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Capítulo 0078: A garota do lago

Siegfried observou enquanto uma serva mais ou menos da sua idade punha três taças na mesa e outra, dois anos mais velha, as enchia com uma garrafa de vinho.

Assim que terminaram, as duas correram até um canto mal iluminado da tenda e se esconderam entre a mobília. Longe o bastante para que o seu mestre não pudesse vê-las, mas perto o bastante para escutá-lo, caso lhes desse uma ordem.

O lorde Dalton saboreou um gole de vinho, então falou:

— O covarde se trancou naquela torre assim que chegamos, mas duvido que aguente até o fim da primavera. A essa altura, aposto que mal tem comida o bastante pra próxima quinzena.

— Ele não é o único com problemas logísticos — disse o barão Kessel. — Trouxe mantimentos do meu estoque, mas não posso alimentar meus homens pra sempre. Talvez a floresta tenha caça o bastante para vinte ou trinta deles, mas não pro resto. Se vamos ficar aqui, precisamos de uma rota de suprimentos ou vamos passar fome muito antes desses desgraçados!

— Eu sei onde você quer chegar, mas minha rota já não é mais segura desde que essa escória rebelde apareceu.

— É a única que temos!

— Mesmo com Eradan encurralado, as estradas continuam cheias de bandidos. Não são muitos os comerciantes que se aventuram até aqui, e aqueles que o fazem estão cobrando o dobro pelos seus produtos. Uma ‘taxa de risco’, é o que dizem. Humpf. Seus preços já passaram do absurdo vinte moedas de prata atrás. Esqueça a fome, nesse ritmo, vamos falir antes do verão.

— Então o que sugere?

— Atacar! E logo! Eles já estão meio mortos de fome, podemos tomar aquela torre em uma tarde, se tanto.

— Não haverá ataque! — disse o conde. Parecia irritado, mas nem se deu ao trabalho de levantar a voz. — Até que o meu neto esteja seguro, ninguém põe um pé naquela torre!

Ambos os barões se entreolharam e observaram o seu suserano em silêncio, até que o barão Dalton tomou coragem e disse:

— Então, com a sua licença, vossa graça, mas talvez a paz seja uma opção.

— O que disse? — O ódio na voz do conde era palpável.

— Eles já viram nosso exército. Eradan não é um tolo, sabe que não pode vencer. Até aqui, ele tem lutado por sua vida, mas se o senhor perdoá-lo por seus crimes e oferecer algo em troca…

— Com ‘algo’, você quer dizer a torre.

— Um preço pequeno a se pagar pela vida do seu neto, milorde.

— Não recompenso traidores!

— Claro que não, vossa graça, mas Eradan ainda é jovem e solteiro. Talvez possamos forçá-lo a um casamento de nossa escolha e empurrar homens de confiança para administrar a região em seu lugar. Ninguém em sã consciência recusaria tal oferta. E se ele tentar desafiá-lo novamente, teremos homens em posição para executá-lo imediatamente e um herdeiro maleável para ocupar seu lugar.

— Deixe-me ser bem claro com você, Henrik. — A voz do conde era calma, mas cheia de ódio. — Aquele moleque atacou minha família, matou meus homens e sequestrou meu neto. A única coisa que receberá de mim, é uma morte lenta e dolorosa! Será que fui claro?

— S-sim, vossa graça. Com certeza. Foi tolice de minha parte sugerir tal absurdo.

— Então não volte a tocar no assunto! O rapaz está desesperado. Conheço bem o tipo. Sabe que perdeu e agora deseja apenas uma boa morte na casa de seus ancestrais. Foi a mesma coisa com seu pai. Mas duvido que seus homens compartilhem do mesmo objetivo. Como você mesmo disse, já viram nosso exército e sabem bem o que lhes aguarda. Em breve seus homens o trairão e me trarão sua cabeça, implorando misericórdia. Basta esperarmos.

Depois disso, foi apenas uma questão de resolver a administração do cerco.

O barão Dalton ficou encarregado de garantir que a rota de suprimentos permanecesse ativa pelo tempo que fosse necessário, então despachou o máximo de homens que conseguiu para fazer a segurança dos comerciantes e tentar economizar na sua ‘taxa de risco’, caçando os rebeldes que atacavam as estradas.

Mas não parecia nada contente com isso.

O barão Kessel ficou responsável por administrar todas as atividades do cerco e recebeu o controle das tropas pela sua experiência militar. Em outras palavras: era o segundo homem mais importante ali.

No fim, passaram horas determinando como seria feito o racionamento de comida, até onde iriam as patrulhas e puseram os soldados para construir armas de cerco; não que elas fossem ser usadas, mas todos concordaram que isso deixaria seus inimigos em alerta e seus homens ocupados.

Era de tarde quando Siegfried deixou a tenda.

A essa altura, o acampamento já tinha se tornado uma vila ao ar livre. Somando todos os soldados, eram pouco mais de trezentos. Com mais os seguidores de acampamento, chegavam a seiscentos facilmente.

Com tanta gente reunida, não demorou muito até que os problemas começassem.

Siegfried abriu os olhos antes mesmo do primeiro raio de luz atravessar as árvores, quando a noite começava a clarear em preparação para o nascer do sol.

Não tinha uma tenda desde que queimou a sua, uma semana atrás, por isso passou a dormir na Mata dos Amantes; uma pequena floresta de árvores esparsas que ficava perto do lago.

Era onde estava, quando ouviu…

— C-com licença. Por favor.

Pouco mais de cinco ou seis metros à sua frente, uma garota de quinze anos estava sendo atacada por dois recrutas, três anos mais velhos.

Quando tentou se virar para ir embora, um deles a agarrou por trás, enrolando um braço em volta da sua cintura, enquanto puxava as saias do seu vestido para cima com a outra, fazendo a garota derrubar o cesto de palha com as roupas que tinha vindo lavar.

— Não! Me solta!

Foi quando Siegfried se levantou e caminhou em sua direção, sentindo o coração pulsar e acelerar.

Enquanto lutava para se soltar, o segundo recruta agarrou ela pela cabeça e enfiou a língua na sua boca. Durou menos de cinco segundos e então o homem se afastou, cuspindo sangue. Ele gritou um palavrão qualquer e depois a derrubou no chão com um soco, antes de montar em cima dela e enrolar as mãos em volta do seu pescoço:

— Shua vadhia! Vochê me mordheu!

A essa altura, Siegfried já estava perto o bastante para sentir o fedor de álcool nos soldados.

Primeiro abriu a garganta do que estava em pé e depois arrancou a cabeça do outro. Levou menos de um segundo e foi tão monótono quanto beber água. Nem tiveram tempo de sacar suas espadas ou notar o que estava prestes a acontecer.

A garota empurrou o cadáver que estava em cima dela para o lado e vomitou. Tinha caído bem na margem do lago, por isso o seu cabelo estava encharcado e suas roupas sujas de lama. Mais um pouco e provavelmente teria se afogado.

Então estendeu a mão e ajudou ela a se levantar.

Assim que ficou de pé, a garota empalideceu com a visão dos cadáveres e tentou fugir, mas quando Siegfried não soltou sua mão, ela parou e se virou para ele, como se tivesse lembrado de algo:

— Ah! É-é mesmo. O-obrigada… Por me salvar.

Ele não respondeu, mas quando a garota tentou ir embora de novo, enrolou um braço em volta da sua cintura e puxou ela para perto. Estava longe de ser bonita com o nariz quebrado e o rosto sujo de lama, mas já fazia tanto tempo desde a Dara…

Podia sentir os seios dela contra o seu peito, um pouco grandes demais para a idade, e imaginou qual seria o gosto deles. Então deslizou sua mão esquerda pela cintura da garota e agarrou a sua bunda com força, fazendo-a estremecer quando forçou os quadris dela contra os seus.

Ela tentou se soltar, mas a lama era escorregadia e Siegfried, mais forte. Os pés dela deslizavam e o rapaz a puxava para perto de novo, mas estava ficando farto da resistência. Talvez…

— Me solta! — Ela fechou os olhos e começou a chorar, enquanto tentava empurrá-lo para longe. — Por favor.

Foi como acordar de um sonho.

Siegfried a soltou e viu a garota correr aos tropeções para a Vila do Lago, chorando como uma criança que apanhou dos pais. Assim que ela desapareceu de vista, o rapaz se virou para os cadáveres…

Aquilo não estava certo.

O que fez?

Eles não resistiram. Não lutaram. Nem mesmo sabiam que estavam sendo atacados.

Foi quando notou a Irmã Serena o observando do outro lado do lago, com seus cabelos loiros e sua armadura branca como a neve.

— N-não…

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