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As garçonetes formaram duas filas e fizeram uma reverência quando Siegfried e os outros deixaram o estabelecimento:

— Até logo, mestres. — Suas vozes eram uma só e tinham um som doce.

Quando o rapaz passou, uma delas piscou para ele e as outras soltaram risinhos que o deixaram um pouco sem graça.

Nem a morte, nem o ouro, o que realmente tenta um homem a quebrar seus votos, são os quadris de uma garota bonita.

Lá fora, o dia estava cinzento e escuro, mesmo que ainda nem houvesse chegado ao meio-dia. Um trovão quebrou os céus, fazendo a chuva despencar sobre eles e então a multidão foi se empurrando aos tropeções em busca de abrigo.

Siegfried pegou na mão de Emelia, que pegou a mão de Sam, e os três seguiram atrás de Gwen, que liderava o grupo, procurando ao seu redor.

— Aquela garota — disse Siegfried, com a voz abafada pela chuva e pela multidão. — A Letya. Ela sabia de alguma coisa, né?

— Sabia? — perguntou Gwen, sem sequer se dar ao trabalho de olhá-lo. — Eu nem notei.

— Eu sei quando você tá mentindo.

A garota deixou uma risada escapar, então virou o rosto molhado pela chuva e disse:

— Se isso fosse verdade, você estaria beijando a minha bunda agora mesmo. — Ela se virou novamente e seguiu em frente. — A garota não sabia de nada.

— Então pra onde a gente tá indo?

— Pro mercado de escravos, é claro. Mas não aquele bonitinho, com estrados, guardas e que só negocia prisioneiros de guerra e mulheres estrangeiras.

Ela parou em frente ao Saqueador Paciente, uma taverna discreta, escondida em um beco sujo de pouca movimentação. Feita de pedra coberta por musgo e algumas raízes.

Fora o bêbado caído ao lado da porta, fedendo a mijo e vômito, as outras pessoas que viam por ali, eram aquelas que fugiam da chuva e não ficavam mais do que o necessário.

— É — disse Gwen —, parece que é esse aqui.

— A taverna… Essa é a do gordo ou a do caolho?

— Nenhuma das duas.

— Mas a Letya, você perguntou–

— Eu já disse que a garota não sabia de nada.

— Então como você achou?

Ela encolheu os ombros:

— Intuição feminina? — Então entrou.

Emelia hesitou um instante, olhando para a placa enquanto tremia, se de medo ou pela chuva que havia encharcado seu corpo, era difícil dizer, mas provavelmente ambos.

— Fica perto — disse Siegfried, olhando nos olhos da garota, que engoliu em seco e assentiu, sem largar a sua mão nem por um segundo.

Sam não precisou do mesmo conforto e entrou logo atrás de Gwen, deixando o escudeiro e sua irmã para trás.

Lá dentro, o chão era grudento e o fedor tão forte que fez os olhos da filha do conde arderem e ela espirrou várias vezes, chamando muita atenção.

Haviam duas garotas naquele lugar, a primeira era Gwen, que tinha acabado de esfaquear alguém no estômago; a outra era Emelia, com o seu vestido verde-oliva colado ao corpo pela chuva e o casaco de pele caindo dos ombros, enquanto os homens bêbados devoravam ela com os olhos.

Quando a garota percebeu isso, se agarrou com força no braço de Siegfried e os clientes riram ruidosamente. Um deles esticou o braço para tentar apalpá-la enquanto passavam, até que viu a espada de aço anão apontada para o seu pescoço. Depois disso eles voltaram aos seus próprios assuntos e não incomodaram mais.

— Já falei que não sei do que cê tá falando, fedelha — disse o taverneiro, um homem meio corcunda e pequeno, com um olho caído e pele enrugada. — Não tem criança nenhuma aqui. Agora, vai querer um grogue ou isso não é bom o bastante pra boquinha da senhorinha?

— Aquela caneca de lama e merda que cê tirou da própria latrina?! — respondeu Gwen, sentada em frente ao balcão como se fosse a dona do lugar. — Não, obrigada. Como pode ver, sou uma dama. E quero algo mais… Digno. Então que tal ir lá embaixo ver se encontra o que eu tô procurando?

De repente Siegfried notou que a taverna havia se tornado estranhamente quieta. Quando olhou ao redor, percebeu o motivo; os bêbados fizeram o impensável… Eles pararam de beber! Cada um dos clientes se calou e começou a encará-los com olhos apreensivos e irritados.

— É melhor cês darem o fora — resmungou o taverneiro. — Aqui não é lugar de fidalgo.

— Então que tal devolver a que você roubou?

O velho corcunda levou a mão até debaixo do balcão, procurando algo, mas parou quando viu Siegfried com a mão no cabo da espada.

Por um instante mais longo do que qualquer outro, ninguém fez nada.

Até que a porta se abriu.

Três mercenários vieram por uma entrada lateral que dava para o porão; o mais novo tinha a idade de Siegfried, enquanto os outros dois, não eram muito mais velhos. Todos usavam armaduras de couro curtido e carregavam velhas espadas de aço.

— Tô te falando — gracejou o mais novo —, ela é uma mina de ouro. Se a gente–

As risadas morreram quando os olhos deles o encontraram.

— S-Siegfried…? — reconheceu o mercenário. Tinham servido juntos sob o comando de Eradan, e ao contrário de Siegfried, ele parecia ainda estar.

— Thorbert.

Então os três mercenários pegaram suas armas, com os rostos retorcidos de raiva.

Siegfried se desvencilhou de Emelia e se moveu. Teve de fazer uma curva para contornar o balcão, mas isso não o prejudicou.

Seu oponente ainda lutava com o próprio cinto da espada, que havia emperrado, quando ele cortou a sua cabeça com um golpe limpo.

Sua mão ardeu e queimou quando ele sentiu a força do impacto quebrar o pescoço do homem. Já estava morto, quando sua espada conseguiu por fim dilacerar a carne e o rapaz sentiu o sangue quente respingar em seu rosto.

Ouviu um gemido de dor quando Gwen acertou uma flecha nas costas do segundo mercenário, então viu a lâmina de Thorbert descendo sobre sua cabeça; o idiota usou um ataque largo, vindo bem de cima, como se brandisse uma enxada.

“É nisso que dá, dar uma espada prum fazendeiro.”

Siegfried interceptou o golpe. Podia apenas ter desviado a lâmina e derrubado Thorbert, mas então, qual seria a graça?

Ao invés disso, mirou no pulso do seu oponente, quebrando os ossos frágeis e rasgando a carne fina como se fosse um pergaminho velho.

O choque durou apenas alguns instantes; quando o mercenário viu o sangue saindo do toco que um dia tinha sido a sua mão, ele caiu de joelhos e gritou, enquanto o rapaz o observava apenas por precaução; um homem determinado poderia lembrar de que tinha duas mãos e usar a outra para puxar uma adaga escondida.

Thorbert não era um desses homens.

— Onde cê conseguiu a besta? — perguntou Siegfried, que não lembrava de ter dado arma alguma à escrava.

— No arsenal — respondeu Gwen, recarregando casualmente.

— …

— Que foi?

— Nada.

Um ‘bam’ chamou a atenção deles para a porta da taverna, sendo fechada e trancada com uma tábua de madeira.

A maioria dos clientes havia fugido bem antes disso, com cadeiras, mesas e canecas jogadas pelo chão, deixando para trás apenas os bêbados que já haviam desmaiado e cinco homens grandes e peludos que pareciam prontos para uma luta.

Sam tomou a dianteira com a espada na mão, até que Siegfried o puxou para trás e o empurrou para sua irmã, se colocando entre eles e os seus novos oponentes, com Gwen ao seu lado.

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