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— Ótimo lugar para isso se me perguntar — comentou um homem, com cabelos loiros analisando o local.

A leve luz da lua dava imenso destaque à escuridão nos becos e para a grande sombra que cobria metade do local.

Era uma praça circular bastante aberta e tinha uma fonte no centro, algo que deveria torná-la mais bela mas, pelo contrário, todo mofo e musgo a deixaram deplorável.

Ao lado desta, havia uma mesa com quatro cadeiras rodeando. Obviamente lá estava seu ponto de encontro.

— Sinceramente, não preciso dos seus comentários — Astrid, uma mulher de cabelos amarrados em um rabo de cavalo respondeu, caminhando até às cadeiras.

Ambos se sentaram e aguardaram seus ‘anfitriões’. A verdade é que isso ainda era território da Ragnarok, mas estas pessoas já agiam como se fosse seu.

Não demorou muito para dois indivíduos encapuzados chegarem. Eles vestiam máscaras, portanto, era impossível dizer sua aparência exata.

— Vocês são inesperadamente pontuais — disse aquele quem usava uma máscara preta com linhas laranjas cruzando os olhos.

Ele parecia estar forçadamente tentando deixar sua voz rouca, acabando por deixá-la estranha.

— … — A figura de máscara simples castanha não falou nada.

A dupla encapuzada estava se coçando para uma luta. Infelizmente, seus planos vinham em primeiro lugar, então a espera duraria mais um pouco.

— Sem enrolação nenhuma. Nós queremos saber o que vocês precisam para desaparecer — proclamou Astrid.

Essa missão em particular, tinha possivelmente a melhor premissa na sua opinião e, a conclusão dela seria realmente satisfatória.

— Não entendo o significado desta pergunta tão estúpida. Nossa única condição é vocês irem embora — declarou friamente.

Havia um motivo para serem chamados revolucionários, e ele era sua completa oposição ao ‘reinado’ de Fenrir. Nada mais justo do que o desaparecimento do último resultasse em seu próprio.

Após a queda deste tirano, o grupo ficaria ultrapassado. Um exemplo semelhante era o das balas de uma arma, sem a ferramenta para disparar elas se tornavam inúteis. 

Da mesma forma, revolucionários eram desnecessários quando não havia uma revolução.

— Hahaha… Ótima piada, companheiro mascarado — Aceitando tal frase como piada, Vidar riu alto.

— … 

Um silêncio se formou graças a essa risada, fazendo Astrid olhar feio para seu irmão. 

— Ahem, isso não é sério, né? Se for, vocês fizeram meu dia — tossindo embaraçado, o homem questionou.

Essa condição mostrava que o lado oposto não queria um acordo realmente. Seria estúpido pensar nesta condição como aceitável para a Ragnarok. Isso tornava suas ações de dominar a ‘cidade’ fúteis.

— Se não for viável, recuamos por vinte e cinco dias caso nos for entregue a cabeça do homem chamado Hansha Kagami — Declarou com convicção aquele de máscara castanha, que como o anterior, modificou sua voz desajeitadamente.

Os gêmeos se entreolharam sem palavras.

‘Quem caralhos é esse?!’

A dupla pensou ao mesmo tempo, tentando lembrar algo sobre a pessoa mencionada. Em momento algum, alguma face que se encaixasse no nome passou por suas mentes.

— Ele é responsável pela morte de mais de cem homens e mulheres. Sendo completamente doentio, esse homem causa diversos cortes na vítima fazendo a maioria delas morrer por conta da hemorragia. — Talvez percebendo a dúvida em seus rostos, uma das figuras explicou.

Isso não ajudou nenhum dos dois, as aparências não batiam com sua imaginação de como tal assassino doentio parecia. 

— Tem a foto dele? — Astrid abriu a mão esperando ser entregue.

 — Nem mesmo conhece os próprios companheiros? Patético — desdenhou o encapuzado de máscara castanha.

Ainda que tenha desprezado a pergunta, ele passou uma foto do criminoso antes de se voltar ao seu parceiro. Enquanto os gêmeos encaravam a imagem, a ‘castanha’ apontou um dedo, o movimentando no sentido horário.

Assentindo em acordo, o ‘laranja’ fez alguns movimentos com os dedos fazendo a face por trás da máscara do seu companheiro se encher de confusão. Nenhum dos sinais feitos por ele fazia parte daquilo que foi combinado previamente.

Ignorando isso, os irmãos observaram a imagem entregue e, surpreendendo ambos, o rosto era muito familiar.

Aquele na foto tinha cabelos castanhos extremamente longos e que cobriam seus olhos, um sorriso bastante estranho estava pendurado em sua face.

— Oh, o cara nojento. Agora tudo faz sentido — Astrid concordou.

— Acho que metade daqueles caras tem esse tipo de passado — acrescentou Vidar ao lado, ganhando um aceno da sua irmã.

Fora Raymond, não havia muito que eles soubessem sobre os outros membros da Ragnarok. O fato deles estarem com Fenrir dava motivo suficiente para acreditar neles sendo pessoas ‘ruins’.

— Foi mal estourar sua bolha, mas… Não vai dar. — A mulher declarou com convicção.

Mesmo que indiferente para eles, ‘Hansha Kagami’ fazia parte do bando criado pelo lobo, portanto, era completamente impossível que ele o entregasse.

— Então… Talvez um encontro arranjado com Tsuchi Kuraudo? — solicitou o revolucionário e, sem perder tempo, passou uma foto do mencionado para a dupla.

Acabou sendo perceptível a falta de conhecimento dos gêmeos quanto ao próprio grupo então, desta vez, eles se anteciparam na entrega.

Novamente, era um daqueles no hall com os outros membros ‘principais’. Este acabou por ser o homem careca, que sempre carregava a espada e estava perpetuamente olhando para o vazio.

— Sério…? 

Reforçando mais uma vez o fato de não terem vindo pelo acordo, as figuras mascaradas levantaram outra condição estupidamente alta.

— Esquece… Negado. Acabou, sem trato para vocês — Astrid desistiu do pensamento de aceitar diretamente.

Se entreolhando por um momento, os mascarados conversaram silenciosamente até levantarem outra frase.

— Nós…

Boooom! Boooom! Boooom!

Interrompendo as palavras seguintes, múltiplas explosões aconteceram de vários pontos diferentes do território. A única semelhança entre estes era estarem localizados nos domínios da Ragnarok.

Olhando ao redor em choque, os gêmeos se voltaram para cada um dos destroços no ar. Felizmente os civis haviam sido evacuados antecipadamente ou então, sangue mancharia o chão já sujo da cidade.

— Gostaram dos fogos? — perguntou a figura de máscara castanha, agora com uma voz normal e muito familiar aos gêmeos.

— Então, quer dizer que nossa negociação terminou? — questionou Vidar.

Rolando seus olhos para isso, Astrid fez um gesto com as mãos enquanto a figura oposta fazia algo semelhante e incontáveis integrantes de ambos grupos surgiram das sombras.

— Deveríamos começar nossa própria festa?

Acompanhado destas palavras, o confronto entre eles finalmente se iniciou.

༺═──────────────═༻

Voltando poucos minutos antes da explosão, em uma sala de estar luxuosa um único homem residia sentado tranquilamente na poltrona enquanto bebia vinho. 

A visão frente a ele era a da ‘cidade baixa’ dominada pela Ragnarok. 

— Quando vou conseguir sair desse lugar sujo? — deu voz aos seus pensamentos, observando as construções mal estruturadas e todos os becos presentes no lugar.

O homem era um dos administradores contratados pela gangue, portanto, tinha acesso quase que completo sobre os assuntos da mesma.

Eram inacessíveis a ele somente casos envolvendo membros ‘principais’. Estes obedeciam e se explicavam diretamente para Fenrir.

Enfim, graças a esse trabalho era possível ver toda podridão da cidade. Não entenda errado, suas mãos estavam longe de estar limpas, mas algumas coisas faziam mesmo ele sentir nojo de tudo, inclusive de si.

Corrupção, traição, assassinatos, venda e aquisição de drogas e também de escravos aconteciam diariamente. Isso sem mencionar os ‘imperdoáveis’ como costumava chamar. O acúmulo de toda essa sujeira disparou sua vontade de escapar daqui o mais cedo possível.

Inesperadamente para ele, seu desejo foi realizado muito antes e de uma forma indesejada.

— Hoje — respondeu sua questão uma voz gelada.

Sentindo algo prender em sua garganta, o homem procurou com a palma da mão, encontrando objeto desconhecido que prontamente arrancou. Um erro de fato.

Os olhos dele mostravam pura descrença olhando para a kunai banhada em seu próprio sangue. Todos arrependimentos de sua vida passaram por sua mente, se resumindo em um único pensamento.

‘Não quero morrer’

— Esse é o último — A figura de Hikari saiu lentamente das sombras enquanto o corpo, já sem vida do homem despencava.

Esta foi a missão entregue por Silver. Contando com este, um total de vinte administradores foram mortos no tempo limite de um mês.

No início, começaram sendo mortes ‘naturais’, mas ao passar do tempo isso se tornou inútil, afinal, o número só aumentou então a conexão entre eles poderia ser facilmente vista.

Contemplando a mesma paisagem que o recém falecido fez, ela sorriu levemente pela nostalgia sentida. Embora tenha franzido logo em seguida ainda por este motivo.

Retirando um dispositivo do bolso, a kunoichi se preparou para apertar o botão lembrando das palavras do dragão prateado.

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Um mês atrás, antes de todos assassinatos terem começado e mesmo dos revolucionários aparecerem, o jovem dragão e sua comandante geral estavam tendo uma reunião.

Após averiguar todas as vinte fotografias dentro do envelope entregue por Silver, a garota olhou para ele esperando por explicações.

— Quero que você seja o estopim desta guerra — solicitou sabendo que ela não ficaria chocada com algo tão pequeno.

— Por que estes especificamente? — Conhecendo seu ‘chefe’ o suficiente, obviamente havia um motivo para a ordem.

— Meu objetivo não é desmantelar eles. Eu vou estraçalhar e torná-los pó. — Com essa sentença ele colocou um ponto final no destino da Ragnarok.

Graças aos acontecimentos da declaração de guerra, muitos poderiam pensar que ele não estava realmente irritado com isso. Mas como poderia não estar?

Invadiram seu território, ameaçaram ele de morte e desde algum tempo atrás tentam constantemente ferrar com seus negócios. Acima de tudo, o pirralho que foi criado e ensinado por si estava entre os culpados.

Outras pessoas se irritam por muito menos, então sim, ele está realmente furioso sobre esse assunto mas simplesmente não demonstrou isso.

Passando um dispositivo junto a um pacote para Hikari, Silver prosseguiu sua explicação.

 — Plante um desses a cada ‘visita’, e então iluminaremos o céu no fim deste mês — Se Ferir tivesse um cérebro, ele colocaria algumas pessoas para investigar as mortes, estas que sumiram junto a explosão.

Desta forma, o dano causado seria muito maior.

— Isso me lembra os velhos tempos. Como será que sua autoproclamada aluna está agora? 

O dragão prateado não recebeu uma resposta pois a kunoichi já havia desaparecido do local. Suspirando profundamente, o jovem voltou ao seu trabalho. 

༺═──────────────═༻

Silver pediu e assim foi feito. Com um click, o céu da cidade se iluminou, e a casa de cada administrador falecido, exceto por uma, foram cobertas por esta luz.

— Nós… 

— Previmos isso…

Duas vozes completando a sentença uma da outra soaram na sala, aparentemente o trabalho de Hikari ainda não havia terminado.

Olá, eu sou o Kail!

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