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Ao término de sua obra, Regnum viu a mão de seu senhor descer dos céus, atravessando as barreiras invisíveis que dividiam o mundo e suas partes. Quando tocou o chão, a mão divina moldou os primeiros seres humanos: um homem e uma mulher.

Regnum contemplou com reverência a criação do único ser capaz de unir mente, alma e corpo em harmonia, e, por meio dessa união, gerar vida. Ele observou com fascínio os primeiros humanos, prontos para explorar e habitar o paraíso que ele havia criado.

Eles foram chamados de Imus e Ima. Regnum, afastando-se deles para não os assustar, os observou à distância, com curiosidade e cuidado. Com o passar do tempo, o primeiro dia chegou ao fim, e graças a Lucis, seus filhos Aurora e Nox agraciaram a humanidade com o ciclo da luz e da escuridão.

Aurora trazia o brilho suave do amanhecer, iluminando o mundo com tons quentes e suaves, enquanto Nox trazia a serenidade da noite, envolvendo o mundo em escuridão e silêncio. Assim, os humanos passaram a viver em harmonia com o ciclo diário, guiados pela luz da Alrilum e por seus filhos.

Aeum, a guardiã do espaço-tempo, abençoou os humanos com o surgimento dos animais e das sementes frutíferas, proporcionando-lhes alimento e sustento.

Enquanto os apóstolos ofertavam dons aos humanos, Alum, o senhor das trevas, os observava com aversão. Aos seus olhos, eles eram insignificantes como poeira. Tomado por seu poder, ele concebeu a morte para a humanidade, trazendo o fim inevitável para suas vidas.

Nas profundezas de Crea, ele também criou o Limbo, um domínio sombrio e desolado, oposto ao paraíso. Destinado aos que não encontravam seu lugar no paraíso, o Limbo era uma terra de sombras e incertezas, uma armadilha destinada aos erros futuros daqueles seres, um contraste ao mundo harmonioso que Regnum havia criado para os humanos. 

Assim, o Limbo se tornou uma parte essencial do equilíbrio entre vida e morte, graças à esperança de seu criador.

Com o tempo, os humanos começaram a dominar os arredores de onde surgiram. Eles encontraram sustento na carne dos animais, e as peles lhes ofereceram alívio do frio da noite. Ao colher e comer as maçãs das árvores, adquiriram conhecimento e começaram a desvendar os segredos e complexidades daquele mundo.

A humanidade trilhou um caminho de crescimento e aprendizado, expandindo sua compreensão do universo à medida que progredia.

Mas, em meio a esse progresso, Alum, ajoelhado diante de seu senhor, clamou em frustração:

“Clamo a Ti, ó Supremo, na vastidão da existência: ‘Por quê? Por que minha força parece uma miragem diante de Ti? Por que a ousadia me escapa como o vento ao cair da noite? Por que não posso almejar o auge de Tuas obras?

Fizeste-me com Tuas mãos divinas, moldando-me à Tua imagem, mas ainda assim sinto-me como um eco distante de Tua grandiosidade. Por que, então, me fizeste forte, mas frágil, eterno, mas efêmero?

Se sou como os vermes que rastejam sobre teu paraíso, por que, ó Criador, me deste o desejo de ser como Tu? Responde-me, Senhor, e concede-me sabedoria para entender o propósito de minha essência.”

Sua voz reverberou pelas terras vazias do deserto, e a escuridão ecoou sua angústia, clamando junto a ele com uma paixão sombria.

Então, a voz de Elum se fez ouvir:

“Alum, ouve-me agora: Eu te formei com meu próprio sopro e te dei a liberdade de escolher. Se desejas trilhar um caminho distante de mim, saiba que isso também faz parte do plano que tracei.

Não temas buscar tua própria verdade, pois até mesmo na rebeldia e na dúvida há espaço para crescer e aprender. Sei que dentro de ti há questionamentos e anseios, mas entenda que, mesmo ao desafiar-me, estás moldando tua própria jornada.

Vá, então, e encontra tua verdade, mas lembre-se de que estou sempre presente, mesmo quando pensas ter me deixado para trás. Descubra o que procuras, mas jamais perca de vista o vínculo que nos une.”

A resposta de seu senhor encheu o coração de Alum de ódio. Em um ato de traição, ele transformou a morte, que havia concebido, em uma arma: a foice Interemptrix Apostolorum. Com um único movimento, ele tentou partir o pilar de luz, mas o pilar não cedeu, nem pareceu sentir o ataque.

Aquele pilar era eterno. Ele, não…

Consumido por um ódio crescente, Alum retirou-se para as profundezas das lacunas, distanciando-se dos demais apóstolos. Escolheu viver isolado, mergulhando ainda mais em sua própria escuridão e ressentimento.

Sua aversão à luz e à criação aumentou à medida que se afastava dos outros apóstolos. Olhava para o breu, mas nenhum breu refletia quem era; apenas o fortalecia.

Chamado de caído, observou o mundo florescer. Das profundezas da escuridão, ele viu os humanos dominarem a arquitetura e a filosofia, assistindo ao desenvolvimento de sua sociedade e conhecimento.

Mas, eventualmente, ele se cansou de esperar. Após novecentos e noventa e nove ciclos de dia e noite, rasgando os limites entre o astral e o físico com sua lâmina, ele desceu sobre Crea como um meteoro, atravessando os céus e atingindo as águas com uma força devastadora.

Seu impacto feriu o firmamento, fazendo chover sangue sobre o mundo, e ele trouxe consigo brasas negras que caíam dos céus como chamas de destruição.

A presença do caído trouxe caos e devastação, perturbando o equilíbrio que Regnum havia criado. Seu ódio e ressentimento se manifestaram nessa queda, e a chuva escarlate tornou-se um símbolo de sua fúria, marcando o início de um período sombrio para os habitantes do paraíso. Aquele dia ficou conhecido como a queda do dragão, o apóstolo que virou, o inimigo de seu próprio senhor.

“Inimigo”, ele se chamava assim… Mas para Elum, era apenas um capricho de sua obra.

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Olá, eu sou David C.O!

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