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Ao passarem pela entrada, chegam ao salão, o coração do principado, onde as questões de “política” e “justiça” são tratadas entre os demônios.

— Ora, se não é o lobo negro Mael e o assassino de sua família, Gallael! — A voz ecoa pela câmara sombria, vinda do demônio que se ergue imponente diante de sua tribuna. A atmosfera é densa e sufocante, vibrando com a tensão de um tribunal, como se fossem condenados.

As paredes de pedra negra estão marcadas por símbolos arcaicos, cada um representando um dos príncipes e princesas descendentes dos demônios reis. Isso contrasta com a madeira avermelhada que compõe os assentos, o palco e as mesas, onde o júri e as testemunhas se posicionam.

Arrancadas da floresta, que cresce a partir do sangue das almas torturadas no desfiladeiro dos deicidas.

A plateia? Uma multidão sinistra de demônios, que permanece em um silêncio espectral. Seus olhos, pontos carmesim brilhando na escuridão, estão fixos nos dois acusados no centro do palco, sob o olhar implacável dos três demônios à frente.

Embora sejam poucos, seus olhares são como lâminas afiadas, carregados de julgamento e ódio.

Astael, aquele que profere as palavras de boas-vindas, destaca-se com uma presença avassaladora. Seu assento está elevado acima dos outros dois, um à sua esquerda e outro à sua direita, quarto e quinto mais poderosos.

O demônio veste um manto nobre, com cabelos negros que caem até os ombros. Sua pele é pálida, os olhos vermelhos como vinho, com veias escuras como o breu. Seus chifres, semelhantes aos de um alce, têm três pontas.

Ele é o último dos filhos de Bezeel, o único sobrevivente de sua linhagem, e se torna o líder interino do principado após a reformulação do império das trevas, que se segue após as quinhentas passagens de breu eterno, já que os únicos superiores a ele em poder foram banidos.

Agora, governa com mãos de ferro. Não é mais apenas o príncipe de sua casa, mas uma figura temida por seus feitos. Ele observa Gallael com um sorriso cruel nos lábios, como um predador prestes a despedaçar sua presa.

Indiretamente, é seu rival…

— O que desejam aqui? — Cada palavra que profere ressoa como um golpe de martelo, enquanto a escuridão ao redor parece se fechar.

Como se o próprio ambiente quisesse engolir a alma daquele que ousa enfrentar seu julgamento.

— Parece que nem todos os filhos de Bezeel foram executados? — murmura Mael com um tom ácido, suficientemente incômodo. — Isso aqui está parecendo um trabalho de escola… Quando Liliel era a líder, as coisas eram mais decentes… — Ele se diverte com a situação, braços cruzados, sabendo que ninguém ousaria bater boca com ele.

— É mesmo? Minha gestão não te agrada, meu lorde? — Força as palavras entre dentes cerrados de raiva.

Mas o rei apenas o responde com um aceno de cabeça e um sorriso satisfeito nos lábios.

“Esse moleque se veste bem, admito!” 

Pensa, notando que suas vestes são tão refinadas que o sofrimento para alcançá-las deve ser tão grande quanto a beleza que exibem. 

Seus olhos, por sua vez, revelam a cobiça do mundo.

— Astael, quanto tempo, traidor! — devolve Gallael, brandindo sua lâmina. Após girá-la em suas mãos, finca-a no chão com firmeza, impondo seu lugar e desafiando o poder da tribuna. — Trago as ordens de meu pai! Venho recrutar quatro ou cinco demônios, marqueses, condes ou membros do principado! — Sua voz é autoritária, o suficiente para arrepiar cada demônio presente. Ele é conhecido como aquele cuja lâmina ceifou mais de cinquenta demônios originais.

Isso faz com que o demônio desvie a atenção de Mael e se concentre em Gallael.

— Não tenho tempo para discussões bobas, não hoje!

— Vai usar o nome de teu pai? Ora, não és um demônio honrado que já foi parte do principado, quase líder?

Ele bate os dedos com unhas afiadas na mesa de madeira escura à sua frente. O som seco e cortante ressoa pela câmara silenciosa, acompanhado por uma risada de raiva. É desconcertante não poder cortar suas gargantas. 

Seu nervosismo é palpável em seu olhar, refletido na tensão de sua postura diante do segundo maior príncipe demoníaco da história. Tentando dominar a situação, ele suaviza sua expressão para algo mais calmo. 

— Mas, se são ordens de meu senhor, alguém deseja se unir a estes dois traidores?

Ninguém levanta a mão.

Mael, então, bate os pés com impaciência, o som ecoando pelo salão, seu semblante exalando uma mistura de raiva e impaciência.

— Ninguém? Sério? Será que terei que recrutar vocês na base da força!? — Sua aura se intensifica, fazendo com que todos se tornem visivelmente nervosos. Alguns se erguem, mas parece que estão mais decididos a fugir do que a se alistar. — Darei dez segundos…

É o tempo necessário para que duas mãos se ergam, fazendo com que o líder engula em seco a piada que está prestes a soltar.

Então, ela se manifesta:

— Jahiel, marquesa da casa de Leviel! — A demônia os encara com um misto de nervosismo e coragem, não pelo medo, mas pela bravura de se oferecer. — Quero sair desse buraco! — Ela recebe um olhar de interesse do rei, que sorri de lado, satisfeito com seu pronunciamento.

É uma bela dama demoníaca, vestida com um elegante vestido azul-claro. Seus olhos são vermelhos, seus cabelos castanhos escuros, e suas imponentes asas dracônicas se destacam com majestade.

E, em segundos após, quando a voz doce e sedutora de Jahiel cessa, uma voz mais velha e rouca ecoa:

— Beheel, conde da antiga casa de Azaael! — gagueja o grandalhão, um demônio de cinco metros de altura. — Quero me redimir dos erros da minha casa e, meu rei…

Ele ocupa o espaço de até cinco demônios comuns, é careca, com dentes caninos afiados que se destacam de seus lábios e dois chifres de búfalo. Traja uma veste negra que acentua sua imensa presença.

— Só isso? — grita o demônio-rei, sua voz ecoando de forma tão intensa que parece ameaçar desabar o local.

No principado, não há como parar ou tentar impor respeito apenas com um título; é como um distintivo, insignificante diante da verdadeira força e autoridade.

— Moloel, da casa de Asmael! — anuncia outro demônio logo em seguida, segurando no ombro do demônio ao seu lado. — E Vassael, meu irmão mais novo! — continua, falando por ele. Seus olhares se cruzam. Vassael exibe uma mistura de indiferença e surpresa, embora não ouse contrariar o irmão.

— Irmão…

— Estaremos honrados em fazer parte! — corta o mais velho, batendo a mão no peito. Pelo traje negro que usa, fica evidente que é um guerreiro, determinado a levar seu irmão pelo mesmo caminho.

Uma risada quase inaudível escapa dos lábios de Astael.

— E qual será a missão desses bravos demônios? Podem nos dizer? — Ele tenta recuperar sua importância, lançando-lhes um olhar de inimizade que parece atravessar mundos.

— Se sua opinião importasse, sim! — Gallael responde, virando-se. Com um gesto de mão, sua espada se desfaz no chão e se materializa em sua mão. — Me sigam! Trataremos das demais questões em Crea!

Os quatro estão prestes a seguir em frente quando o líder do principado faz um gesto com a mão.

— Já? Por que não ficam para um banquete? — Ele abre os braços, gesticulando para a plateia. — Seria nossas boas-vindas para eles, ex-traidores! — Seu olhar se afia, carregado de uma intenção oculta.

Eles podem sentir a tensão no ar, mas, apreciando aquele clima caótico, Mael decide trair a liderança do príncipe.

— Por que não!? — exclama, com um sorriso malicioso. 

Ele só quer ver o caos se intensificar.

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