Com os papéis em mãos, atividades infantis…
— Alô? — Hugo atende, saindo do prédio.
A reunião terminou há alguns minutos, e ele está prestes a entrar em seu carro.
— Alô, meu caro amigo exorcista… aqui quem fala é o doutor Hermes! — A voz do doutor soa cruel e calculista, sempre assim quando está envolvido em seu “trabalho”. Hugo pode ouvir um bisturi rasgando carne de um infeliz do outro lado da linha. — Soube que sete exorcistas foram mortos ontem, é verdade?
— Ah, você… — Hugo se encosta na parede e suspira. — É… verdade… eram sete desertores que tiveram o azar de encontrar o Masaru. Por quê?
— Ué, por quê? — Hermes ri, o som insensível contrastando com o horror da cena. Aqueles corpos são mercadorias, como carne bovina, na mesa de um cozinheiro. Precisando usar as duas mãos, ele coloca o smartphone no ombro e continua a mutilar a carcaça de uma jovem decapitada, com os olhos da vítima arregalados em terror, sobre uma bancada às suas costas. — Quero fazer uma oferta: sete milhões de ienes pelos corpos!
— Ah, sete… milhões? — Hugo ri, incrédulo. — Onde arrumou essa grana, maldito? Até ontem, 700 mil ienes era difícil para você. Andou se prostituindo?
— Ah, digamos que resolvi renunciar a certas coisas… — Hermes despeja um balde cheio de órgãos em um aquário pequeno, seu sorriso revelando prazer. — Consegue?
— Ah, será bem difícil, mas não é impossível. Só que teremos que fazer uma garantia de danos e perdas… metade do valor adiantado?
— Você não joga para perder, né? — Hermes acena para um homem alto e forte, que luta para carregar o aquário. — Mas eu aceito. O ganho científico será cem vezes maior!
Alguns poucos se aventuram a ganhar dinheiro fazendo um trabalho sujo como aquele, mas nada pode ser dito; dinheiro não é fácil de se ganhar.
A brutalidade e o sofrimento de passar pelos próprios princípios são apenas uma parte do preço a pagar por um lucro manchado de sangue.
— Científico, é? — Hugo ri com desdém. — Se não fossem a maioria de garotos, diria que estava fazendo bonecas sexuais…
— Ha! Ha! — Hermes aperta um botão, revelando que a maçã é uma gaveta de uma câmara de cremação. As chamas começam a consumir os corpos, lançando um brilho infernal e uma fumaça espessa. — Você está sempre de bom humor. Está tomando bastante?
— Bastante… — Hugo observa as pessoas saindo, aquele vai e vem de exorcistas. — Enfim, eu te ligo assim que conseguir fazer o esquema, certo?
— Certo! — Hermes sorri sinistramente, observando a incineração completa. Agora, restam apenas cinzas sobre a maca e o cheiro de carne humana queimada paira no ar. — O tempo está em suas mãos. Sei que seus métodos são uma aposta já ganha!
Negócios, carne… são temas curiosamente presentes naquela conversa macabra e, estranhamente, também na mesa de Yami enquanto almoça ao lado de Shirasaki. O ambiente está carregado com uma calmaria nada comum, o som dos talheres tocando os pratos e o murmúrio de vozes abafadas ao redor parecem distantes, como se aquela mesa estivesse isolada em um mundo próprio.
Até que, enfim, ele responde…
— Sério!? — exclama, surpreso, enquanto leva um pedaço de carne até os lábios com o garfo. — Uma festa?
— É… vai ser uma festa de arrecadação — Amai explica, com um sorriso brincalhão. — Minha mãe está organizando com meu irmão, então será como uma das nossas missões… — ela brinca, e a cada garfada que dá, parece mais prazerosa do que a anterior.
— Hm — Yami murmura, mastigando lentamente enquanto pensa.
— Você… até que manda bem na cozinha, hein! — comenta Amai, piscando para ele.
— Obrigado, mas, sério? Exorcistas fazendo trabalho social… por que você não lidera a ordem? — Yami retruca, o tom carregado de ironia, enquanto pega sua taça de vinho cheia até a borda. — E precisava de tanto vinho? — completa ele, erguendo a sobrancelha ao observar o líquido escarlate.
— Só se vive duas vezes… — Amai responde com um brilho travesso nos olhos, antes de levar a taça aos lábios e tomar um longo gole. — Vamos, Yami, você não fará nada de importante e precisamos de uma pausa dessa loucura toda, como hoje, certo?
Ele olha para ela, hesitando por um momento, então solta um suspiro de rendição.
— Tanto faz… — cede finalmente. — Mas você vai ter que pagar!
— Você está se vendendo? — provoca.
— Ué, pelo menos quero ganhar uma grana, pô! — ele responde sem rodeios, levantando-se com o prato vazio na mão. — Vou pegar mais!
— Hm… certo! Eu pago! Mas você vai ter que beber o vinho — ela diz, olhando para a taça e depois diretamente para os olhos dele. — Pelo menos metade!
— Droga… Já não me viu uma vez bêbado? Quer ver de novo? — resmunga.
O álcool consegue transformá-lo de uma maneira que ele odeia; sempre o faz dizer demais, e o que seria demais para alguém tão inconveniente como ele?
Cada gole que ele pode dar é um passo rumo àquela vulnerabilidade que ele tenta esconder de todos, especialmente dela.
— Achei tão fofo, então, vai! — Ela se ergue, os olhos cintilando com uma mistura de malícia e desafio, terminando de beber sua taça em dois únicos goles, como se desafiar o próprio álcool fosse uma arte que ela domina. — Você vai mesmo ser um covarde? — continua, a voz doce, mas difícil de ignorar, cada palavra uma isca bem lançada.
Ele bufa, passando a mão pelo rosto como se tentasse limpar um pensamento indesejado.
— Você é tão chata, cara… — diz, a exasperação patente na voz. Mas o desafio está lançado, e ele não é de recuar. Agarra a taça com firmeza, os dedos tremem levemente, fechando os olhos como se se preparasse para enfrentar um inimigo monstruoso — e talvez seja mesmo. O monstro que ela é, o monstro que vive dentro dele, esperando para ser liberto pela embriaguez. — Vamos lá! — exclama, quase gritando, e começa a beber.
Goles largos, desesperados, que mais parecem uma tentativa de apagar algum incêndio interno. O líquido escorre pelo canto de sua boca, manchando sua camisa, mas ele não se importa; cada gole é uma pequena vitória contra o bom senso que o impede de ser ele mesmo.
Ela ri, batendo palmas, os olhos brilhando como se estivesse diante do espetáculo mais emocionante de sua vida.
— Aí sim! — exclama, o sorriso travesso se alargando quando ele, sem qualquer vergonha, solta um arroto alto. — Contrato firmado, meu caro! — Ela estende a mão, como se selasse algum acordo diabólico.
Ele, no entanto, a ignora completamente, virando-se para a cozinha, com o rosto emburrado.
— Você é pior que um demônio! — resmunga.
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