Horas se arrastam, como um pesadelo sem fim.
As ondas do oceano, antes serenas, agora se elevam como muralhas de água, esmagando qualquer esperança que ele ainda possa ter… se ainda a tivesse.
Quando finalmente emerge das águas em uma pequena ilha, o cenário não traz alívio, mas desespero absoluto. Em seus braços, o corpo inerte de sua amada pesa, afundando sua alma ainda mais nas trevas. Ele a resgata das profundezas, após um mergulho do qual nenhum humano comum sairia vivo.
Ela está pálida, a pele assemelhando-se à cera fria de uma vela apagada. As feridas no peito e abdômen, que outrora sangraram em vermelho vibrante, agora estão negras, a decomposição começando a reclamar o que resta dela.
Seus lábios, manchados de sangue seco, estão entreabertos, como se ainda tentassem proferir uma última palavra, uma despedida que nunca foi ouvida. Mas são os olhos, aqueles olhos azuis que sempre foram sua luz, que agora refletem o horror de seus últimos momentos, congelados em um vislumbre de vida que já se foi.
É o retrato claro do desgosto. A infelicidade e amargura se personificam no corpo jovem diante dele.
O som do mar se abafa pelo choro de Arthur, um lamento que parece ecoar pelos cantos mais profundos de Crea, uma melodia fúnebre que não encontra consolo.
Ele a deita cuidadosamente na areia fria, seus braços e pernas se estendem sem vida, como uma boneca quebrada. Sua mão, ainda aquecida pela vida, toca a carne agora gélida, e a dor é tão intensa que quase se transforma em ódio, um ódio que vibra dentro dele, ameaçando consumi-lo por completo.
Seus punhos tremem de repente, e ele os cerra, rasgando a palma com as unhas.
O sangue goteja pelo seu pulso.
“Tão bela…”
Ele pensa. Mas a beleza que vê agora é um reflexo distorcido, uma lembrança do que ela foi. Sua respiração se torna irregular, cada suspiro carregando uma agonia que ameaça destruir sua moral. Ver a morte de tão perto é diferente de apenas saber dela; é um abismo intransponível que o chama.
Entre as lágrimas, ele vislumbra um reflexo, um instante fugaz em que seu olhar parece carregar a vida que tanto deseja salvar, apenas para vê-la escapar lentamente, com cada gota que escorre em seu rosto.
Sem pensar, ele se inclina, seus lábios encontrando os dela em um beijo que mistura amor e desespero, os limites entre a vida e a morte.
Não importa o gosto amargo ou o odor pútrido; ele precisa senti-la uma última vez, mesmo que seja nesse estado grotesco. Seus lábios se movem com um fervor perturbador, enquanto sua língua penetra naquela boca sem vida, e um arrepio, frio como a própria morte, corre por seu corpo.
Conectar-se com alguém que já não pode…
“Eu te amo…”
Gagueja, a voz quebrada pelo peso de sua dor. Mas a necessidade o domina novamente, como um ciclo vicioso, um ciclo de tormento e desejo, onde ele se agarra ao que restou, recusando-se a deixá-la ir.
Suas mãos, trêmulas e desesperadas, agarram seu corpo frágil, sentindo a rigidez gelada que agora a define.
Ele a deita suavemente na areia encharcada, os grãos ásperos de areia se misturando aos fios de cabelos vermelhos da garota.
A chuva, incansável, cai sobre eles, como se o céu estivesse chorando junto, lavando o sangue e as lágrimas.
No entanto, a água não é suficiente para lavar a sensação sufocante de perda.
Por mais intensa que seja a ternura de seu amor, não consegue deter o desvanecimento cruel que ele sente, como se sua mente estivesse sendo drenada de vida. Cada batida de seu coração soa como um eco distante, enfraquecido por facadas invisíveis, enquanto pensamentos destrutivos se cravam em sua alma, um a um, levando-o à beira do colapso.
É um instante de devaneio… um sonho partido no choque da realidade amarga.
Suas pernas cedem, afundando na areia fria, e então, como se um véu de escuridão fosse rasgado diante de seus olhos, ele desperta do transe. Com um esforço quase animal, ele se desvincula de cima dela, tossindo violentamente, como se estivesse expurgando a própria dor.
A saliva escorre de seus lábios, misturada ao gosto amargo do desespero, enquanto ele cai ao lado do corpo dela, o olhar perdido na vastidão do céu.
Será que em outra realidade aquilo daria certo? Chegaria a algum lugar além da morte e do sofrimento? Todos se perguntam, afinal, como o próprio dragão de asas douradas, reescrever o mundo é uma possibilidade que afaga as frustrações do Coração.
Como seria viver em um mundo onde o fardo do fracasso não esmagasse a alma, onde a morte não fosse o destino, mas apenas um ponto de inflexão?
Mas… isso não estava em suas mãos, como nunca esteve nas mãos de nenhum humano que habita Crea.
— Juro… Diante de ti — murmura com a voz rouca, os olhos presos na frágil luz de Nox, que mal consegue romper a densa cortina de nuvens. — Vingarei sua morte…
O brilho que ele busca não se revela diante de seus olhos, mas em seu íntimo, ele sabe que está lá.
As palavras são lançadas no ar, pesadas como um juramento esculpido em sua alma. Se fossem ditas em latim, soariam como um pacto selado com o próprio destino.
— Vou exorcizar esse demônio… — sua voz falha por um instante, entrecortada pelo peso da dor, quase engasgando, mas a fúria que queima, sombria e implacável, preenche-o de força. — Nem que seja a última coisa que eu faça, meu amor! — Ele repete a promessa com a voz trêmula, enquanto a noite o engole, seu corpo envolto pelo manto gelado do luto. A escuridão parece tomar forma ao seu redor, absorvendo cada emoção, cada suspiro, até que reste apenas o vazio sufocante da dor, a tristeza latente, o abandono… a morte.
Em seu peito já não pulsa a coragem de ser herói, nem a bravura que outrora o guiara.
O que agora brada em suas entranhas é o instinto voraz da vingança, uma força primitiva que o empurra em direção ao abismo. Cada passo em sua mente perturbada o afasta da luz e o aproxima de um caminho sombrio, onde justiça e ódio se confundem, e o destino deixa de ser uma escolha… mas uma fatalidade.
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