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Alternando ataques numa frenética dança de luz e escuridão, os anjos avançam. Suas asas batem violentamente contra o vazio infinito do espaço, impulsionando-os adiante.

O silêncio do vácuo é quebrado apenas pelos sons abafados dos impactos brutais e pelo sibilo cortante dos feitiços, outrora graciosos, agora malditos, que dilaceram o tecido da realidade, forçando o inaudível a se tornar audível.

Enquanto a presença maligna do demônio se torna cada vez mais distante e inalcançável.

“Será tão impossível assim? Acaso deixamos escapar algo?”

Uriel pondera, seu olhar afiado como uma lâmina de luz atravessando a escuridão no horizonte. Sente a fúria pulsando em suas veias celestiais, seus golpes agora imbuídos de uma força incomparável, capaz de dilacerar até mesmo a carne do verme, como a lâmina de sua companheira.

O espaço ao redor deles transforma-se em um campo de batalha, iluminado apenas pelos lampejos umbra dos disparos negros que o demônio conjura. São esferas de trevas condensadas, lançadas como projéteis amaldiçoados, que atravessam o vácuo e deixam rastros de pura inexistência.

Quanto a eles, lutam desesperadamente para se defender. Ele conjura uma barreira de luz que treme sob o impacto devastador dos ataques de escuridão.

“E se for isso?”, Uriel pensa repentinamente. “E se ele estiver apenas zombando de nós, desviando nossa atenção do verdadeiro perigo?” Mas antes que possa aprofundar esse pensamento, outro disparo negro rasga o vácuo, forçando-o a desviar e sua parceira a erguer sua espada de luz para bloquear o ataque.

— Uriel? — indaga ela, pousando em meio a um destroço flutuante, o corpo tremendo após aguentar o impacto do ataque e o partir, com o fio de sua lâmina. — Já observaste a aura desse demônio? Há algo… estranho. Uma inconsistência, como se…

— Estivesse fragmentada? — responde de imediato, seus olhos brilhando com o movimento ágil. Com um giro rápido de seu bastão, ele conjura uma nova barreira de luz, que treme sob o peso dos ataques incessantes, mas permanece firme, repelindo os raios negros que surgem do vazio, rasgando o vácuo por obra do verme. — Percebi isso assim que ele cessou sua encenação!

— Essa pode ser a nossa chance — diz ela, sua voz carregada de determinação. — Se ele está fragmentado, talvez possamos…

— Explorar as falhas! — completa Uriel, enquanto outro ataque se aproxima.

E em resposta, ele intensifica o movimento de seu bastão, sentindo a energia celestial fluir por meio de si, transbordando.

— Precisamos agir rápido. Cada segundo conta!

Os raios abissais continuam a bombardeá-los, tentando ceifá-los a cada oportunidade. O espaço ao redor vibra com a energia das explosões, o vácuo carregado de eletricidade negra e faíscas de luz divina.

“É bizarro!”, exclamam seus pensamentos. “É, difícil de admitir, mas sinto que estou sendo manipulada como uma peça em um jogo perverso…”

Ela fixa o olhar no vazio, onde a silhueta do demônio se dissolve e reaparece como um pesadelo fugidio. Apesar dos ataques incessantes, percebe o motivo: o demônio tenta, sem sucesso, curar seu braço cortado, enquanto uma nova remessa de trevas emana dele.

“Há um conflito de ações. Ele nos retarda enquanto tenta nos destruir! Como uma entidade superior, até mesmo os danos que causei nele desafiam a lógica de causa e efeito!”

Compartilham esse pensamento ao unir suas mentes através da luz.

Mal sabem que… Bezeel é um dos efeitos colaterais de Luciel, um vestígio de sua tentativa de reescrever os destinos. Ao tentar manipular a realidade para obter seus próprios fins, ele criou incontáveis versões de si e dos outros, fragmentos de sua própria essência. Em certo instante, Bezeel assimilou sua existência a de todas as versões de si, criando quem ele é hoje, ninguém.

E esses fragmentos, como sombras espreitando nos recantos mais profundos da existência, se unem em uma fusão macabra, criando um ser singular, uma aberração. Ele é um, mas dentro dele ecoam os gritos de milhões de almas conflitantes, todas aprisionadas em uma mente caótica, rasgada entre a bestialidade e o desespero.

Sua presença é um pesadelo encarnado, e Uriel, sentindo a pressão sufocante daquela aura abissal, recua por um momento, tentando encontrar uma fraqueza, um deslize. Enquanto as falhas do demônio perpassam sua mente, Uriel desvia de uma rajada negra que rasga o espaço ao seu redor como uma lâmina afiada. Seu bastão celestial mal consegue conter a força abismal daqueles ataques, cada um deles devorando a luz ao redor e tornando o demônio ainda mais forte, mais faminto por destruição.

O demônio gargalha, uma risada que ecoa pelo vácuo, profunda e ressonante, impregnada de um deleite cruel, como se estivesse saboreando o medo que emana deles.

— Eis que, porventura, será por isso que ele se faz tão poderoso? — murmura Uriel, com uma voz pesada de realização, enquanto seus olhos se estreitam ao perceber que a aura abissal do verme não apenas emana poder, mas também o alimenta incessantemente.

— Urge que tomemos ação com presteza — responde ela, seu olhar fervendo de determinação, trêmula de urgência. — Antes que ele nos devore em sua loucura e arraste todo o mundo ao abismo! Já não se trata de mera vingança!

— Nunca o foi… mas insensatos fomos em crer que assim poderia ser… — As palavras carregam o peso da verdade amarga. Com um movimento arriscado, os dois se unem em uma tentativa desesperada. O espaço ao redor deles parece distorcer-se quando a anjo corta o vazio, trazendo-os para perto do demônio. Uriel brandia seu bastão, a arma sagrada zumbindo no ar antes de encontrar o erro; o demônio se move rápido demais, como se tivesse se teleportado, e com um movimento cruel, ele perfura o peito de Uriel, saboreando o impacto.

— De novo!? — urra Uriel, enquanto sangue azul escorre de seus lábios, suas mãos tremem enquanto tenta, em vão, canalizar sua luz celestial. Mesmo a curta distância, sua força vacila, e o demônio reaparece atrás de sua companheira, disparando trevas que a atingem em cheio.

O poder sombrio dele cresce, tornando-se uma escuridão ilimitada, insaciável.

— Acho que tomarei o título de Azaael, eu me tornarei o verdadeiro caçador de anjos! — o demônio ameaça, seu corpo irradiando uma esfera colossal de trevas, — E com esta, destruidora de mundos!

Ele extrai todo o potencial do breu, limitando a energia neutra a meros 0,001%.

Naquele instante, veem a diferença; antes, eram apenas um, e agora, nem mesmo dois…

— Merda… — sussurra ela, ajoelhada, seus pés fincados sobre o corpo do verme que cresce a cada segundo, devorando tudo ao redor, composto por um breu escorregadio e lustroso, com ramos de escuridão que se assemelham a pelos. — Uriel, seremos compelidos a realizar algo… desprezível!

— Nada é desprezível, se for em nome de um propósito maior! — responde Uriel, para quem o amargo fato de estarem prestes a abraçar não é mais do que uma obrigação de sua existência. Levantando-se com um esforço hercúleo, ele solta um grito que ressoa no vazio, liberando um feixe de luz que se propaga como um eco, apenas para ser engolido pela devoradora de mundos.

Enfim, ele dispara… Ao mesmo tempo, o anjo crava sua espada no verme, seu corpo tremendo ao liberar um suspiro pesado. Ela olha para seu aliado, seu companheiro, um último olhar antes que a escuridão o apague da existência… a mesma escuridão que selará seu destino também.

Um silêncio pairou após o estrondo inaudível do impacto.

E ao fim, só resta ele. Três núcleos, agora inertes, que antes pulsavam com a energia vibrante da vida, pairam no vazio. Um fragmento de breu, denso como a noite sem estrelas, e dois de luz, brilhando com um brilho suave, mas cada vez mais fraco, como se fossem as últimas brasas de uma fogueira prestes a apagar.

Eles se sacrificaram. Em um ato de desespero e coragem, suas essências se uniram para findar o verme, uma criatura de escuridão sem limites, que devorava tudo em seu caminho.

O avanço devastador é interrompido, o caos para por um instante que parece eterno. Mas, mesmo diante do término de tantos corpos celestes, em seus olhos profundos, a fome de destruição persiste.

Não há satisfação, apenas um vislumbre… um reflexo distorcido de uma fome que nunca será saciada, uma sede insaciável por existência, como se a destruição de parte do mundo fosse apenas um prelúdio para algo ainda mais sombrio e caótico…

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Olá, eu sou David C.O!

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