a casa de Hikari.

‘Mas como eu cheguei aqui?’

— Te disse que ele ia acordar ainda hoje. — Uma voz facilmente reconhecível soou logo à frente — Vaso ruim não quebra tão fácil assim.

Silver estava sentado do lado oposto a ele, agora sem sua [Armadura real], vestindo uma jaqueta preta. Havia um leve sorriso em seu rosto, enquanto seus braços permaneciam cruzados.

Hikari olhou para o jovem de cabelos prateados em silêncio, o fazendo franzir.

— Quê?! Eu nem bati tanto nele. Essa aparência destruída é natural dele. — Pausando levemente, o dragão prateado expressou sua indignação apenas pela face — Quem mandou ele mirar no meu rosto…

Os lábios da kunoichi se curvaram e, neste momento, Silver percebeu que ela estava brincando. 

— Sim sim,muito engraçado. Continue com seu sarcasmo… 

‘Será que eu perdi algo?’

Observando a conversa entre a dupla, Freud ficou em dúvida vendo a garota se manter em silêncio enquanto Silver parecia ler seus pensamentos apenas com um olhar.

— Urgh! — Grunhindo em dor, o raiju reposicionou seu corpo na cadeira, sentindo seus músculos pedindo socorro a cada movimento.

— Não seja tão chorão. Mitis pode resolver isso em poucos minutos. — Suspirando, o jovem comentou, recebendo um olhar irritado de Freud.

— Nem todo mundo ganhou regeneração de brinde durante o [Contrato] — resmungando, os braços do garoto se moveram a contragosto, apoiando-se na mesa enquanto tentava ficar em uma posição confortável.

Um cheiro fraco de sangue alcançou seu nariz com o movimento, o fazendo olhar para o próprio corpo. Ainda havia terra em suas palmas, se espalhando também pelas mangas de sua roupa. 

Ele não conseguiu encontrar qualquer vestígio de sangue dentro de seu ponto de vista. Olhando para Silver, Freud percebeu que seu ‘rival’ estava incrivelmente limpo sem nenhum indício de ferimento nele.

‘Quão injusto’

— Disse algo? Porque eu só escutei choro. — Dando de ombros, o dragão prateado continuou — Já pensou em tomar um banho? Você tá fedendo.

Levando uma mão até o nariz, Silver contorceu o rosto em desgosto.

— Por que você não vai se fo… 

Antes de terminar a frase, seu corpo se rendeu ao cansaço, desabando sobre a mesa e permanecendo imóvel.

— Ele desmaiou? Sinceramente, esse pessoal não aguenta alguns socos e ainda têm a coragem de me desafiar. — O queixo do dragão prateado se ergueu após esse comentário, enquanto Hikari rolava os olhos ao lado.

❂❂❂

A viagem de volta foi bem tranquila, Freud recobrou a consciência antes de dormir novamente múltiplas vezes este meio tempo, fazendo Silver se questionar se não havia superestimado a resistência dele.

Hikari por sua vez, estava perdida em seu próprio mundo, ignorando completamente os arredores enquanto olhava para tudo e nada ao mesmo tempo. O dragão prateado não tinha ideia sobre que ela conversou com Nikkō mas, seja o que for, deixou a mente dela cheia o suficiente.

Aproveitando esta deixa, Silver fechou os olhos, focando completamente em sua regeneração. Apenas parecer intocado não significa que ele não estava ferido.

Seu corpo ainda tinha algumas das feridas causadas durante sua luta contra Natsumi e o Yoru. Elas apenas foram escondidas por suas roupas e o sangramento já fora estacado, restando apenas recuperar a pele perdida.

‘Se Iris estivesse conosco, seria menos cansativo’

Como uma especialista em venenos, a jovem de cabelos multicoloridos tinha algum conhecimento em medicina e poderia ajudá-lo a acelerar sua cura natural sem precisar focar completamente nisso.

‘Bem, vamos nos ver de novo uma hora ou outra’


Assim, o grupo ficou em silêncio por todo o caminho e Silver se permitiu dormir um pouco.

Quando o sol alcançou seu pico, o trio finalmente chegou no território de Silver, caminhando em um ritmo constante até alcançarem a base principal.

A cidade não mudou muito no meio tempo que eles saíram, o cheiro de tinta fresca ainda permeava as ruas que estavam sendo reconstruídas e alguns habitantes pareciam muito ocupados graças a isso.

Tal coisa não os impediu de parar e olhar para Silver com uma gratidão que beirava a reverência. Crianças acenaram na direção do jovem, algo que ele respondeu sem problemas, até os pais delas as levarem embora a contragosto.

Entrando na base, eles se encontraram com Ai, que tinha uma expressão cansada no rosto.

— Tem um velho te esperando na sala de reuniões, ele disse que conhece você. — Havia um pouco de raiva no tom dela, mas não era direcionada a nenhum deles — Também tem outro velho com os ‘paladinos’ e eu tive que dobrar a segurança ao redor deles.

‘Não é atoa que ela parece cansada’

Na falta dele e de Hikari, Ai era quem lidaria com os assuntos importantes do grupo, além de cuidar dos próprios deveres como a líder dos Wrath Wolves. Normalmente, sua divisão tinha bastante liberdade na decisão e atuação em missões, porém, utilizando as próprias palavras dela “não se pode deixar idiotas correrem por aí sem supervisão”.

Silver sentiu que Leon foi incluído nesta frase, mas não comentou sobre.

— Quer tirar uma folga? Você parece acabada — disse o jovem, recebendo um olhar irritado em resposta.

— Sim. — Dizendo isso, ela se virou e caminhou, sem olhar para trás novamente.

— O que há com ela? Quão rude. — Levantando uma sobrancelha, olhando para Hikari que parecia querer dizer muito, mas acabou não dizendo nada.

— É realmente estranho, mas eu só vi ela de mau humor então não sei. — Freud concordou com o dragão prateado, se recordando de todas as vezes que encontrou Ai e descobrindo que ela sempre estava irritada.

A kunoichi chacoalhou a cabeça em desistência, suspirando enquanto também deixava a cena, ela tinha trabalho a fazer depois de tudo.

— Ela também…? De qualquer forma, se você quiser descansar é só ir para o dormitório dos Wrath Wolves. Caso queira se recuperar logo procure por Mitis, ela geralmente está pelo hospital. — Depois de dizer isso, Silver começou a caminhar. 

Seu destino? Obviamente a sala de reuniões.

༺═──────────────═༻

De pé no centro do salão, um homem com cabelos pretos longos amarrados em um rabo de cavalo manteve os olhos apontados para o teto, onde a figura de um dragão prateado foi retratada.

Ele usava uma segunda pele sem as mangas, deixando à mostra as largas cicatrizes que cruzavam seus braços.

‘Quanta prepotência’

Foram seus pensamentos sobre o ‘retrato’ no teto e, somando ao trono na sala, o homem pré julgou a personalidade do dono do lugar.

‘Não parece o “cara legal” que Reinhart descreveu’

No próximo momento, a porta do local se abriu. De lá, um jovem de cabelos prateados se fez presente, com seus olhos dourados expressando um pouco de desdém ao identificar quem estava esperando por ele.

Fumiko Itto, ou como era mais conhecido, Itto Shura. 

Ele era o pai de Mari e dono do dojo que Reinhart frequentava. Por ter ouvido muito dele através da dupla, Silver tinha uma ideia da personalidade do homem e, se ele veio até aqui, com certeza não foi para dar um oi.

— A que devo a honra dessa visita? — Dando passos calmos na direção do espadachim, o dragão prateado questionou.

— Minha filha chegou em casa após o fim da última fase do torneio… — As palavras de Itto pairaram por alguns momentos — Ela estava chorando e me perguntou se era inútil. Sabe me dizer o porquê disso?

Por mais que parecesse uma simples pergunta, soou muito mais como uma acusação. Não pelo tom de voz, mas pela forma que o homem olhou para ele.

O jovem apenas parou sua caminhada quando ele ficou frente a frente com Itto. Levantando um pouco a cabeça graças a diferença de altura, Silver encarou o espadachim antes de responder.

— Não sei. Quem sabe ela tenha percebido esse fato sozinha? 

Escutando isso, os ombros do homem tremeram levemente. Por um momento, o dragão prateado pensou que o homem iria atacá-lo, porém tal coisa nunca aconteceu.

Para falar a verdade, Silver estava esperando lutar contra ele, mas aparentemente Itto era muito mais controlado do que sua reputação mostrava.

— Parece que minha visita foi em vão… — Suspirando, o espadachim passou pelo jovem, caminhando em direção a saída sem olhar para trás.

Enquanto as costas de Itto desapareciam, a boca de Silver abriu e fechou múltiplas vezes, antes de dar espaço a uma expressão irritada.

‘Esse merdinha…!’

Seu fluxo de pensamento não impediu suas pernas. Caminhando até o outro lado do salão, Silver sentou-se no trono, o queixo apoiado no punho e sobrancelhas franzidas com as pupilas contraídas em fendas de irritação.

Silver não devia nada a Mari. 

Talvez um pouco de gratidão por ela ter facilitado o seu treino de esgrima quando eles eram mais  jovens, porém esse ‘débito’ foi pago quando ele a colocou para treinar com um dos melhores espadachins que já pisaram nessa terra.

Fora isso, não era dever dele cuidar do estado mental dela, menos ainda considerando que eles já não poderiam ser chamados de ‘amigos’ desde o início da academia.

‘E aquele desgraçado ainda tem a audácia de falar como se isso fosse da minha conta’

 Não só isso, mas o modo que Itto agiu também o irritou. O homem entrou em seu território e o acusou sem mais nem menos antes de sair como se nada tivesse acontecido.

‘Posso até respeitá-lo como [Guerreiro] mas, como um pai… Ele é patético’

Estes eram seus pensamentos sinceros. Ao invés de cuidar da própria filha ou perguntar diretamente a ela sobre, o homem veio até ele com acusações infundadas.

Antes dele prosseguir com sua contemplação, seus olhos se focaram no salão à sua frente, encontrando a figura de Leon parada a poucos metros dele.

Seus cabelos laranjas estavam bagunçados estilosamente e ele vestia um casaco preto com pelos presentes no gorro. Os olhos azuis profundos do jovem expressaram um misto de preocupação e medo ao olhar para Silver.

‘O velho tá com azar. Boss com certeza está irritado’

Por que ele pensou isso?

Simplesmente porque seu chefe tinha as sobrancelhas abaixadas e suas pupilas haviam se tornado fendas, coisa que acontecia por poucos motivos e irritação era um deles. 

Boss, tem um velho que quer falar com você. — Deixando suas palavras no ar por um momento, o jovem completou — Ele disse que é o líder daquele pessoal de armadura.

Não foi a frase mais descritiva, mas o importante é que Silver entendeu, fazendo um gesto simples de mão para que Leon permitisse a entrada deste ‘convidado’.

Pouco tempo após seu subordinado sair, um homem entrou.

Ele tinha cabelos grisalhos levemente arrepiados, vestindo uma armadura pesada. Sua vestimenta seguia um esquema de prata e azul, dando uma sensação de pureza e calma que era bastante compatível com o que um paladino deveria ser.

Uma barba de mesma cor do seu cabelo cobria sua face e, somada a suas marcas de expressão e pequenas cicatrizes, elas atestavam as experiências acumuladas por ele.

Seus passos foram firmes e rápidos, parando apenas ao alcançar a metade do caminho até Silver. Apoiando a mão no peito, o homem se curvou levemente e, considerando seus movimentos até agora, o dragão prateado chegou a uma conclusão:

‘Ele sabe lidar com nobres’

Seu caminhar foi rápido, mas não apressado. Quanto se trata daquele pessoal, demonstrar que você está com pressa faz eles desejarem perder ainda mais o seu tempo. 

Parar no meio do caminho demonstrou respeito. Um passo a mais e ele poderia ser considerado intrusivo por muitos. Até mesmo o grau da curvatura foi calculado para não ser desrespeitoso.

 Tão surpreendente quanto isso fosse, Silver não estava a fim de joguinhos psicológicos.

— Ouvi dizer que o senhor gostaria de…

— Me poupe de suas ladainhas. — Cortando a ‘introdução’ do homem, o dragão prateado nem mesmo mudou de postura — Eu só quero a resposta para uma pergunta simples.

Ele não concluiu imediatamente, permitindo que o silêncio pesasse o salão. Em frente ao olhar frio do jovem e sendo abraçado pela ausência de qualquer ruído os ombros do homem se tencionaram.

Não foi por medo, e sim instinto. Sua experiência o dizia que as próximas palavras o colocariam em uma posição difícil.

— Vocês são meus aliados… — Silver curvou-se levemente para frente, seus olhos fixos no paladino. — Ou inimigos?

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Olá, eu sou o Kail!

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