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Pela manhã, antes mesmo da reunião dos “nove” começar, o Messias retorna a Crea… após tanto tempo escondido nas asas da escuridão.

Seu regresso é quase imperceptível, como um espectro atravessando os véus entre os mundos.

Ele atravessa um portal dimensional; o ar ao seu redor vibra enquanto ele surge em um cenário desolador.

Diante dele, está um lugar que, à primeira vista, parece abandonado. O galpão à sua frente é um testemunho silencioso da passagem do tempo; sua fachada, outrora robusta, agora é uma ruína corroída pela ferrugem, com cores desbotadas e sinais de desgaste se espalhando como uma doença que lentamente devora a estrutura.

A rua ao redor mergulha em uma inquietante quietude, como se o próprio ar estivesse preso em um estado de expectativa sombria. Casas antigas se alinham até o fim do bairro, suas janelas escuras e quebradas parecem olhos vazios que observam cada movimento, sem vida.

Não há sinal de presença humana; o local parece ter sido abandonado há muito tempo. Carros enferrujados estão estacionados irregularmente ao longo da rua, suas carcaças cobertas de poeira e folhas secas, evidências de que não são movidos há anos. O cheiro de metal oxidado e terra úmida permeia o ambiente, misturado com uma leve nota de decomposição, talvez dos restos de animais esquecidos ou das almas perdidas que ainda vagam por ali.

— Que lugar é esse? — questiona o Messias, sua voz ecoando no silêncio. Ele se vira para Gallael, que o trouxe até ali, logo após Asmael abrir o portal. — Onde estamos?

O demônio, com um olhar enigmático, responde calmamente:

— Rua Atarashi… Segundo distrito — Ele faz uma pausa, observando ao redor como se absorvesse a própria essência do lugar. — É um refúgio, uma anomalia temporal, um fragmento de espaço preso em um instante exato — às 11 da manhã.

Rasen franze a testa, tentando entender a complexidade da explicação.

O conceito é difícil de absorver — um lugar fora do fluxo normal do tempo e espaço, um refúgio escondido na continuidade de um único momento.

A sensação de abandono, de algo além da compreensão humana, é quase opressiva. As casas, os carros, o próprio galpão — tudo parece existir em um limbo, entre o ser e o não ser.

— Uma prisão de tempo… — murmura o Messias, imerso em pensamentos. — Mas por que aqui? E esse paradoxo? O tempo não é contínuo e fluido? Quero dizer, 11 da manhã de hoje serão 11 da manhã de amanhã, não é?

Gallael solta um suspiro, claramente impaciente.

— Por que isso te interessa?

O Messias dá de ombros, tentando parecer despreocupado, mas a curiosidade brilha em seus olhos.

— Ué… só… me fala aí se você sabe, parceiro!

Ele estreita os olhos, visivelmente frustrado com o questionamento.

— Humanos… — ele resmunga com amargura. — Para Asmael, o tempo está acima do espaço. É como se cada momento de hoje fosse um arquivo armazenado nos planos materiais e astrais, mantidos pela mente.

O demônio dá um passo à frente, passando por ele com um ar de quem não tem tempo para simplificações.

— Imagine que cada momento é uma foto, um instante capturado. Para a maioria, essas fotos estão numa sequência, como um filme que passa de segundo em segundo. Mas Asmael… ele pode pegar qualquer foto, qualquer instante, e trazê-la para o presente, como se estivesse reorganizando o filme ao seu bel-prazer.

O Messias balança a cabeça, ainda tentando entender.

— Então… estamos em uma dessas fotos? Presos entre os segundos?

— Algo assim. Estamos em um momento que se repete, um ciclo contínuo preso às 11 da manhã. Cada vez que o relógio atinge esse momento, esta realidade se manifesta, uma e outra vez, como um eco interminável.

Ele dá de ombros, como se o assunto fosse trivial para ele.

— Agora, deixe de se preocupar tanto com as nuances do tempo. Há coisas maiores em jogo… Este é apenas um dos planos. — diz Gallael, o olhar fixo à frente, como se enxergasse além do que os olhos humanos poderiam captar, além da porta enferrujada.

— É, eu só tenho uma pergunta! — retruca o Messias, enquanto o acompanha, passando pelo chão coberto de farelos. — Só eu posso acessar aqui? Não parece tão escondido assim.

O demônio vira-se, lançando-lhe um olhar de impaciência e desprezo. Então, levanta a porta de rolo do galpão com um movimento brusco e potente, arrebentando todas as amarras e fechaduras com força sobre-humana.

O som metálico ecoa pela rua vazia.

— Você não só precisa estar aqui às 11 da manhã, como também deve entender a distorção necessária para se conectar com esta sub-dimensão — diz ele, enquanto a escuridão se ajoelha à sua presença, revelando um lugar coberto de poeira, com um sofá ao centro, uma TV velha e um tapete colorido, cercado por partes de carros antigos. — Acha que isso é suficiente para te convencer?

— Certo, certo! — diz o Messias, observando o interior. — Mas… por que estamos aqui? Quer dizer, você vai me dizer que temos que nos esconder?

— E não? — retruca Gallael. — Todos estão atrás de você, e não é fácil fazer o que queremos. Luciel tentou de tudo para conseguir o que desejava, mas mesmo controlando o tempo, ele mal arranhou a superfície do que precisava alcançar! — Sua voz é grave, carregando o peso do fracasso e da dificuldade que envolvem o plano.

— Aff…

— Teremos cinco dias, não mais e nem menos! Depois, uma névoa irá cobrir os céus, daí, agiremos!

— Vamos causar o caos pela manhã? — Ele capta a ideia imediatamente.

— Exatamente. Vamos pegar os exorcistas de surpresa! — diz ele, com uma voz fria e calculista. — Esse massacre será o prenúncio das sete trovoadas nos céus! — Ele dá alguns passos para trás, recuando em direção à saída do lugar.

— Entendi, e terei reforços?

Um portal surge à frente do demônio, suas bordas ondulando como se feitas de água líquida e luz distorcida.

— Não se preocupe, em breve outros demônios chegarão. Você os liderará. Até lá, pense bem no que vai fazer e… evite sair daqui, certo? — diz ele, antes de entrar no portal e desaparecer.

Rasen assente, um sorriso irônico se formando em seus lábios; medo… receio, nenhum desses sentimentos é mais sincero do que a eloquência em sua face.

— Certo! — Ele se joga no sofá empoeirado e desgastado que está encostado na parede. — Acho que mereço umas férias depois de tudo aquilo, né? — Ele olha para o próprio braço, coberto de cicatrizes que contam histórias de batalhas passadas, de feridas que ainda doem. Em sua mão, um pequeno cubo pulsa com uma aura fraca e sinistra.

Esse cubo é um artefato antigo, algo que ele conquistou quase perdendo a própria vida. É mais do que uma simples peça amaldiçoada; é uma chave, uma arma e talvez, uma “benção”.

Ele o gira, joga para cima e o agarra, sentindo a textura fria e áspera contra sua pele.

— Logo as coisas ficarão loucas de novo… — murmura para si, o olhar fixo no objeto. Ele sabe que a calmaria é apenas temporária.

A escuridão está sempre à espreita, e o caos é inevitável.

Enquanto se acomoda no sofá, sente uma estranha sensação de paz, uma serenidade antes da tempestade.

O tempo parece desacelerar ali dentro…

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