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Siegfried entrou primeiro, com Brynna logo atrás e Gwen no final.

Encontraram o conde de pé, uma figura sombria e imponente, meio oculta pelas sombras, exceto pelos olhos vibrantes que os encarava. Aos seus pés, Emelia estava ajoelhada em submissão, de cabeça baixa e trêmula, enquanto a condessa os observava friamente da cama.

— Até que enfim — disse o lorde, impaciente. — Temos muito o que discutir.

Então fez todos os três se ajoelharem ao lado de sua filha; Emelia, Siegfried, Brynna e Gwen, em ordem.

Seus passos pesados ecoando no assoalho de madeira com um ‘tump’, ‘tump’, enquanto a sua enorme sombra os engolia feito um animal faminto. Por fim, parou diante de Brynna:

— Você!

— V-vossa graça…?

— Meu escudeiro diz que você recebeu ordens de me espionar. Minha filha nega.

— …

— Vai me dizer qual dos dois está mentindo!

— E-eu… — Ela olhou para o lado, com os olhos molhados procurando Emelia, mas ao invés disso encontrou Siegfried e então congelou. — E-eu não…

— Diga de uma vez!

Brynna já estava em lágrimas quando desviou os olhos do rapaz, se curvou batendo com a testa no chão e disse:

— P-por favor, vossa graça… E-eu não quis…

Enquanto a garota implorava, a atenção do lorde se voltou para Siegfried. Olhos frios; vazios de ódio, mas cheios de violência. Então o escudeiro entendeu a situação delicada em que estava.

“Se ela não confessar…”

— Vou te dar uma última chance — interrompeu o conde e a garota se calou. — A próxima palavra que vai sair da sua boca será um nome. Você vai me dizer quem está mentindo! Caso contrário, eu arranco sua cabeça aqui mesmo.

Ela hesitou.

— Apenas diga a verdade, pequena — disse a condessa, levantando da cama. — Foi ele, não é?

— M-milady? — Brynna ergueu o rosto coberto de lágrimas para a esposa do conde.

— Não tem porque chorar. É um rapaz bonito, a maioria das meninas daqui concorda. E a forma como te salvou? Está claro que te ama, não é?

A garota corou.

— Não seria o primeiro rapaz apaixonado a mentir pela mulher que ama. — Ela se abaixou e limpou as lágrimas do rosto de Brynna. — Foi por amor, não é? Por isso ele mentiu. Por isso fez uma jovem tão preciosa e inocente como você nos trair.

Quando Brynna tentou virar o rosto para ver Siegfried, a condessa tocou sua bochecha de leve e a fez olhar diretamente em seus olhos:

— Apenas diga que estou certa e isso acaba. É tudo culpa dele, não é?

A garota estava corada, com os olhos vermelhos e os lábios trêmulos quando abriu a boca, mas foi Gwen quem falou:

— Cara, que demora. Se ela não quer falar, acho que não tem jeito, né? Já sei, por que eu não falo no lugar dela?

— Não! — gritou Brynna, assustada, se soltando da condessa.

— Hum. Mas cê tá toda quieta aí. Talvez eu possa falar um pouco da–

— Calada! — ordenou a lady, irritada. — Como ousa interromper!?

O conde deu dois passos para o lado e parou em frente à Gwen, com sua sombra a engolindo por completo; e embora ela sorrisse, Siegfried notou que estava tremendo.

— Não me lembro de ter lhe dado licença para falar, escrava! — disse o conde.

— Ah! Desculpa, vossa graça, só achei que–

— Você não acha nada! Nunca! Você se cala e obedece!

— …

— Agora que tô olhando de perto… Cadê as suas correntes!?

— …

— Humpf. Então não era só a Brynna. Parece que o meu escudeiro não consegue se controlar perto de um rabo de saia, ein?

— …

— Eu te fiz uma pergunta! — O conde deu um passo em direção a ela, e então…

— Fui eu! — gritou Emelia, caindo para a frente, com as mãos apoiadas no chão e os olhos cheios de medo.

O quarto caiu em silêncio profundo e, quando ninguém disse nada, a filha do conde engoliu em seco e repetiu:

— F-fui eu!

— E-Eme! — A condessa se levantou, assustada. — O que está dizendo?

— Pai… Eu mandei a Brynna espionar o senhor!

O conde se afastou de Gwen e voltou a atenção para sua filha:

— Pelos Graylock?

— S-sim, senhor.

— A quanto tempo?

— E-eu… D-dois meses, acho…

— …

— Q-querido — interveio a condessa. — Ela foi enganada. Tem que ser isso. Vai saber quais truques sujos aqueles rebeldes usaram. Ela–

— Um traidor é um traidor, mesmo que seja do meu próprio sangue! — Mas a voz do lorde saiu amarga e cheia de tristeza.

— V-você não pode tá falando sério!

— Saiam! Todos vocês!

Quando ninguém se moveu, ele gritou:

— SAIAM!

Então todos se levantaram às pressas. Brynna foi a primeira a sair, e depois Gwen, mas quando chegou a vez de Siegfried, o conde o impediu:

— Você não!

O rapaz parou, então Emelia passou por ele, mas não antes de dar uma última olhada em seu pai. A condessa foi a última; por um momento, pareceu que ela não iria, mas então girou irritada em seus calcanhares e foi embora, batendo a porta atrás de si.

Sem saber o que fazer, Siegfried esperou.

— Tinha razão — disse o conde, por fim.

— …

— Minha própria filha… Sempre soube que não gostava do Rei Negro, mas nunca achei que iria tão longe. A culpa é minha. Talvez eu tenha sido brando demais. A piedade é um veneno para a autoridade…

Então o lorde o encarou:

— Você é mole, impertinente, deixa que as mulheres te usem como bem entendem e é cheio de noções infantis de cavalheirismo… Mas é leal, e estava certo.

O conde pegou uma garrafa de vinho em uma cômoda e esvaziou metade dela em um gole, limpando a barba suja com a mão, antes de continuar:

— Minha esposa quer te enviar pra longe, sabia disso?

— Ela me disse.

— ‘Uma recompensa por seus serviços’, foi o que disse. — Ele sorriu. — Estamos casados há duas décadas e meia, era de se esperar que a essa altura ela não fosse mais fazer os seus ‘joguinhos políticos’ na cama. A Torre da Justiça… O que cê acha?

— Seria uma honra, vossa graça.

— Humpf. Seria suicídio, isso sim… Não. Cê vai ficar bem aqui, onde me é útil. Estou te nomeando vice-capitão da minha guarda. O faria capitão, se pudesse. Já faz tempo que Igmar tem tomado o partido da Cassie. Não fiz nada até agora, porque não pensei que fosse uma ameaça, mas se até minha filha está disposta a me trair… Encontre homens leais. Vamos precisar.

— …

— Se quer dizer algo, diga! Não me olha com essa cara.

— A Brynna… E a Eme. O que acontece com elas, agora?

— É nisso que cê tá pensando? Francamente! Hum… Todos sabem que Brynna é uma traidora. Independente de quem deu as ordens, traição é traição. Ela será punida, mas acho que você não quer que ela seja executada, né?

— Ela é leal à sua filha.

— E a lealdade é rara nos dias de hoje, mas não posso perdoá-la. Já tá ficando irritante demais ter que lidar com os traidores de alto escalão, não tô afim de lidar também com insubordinados… Mas, agora que penso no assunto, acho que tem sim algo que ela pode fazer. É, isso pode funcionar.

O conde sorriu.

— Quanto à minha filha, bem… Tenho planos pra ela. Certamente não acha que eu executaria um dos meus próprios filhos, né?

Depois disso, as movimentações do lorde foram rápidas.

Siegfried deixou os aposentos e voltou ao salão. A primeira a ser convocada foi Brynna, então a Emelia e, por fim, a condessa. Não foi surpresa alguma a comoção que surgiu. Aos poucos, os boatos se espalharam.

O que o escudeiro, a filha e a esposa do conde tinham a ver com uma traidora?

Logo iriam descobrir, porque quando a condessa saiu dos aposentos, o lorde veio atrás dela e os dois se sentaram em seus respectivos tronos.

Então o julgamento começou.

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