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Com o rosto voltado para baixo, após um baque violento, Yamasaki jaz sem vida, imerso em seu próprio sangue, enquanto a penumbra da noite paira sobre os céus.

Apenas o barulho das janelas batendo ecoa pelo recinto vazio. O eco mórbido representa o macabro ritual de passagem a que ele tem que se submeter cada vez que o miserável Azaael controla seu corpo.

No meio desse sangue, aos poucos, pigmentos negros dançam sobre a liquidez escarlate e profunda, consumindo cada gota e fazendo-a evaporar lentamente.

Nem mesmo manchas da tintura macabra permanecem.

O calor é tão intenso, como uma fogueira surgindo diante da escuridão, que cria chamas crepitantes ao redor de seu corpo.

Seus músculos saltam, como se estivessem ganhando massa. Uma pressão emana de seu ser enquanto ele se ergue do chão, em um susto, ascende como uma monstruosidade em seu nascimento.

Mas, ao mesmo tempo, ele cai, enquanto sente o peso da morte pesando em suas costas.

Sua respiração ofega. Ele é um transeunte que acaba de emergir do abismo dos mundos.

Garras surgem em seus pés e mãos, rasgando seus sapatos e arranhando o piso.

Manchas negras preenchem o rombo em seu coração, recriando-o célula por célula, cada detalhe sendo recomposto como se o próprio coração decidisse se reconstruir.

Ao abrir os olhos, eles são profundamente negros, com veias escuras abaixo deles.

Gemidos impossíveis de serem discernidos ecoam como sons trêmulos de dor, enquanto ele se apoia em seus joelhos e tenta novamente se erguer.

E consegue! Sentindo um eco distante alcançar seus tímpanos e o cheiro mundano alcançar suas narinas.

— Novamente… esse ar… esse vento… — ele diz, mas é Azaael quem sente novamente a sensação de estar vivo.

Nesse instante, seu peito se fecha completamente e sangue escorre de seus lábios até seus pés, um sangue estranhamente vermelho para o ser.

Isso o surpreende genuinamente. Que então toca seus lábios e, com os olhares de uma fera, percebe aquele cheiro, aquela cor.

“Uma possessão limitada… droga… eu devo ter gasto mais do que deveria reconstituindo o coração do moleque…”

Enquanto pensa, ele sente uma tremulação no ar, percebendo seus braços e peito queimarem.

Nervoso, ele arranca suas vestes, seu corpo lentamente ganha desenhos e definição, chamas negras junto a flores, tatuando-o como marcas de um ferro quente, expelindo vapor e queimando sua pele com a brasa da escuridão.

Lótus que estão rodeados das chamas do purgatório. Esse era o estado de seu espírito naquele instante.

E quase tomba com a sensação de fervor, segurando-se nas paredes que dividem o corredor dos demais cômodos da sala, queimando a moldura de madeira da porta e desenhando rachaduras na parede.

“Mas…”

Um sorriso se forma em sua face, seus dentes são afiados como os de um peixe piranha e um par de chifres começam a crescer.

Ele fecha os olhos, sentindo dor enquanto os chifres rasgam sua carne de dentro para fora, parecendo chorar sangue.

“Isso será o suficiente…”

Novamente, o rei demônio, o dragão vermelho, pisa em Crea.

Em um salto, ele pula da porta até a janela, como uma fera que se esgueira na escuridão, seus pés esmagam onde pisam, fazendo cair lascas de madeira do oitavo andar até o estacionamento aberto atrás do edifício, o concreto cede e despedaça também.

O som dos carros atingidos ecoa, enquanto ele está agachado sobre a moldura da janela, como um primata.

A luz da noite cria uma sombra terrível sob o terreno do prédio, e seus olhos, lentamente avermelhados na íris, brilham.

— Vamos estragar um pouco desse mundo! — ele indaga, enquanto, aos poucos, ouve cada som emitido por cada via, desde sussurros até gemidos quase inaudíveis.

Ele possui novamente a audição demoníaca, digna de um verdadeiro caçador.

Em um salto, desaparece de onde estava, alcançando os limites do firmamento, dezenas de quilômetros acima.

Seus fios de cabelos tocam a luz de Nox, palpável, tão gélida que mesmo a morte não poderia superá-la. E sua visão alcança toda Crea, desde as terras gélidas de Regnum a frente da vasta Aija até o fim do imenso oceano Flumen, estendendo-se até os limites alcançáveis da humanidade.

E no limite do oceano ele contempla o abismo que separa o limbo, onde caem os suicidas vazios de sentido nesse mundo, de Crea. Enquanto seus pés começam a ceder diante da pressão em que a entidade que rege lança sobre os cadentes, os devolvendo ao solo.

Ao passo que, Gabriel e Masaru alcançam finalmente o distrito fantasma, ou o antigo sexto distrito, um lugar tão imenso quanto os demais. Que após um ato terrorista durante a impiedosa guerra civil, caiu em ruínas e guardou consigo o fim de dezenas de pessoas.

Um cemitério de guerra se estende diante deles. Cinzas de corpos estão gravadas nas ruínas e os lamentos ecoam como uma sinfonia mórbida.

Tudo isso devido à explosão de uma bomba, a mais terrível delas, capaz de fazer prédios que um dia foram parte do maior distrito de Nova Tóquio jazerem em destroços, amontoados de entulhos, em meio aos esqueletos dos que padeceram.

O ar opressor cria uma dança de trevas, que emerge das profundezas do solo; ali, é o maior símbolo do paranormal, onde o sobrenatural vive.

— Esse lugar, mesmo após 227 anos, nunca muda — comenta Gabriel, que ao sair do seu carro, deixa a rodovia de Yūrei e adentra aquele local que cheira a pecado e sofrimento, — Eu odeio essa paisagem… esse cheiro… — continua, colocando as mãos à frente do nariz e dos lábios.

Ele consegue sentir o odor pútrido, mesmo após a passagem de vinte e um ciclos.

Masaru ri diante da cena e então pergunta: — Então por que você escolheu estar aqui? Qual é a jogada, velhote?

— Bem… — Gabriel fita os céus e dá um passo à frente, o peso de seus passos fazendo seu corpo balançar, — Estar aqui me torna mais determinado em meus ideais. Você não entenderia… — sussurra, continuando.

— Não? Você é engraçado… — ele responde, jogando os braços para trás. A cada passo, sente uma sombra se mover na escuridão, — Estar aqui me traz uma comodidade sem igual. Não sei, a solidão da morte me acalma. Sinto que a adrenalina, da qual sou viciado, corre livremente quando todos já estão mortos…— ele também desabafou e então, percebendo a falta de reação de Gabriel, revirou os olhos em um suspiro sem graça.

A ventania parece uivar em seus ouvidos, enquanto o som de demônios rastejando na escuridão é audível.

— Estou cercado de malucos… — ele respondeu finalmente, acompanhado de uma risada leve.

— Aponte um exorcista que seje são! Sério, não há como se manter são após morrer e reviver, ver o abismo, conhecer a verdade, ou achar que a conhece. Nenhum homem nasce para isso! — ele diz, suas palavras soando como a sensatez de um louco para os ouvidos de Gabriel, que atentamente as ouve, encontrando certo conforto nelas.

Então, de repente, enquanto eles mal adentram nas profundezas do recinto em uma conversa minimamente agradável, rasgando os céus, Azaael enfim pousa.

O impacto faz o lugar estremecer. Um estrondo ecoa pelo lugar, morcegos voam aos céus diante das vibrações no ar.

Ele pesa toneladas, criando uma cratera a seus pés, causando ventos fortes como de uma tempestade, espalhando poeira e destroços.

O dragão vermelho está diante deles. A chegada de um predador maior afasta os demais; ele é o único inimigo.

Como reflexo, Gabriel recua em um salto para trás, uma cortina de poeira cobre tudo à sua frente. Mas ele pode ver claramente, com sua visão de um celestial, o que está por trás dela.

“Um demônio?… 

Como?… 

Eu nem senti ele se aproximar…”

Enquanto, Masaru, com os cabelos jogados para trás, sente um arrepio percorrer seu corpo e fica parado. Ao seu redor as trevas se espalham junto à ventania, em forma de raios negros.

Diante de seus olhos, prateados, que lentamente refletem, a entidade sendo descoberta pela cortina.

A poeira revela sua coroa demoníaca, seus chifres, sua silhueta, expondo suas tatuagens negras, e então ele está completamente visível.

— Exorcistas… isso vai ser divertido… — Azaael diz, afiando seu olhar, sentindo a presença de cada um com a sua percepção quase onisciente, — Não, não qualquer exorcista! — ele afirma, encarando o olhar desafiante do rapaz.

Sua língua, áspera como a de uma serpente, passeia entre seus lábios enquanto profere cada palavra.

— Hm… por que não qualquer exorcista? — pergunta Masaru, imerso naquele instante, seu corpo não pendendo, diferente de Gabriel, que está ciente da ameaça diante dele ou imagina. 

Masaru aproveita aquele momento de adrenalina para tentar dialogar.

— A energia que compõe suas almas, ela flui com grandeza… isso é interessante…— ele indaga, erguendo as mãos frente ao rosto, encarando ambos, — Bem, o que acham de dançar até a morte comigo? — desafia.

Gabriel, percebendo a presença e a atitude da entidade, cruza os dedos enquanto sua aura envolve seu corpo. 

Há uma tensão no ar, ao passo que Masaru levanta sua mão direita em sinal de pare, devolvendo o olhar desafiador à entidade.

— Não seja guloso, você vai enfrentar apenas um de nós! — diz ele, inconsequente, e então, vira-se para seu parceiro e clama: — Deixe-me divertir um pouco, Gabriel! Não é todo dia que encontro um peixe tão grande!

Surge um sorriso crescente na face de Azaael.

E diante do comentário inocente e insensato, uma risada macabra ecoa dentre os lábios secos de Azaael, enquanto Gabriel cede ao pedido, abaixando sua aura e descruzando seus dedos.

— Pois bem, maluco, só não morre! — murmura, dando alguns passos para trás, permanecendo atento.

Masaru confirma, firmando bem suas pernas, sua aura envolvendo o corpo como a chama de uma vela, em tons azuis da cintura para baixo e vermelhos na ponta, diferente da liberação translúcida de Gabriel.

Enquanto Azaael conjura suas chamas negras nas pontas dos dedos, elas surgem em movimentos ondulantes, a conjuração de trevas mais poderosa dentre os demônios.

O som crepitante reverbera enquanto os sorrisos eloquentes de ambos se entrelaçam, acompanhados por seus olhares gananciosos.

O embate está prestes a começar.

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