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Ao despertar no ápice da manhã, Jarves ergue sua face de uma cama adornada por lençóis escuros tingidos por um profundo matiz de desesperança. Seus olhos exibem o cansaço que se instala em sua expressão, enquanto o odor nauseante impregna seu peito mais uma vez, como um lembrete persistente de sua desolação.

Talvez pela derradeira vez… Ao pé da cama, repousa sua mala, testemunha silenciosa de suas jornadas. Jarves, vestido como se estivesse adormecido à espera de um chamado urgente, envolto em um sobretudo acinzentado que obscurece sua figura, conferindo-lhe a aura de um médico em prontidão, e uma calça azul desbotada.

O quarto que o acolhe não é seu; seus olhos são confrontados por uma coleção de quadros antigos, testemunhas mudas de uma vida distante. Entre eles, um retrato de um casal idoso, cujos rostos permanecem ocultos pela passagem do tempo, perdidos no emaranhado de mofo que corrói cada fotografia impiedosamente. Apenas seus trajes simples e o gesto eternizado de suas mãos entrelaçadas os identificam. É o espectro do passado, a presença que assombra os recônditos de sua alma, corroendo-a lentamente.

— Até breve… — ele sussurra, fitando um dos quadros, o mesmo que paira sobre o criado-mudo ao lado da cama, tão desvanecido quanto o azul de sua calça. Com um movimento do corpo, ele se vira, sentindo o peso da exaustão em seu coração, arrastando-se até seus pés.

Ele agarra a mala firmemente e desce a escada, a madeira rangendo sob seus passos como se prestes a se desfazer, cada ruído ressoando pela casa vazia, ou melhor, por aquele cemitério. Passo a passo, ele avança até estar do lado de fora, onde um táxi aguarda, provocando um suspiro profundo de alívio do rapaz ao vê-lo.

O motorista, absorto em seu smartphone, espera, com uma melodia descontraída fluindo do aparelho. Ocasionalmente, ele solta uma risada inaudível para o rapaz.

Sem pressa, ele se aproxima do táxi e coloca a mão no bolso, retirando a nota de 1.000 ienes que Milk lhe deu antes de partir. Com um leve toque, ele bate no vidro.

— Jarves?

Sua voz soa abafada, e o motorista, após um momento de surpresa, vira a manivela para baixar o vidro, olhando para ele com curiosidade.

— O que disse?

A música está alta, parecendo vir de algum vídeo de comédia, algo além da compreensão do rapaz.

— Ehr… Esse é o táxi que pedi? Sou o Jarves!

— Ah, isso! Isso mesmo! Entra aí, garoto… — responde o motorista, praticamente ignorando-o, voltando sua atenção à tela e soltando mais uma risada, — Caramba… esses caras são bons… — comenta, enquanto Jarves revira os olhos, abre a porta e entra, sentindo-se constrangido. Ele observa cada centímetro do veículo, que é velho e tem um cheiro de mofo e bebida, algo familiar para o jovem, que nunca sentiu o perfume das flores, apenas o odor dos homens.

Quando o homem coloca as mãos no volante e acelera, a viagem segue em silêncio, pelo menos em termos de conversa. O motorista permanece entretido com seu smartphone ao lado do volante, rindo constantemente… ele só sabe rir.

Após cerca de meia hora, eles chegam ao distrito de Gou. Ele desce em frente ao prédio, aliviado por sair daquele carro. O tempo parece nublar; hoje será um dia típico de chuva.

— Outro cara? — pergunta o loiro, o mesmo que estava conversando com Milk na praia. Desta vez, ele parece mais apropriado, vestindo uma blusa de verão aberta que exibe seu físico impecável e uma bermuda. Quando Jarves olha para seus pés, vê que ele está de chinelo.

“Pensando bem…”

Jarves pensa, encarando seu rosto.

— Você também é um… cavaleiro?

— Sou, essa parada mesmo! Prazer, sou Alexander — diz ele, estendendo o braço. Uma tatuagem de serpente se enrola do bíceps até o pulso.

— Jarves… — responde, apertando a mão de Alexander, enquanto os dois se encaram. De repente, uma voz suave e, ao mesmo tempo, firme como o ressoar de uma espada interrompe o momento.

— Eu cheguei por último? — pergunta Halyna, encarando os dois com confiança, as mãos nos bolsos. — Halyna Boyko, rapazes, ou devo chamar vocês de meus caros companheiros?

— Ehr… dizendo assim, até parece que estamos aqui para nos divertir — diz Jarves, meio sem jeito. Na verdade, ele está incômodo com duas personalidades tão distintas.

— E não estamos? — retruca Alexander, olhando para Halyna. — Gosto de garotas altas… sabia?

— É? E quem disse que isso é problema meu? — ela responde, ácida, colocando-se ao lado dele. Eles têm a mesma altura, embora Alexander pareça um brutamontes em comparação com o rapaz.

“Que estranhos…”

Jarves se aproxima da porta e, com pressa, aperta a campainha ao lado da maçaneta.

— Vamos sair logo daqui, as pessoas podem estranhar… não acham?

— Estranhar? O quê? Cara, eu tô praiano! — diz Alexander, tentando parecer descontraído, mas sem conseguir arrancar uma risada de nenhum dos dois.

— Você é bem um imbecil, mas enfim, o garoto até que tem razão… — diz Halyna, aproximando-se de Jarves, enquanto as pessoas evitam ao máximo passar perto deles ou sequer encará-los 

— He! He! — Alexander ri, escorando-se na parede. — Ele deve ter ido ao mercado, sei lá…

Não demora muito, e Milk desce, vestindo um sobretudo preto e uma calça de cós baixo. Ele se aproxima da porta e a abre, ficando cara a cara com os três.

— Vocês demoraram, mas isso não importa. Vamos entrando?

— Certo… — respondem Jarves e Halyna ao mesmo tempo, dando passos adiante quando Milk se vira e começa a subir a escadaria, com Alexander seguindo logo atrás.

— Lugarzinho — murmura o loiro.

— Romero e Rasen estão no andar de cima. Eles vão passar o plano para vocês e, creio que farão algumas perguntas. Não posso afirmar! — diz Milk, enquanto passa pelo apartamento de Kwawe, que os encara com uma expressão fechada. Após o loiro passar, eles seguem logo atrás.

Ao chegarem ao andar superior, Milk prontifica-se a interromper os dois, batendo na moldura da porta.

— Coff… Coff… Eles já estão aqui! — diz ele, seu olhar percorrendo o apartamento. Algo parece fora do lugar. — Cadê o Antonio?

— Ah, ele disse que bebeu demais e está no banheiro! — responde o messias, tirando a mão do ombro de Romero. Ambos estão de frente para um quadro, seus sapatos já limpos, e Rasen encara a cena com uma expressão convencida. — Entrem! Por favor!

— Certo… vamos, gente — diz Milk, entrando e indo para trás da poltrona de Romero. Jarves, meio tímido, escora-se na parede ao lado do quadro, enquanto Halyna vai para perto da janela, ficando ao lado de Kwawe. O loiro permanece parado na moldura da porta.

O instante em que vão entrando é acompanhado por um silêncio de contemplação, encerrado apenas com o último ressoar de passos no ambiente.

— Bem, eu não conheço nenhum de vocês… mas vamos por partes — começa Romero, encarando Milk e depois Rasen. Ele reúne as palavras em seus lábios. — Como o Milk disse a vocês, nosso plano é mudar este mundo, que já está podre e não há como salvá-lo. Mas a pergunta não é o que queremos fazer, mas como vamos fazer, não é isso?

Ele não espera apresentações, tampouco afirmações.

— Sim… — responde Kwawe, de braços cruzados, atraindo a atenção de todos.

— Então, como eu e Rasen pensamos, nosso primeiro movimento será um ato terrorista! — diz, chamando a atenção para si. Ele desliza a mão na mesa, produzindo um ruído agudo. — Meu plano é invadir o prédio administrativo da ordem, no distrito de Katakana… Se realmente estão envolvidos nisso, espero que estejam preparados, pois iremos cometer um massacre!

Ao ouvir isso, a inquietude toma conta de Halyna, enquanto um sorriso forçado surge no rosto de Alexander. Milk segura firmemente a poltrona, enquanto Kwawe, Rasen e Jarves parecem se animar com a ideia.

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