Saik fixou o olhar no homem que havia surgido de repente.
— Quem é você? — perguntou ele com certa firmeza.
O homem sorriu, um sorriso que transbordava arrogância e desdém.
— Por que não se apresentam primeiro pra mim? Afinal, vocês que são as visitas aqui.
— Acho que o dono da casa deve se apresentar primeiro — rebateu Saik.
O homem riu levemente antes de inclinar a cabeça de maneira exagerada, como se estivesse concedendo um grande favor.
— Muito bem, muito bem… eu sou Alaric. Estou feliz em conhecê-los — o sarcasmo estava nítido.
— Preciso perguntar se você é um dos portadores do Conclave?
— Não precisa, isso parece óbvio demais.
Koji se inclinou discretamente em direção a Saik e sussurrou.
— A onda de energia faz parte da técnica dele? Porque, se for, estamos em desvantagem.
Ainda mantendo os olhos em Alaric, Saik respondeu baixinho.
— Não sei. Mas nós dois entramos na onda já cientes do perigo. Só que, colocando minha opinião, antes o que eu sentia era apenas a energia da onda e de nenhum portador. Agora, só sinto a energia desse cara, e não mais da onda.
— Ham. Entendi, ele aí provavelmente é o dono dessa onda.
— Provavelmente não, é uma certeza. Só não é possível saber especificamente o que é a técnica dele, mas pelo menos já sabemos que é uma técnica de ambientação.
— Técnica de ambientação? — Koji ficou curioso.
— São técnicas que interferem e alteram diretamente o ambiente. Pode ser numa área curta ou em áreas gigantes.
— Vão ficar de conversinha mesmo? — Alaric interrompeu, se aproximando mais com passos lentos — Eu estou bem aqui, sabem? Não sou muito fã de ser ignorado.
Mesmo mantendo a cautela, Saik finalmente deu um passo à frente, como se estivesse se preparando para confrontar Alaric. Ainda sim, mantendo uma distância.
— O que vocês querem? O que o Conclave quer? — Saik perguntou seriamente.
Alaric fingiu refletir por um momento, e respondeu olhando para o céu e levantando os punhos cerrados.
— O que queremos? O Conclave faz parte de um plano muito maior do que vocês imaginam. Mas tenho certeza que é algo que vai mudar o mundo, mudar todos. Isso tudo é só um experimento inicial.
— Experimento? — Koji repetiu, pois estava pensando sobre o que ouvia.
— Cadê os outros portadores do Conclave? Estão todos aqui? — a conduta de Saik era assertiva e séria, apesar das piadinhas ou comentários infames que fazia de vez em quando.
Após sentir seu ânimo crescendo quando falou do plano global do Conclave, Alaric voltou seu olhar para Koji e Saik, e perguntou num tom tipo “Perdi o clima total”.
— Vocês são enviados da Torre, não são? Ah, como eu não percebi? Já era de se notar pela moralidade que vocês passam.
— Cadê os outros portadores do Conclave? — repetiu a pergunta, o Saik.
— Porra! Por que vocês querem saber de tudo?
Então, Alaric começou a falar de forma provocativa da Torre e de seus “fantoches”, segundo ele mesmo dizia.
— A Torre… Ah, a grande e poderosa Torre. Sempre querendo saber de tudo, sempre metendo o nariz onde não é chamada. Vocês realmente acham que estão aqui por conta própria? Que têm algum tipo de liberdade? Não se enganem. Vocês não passam de peões nos jogos da Torre. Eles usam vocês, portadores, como fantoches, puxando as cordas enquanto vocês dançam ao som da música deles. É patético, realmente.
Enquanto Alaric falava, Saik sussurrou para o Koji.
— Me ouve, não vamos conseguir saber daqui se a técnica dele tem ligação direta com a onda de energia. Além do Alaric, o Conclave pode ter outros portadores que são responsáveis pela onda.
— Tá querendo dizer que vai pra cima dele?
Saik balançou a cabeça positivamente, confirmando que sim, ele iria.
Koji voltou seu olhar para Alaric, que continuava a falar, gesticulando dramaticamente para o alto, como se estivesse recebendo alguma revelação divina.
— Ah, vocês não entendem, não é? Tudo isso, toda grandiosidade que eu, como portador do Conclave, possuo por querer mudar o mundo é brilhante demais. Nós somos os Iluminados, Elevados e Justos.
— Quanto mais eu ando, mais portador maluco eu conheço — com uma confusão e cansaço mental que chegava a dar dor de cabeça, Koji pensou consigo mesmo.
Durante o monólogo dramático de Alaric que não deixava de olhar para o céu e mexer os braços, sem perceber que nem Koji nem Saik estavam realmente ouvindo, Saik começou a liberar sua energia interna e concentrá-la de forma vívida em seus pés.
Koji percebeu o movimento e olhou curioso para Saik, que logo explicou.
— Isso vai te surpreender.
De repente, o solo de onde Koji e, principalmente, Saik estavam começou a afundar ligeiramente. A concentração de energia vívida afetava diretamente o terreno, comprimindo o solo por causa da intensa e rápida concentração energética.
Em um movimento rápido e inesperado, Saik avançou na direção de Alaric, voando como uma flecha, mas de uma maneira inexperiente e um pouco desengonçada.
— Como que? Ele tá voando? — Koji olhava para o Saik e realmente estava surpreso.
Alaric foi pego de surpresa, mal tendo tempo de reagir antes que Saik lhe acertasse um soco bem no meio da cara.
— Ahm?
Pow!
O impacto foi tão forte que Alaric girou várias vezes no ar antes de cair sobre sacos de lixo, próximos ao meio-fio da praça.
— Ah! — gritou Alaric, levantando com raiva — Que merda que você fez pra vir tão rápido?
Enquanto se aproximava de Alaric, Saik respondeu num tom explicativo.
— Eu não sei o quão experiente você é como portador, não faço ideia de em qual classe de poder você está, mas pelo que parece, você não sabe que quanto maior a concentração de energia interna, maior é o poder de ação.
— O meu caso é específico, pois eu possuo energia vívida por ser uma vertente da minha técnica. Quando coloquei minha energia vívida nos meus pés propositalmente em contato com o solo. Com o aumento da concentração de energia tangível a cada segundo, o atrito da energia vívida com o solo causou um choque de matérias humanas e não humanas, ou seja, o solo e a minha energia causaram um choque por serem opostos.
— Isso resultou numa explosão de velocidade e de impulso devido ao atrito e ao choque causados pela energia tangível com o solo, apenas por causa do excesso de concentração de energia nos meus pés.
Alaric levantou lentamente, limpando o sangue que escorria de sua boca com um sorriso insano em seu rosto.
— Interessante… Mas será que vocês estão preparados para o próximo nível?
— Próximo nível? — um pouco distante de Saik e Alaric, Koji pensou — O que isso significa exatamente?
— Eu não sei o que tá querendo dizer, mas eu não to despreparado! — exclamou Saik.
E então, Alaric falou gritando energeticamente.
— ESTÃO VENDO TODA ESSA ONDA DE ENERGIA AO NOSSO REDOR? ELA É TODA MINHA!
Koji e Saik se entreolharam e perceberam a perigosidade da situação.
“Sin: Conversão!” Alaric ativou sua técnica.
A onda de energia na qual todos estavam sob começou a manifestar certa alteração no seu comportamento, criando pequenas distorções no ar, como se a realidade estivesse sendo rasgada.
— Koji! — Saik gritou.
— O que?
— Fica de olho! Pode ser que algum outro portador do Conclave apareça!
— Tá certo!
Alaric olhou um copo de suco que estava deixado no pé de uma árvore da praça, e sorrindo, caminhou e pegou o copo.
— Conversão?… se a técnica dele for o que eu tô pensando — Saik estava analisando seriamente o oponente.
E com um olhar maldoso para Saik, Alaric perguntou.
— Quero que responda, o que de mal esse suco pode fazer?