Chegando à rodovia, Arthur desce do táxi com uma expressão vazia e distante.
O local está um caos, mesmo que o pânico já tenha se dissipado há muito tempo. Troncos imensos, arrancados de suas raízes pela força brutal do embate, estão empilhados ao lado da estrada, o que foi possível remover da densa floresta que cerca a rodovia.
O rapaz parou no meio-fio, sentindo o vento frio e cortante bater contra seu rosto. A luz do crepúsculo tinge o céu com um tom alaranjado inquietante, enquanto nuvens pesadas se amontoam como presságios de uma tempestade iminente.
A chuva ainda está fina, prometendo cessar ao amanhecer.
E uma faixa amarela, gasta e trêmula ao vento, bloqueia a passagem para quem pretende a desbravar, um aviso desesperado para os incautos: a qualquer momento, aqueles troncos gigantes e danificados podem cair, esmagando qualquer um que ousar desafiar a sorte.
— Então é aqui… — murmura, com a voz carregada de um peso que parece muito maior do que simples palavras podem suportar. Enquanto o táxi parte logo em seguida, o motorista ciente de que deve retornar em uma hora, exatamente como haviam combinado, mas a sensação é de que essa promessa é uma aposta ousada contra o destino.
Nada é certeza… não em sua mente, desconfiada e atormentada…
A sorte é que o vai e vem de veículos é menor; é um dia com pouco fluxo.
O silêncio que o envolve é quebrado apenas pelo voo sinistro de corvos que circulam acima de sua cabeça. Seus gritos roucos parecem risadas cruéis, como um presságio sombrio de que a morte já passou por ali — ou talvez ainda esteja presente, escondida entre as sombras da floresta.
Sabendo disso, o exorcista começa a vasculhar a área, e uma aura poderosa emerge ao seu redor, fervente.
Ele está pronto para captar cada mínima vibração, cada resquício de energia que ainda possa existir naquele local. Cada passo que dá é como se estivesse caminhando sobre o fio da navalha, alheio ao mundo externo, avançando até o centro da estrada, onde os lados opostos se encontram em um cruzamento.
“Yelena…”
O nome ecoa em sua mente, um sussurro profundo que reverbera em seu coração.
É então que ele percebe: partículas de uma aura familiar pairam ao redor, congeladas no ar como fragmentos de uma alma partida.
São seus fragmentos.
Suas lágrimas, que ardem com uma intensidade quase insuportável, evaporam antes mesmo de tocar suas bochechas, dissipando-se no calor que emana de seu corpo. Ele fecha os olhos, sentindo cada centelha restante daquela energia se desvanecer lentamente… É como segurar a mão de alguém no instante final, sabendo que o toque será breve e a despedida eterna.
Os últimos vestígios de alguém… Para um humano comum, esse rastro se desvaneceria em minutos; para um exorcista mediano, em horas… Mas para alguém poderoso, as marcas de uma vida podem persistir por semanas, ecos fracos de uma existência que já se foi.
Ele sente os últimos fragmentos o guiarem, e ao abrir os olhos, vê o rastro… um caminho que se estende da floresta a sua frente até o horizonte, desaparecendo entre as nuvens do firmamento.
É como um chamado, que ele atende imediatamente…
Desbravando a floresta, o rapaz avança e, em poucos minutos, chega ao litoral. Naquela área, o terreno é mais plano, com pouca mata ao redor. Sujo de terra e folhas, com os cabelos e o rosto marcados pela pequena jornada, sua mente está desligada da razão, movida apenas pelo impulso de encontrar um vestígio, talvez uma verdade ilusória.
No oceano, o céu se reflete como uma tela de um artista, pintada com as cores da natureza.
E ele caminha até que seus pés estejam imersos nas águas salgadas, sentindo uma vibração sob a pele, como um chamado distante. Seria apenas sua mente, ou algo real?
A água começa a ferver ao seu redor, mas ele continua a avançar… afastando a vida marinha de suas proximidades.
“Se ao menos… eu pudesse encontrar seu corpo, ao menos te dar um enterro digno!”
Decide, fixando essa intenção em sua mente.
Ele não cessaria sua busca até encontrar algo que fosse além de um vestígio. Precisava das provas, de vê-la sem vida, de sentir os ventos do furacão baterem contra seu corpo e, talvez, o derrubar de vez.
Ele era agora, somente vítima do desespero, e… em Nova Tóquio, Gabriel desbrava os corredores do hospital. É o segundo em menos de dez dias, um tempo recorde até para ele. Passa por inúmeros feridos, pessoas humildes, incapazes de pagar por cuidados urgentes, e se dirige ao balcão hospitalar.
— Ordem Espiritual… Sou Gabriel Souza, exorcista e político. Gostaria de ver dois pacientes, por favor! — declara a uma mulher vestida de uniforme branco. Os olhos castanhos dela, ligeiramente envergonhados, se erguem para encontrar o rosto de Gabriel.
— Certo, senhor Souza. Quem deseja ver? — ela pergunta, pegando a papelada e se preparando para registrar a visita.
Dividindo a atenção entre o computador à frente de seu rosto e o exorcista.
— Satoshi Shibata e Sofie… são dois jovens, uma garota loira e… — ele começa a descrever, detalhe por detalhe de cada um, quando…
— Certo, senhor Gabriel. Eles estão na ala dois, quarto 8, macas A e D! — ela o interrompe, com um sorriso nervoso nos lábios, talvez seja seu primeiro dia ali. — Algo mais, s-senhor? — sente cedo um amargo, como se tivesse tido pressa demais nas palavras e atropelado o bom senso.
— Ah, não… Certo. — Gabriel se vira, notando que à sua esquerda está a ala 2 e à sua direita a ala 1. O prédio tem quatro andares, totalizando oito alas. Apesar da movimentação de pessoas, o local é impecavelmente limpo e bem organizado. A grande capital sempre mantém esse padrão nos bairros mais ricos, como aquele. — Obrigado! — acrescenta antes de seguir em direção aos quartos.
Ele está nervoso; hospitais lhe dão quase tanto calafrios quanto cemitérios. Talvez não seja um entusiasta de filmes de terror, ou talvez esteja traumatizado por diversos eventos passados.
Independentemente da razão e da piada, está claro que ele não gosta de estar ali.
A sensação de desconforto é intensificada pelos eventos que vivenciou, e a cada passo que dá, ele clama a Elum, pedindo que, da próxima vez, tenha seu smartphone em mãos e que Elizabeth não esteja por perto para fazer o trabalho à distância.
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