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Em meio a um parque do distrito de Gou, Arthur está sentado em um banco, após fugir do caos deixado em seu lar, cercado pelo voo dos pombos e pelo murmúrio suave do rio que corta Nova Tóquio. O céu azul está nublado e as nuvens parecem refletir a tormenta interior que consome o jovem.

Ele olha fixamente para o horizonte, perdido em pensamentos sobre a perda que o atormenta. Cada memória de seu único amor parece uma cicatriz que se recusa a cicatrizar, um passado distante que ecoa em cada canto de sua mente.

— Não posso te dizer que é fácil… — diz uma garota loira, com olhos azuis cristalinos que refletem a dor de Arthur. — Queria poder te garantir que é só uma fase e que isso vai passar, mas não, não consigo!

— Sei… — Arthur responde com a voz embargada. — É como uma tempestade, um furacão prestes a destruir a casa que construí em meus sonhos, que sempre pensei ser inquebrável. Mas foi embora como se fosse feita de papel! — Ele morde a língua. — Merda! Por quê? Será que Elum criou este mundo só para o sofrimento?

— Arthur… — A garota coloca a mão em seus ombros, enquanto ele permanece cabisbaixo, encarando o chão molhado por suas lágrimas.

— Não foi só ela… também perdi minha mãe… E o que eu fiz? — Ele solta um suspiro profundo, carregado de uma insatisfação que transbordava de seu peito. — Sinto como se cada decisão, cada passo que dei, tivesse apenas me levado para mais longe da felicidade!

— Você foi incrível, mas não se pode controlar o destino. Se pudéssemos, não haveria sofrimento, não é?

— Mas para que serve um mundo feito apenas de sofrimento? — Ele soca o banco, os músculos do corpo tremem de frustração. — Tentei ser verdadeiro, não me deixei corromper pelo dinheiro, não cometi erros graves…

— Você está ignorando o que teve de bom…

— O que tive… foi tão pouco comparado ao que perdi. É como se eu tivesse perdido meu porto seguro. — Ele a encara, seus olhos vazios, sem o brilho de antes, sem a chama heroica. — Me dói saber que fui tão fraco, tão… covarde!

— Você não é…

— Não? Sinto um ódio esmagador, sinto todas as emoções que tentei ignorar me atingindo com força. E como pude fugir disso? Como pude achar que poderia escapar do meu próprio tormento? — Ele ri de maneira amarga, se erguendo com uma angústia visível. — Eu só quero… ir atrás do maldito demônio que causou tudo isso. Quero algo que vá além, algo que me permita superar e recomeçar…

— Um caminho sem amanhã? Arthur, você está exagerando… Todos perdemos algo! — Ela se levanta, segurando seu ombro com firmeza. Seu colar chacoalha enquanto a chuva começa a cair sobre sua jaqueta de couro. — Se você viver apenas buscando vingança, acabará perdendo a chance de ver a beleza deste mundo…

— Isso não me interessa… não agora, e talvez você esteja certa… Mas, Sofie, nem sempre escolhemos o certo, não é?

— Ah… — ela imediatamente se sente atacada, segurando no ombro, a verdade é que seria hipócrita, por melhores suas intenções. — Fui fraca, uma covarde… a verdadeira covarde… deveria ter dado a outra face, mas me rendi… já você é mais forte!

— Eu? Aí você se engana, eu não sou! — Ele fixa os olhos nos prédios ao horizonte, sentindo o peso de sua decisão. Ao passar pela ponte, ele se aproximaria dos arredores do grandioso domus-dei. — Vou buscar informações. Enfim, obrigado pelo seu tempo!

— Certo… mas… — Ela o observa de costas, a preocupação estampada em seu rosto. — Pensa um pouco, tá bom? Você é jovem, e a Yelena gostaria que você tentasse viver sua vida e se tornasse melhor a cada dia! — A garota se afasta, deixando suas palavras como uma última verdade antes de partir.

Memórias e momentos estão sempre à mercê dos sentimentos e de como escolhemos interpretá-los.

Esse desejo de fazer justiça não arde apenas em seu peito, mas também no peito daquele que jurou derrubar o messias…

Kryntt caminha pelos arredores, ao lado de Masaru, saboreando seu cappuccino favorito, ao leite.

— Ele escapa entre meus dedos! — desabafa Kryntt. — Se não fosse aquele demônio…

Masaru bebe uma lata de energético enquanto boceja, tendo acordado cedo e levado uma bronca de Kyotaka.

— Sabe, cabelo, eu penso comigo, esse Rasen é um fracote! — resmunga ele, vestindo os mesmos trapos da batalha, manchados de marcas e sangue. Todos que passam entre eles o olham com estranheza. — Se ele aparecesse na minha frente, seria um único golpe! — Sua confiança, como sempre, está excedente.

— Não duvido, mas ele não te enfrentaria… e eu quero acabar com ele pessoalmente! — Kryntt indaga. — O Hazan era praticamente meu irmão, e um desejo que carrego antes da morte é acabar com esse maldito!

— Ele é doido, mas não como eu, verdade! — Masaru ri. Então, ao virarem a esquina, deparam-se com uma barraca de cachorro-quente. — Mas enfim, vamos mudar de assunto? Que tal uma competição? Quem come mais cachorro-quente!?

— Ah, sério? Masaru? — Kryntt ri, rompendo a seriedade que mantinha. — Você não cansa de ser você, né? Enfim, por que não? Papai Kyotaka me deu folga mesmo…

— Folga? Aquele velho rabugento sabe o que é isso? — ele brinca, se aproximando com uma expressão travessa, enquanto puxa dez notas de mil ienes da carteira. — Me, vende esse carrinho e seu tempo, meu bom velhinho?

O vendedor, um homem de idade avançada com uma barba branca e um semblante de quem já viu de tudo, ergue uma sobrancelha, quase caindo para trás com a audácia do jovem.

— Dizem que ele trabalha há 150 anos… — Kryntt o acompanha na brincadeira, gesticulando exageradamente com uma expressão de espanto. — Que isso, cara…

O velho fica paralisado, seus olhos arregalados ao ver as notas. — D-dez… m-mil ienes!? — Ele gagueja, derrubando o pão que estava prestes a comer, fazendo o lanche se espalhar pela bancada. — É piada? Senhor?

— Não, estou falando sério! — o jovem coloca o dinheiro sobre a bancada do carrinho, seu sorriso travesso evidenciando um brilho desafiador. — Você vai vender só para mim e meu amigo, e se eu ganhar, eu te devolvo seu carrinho. Se for essa loirinha bonita… — ele aponta para Kryntt, que está parado ao lado, observando a cena com um misto de constrangimento.

— Ha! Há! — O rapaz ri forçadamente, pelo apelido inesperado. — Loirinha? Sério?

— Vamos detonar esse possante! — O jovem declara, batendo na lateral do carrinho e encarando o vendedor com um olhar determinado.

O velho, agora com um sorriso satisfeito, concorda com a cabeça, agarrando as notas e folheando-as com espanto.

— Fechamos negócio! — anuncia.

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