Kyotaka está impaciente para sair dali, sentindo-se cada vez mais sufocado pelo incessante som das teclas que ecoa como uma tortura sutil.
Ele se inclina ligeiramente à frente, tentando finalizar a conversa:
— A Igreja de Elum é um motor poderoso, mas como bem sabe, segue uma das regras do Eluminismo… Não é uma empresa, mas um estilo de vida que prega a fé e a servidão a um propósito maior. Seiji Watanabe, o atual líder religioso, não se dá bem com políticos… mas posso conseguir uma reunião, satisfeito? — Há um tom de urgência em sua voz, quase uma súplica para encerrar aquele encontro indesejado.
Shinzo, por sua vez, mantém a calma mesmo diante de mais um não, mas há um brilho nos olhos que sugere algo mais sombrio; ele está insatisfeito por suas súplicas terem sido um fracasso.
E em resposta a sua impaciência, se levanta lentamente, como se estivesse deliberando cada movimento.
Seus olhos vagam pelos antigos retratos dos líderes que ocuparam a mesma posição antes dele. Quando finalmente fala, sua voz carrega um peso que quase parece uma ameaça velada:
— Entendo, bem… então por favor! Marque uma reunião com ele e, há só mais uma coisa! — Ele se volta para Kyotaka, lançando-lhe um olhar de soslaio, como se tentasse decifrar o que realmente passa por sua mente. — Quero que entenda que estou fazendo o bem para o povo e satisfazendo o império. Diferente desses líderes… eu não apontaria uma faca à sua cabeça. Pelo contrário, estou dando uma saída e tentando tornar o dever da ordem em algo sustentável… — Há uma tentativa de justificação em suas palavras, como se temesse que o visse como um inimigo intransigente.
Doces mentiras, que caem da macieira, mas são maçãs amargas.
O líder dos nove sabe e se ergue, sentindo um alívio momentâneo ao perceber que a reunião está finalmente chegando ao fim, mas não pode deixar passar a oportunidade de dar o último golpe verbal:
— Olha, governador, não me leve a mal… — sua voz é um misto de exasperação e cansaço, — Mas você é só mais um homem que tentou controlar esta organização. Não sei se leu os livros de história, mas houve tantos… Alexion, Khanor, León de Bonair… — Ele deixa essas palavras no ar, sabendo que elas atingirão o ponto sensível do governador.
Que de resposta, solta uma risada amarga, uma que transparece a amargura de alguém que já sabe o desfecho antes mesmo da partida de xadrez terminar:
— Entendo… você me vê como eles?
Kyotaka inclina levemente a cabeça, estudando Shinzo com um olhar desconfiado:
— Não, você é alguém incapaz de fazer o que tentaram, mas… percebendo pelas suas respostas e afirmações, você não está muito atrás de seu imperador. O jovem Yasuke não possui suas habilidades de argumentação e persuasão! — As palavras, elogios ou acusações, são seguidas de uma batida de palmas, um som que reverbera pela sala com um eco incômodo, ele está sendo o mais irônico que pode, transformando o momento em algo estranhamente constrangedor. — Mas o que vejo de cruel em você, que vejo em todos esses líderes, é que você, o imperador e a família real querem armas para confrontar os reinos vizinhos, estou errado!? — Ele coça a barba enquanto o acusa, e o escrivão, como se estivesse esperando por aquele momento, sai da sala após uma discreta confirmação de Shinzo.
Que avança um passo, e os dois agora estão separados por apenas alguns centímetros, onde um mapa detalhado da Aija política estende-se na parede, entre seus rostos.
— As tensões estão cada dia maiores… estou errado? — Ele aponta para o mapa, seus dedos traçando as fronteiras que separam a capital de suas colônias, os famosos países-estados. — Como León de Bonair… quero ter uma moeda de troca e unir esta nação!
— Moeda de troca? Como?
— Paz por paz! — parece simples e até infantil quando diz, — Sei que é uma ideia bonita… mas dessa forma, seria a única que garantiria que fosse duradoura! Pois só se consegue com o poder!
Kyotaka assente lentamente, percebendo o quão profundamente Shinzo está envolvido em seus próprios planos de poder e controle.
Está lidando com um homem que acredita que a força é a única linguagem universal.
— É uma forma justa de pensar. Enfim, é bom saber que você não vai tentar disfarçar — fala, fixando seus olhos em direção à porta, a ansiedade para deixar aquele ambiente evidente. Nesse instante, dá as costas para ele, o líder que se vê mais como um obstáculo do que como um aliado. — Repasse como será distribuído o pagamento, o sistema e a forma de uso para a administração da ordem. Estamos acabados?
A pergunta fica no ar, densa como uma sombra que se recusa a dissipar. Por um instante, o silêncio domina a sala, quebrado apenas pelo som abafado dos passos de Kyotaka.
— Cabeça dura… — ri baixinho, observando-o caminhar até a saída. Então, ergue a mão em um gesto inesperado de despedida. — Mas, certo, nós falamos depois… OK? E também espero que você mude de ideia! — Suas palavras carregam um tom ambíguo.
Ameaça ou, uma prece?
Mas é totalmente ignorado, e assim que a porta se fecha com um estalo seco, um alarme interno soa na mente de Kyotaka. Ele sabe que, apesar das aparências, o que ocorreu ali não foi uma simples troca de palavras.
A política que eles lidam é de uma natureza profundamente distinta. Ele é um líder, sim, mas mais do que isso, ele se vê como um guia, alguém que busca a ordem e a prosperidade não pelo poder, mas pelo bem maior. Lidera com a intenção de preservar e proteger, mantendo sempre a moralidade e a justiça como seus faróis.
Shinzo, por outro lado, é a peça mais estratégica do imperador, o agente que faria qualquer coisa para garantir que os desejos de seu senhor e dele fossem realizados. A frieza em suas ações, a maneira calculada com que ele move suas peças no tabuleiro político, indicam uma determinação que não conhece limites morais.
Para o governador, o fim justifica os meios, e ele está disposto a sujar as mãos, se necessário.
E enquanto o líder dos Nove caminha pelo corredor escuro, imerso no vai e vem dos funcionários públicos, seus pensamentos giram em torno da mesma questão perturbadora: “O que ele fará?” A dúvida corrói sua mente como um veneno lento, pois ele sabe que, embora tenha seus próprios princípios, enfrenta uma força que não hesita em ultrapassar qualquer limite para alcançar seus objetivos.
Justo agora, que o apocalipse bate à porta…
A resposta, contudo, permanece incerta, escondida nas sombras que agora o acompanham.
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