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Sobre os destroços, Yamasaki Yami sente os últimos raios de luz que Aurora iria emitir naquele dia acariciando seu rosto.

Com os olhos fechados, ele ergue a face para o céu, aproveitando a serenidade pós-tempestade por um instante.

Enquanto a energia do embate se dissipa ao seu redor, ele não só purifica o local da presença do mal, mas também da própria presença. Quebrando um ciclo; a paz prevalece na ausência de heróis e de vilões.

O único som presente é o crepitar das chamas que se extinguem lentamente, ecoando em seus ouvidos, cedendo ao tempo. 

Não demora muito para o calor abandonar seu rosto e, finalmente, o diretor-geral aparece. Ele entra por uma porta metálica, a saída de emergência nos fundos do colégio, a única que resistiu a todo aquele espetáculo caótico. Abanando a face com as mãos para se livrar da fumaça que paira no ar, ele exibe uma expressão que vai da animação ao espanto, ao perceber o estado do lugar.

— YAMASAKI!? O QUE TÁ ACONTECENDO? O QUE DIABOS HOUVE COM MINHA SALA? MINHA ACADEMIA? ESTÁ TUDO DESABANDO! — ele grita com fúria enquanto, diante de seus olhos, o ginásio se desvanece lentamente. Irreconhecível, restam apenas fragmentos daquilo que um dia foi.

Uma barra de ferro cai diante de seus olhos, levantando uma cortina de poeira. O exorcista, despertado de seu transe, encara-o com desprezo. Ele sente a ventania do impacto debater contra suas costas, aumentando a tensão do momento.

— Ah, o meu ginásio… — lamenta, quase desmaiando.

Em choque, seus empregados, que o acompanham, observam de fora do local o que aconteceu.

— O que aconteceu? Ué, eu exorcizei o demônio! — Yami responde, expressando grande indiferença às suas palavras. — Que cara é essa? Tá passando mal? — pergunta ironicamente, aumentando o tom de sua voz, impaciente.

O homem ouve, incrédulo.

— Maldição! QUE CARA É ESSA? PASSANDO MAL? Ah, esse ginásio… SEU PIRRALHO! Tem noção de quanto gastei nele!? — ele diz, dando força a cada palavra, culpando-o diante da frustração, rendendo-se ao fracasso. Colocando as mãos e os joelhos no chão, lamentando, — Todo aquele dinheiro jogado no lixo! Por que fez isso comigo? Por quê?

Diante da cena em que ele lamenta miseravelmente, seus funcionários vão ao auxílio do diretor, segurando suas costas e sussurrando palavras de apoio em seus ouvidos.

Evitando olhar para Yamasaki, a quem, diante da cena, julgaram como alguém cruel e arrogante.

— Como os alunos irão treinar agora? — o velho exclama, socando os escombros, em um ato, desesperado, visivelmente “abalado”.

— Queria que eu fizesse o quê? — Yami continua, se segurando. Então, o rapaz cerra os punhos com uma fúria crescente e declara, sem sentir nenhum pesar: — Considere isso uma parte do seu débito pago, com as vítimas da sua ganância! E aos pais, ao menos dê os pêsames! 

Seu cinismo é incômodo o suficiente para interromper os falsos lamentos do homem, que fica incrédulo. Aquelas palavras o tiram do lamento, deixando-o extremamente desconfortável.

— O quê? — indaga, levantando o rosto, — O que disse Yamasaki Yami?

— Você ouviu. Afinal, não houve vítimas, certo? Bem, pode considerar isso uma brincadeira, não que eu me importe; já fiz o meu serviço! — afirma, não dirigindo as palavras ao homem, mas mais para si. Caminha adiante, soltando os punhos e concentrando-se apenas no que está à frente, — Você mesmo causou isso… Sua sorte é que fui bem pago.

Ao ultrapassar a porta, experimenta um alívio que não é apagado nem pelos gritos desesperados do homem.

— Mas, enfim, diretor-geral… é um adeus!

— Maldito! Maldito exorcista! Mancharei seu nome! Que desgraçado! — vocifera, atirando pequenas pedras à frente, que caem ao redor dos pés de Yami, que mal se importa.

Suas palavras alcançam o rapaz como se fossem piadas de uma criança.

— Manchar o nome de um impuro? Entendi… — provoca, continuando seu caminho, agora ele estava com uma grana no bolso e um objetivo claro em mente: comprar um smartphone!

Ao retornar ao seu apartamento, com o anoitecer dominando o céu, Yamasaki revisita o trajeto de seu carro pela Avenida Ie até alcançar novamente Katakana. Opta, como sempre, por subir a escadaria até estar finalmente em seu recinto.

Ao entrar, o faz com pesar, descansando as costas ao lançar seu sobretudo imediatamente contra o sofá, segurando o cheque e determinado a não realizar mais nada.

Impregnado com o odor das trevas e de seu próprio suor, o uniforme de ofício de Yamasaki está sujo, mas ele está cansado demais para lavá-lo.

Com pressa, atira seu cheque sobre a mesa, que se destaca entre a sala e a cozinha, alinhada a uma bancada de mármore e concreto, que divide os cômodos antes de correr para o quarto e se jogar na cama.

Cai, sentindo o peso de sua mente e corpo. Sem remover os sapatos, afunda na maciez do colchão e no calor das cobertas.

Experimenta uma sensação de conforto, um momento equiparável àquele proporcionado pelos raios do entardecer emitidos por Aurora.

“Que dia…”

Finalmente, a dispersão cessa, fechando a janela dos seus olhos que espelhava toda a exaustão e cansaço que o envolve.

Adormece, experimentando o primeiro sono real após mais de duas semanas de apagões.

À medida que mergulha no sono, é conduzido às profundezas de sua mente. Ultrapassando as barreiras de seu subconsciente, uma nuvem negra se dissipa diante dele, flutuando na escuridão e revelando um cenário envolto por um negro abissal.

Gradualmente, a escuridão se dissipa, revelando um fragmento de sua memória:

Novamente, estava no terceiro dia da primeira passagem do ciclo 381, um dia memorável marcado pela primeira queda de neve sobre a cidade montanhosa de Nagoya após os ciclos de dias chuvosos e ventanias apocalípticas.

O frio toca sua face e o aroma singular daquele lugar é palpável.

— Esse lugar… — murmura Yamasaki, com o vapor gélido saindo de seus lábios enquanto os flocos de neve caem sobre ele.

Diante de si, ele contempla a casa nas colinas, pertencente à sua família. Uma lembrança acolhedora e tão dolorosa que uma lágrima escorre por seu rosto naquele instante.

A casa é única e está afastada da impiedosa metrópole, construída sob os pés das montanhas.

As luzes estão acesas e o carro de seu pai está estacionado na garagem improvisada erguida ao lado da casa.

Algo que lhe traz memórias afogadas na lama de sua vivência até então. Esse sentimento, mais uma vez, alcança seu peito e, em um momento verdadeiramente feliz, aquilo parece um doce sonho.

Mas, ao ouvir pratos quebrando, volta-se para a entrada, onde gritos femininos ecoam, seguidos pelo retinir de uma lâmina.

Saindo de seu torpor, um arrepio percorre seu corpo, paralisando-o, não de medo, mas de angústia e aflição.

— Mãe? Pai? — ele murmura, deparando-se novamente com aquele homem, Sasaki Yamasaki, seu pai, escapando da casa em um salto para trás.

Deslizando seus pés na neve, sua camisa de lã está manchada de sangue, e falta-lhe um braço, com o sangue escorrendo. O sangue cai junto às lágrimas, de sua face, em choque.

— Yami? Filho? Se estiver ouvindo, corra! — ele grita, enquanto seus olhos mesclam aflição e medo, mas com determinação suficiente para enfrentar o antagonista, responsável por sua morte e dor.

Sua figura evoca um déjà vu em Yamasaki, com cabelos longos e negros, e um olhar profundo, características herdadas por ele.

— Correr? — profere outra voz, tão perturbadora quanto o sussurro da morte. Na entrada da casa, com os pés sujos de sangue, ele se revela como Gallael, mais uma vez diante dos olhos do exorcista, confrontando seu pai — não há escapatória, independentemente de quem seja; sua família está condenada!

Yamasaki está diante deles, mas é nada mais do que um mero espectador.

A criatura avança, deixando pegadas na neve.

Sua figura imponente ostenta um sorriso cruel, enquanto empunha uma lâmina lendária, ensanguentada e marcada com runas misteriosas. Essa lâmina é o seu carrasco, criada de si para executar as suas vítimas, enquanto veste uma pele negra feita de suas próprias trevas, a qual chama de armadura, tão abissal que absorve os tremores de seus inimigos.

Assim se apresenta o príncipe, filho de Luciel, o temido mercenário e assassino de exorcistas.

O sangue de sua mãe é devorado pela lâmina, que retorna a cintilar impecável.

Com seus cabelos dourados movidos pela ventania, seus olhos vermelhos cintilam na tempestade de neve que se forma.

Num instante, testemunha a criatura arrancar a cabeça de seu pai com um golpe de lâmina, balançando-a e, em seguida, golpeando o corpo inerte, envolvendo-o em trevas e transformando-o em uma massa de carne e ossos explodidos no branco da neve, agora tingido de vermelho.

O sangue escorre até seus sapatos e calça, e a cruz prateada e cintilante que adornava o pescoço de seu pai voa para suas mãos, agora banhadas em seu sangue.

Sua cabeça pesou e seu olhar congelou, aquela cena era difícil de digerir.

O aroma do sangue que o envolve é familiar, remetendo ao mesmo cheiro que sentiu aos 11 anos, quando também foi uma mera vítima do demônio.

Contudo, diante da cena atual, ele engole em seco a avalanche de sentimentos, recobrando a compostura para encarar novamente a face demoníaca da entidade, assim como a criatura faz: erguendo sua lâmina, enfrenta-o com a ferocidade de um leão, finalmente percebendo sua presença ali.

— Prometo te exorcizar, maldito, mesmo que a eternidade se desenrole diante dos meus olhos e eu mergulhe nas profundezas do abismo! — declara mais uma vez em sua vida, com os olhos se arregalando, como o olhar de um assassino que desperta de seus anseios.

Então, ele vê tudo aquilo se desfazer como fumaça no ar e cai em um abismo infinito. Enquanto a cruz que portava também desaparece, ele novamente escolhe seguir pela escuridão de sua ira.

Ele cai, rasgando a escuridão como se fosse uma bolha de água, sobre a neve, que se desdobra como o tecido de sua cama diante do impacto.

A intensidade do momento transparece nas mãos que agarram sua própria garganta, e de repente, sobressaltado, Yamasaki acorda suado, seus cabelos grudados nas costas pela tensão do pesadelo.

Seus olhos estão completamente negros, algo incomum, assim como suas veias roxas que pulsam visivelmente na pele, refletindo sua aura sombria.

Seus lábios estão secos, e na cama, seu crucifixo está jogado, como se tivesse sido arrancado de seu pescoço.

Esse episódio angustiante dura pouco menos de segundos, e então ele suspira pesadamente, deixando-se cair na cama, onde permanece encarando o teto, perdido em suas reflexões.

“Gallael… 

Onde está você seu merda!?”

Novamente, seu sono chega ao fim, num tormento que o perturba implacavelmente.

Dia após dia, essa é sua sina.

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