Armagedon
A Guerra dos Cavaleiros
Capítulo 24: Camael
Arredores do Congresso dos Deuses:
Zeus, Gabriel e Camael andavam calmamente, enquanto discutiam sobre o plano que estavam arquitetando para salvar a humanidade.
— Então deixa ver se eu entendi, vocês querem que eu vá até a terra conversar com o humano mais puro que eu conheço e o ajude a sobreviver por 40 dias e noites de puro dilúvio e ao mesmo tempo que garanta a sobrevivência de um par de cada animal existente?! — disse Camael tentando compreender a situação.
— Isso mesmo, Irmão. Aegir deseja a extinção de total da humanidade, mas devemos impedir isso da melhor forma possível — disse Gabriel preocupado do plano falhar — Você é o mais capaz, Camael, pois és o único que vai na Terra e que conversa com os humanos regulamente.
Camael ficou vermelho por um momento, envergonhado de sua façanha ter sido descoberta.
— A quanto tempo você já sabia disso, Gabriel?
— A bastante tempo, afinal eu sou o Arcanjo que sabe de tudo e todas as façanhas.
— Resumindo, ele é uma secretária fofoqueira — disse Zeus com um rosto sem expressão.
— Ei deusinho, eu não sou fofoqueiro, eu sou um obtedor de informações sigilosas e totalmente interessantes — especulou Gabriel enquanto fazia diversos gestos tentando se justificar — Logo, eu sou tipo um espião ou um grande estudioso.
— Fofoqueiro.
— Escuta aqui, informações são piores que armas e isso pode mudar o jogo para qualquer pessoa. Você verá, chegará um momento que todos acreditarão em tudo e todo tipo de notícia e somente aqueles que possuem o verdadeiro conhecimento serão aqueles que irão dominar o mundo e todos os tipos de vida — disse Gabriel com uma risada maquiavélica.
Zeus e Camael continuaram seu caminho, ignorando a fala de Gabriel. O arcanjo percebeu e correu na direção dos dois.
— Ei, ignorar a fala de um ser é falta de educação.
— Bem Camael, você é capaz de cumprir essa missão? — disse Zeus olhando profundamente pros seus olhos.
— Sim, Senhor. Se meus irmãos acham que eu sou capaz, então eu sou e farei um trabalho de excelente capricho.
— Excelente. Só tenho mais uma informação, não será possível salvar todos os humanos. Ache o mais puro e salve somente ele, talvez a família também, mas não se obrigue a salvar outros humanos, eles serão um estorvo na missão e não irão agradar todos os deuses. Entendido?
— Sim, Senhor. Eu já tenho o humano perfeito.
Os seres terminaram de andar e estavam de frente a um grande portal com diversas cores em arco-íris. Zeus tocou no ombro de Camael e deu alguns tapinhas e logo se retirou. Gabriel andou até ele e lhe deu um abraço bem forte.
— Trate de voltar bem rápido ouviu. Prometo separar alguns dos seus salgadinhos preferidos , quando você voltar.
— Obrigado, Irmão. Cuida do Azaziel para mim, ele fica meio triste e rabugento quando eu não estou por perto.
— Com certeza, eu vou começar salvando ele da fúria do Azaquiel.
No momento que ele disse isso, um grande grito de fundo que podia ser escutado por todos no congresso foi dito:
— AAAAZAAAZIIIIEEEEEEELLLLLL!!!
Os dois Arcanjos sorriram e começaram a rir.
— Preciso ir salvar nosso irmão, adeus Camael. Boa sorte.
— Adeus, Irmão.
Gabriel saiu correndo daquele lugar, gritando para que Azaquiel não matasse Azaziel.
Camael ficou de frente ao enorme portal e então ele respirou fundo, fechou os olhos e andou lentamente até que seu corpo inteiro entrasse dentro do portal.
Terra:
Camael abriu seus olhos, quando terminou de entrar no portal, e percebeu que estava em uma grande floresta com diversos sons de animais e insetos.
— Beleza, eu cheguei na Terra e agora preciso procurar aquele humano.
Camael abriu suas asas angelicais e voou por cima da floresta procurando aquele que seria o salvador de toda a humanidade e o sobrevivente de uma das piores catástrofes que os seres humanos iriam sofrer.
Grande Floresta:
Noé estava cortando algumas árvores com seu machado, enquanto ele assobiava a cada golpe que acertara na árvore.
— Eu preciso terminar logo esse trabalho, meus filhos e minha linda esposa estão me esperando — disse ele, enquanto cortava a árvore — Por que cortar árvores é tão cansativo? Por que eu não podia estar descansando enquanto abraçava minha família?
Quando terminou de reclamar, a árvore caiu no chão. Ele enxugou o suor escorrendo pelo seu corpo e começou a corta-la em diversos tocos, para que pudesse carregar em seus braços.
Noé deixou o machado ali mesmo e andou na direção da vila próxima de sua casa. Ele vendia grande parte dos tocos para que levasse comida, roupa e brinquedos para a sua família.
Chegando na vila, ele viu diversas pessoas por todos os lados. Elas lhe davam bom dia e ele com um sorriso no rosto devolvia a fala. Ele andou até um estabelecimento que havia diversas peles em sua entrada, Noé entrou na loja gritando:
— JOSIAS, CHEGUEI SEU MISERÁVEL.
A loja possui diversos entalhes de animais de todos os tamanhos e tipos, com alguns preços e tapetes no local. É perceptível algumas manchas de sangue pelo local.
Noé ouviu algum tombo, como se alguém tivesse acabado de cair. Um homem aparece atrás de uma cortina com a mão na cabeça e as esfregando.
— Pra que isso, Noé?! Você sabe que eu estou sempre aqui nesse horário e você sempre faz a mesma coisa.
Josias tem um cabelo encaracolado e seus olhos possuem a mesma cor de seu cabelo castanho. Ele tem uma camisa e uma calça meio acinzentada com algumas tonalidades de vermelho cor sangue.
— Eu sei disso, mas sabe como é, esse é o meu charme.
— Vai ser o mesmo de sempre? — disse Josias revirando os olhos.
— Dessa vez eu querei algo diferente, eu quero carne de boi, veado, coelho e eu quero um pouco de carne de cordeiro.
— Você sabe que isso vai sair meio caro, né? Vai custar 40 tocos de madeira.
— Meu caro, eu já sabia disso e trouxe somente metade do pagamento — disse Noé jogando os tocos de madeira na mesa.
— Mas aqui só tem metade do pagamento e o resto?
— Está na floresta, mas eu quero que você separe o meu pedido. Não quero ninguém pegando o que é meu.
— Não se preocupe, você pagou metade e quando trouxer o resto, nós conversamos e lhe entrego seu pedido.
Noé fez um sinal de positivo e correu na direção da floresta para terminar seu serviço.
“Eu consegui a carne de cordeiro, a preferida da minha família. Só quero ver o rosto deles e com certeza se minha esposa ver que eu trabalhei duro, eu serei recompensado”.
Noé entrou na floresta, logo pegou seu machado e começou a cortar as árvores.
Camael permanecia no céu procurando seu humano, até que ele olhou para baixo e viu um ser cortando árvores.
— Por que esses humanos cortam árvores sem necessidade? Eu vou dar um sermão nele e voltarei a procurar aquele homem.
Camael desceu rapidamente na floresta, quando atingiu o chão ele andou calmamente na direção do homem. Ele escondeu suas asas e qualquer sinal do divino.
— Ei Humano, tenho que lhe dar um sermão sobre a natureza.
Noé estava focado no corte da árvore e no último golpe, derrubou-a e ela caiu na direção do Arcanjo que pulou desesperado pro lado.
— VOCÊ QUER ME MATAR, MALDITO?!
Noé saiu correndo até o local do impacto da árvore e viu um homem, que ele já havia visto antes.
— Camael?!
— Noé?!
Camael estava confuso e ao mesmo tempo alegre, pois ele havia encontrado o humano de sua missão. O Arcanjo correu e abraçou com força o humano
— A quanto tempo, Noé — disse Camael com um grande sorriso.
— Realmente, senti saudade, Camael — disse Noé soltando seu machado com um grande sorriso.
E então, os dois fizeram um toque especial. Um toque em cima e um em baixo, em seguida dois toques na horizontal e por último o dedos se tocando rapidamente com um barulho estranho de suas bocas.
— Toque especial — disseram os dois sorrindo.
— O que traz você aqui, meu amigo? — perguntou Noé pegando seu machado do chão.
— Eu vim atrás de você, Noé. A humanidade precisa de você. — disse Camael com um olhar sério.
— Você está me assustando, Camael. Como assim, a humanidade precisa de mim? Eu sou um simples pai de família e um lenhador.
— Errado, Noé. Você é o futuro salvador da humanidade, aquele que irá garantir a sobrevivência da sua própria raça — disse Camael pegando nos ombros de Noé.
Noé se afastou um pouco assustado e tentando entender o que Camael estava dizendo.
— Olha, Camael. Você deve estar louco ou usou alguma coisa, primeiro de tudo, por que eu seria esse tal salvador da humanidade?
— Eu não queria te mostrar, mas acho que não tenho outra escolha — suspirou Camael.
Camael abriu seus braços e junto deles apareciam suas longas asas angelicais. Os olhos de Noé brilhavam de surpresa.
— Pera, você esse tempo todo era um anjo?
— Claro que não, eu sou um Arcanjo, tem diferença e uma colossal.
Noé estava impressionado com o que estava na sua frente e então deu um tapa no rosto para voltar a realidade.
— Beleza, o meu amigo de infância é um arcanjo que está dizendo que eu sou o salvador da humanidade. Uau, acho que não tem como isso ficar mais louco.
— Além disso, você irá precisar garantir a sobrevivência de um casal de cada animal existente no planeta.
Noé deu um sorriso de preocupação e logo desmaiou.
Casa de Noé:
Noé foi abrindo os olhos aos poucos e percebeu que sua mulher e filhos estavam ao lado dele. Naamá junto das crianças logo abraçaram Noé e ele retribuiu o abraço.
— Papai — disseram as crianças chorando bastante.
— O que aconteceu? — perguntou Noé afagando a cabeça de seus filhos.
— Você desmaiou na floresta e foi trazido até aqui, graças a Deus você estava acompanhado.
Noé estranhou e começou a olhar em volta e viu Camael no canto do quarto.
— Família, preciso ficar a sós com o meu amigo, precisamos conversar sobre algo.
As crianças faziam sinal de negativo, mas Naamá entendeu a situação e logo foi tirando os seus filhos do quarto.
Quando o quarto ficou silencioso, Camael andou até a cama do quarto e sentou ao lado de Noé.
— Camael, me explica direito essa situação. Do zero, por favor.
— Tudo bem, você tem direito de saber a verdade.
Camael explicou toda a situação do congresso dos deuses, do teste sobre a humanidade e do objetivo dele e dos irmãos de garantir a sobrevivência da humanidade.
Noé estava tremendo de medo e temor, ele nunca esperou ouvir ou saber sobre tal determinado assunto ou algo parecido.
— E então, Noé? Você será o salvador da humanidade?
— Mas por que eu? Existem diversos outros que devem ter mais qualidades que eu, sou só um humano comum e um pecador.
— Errado, Noé. Você é o mais puro dos homens, você pensa nos outros antes de si mesmo, poderia dizer que sua bondade é contagiante. O seu único pecado é amar demais a sua família. — disse Camael sorrindo e colocando sua mão direita no ombro do humano.
Noé suspirou e entendeu que tinha um grande peso sobre suas costas. Ele só pensava na felicidade e na sobrevivência de sua família e por eles, ele seria capaz de qualquer coisa.
— Eu aceito com a condição de que a sobrevivência da minha família seja garantida.
— Feito.
Os dois apertaram as mãos e Noé começou a se alongar.
— Bem, quanto mais cedo começar, mais rápido estará pronto. Quando eu falar para as pessoas da vila, ficará bem mais rápido.
— Sobre isso, tem algo que eu deveria te contar — disse Camael olhando para baixo — Somente você e a sua família podem sobreviver.
Os olhos de Noé arrepiaram e ele andou até o Arcanjo e agarrou o seu pescoço.
— Como assim, Camael? Como eu irei ser o salvador da humanidade, se todos os outros devem morrer?!
— Não é tão simples, se os deuses virem que humanos pecaminosos sobreviveram, não irão aceitar a sobrevivência da humanidade e só irão os exterminar. Contudo, se somente você e a sua família sobreviverem, os deuses verão a bondade da humanidade e descartaram a ideia de os dizimar.
Noé soltou Camael e sentou na cama com as mãos no rosto. Camael andou até ele e o abraçou.
— Eu sei que não é fácil e você conhece muitas pessoas que ache que merecem sobreviver, mas se eles entrarem na arca a sua família estará correndo risco — Algumas lágrimas do rosto de Camael caiam na cabeça de Noé — Nós iremos passar por isso juntos, não faremos os sacrifícios deles em vão. Isso eu garanto, meu amigo.
Noé sentiu as lágrimas em sua barriga e entendeu que Camael estava sofrendo também. Noé levantou sua cabeça e abraçou o Arcanjo.
— Nós iremos fazer isso, me ajude com todas as suas forças, Camael.
— Com certeza, sem mim você jamais iria cumprir o teste.
Os dois sorriram e mostraram o olhar determinado um para o outro.
Um ano depois:
Durante um ano, Noé e Camael trabalharam loucamente para saber uma forma de lidar com a situação e logo pensaram na construção de uma enorme arca, que coubesse todos os animais e sua família.
Eles passaram por um intenso ano, coletando madeira, trazendo os animais, construindo a arca e ao mesmo tempo mentindo para sua família e as pessoas do vilarejo.
Noé estava dando as últimas marteladas na lateral da arca, Camael estava levando os últimos animais para dentro da arca. Ambos estavam satisfeitos com o projeto que haviam construido.
Noé correu até sua família e chamou todos para que lhes acompanhasse até o meio da floresta. No caminho, ele explicou toda a situação para sua família e eles ficaram confusos, apavorados e aterrorizados.
Então, Noé lhes mostrou a arca e contou a verdade sobre a identidade de Camael, que havia ficado na casa deles durante esse ano.
A família logo entrou na arca junto do Arcanjo, Noé mostrou todo o lugar para sua mulher e filhos.
A arca é dividida em 3 áreas, a camada externa possuí uma forte proteção aos arredores e diversas redes de pesca nas laterais. No meio ficava a os cómodos da família, como cozinha, quartos, banheiro e outro. Na última camada ficava o alojamento dos animais.
Após o termino da explicação, eles sentiram um forte tremor vindo do lado de fora e todos saíram correndo para as janelas mais próximas para ver o ocorrido, mesmo todos já sabendo o que possivelmente era.
Quando olharam para fora, viram um gigante tsunami vindo na direção da arca, levando tudo o que havia pela frente.
— Segurem-se em alguma coisa firme — disse Noé para sua família.
Todos, rapidamente, seguraram em algo por perto e então a arca foi atingida em cheio. Eles estavam extremamente preocupados e aflitos, sobre se a arca iria aguentar o impacto.
Após alguns minutos, as águas haviam se acalmado e todos olharam para fora e viram uma forte tempestade com diversas ondas grandes batendo no casco da arca, mas todos sentiram que a arca iria aguentar e que estavam seguros.
As crianças choravam de preocupação e Naamá as abraçava com força para sentir suas dores. Noé abraçou sua família e Camael olhou com um sorriso de canto e felicidade, pois aquela família havia sobrevivido.
Os dias da família foram complicados de início, pois tinham pouco alimento e grande parte ia para os animais. As crianças não tinham muito divertimento e Noé não deixava eles participarem de alguma atividade perigosa. Naamá tinha muita falta de utensílios na cozinha e de ingredientes. Contudo, essa família tinha sorte e Camael ajudava em tudo o que precisavam, esse Arcanjo estava determinado a fazer essa família sobreviver ao dilúvio e aos 40 dias e 40 noites.
Porém, nem tudo é um mar de rosas, após 11 dias e 10 noites, a família começou a ouvir diversos gritos do lado de fora, eram de pessoas que imploravam pelo perdão dos deuses e outras que tentavam subir na arca. O trabalho mais difícil ficava com Noé, que expulsava as famílias da arca e não permitia a subida delas.
Ele fazia esse trabalho sempre com lágrimas nos olhos. Ele recusou e matou idosos, pais, mães, crianças e pessoas de sua vila. Camael sentia que a cada dia que se passava, Noé enlouquecia aos poucos.
Camael se oferecia para fazer esse trabalho, mas Noé não permitia, pois precisava fazer isso para salvar sua família, era a única coisa que ele se importava. Ele fazia de tudo para evitar que sua família ouvisse esses gritos e soubesse de seu trabalho na área externa.
Grande dia:
Após a tortura de 40 dias e 40 noites, Noé e sua família suportaram os desafios e terrores que esse evento havia proporcionado.
Noé havia levado sua família para o lado externo e então viram um pedaço dos céus se abrindo e diversos cavalos voadores e guerreiros dos céus desciam junto de um deus que possuí um olhar convencido, ele era Aegir.
Quando chegaram na arca, Camael, Noé e sua família se ajoelharam perante a divindade que suspirou.
— Levantem suas cabeças, humanos. Vim lhes dar o veredito final da decisão dos deuses frente a esse desafio — disse Aegir com um olhar entediante e convencido — vocês conseguiram manter a sobrevivência de cada espécie de animais e por isso sintam-se vencedores.
Noé e sua família levantaram-se e começaram a comemorar. Camael sorriu de orgulho, pois seu trabalho havia se concluído e então fechou os seus olhos com a cabeça erguida.
“Estou indo, irmãos. Ansioso pelos salgadinhos que o Gabriel prometeu”, pensou Camael que ao abrir seus olhos viu Aegir com um grande sorriso maquiavélico e prestes a usar suas cartas da manga.
— Contudo, era o que eu pretendia dizer, mas vocês quebraram as regras, um dos animais possuí mais de um casal — disse Aegir apontando seu dedo indicador para a família de Noé — os humanos possuem mais de um casal, por isso vocês perderam.
Os guardas puxaram suas lanças das costas e elas começaram a brilhar. Aegir gritou FOGO e Noé nem teve reação e quando olhou pro lado, viu sua mulher e filhos sendo acertados por diversos tiros.
Noé estava tremendo de pavor, ele viu o brilho dos olhos de sua família sumindo aos poucos e clamavam por ele, para que os salvasse. Noé olhou para frente e viu Camael na sua frente e de costas para o deus.
Camael golfou sangue na frente de Noé e caiu nos braços do humano que havia caído de joelhos no chão. Camael perdia a consciência e a visão aos poucos, seus últimos momentos de vida eram olhando Noé entrando em desespero.
O Arcanjo levantou uma de suas mãos e colocou no rosto de Noé e ele estava sorrindo.
— Me perdoe, Noé… eu devia ter protegido a sua família… devia ter cumprido minha promessa… por favor, me perdoe.
— A culpa não é sua, Camael. Por favor, não morra — disse Noé o abraçando com força e sentiu três toques em suas costas e pernas e ele viu sua família tocando em seu corpo.
Noé não parava de chorar e ele tocava no rosto de sua esposa e filhos, eles estavam olhando com todas as suas forças para Noé e todos com o que restavam de suas forças, soltaram um sorriso para que Noé não chorasse com a partida deles.
Noé viu todas aquelas mortes ao seu redor e viu aquele deus gargalhando com a morte de sua família e amigo. Ele não parava de tremer e a única coisa que passava e sua cabeça era raiva e vingança.
Suas unhas estavam ficando mais afiadas, presas cresciam em seus dentes, pelos cresciam em seus braços e pernas, a cor de seus olhos foi sumindo aos poucos e somente um vazio branco havia tomado conta de sua mente, ao mesmo tempo que ele gritava de ódio e tristeza. Seus gritos eram ouvidos por todo o mundo.
— O grito desse humano é insuportável, algum de vocês acabe logo com ele.
Um dos soldados se aproximou e realizou um ataque na região do peito do humano, mas em questão de segundos, a cabeça do soldado havia sumido e sangue estava espalhado no chão.
Os guardas e o deus se assustaram. Noé se levantou e abriu suas mãos, que estavam pingando sangue, para partir ao próximo ataque.
Aegir logo percebeu e logo deu a ordem para que os soldados logo o eliminassem. Alguns deles atiraram e outros partiram para o ataque.
Noé se esquivava facilmente dos tiros e com somente um golpe matava os soldados de diversas formas, com um chute, soco, mordida, arranhão e outras formas. Ele estava agindo de uma forma totalmente bestial, perdendo completamente sua racionalidade.
“Mas que merda é essa?! Como um humano tem a capacidade de matar um anjo e dessa forma bestial? Devo o eliminar de uma vez, se não ele será um perigo aos céus, eu me recuso que haja um segundo Apocalipse nos céus”.
Os seis tentáculos de Aegir saem de suas costas e ele corre na direção de Noé que estava matando os últimos soldados. Aegir pegou sete lanças que estavam no chão e começou a atacar consecutivamente o humano, que desviava facilmente, como se soubesse o próximo ataque do deus.
Noé contra-atacava de forma bestial, arrancando um membro por vez. A cada contra-ataque, o deus perdia um de seus tentáculos, até que teve seu olho esquerdo cortado junto de seu braço direito.
Noé pulou em cima dele e com uma de suas garras enfiou no olho ferido do deus e o arrancou, logo em seguida jogou no mar. O deus estava totalmente indefeso e caiu no chão, o humano não teve piedade e começou a rasgar o peito do deus que gritava por misericórdia.
Quando Noé pretendia finalizar seu trabalho, um som de trovão foi ouvido por todos e os Arcanjos Azaziel e Azaquiel apareceram na cena.
Azaquiel estava com duas pistolas e Azaziel estava com uma espada brilhosa em suas mãos. Os dois olharam para a cena e viram diversos anjos mortos no chão, humanos mortos, um deus gravemente ferido e o que lhes mais abalou, o Camael morto no chão com diversos ferimentos.
Ambos os irmãos se abalaram com a cena e Azaziel gritou de fúria e estava preparado para matar o humano na sua frente. Contudo, mas um som de trovão foi ouvido e Gabriel e Anael apareceram na cena.
— Azaquiel, Azaziel, se acalmem-se — disse Gabriel batendo no ombro do Anael que virou-se para Noé que estava paralisado com a presença dos arcanjos.
Anael andou até Noé, que estava em cima do deus, e assoprou no rosto. O humano fechou os olhos e caiu em cima do deus. Anael pegou o Noé e colocou em seu ombro.
— Anael, solte esse assassino agora e entregue ele para mim, esse humano deve sofrer — disse Azaziel.
— Acalme-se, Azaziel. O Supremo deseja um audiência com esse humano para determinar seu crime — disse Gabriel.
— Eu mereço justiça agora, é o nosso irmão, porra. O Camael está no chão totalmente morto e o culpado é esse humano.
— Nós não sabemos, a visão da Terra estava cortada, só vimos de repente o nosso irmão no chão.
Azaziel apertou com força a sua mordida de raiva.
— VOCÊS ESTÃO COM O ASSASSINO DO CAMAEL NOS BRAÇOS, EU EXIJO JUSTIÇA.
Quando Azaziel tirou sua espada da bainha, Azaquiel deu uma coronhada na cabeça de seu irmão e os outros se surpreenderam.
— Irei cuidar dele e do desmaiado ali, vocês vão logo ao Supremo, não se deve o deixar esperando.
Os arcanjos logo se tele-transportando de volta ao céu.
Julgamento:
Noé estava totalmente amarrado no meio de um salão rodeado por deuses que o julgavam sem parar. No julgamento, Aegir estava ao lado do humano como acusador e o juiz seria o Supremo que seria representado por uma bolha de luz.
Quando a luz deu uma piscada, todos se calaram na presença dela, pois sabiam que o Supremo estava naquele local.
— Estamos hoje aqui, para julgar o humano chamado Noé que está sendo chamado de monstro e assassino. Eu analisei a questão e cheguei a um veredito — disse o Supremo com sua voz rouca e envelhecida.
Noé mantia um olhar triste e para baixo, ele não olhou para a luz ou para qualquer rosto de algum deus.
“Você será considerado culpado, humano. Então terei minha vingança e eu irei tornar o restante da sua vida um verdadeiro inferno”, pensou Aegir.
Azaziel olhava no meio da palestra com um ódio incontrolável a Noé. Ele possuía um grande impulso sombrio em seu coração, onde ele podia a qualquer momento pular em cima do assassino do seu irmão.
— O meu veredito será… Culpado — disse o Supremo enquanto o público comemorava — Contudo, ele não tem culpa única nisso. Aegir agiu contra a minha vontade e realizou um caos não autorizado na Terra, por isso ele está sendo preso e levado a um castigo no tártaro.
Aegir olhou aterrorizado para a notícia e sem acreditar, alguns guardas vieram ao seu encontro e levaram o deus que gritava por perdão e misericórdia.
— A punição de Noé, será o confinamento eterno na Terra e seus descendentes não possuíram a longa longevidade dos humanos, ela será reduzida em 90%. Ele deverá viver com a culpa pelo resto da sua vida. Ele não poderá tirar a própria vida e será obrigado a produzir descendentes que irão povoar todas as regiões do mundo. Guardas, tirem ele do reino dos céus e o levem de volta a Terra.
Alguns guardas o agarraram e o levaram em direção de fora do salão. Ninguém entendia a decisão do Supremo, principalmente Azaziel.
— EU NÃO ACEITO, CADE A JUSTIÇA DOS DEUSES? ELE MATOU O MEU IRMÃO, SEU DESGRAÇADO. ELE MATOU O CARINHOSO E AMÁVEL CAMAEL, SEU MERDA. ME DEVOLVA O MEU IRMÃO, O MEU QUERIDO IRMÃO. EU NÃO ACEITO, EU NÃO ACEITO, EU NÃO ACEITO. EU JURO POR TODA A MINHA VIDA, QUE EU IREI TE ACHAR E PROMETO VINGAR O MEU IRMÃO, SEU PORRA. COMO OUSA TIRAR ELE DE MIM, PROMETO FAZER SUA VIDA UM INFERNO. OUSA O MEU JURAMENTO, NOÉ. — gritou Azaziel com todo o ódio e fúria que havia em seu coração junto de lágrimas de vingança.
Noé foi levado de cabeça baixa e com diversas lágrimas em seus olhos, lembrando que não conseguiu proteger a família que tanto amou e nem o seu melhor amigo. Nesse dia, Noé e Azaziel perderam as pessoas que mais amavam.
Continua…
