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— Como você consegue se concentrar assim? — Quem fez essa pergunta foi Fumiko Mari, me olhando curiosamente. 

Vendo suas mãozinhas apoiadas no queixo e seus olhos brilhando reluzentes em genuína curiosidade, não pude deixar de pensar que ela parecia fofa neste momento.

Logo, forcei esse pensamento a desaparecer. Conhecendo o caminho do eu ‘original’ tendo ele se tornado fraco em comparação aos inimigos futuros, logicamente desisti da ideia de me aproximar tanto dela. 

 

— Não sei. Geralmente só penso em me concentrar e acontece — Expliquei tranquilamente, escondendo toda a felicidade que sentia por dentro.

Isso deveria ser parte do talento desperdiçado por Silver no rumo inicial da novel, algo bastante estúpido na minha opinião.

— Uaau, quer dizer que você é um gênio? — Ela perguntou, enquanto inclinava a cabeça fofamente. 

— Talvez. — Meu tom ainda era impassível.

Esclarecendo suas dúvidas a garota voltou para o seu próprio treino, sem mostrar inveja nenhuma. Talvez Mari fosse cabeça dura demais até mesmo sobre esse tipo de sentimento.

Desnecessário pensar muito nisso, era uma boa coisa não importa se fosse verdade ou mentira.

As semanas seguintes acabaram por ser monótonas. Havia o treino de esgrima no intervalo, praticar controle e capacidade do poder mental em casa e então, exercitar meu físico no parque.

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Desconhecido para Silver, ele e Fumiko ganharam o apelido ‘Duo de espadachins malucos’ dos seus colegas da pré-escola.

Esse ‘título’ foi dado graças ao hábito de treinar a esgrima durante todo tempo de intervalo. Para ambos esgrimistas, não importaria mesmo que soubessem sobre isso.

Um deles simplesmente ignorava todas crianças da sala, enquanto a outra acreditava ser o suficiente ter só um amigo com os mesmos gostos.

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No meio da minha corrida de rotina, escutei um ‘crack’ vindo dos meus arredores. Procurando o lugar de onde o ruído veio, percebi um rosto pela metade em uma das árvores.

Seus olhos transpareciam medo e, percebendo que foi descoberto, isso ficou ainda mais aparente. 

— Quem é você? — Eu perguntei, fazendo o rosto recuar imediatamente.

Me aproximando da árvore, descobri o dono deste rosto. Uma garotinha frágil e inofensiva, que parecia não ter a capacidade de ferir uma mosca.

Seu rosto era naturalmente pálido e sem imperfeições aparentes, quase como o de uma boneca. Os cabelos tinham uma cor branca pura, embora estivesse suja com tons de marrom em diversas partes, junto a alguns resquícios de galhos e folhas.

A garota tinha olhos vermelho-sangue e somado ao modo que ela se enrolou na árvore, me lembrou um coelho.

— Por favor não me machuque… — Ouvindo isso e percebendo sua tremedeira, eu levantei uma sobrancelha.

Esse medo todo vinha de algum tipo de bullying? Faria sentido quanto a toda sujeira nela e também o medo, mas algo estava cheirando estranho e não era ela.

— Porque eu te machucaria? — Perguntei cuidadosamente, fazendo meu melhor para parecer inofensivo.

Isso foi fácil graças a esse corpo de criança e após um pouco de conversa, a garota gradualmente se acalmou.

— Porque sou um demônio… — Quando ficou mais calma ela disse, com uma voz tão baixa que pareceu um sussurro.

— Demônio? — Repeti estranhamente.

Ao meu ver, sua aparência lembrava no máximo um coelho não importa por onde olhasse, era impossível pensar num demônio quando a olhava.

— Qual o seu nome? — Questionei curioso.

Quem sabe o nome dela era Akuma e eu simplesmente entendi mal as coisas. Isso também daria uma causa para o possível bullying.

— Eu não tenho um… Ele só me chamava de demônio. — Ela respondeu, retornando a tremedeira inicial.

— Sou Silver Crawford. A propósito, por que você está aqui pequena… — Pausando no meio da frase, finalmente percebi meu equívoco.

— Silv? Silv, pode me dar um nome? — Ignorando completamente o erro na minha  frase, a garota perguntou com os olhos brilhando esperançosamente.

De volta ao meu mundo anterior, a técnica dos ‘olhos de cachorrinho’ era algo que eu não acreditava, hoje consegui a prova da sua existência. Ver a expressão em seu rosto me fez desistir completamente de recusar.

— Hm… Claro, por que não? Então que tal… Usagi(coelho)? Muito estúpido… Já sei, Akame(vermelho) Hana(flor)? — Baseado nos seus olhos, esse foi o melhor que consegui.

— Sim! Hana! Akame Hana, eu sou Akame Hana! — O coelhinho saltitou enquanto orgulhosamente repetia seu nome.

Ao menos ela gostou… Embora Rose também fosse uma boa’ 

Assistindo a demonstração de fofura acontecendo na minha frente, não pude deixar de sorrir. Mas no momento seguinte, este desapareceu, deixando somente uma pura intenção assassina.

Como antes ela ficou encolhida junto a árvore, era impossível de se ver qualquer coisa além do seu rosto. Depois de levantar, seus machucados foram tragos a luz.

Seus braços e pernas tinham diversas marcas roxas, além disso, o corpo da garota estava perigosamente magro e frágil sem falar das roupas esfarrapadas que vestia. 

— Silv? — Talvez sentindo algo, ela parou de adorar seu novo nome me olhando cheia de preocupação.

— Sigh… Você é a única que precisa de ajuda coelhinha… Espera um pouco aqui, vou buscar algumas coisas.

 — Não! Por favor, não me abandona…

Desde quando a encontrei, ela não reclamou nem levemente sobre seus machucados ou situação. Tirando o medo, que era evidente em seu olhar, Hana não mostrou nenhum indício de tristeza ou algo parecido.

Mas após minhas palavras, pela primeira vez eu a vi chorar. 

— Eu não vou te abandonar, hmm… Certo! Presentes! Eu vou te trazer alguns presentes — Limpando suas lágrimas, criei uma desculpa tão ruim que nem mesmo eu acreditaria.

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Depois de conseguir acalmá-la, voltei rapidamente para casa.

Primeiramente procurei bandagens, ataduras ou qualquer coisa para limpar e tratar feridas. Eu encontrei, bem… Band-aids com estampas de coelhos. Admito combinar se encaixar na situação atual, mas o desenho é desnecessário.

‘Certeza que minha mãe tem um dedo nisso’ 

‘Ignorando isso, peguei a caixa inteira e me preparei para sair. Foi quando lembrei da figura magra e das roupas esfarrapadas dela.

As roupas dos meus pais certamente não serviriam nela, além deles provavelmente darem falta. Hesitando por um instante, tirei algumas roupas minhas do guarda-roupa junto a uma mala para Hana.

Agora o assunto seguinte, comida. Posso não ser nenhum chef renomado, mas na minha vida anterior, morei bastante tempo sozinho e por necessidade aprendi a cozinhar muito bem.

Aproveitando que meus pais ainda não estavam em casa, parti para a cozinha. O foco dos pratos que fiz foram aqueles bons mesmo quando frios, já que eu não fazia ideia se ela podia esquentá-los.

‘Pouco provável Hana ter algum lugar assim, mas posso fazer algo de novo se necessário’

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Retornando ao parque, dei de cara com um coelhinho ansioso, olhando para todos os lados procurando por algo.

— Procurando alguém? — Me aproximando sussurrei no ouvido dela, que pulou assustada antes de… Me abraçar?

— Silv! Silv! Você voltou! — Ela disse apertando seu abraço, que nem era tão forte assim.

— Não falei que voltaria? Hana não confia em mim? — Perguntei, tentando meu melhor parecer triste.

— Mas… Mamãe também disse que voltaria… — Lágrimas caíram dos seus olhos enquanto ela baixava a cabeça. 

Talvez eu tenha tocado num ponto sensível demais. Mas o que há com os pais dela? Machucar sua própria filha a essa extensão e ainda chamá-la de demônio não é exatamente a maior demonstração de afeto.

Como ela chegou aqui? Eles abandonaram Hana por aqui perto ou só a deixaram solta por aí?’ 

— Certo, certo… Que tal a gente fazer uma promessa de dedinho? — Sugeri ainda acalmando acalmando um coelhinho deprimido.

— Sim! Vamos fazer isso! — Assentindo furiosamente, a garota entrelaçou seu mindinho com o meu.

— Promessa do dedo mindinho…Se eu estiver mentindo…Vou engolir 1000 agulhas…E cortarei meu dedo… 

Cantando esses versos em sincronia, selamos nossa promessa.

‘Promessas japonesas são assustadoras…’ 

Foi meu último pensamento sobre isso.

Olá, eu sou o Kail!

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