Uma bela figura podia ser vista sentada em um banco à sombra de uma macieira no jardim do castelo de Vasbrusk. Era uma jovem de cerca de 14 anos, com um rosto de feições delicadas que pareciam ser esculpidas à mão. Seus cílios negros curvavam-se levemente para cima como as asas de uma borboleta, seu nariz era pequeno e reto, enquanto seus lábios rosados eram desenhados como um Magnus opus.
Seus cabelos negros eram curtos e ondulados, dando-lhe um ar fofo e agradável aos olhos. Vestida com uma roupa de empregada, ela acariciava suavemente o cabelo de um garotinho de olhos purpura deitado em seu colo. Seus lábios doces abriram-se em um sorriso tímido e suas bochechas brancas como a neve estavam ligeiramente tingidas de vermelho.
“Você está confortável, Asterios?”, ela falou suavemente, acariciando os tímpanos do garotinho que respondeu com um som nasal tímido enquanto tentava esconder o rubor vermelho em seu rosto com o livro que tinha em mãos. “Hm-hmm”.
Com uma risadinha suave pela reação de Asterios, ela observou calmamente o jardim, apreciando cada pedaço de sua beleza. Embora já fossem 3 horas da tarde e o sol brilhasse forte no céu, o clima estava agradável. A brisa fria que vinha do mar passava por cima das muralhas da fortaleza e caía sobre o jardim, criando um clima ameno e perfeito para relaxar em um dia ensolarado, graças à grande quantidade de árvores e plantas.
Infelizmente, o momento a sós deles não durou muito, sendo logo interrompidos por duas figuras que se aproximavam lentamente. Asterios então se levantou rapidamente do colo da garota, e a garota olhou nervosamente para o horizonte, avistando o pai de Asterios e um homem alto em roupas nobres ao lado dele. Sua aparência era simples, com um rosto viril e cabelos negros curtos.
A bela garota também se levantou logo após Asterios, observando Argus com um olhar nervoso, e fez uma pequena reverência em respeito a ele antes de se afastar um pouco.
Argus passou pela garota com um leve aceno como resposta à sua reverência antes de falar “Filho, quero que você conheça Erik. A partir de hoje, ele será seu tutor.”
Asterios olhou curiosamente para o homem antes de oferecer a mão e dizer “É um prazer finalmente conhecer você, Sr. Erik”.
Sorrindo para o garotinho, Erik apertou sua mão e falou com uma voz profunda e fria “Também é um prazer conhecê-lo, jovem mestre Asterios. Eu ouvi muitas coisas boas sobre você durante a minha curta estadia aqui…” Ele fez uma breve pausa e olhou para o livro nas mãos de Arthur antes de perguntar curiosamente “Você gosta de estudar sobre a guerra de Arthemis?”
Asterios olhou para o livro que segurava em suas mãos antes de responder timidamente “Uh… sim, eu gosto bastante…” após responder, ele continuou com um pouco mais de confiança e vigor em sua voz: “Meu pai disse que vocês foram companheiros durante a guerra…”
Argus que observava silenciosamente os dois conversarem, suspirou pesadamente, e então ele se virou em direção à garotinha que estava parada estática ao lado. “Anna, o que acha de darmos uma pequena volta ao redor do castelo enquanto esses dois conversam?”
“Ah… como o senhor desejar”, respondeu Anna nervosamente. Logo após isso, ela caminhou lado a lado com Argus, afastando-se lentamente. Sua expressão facial carregava um sentimento amargo de ter que se separar de Asterios tão repentinamente, com um último olhar em direção ao garotinho. Ela sorriu, imaginando quando ele teria tempo para ficar sozinho com ela de novo.
Após se virar e observar Argus sair com a garotinha, Erik se voltou novamente para Asterios antes de se sentar no banco ao lado do garoto e perguntar “Bem… tem alguma pergunta para mim?”
Após uma leve hesitação, Asterios finalmente falou “Meu pai tambem me disse que vocês lutaram juntos em Karlva, mas ele nunca fala sobre a guerra.”
Ouvindo as palavras do garotinho, Erik suspirou pesadamente antes de falar com uma voz melancólica “Seu pai tem suas razões para evitar falar sobre essas coisas… A guerra afeta cada homem de uma forma diferente, e nunca positivamente”. Logo após isso, ele começou a contar uma longa história ao garotinho, sua mente lentamente submergindo em suas próprias memórias… “
…
Em uma tenda grande e escura, iluminada apenas por velas, três homens discutiam calorosamente em torno de uma mesa sobre seu próximo curso de ação.
“Devemos manter nossa posição!” Um dos homens sentados a esquerda da mesa exclamou com fervor. “Temos 100 mil legionários bem treinados. Aqueles malditos bárbaros não terão chance contra nós!”
Outro homem, sentado à direita da mesa, levantou-se para responder “Eles têm 500 mil soldados! é suicídio lutar em desvantagem numérica de 5 para 1 em campo aberto. Devemos voltar para Karlva e defender a cidade a todo custo! nossas defesas são fortes o suficiente para detê-los!”
O homem à esquerda tentou questionar essa afirmação, mas foi interrompido pelo grito estridente do homem no centro da mesa: “Basta! Essa briga inútil não vai nós a nada.”
Logo após isso, ele se levantou, dirigindo seu olhar aos muitos centuriões e legados que assistiam à discussão, e perguntou “Mais alguém aqui tem algo a dizer?”
Inesperadamente, ele foi respondido imediatamente por um homem que deu um passo à frente. Diferente do que todos esperavam, não foi um poderoso legado que deu um passo à frente, mas sim um centurião. Com cabelos dourados, olhos azuis e um rosto masculino jovial. Seu Aether fluía descontroladamente pelo seu corpo, indicando que ele estava próximo de um avanço.
“Centurião Argus, tem algo que possa adicionar a essa reunião?” o homem a esquerda perguntou, sua voz era grave e arrogante.
“Sim”, Argus respondeu, antes de continuar. “Recuar para Karlva é suicídio. As reservas de grãos da cidade estão baixas e ficaremos presos atrás dos muros enquanto o exército rebelde cerca a cidade. Estaremos mortos de fome em 2 ou 3 meses.” Ele fez uma pequena pausa, sendo cortado pelo homem à direita da mesa.
“então, o que você sugere que façamos? Avançamos como loucos para sermos cercados e abatidos como cães?”
Olhando em direção ao homem, Argus respondeu “Atualmente, eles têm três opções. A primeira é avançar ao norte, atravessar o Rio Sinonia numa operação logística cara e que demoraria muitas semanas, dando tempo suficiente para juntar alimentos em Karlva para aguentarmos por anos.”
Após dar a primeira opção, Argus continuou “A segunda opção é seguir ao sul, passar pelas planícies desoladas, contornando nossas posições e atacar Karlva com o pouco que sobrar de seu exército. Essa opção também é inviável, entrar com um exército nas planícies desoladas é o mesmo que transformar ele em iscas para bestas famintas”, suas últimas palavras causando calafrios em alguns poucos homens que participaram e sobreviveram a uma investida militar contra as planícies desoladas muitos anos atrás. Eles sabiam muito bem o quão terrível era aquele lugar.
“Então, chegamos a terceira opção, nós atacar diretamente em uma ofensiva rápida e devastadora, romper nossas posições e tomar Karlva o mais rápido possível.” Ele falou lentamente, sua voz fria e calma ressoando na cabeça de todos que estavam ali.
“Seus exércitos estão cansados e os territórios que eles conquistaram são instáveis, a qualquer momento podem se rebelar em nome do imperador e os rebeldes terão que lidar com 2 exércitos os pressionando. Eles estão ansiosos, desesperados para cortar a cabeça do imperador, esmagando qualquer possibilidade de um possível levante armado.”
“Eles irão atacar, porque é sua única opção. E defender essa passagem até a morte também é nossa única opção.”
Ouvindo essas palavras, o homem no centro da sala se levantou lentamente, a atenção de todos naquela sala mudando de Argus para ele “Que assim seja então, montaremos guarda e defenderemos essa posição”. Ele falou friamente “No mais, vocês estão dispensados. Preparem seus homens, o exército rebelde deve chegar aqui nos próximos dias.”
Ouvindo as palavras do homem, todos se retiraram da sala.
Após sair da sala, Argus caminhou lentamente pelo acampamento escuro, andou até as paliçadas da fortaleza improvisada que eles haviam montado, e observou as planícies no horizonte. Era uma noite escura e mesmo focando todo o Aether em seus olhos, ele só podia ver até 100 metros a sua frente.
“Um poderoso centurião fazendo vigília?” uma voz grave e poderosa soou logo atrás de Argus. Virando-se em direção a mesma, ele viu Erik em sua direção e com um leve sorriso, ele respondeu “Bem, alguém precisa fazer o trabalho, né?”
“Hahaha, sim, alguém sempre tem que fazer…” respondeu Erik com uma risada honesta, parando logo ao lado de Argus e observando o horizonte em silêncio “acha que poderia ser diferente?” perguntou melancolicamente.
Ao ouvir a pergunta de Erik, Argus pensou por alguns segundos antes de responder de forma direta: “Não.” fazendo uma pequena pausa, ele continuou: “Mesmo que o imperador Aurelio tivesse sobrevivido à tentativa de assassinato junto com o príncipe herdeiro original, isso não mudaria em nada. O império envelheceu, Aurelio foi nosso último grande imperador, e com sua morte, as vozes da rebelião acordariam e o império cairia da mesma forma.”
Erik não respondeu imediatamente a Argus. Em vez disso, olhou atentamente para o horizonte e falou com uma voz surpresa ao apontar para um cavaleiro que se aproximava rapidamente “Aquilo não é uma de nossas escoltas?”
Argus fixou seus olhos não no cavaleiro que se aproximava, mas sim na escuridão atrás dele. Repentinamente, seus olhos se arregalaram quando ele gritou “Mago!!! estamos sob ataque inimigo!!!” No segundo seguinte, uma grande bola de fogo surgiu da escuridão, iluminando as planícies escuras e seguindo em direção as paliçadas do acampamento, engolindo o pobre cavaleiro sem nem mesmo dar chance para ele gritar, e atingindo a muralha leste com um estrondo poderoso.
Trombetas ressoaram por todo o acampamento à medida que dezenas de milhares de homens saíam de suas barracas enquanto se armavam. Infelizmente, já era tarde.
Uma enxurrada de soldados pertencentes às forças rebeldes invadiu o acampamento a partir buraco aberto pela bola de fogo nas paliçadas, iniciando combates cruéis por toda a sua extensão.
Erik correu rapidamente em direção aos muitos inimigos. Seu Aether explodiu e, com um movimento fluido, ele brandiu sua espada em direção a um dos cavaleiros inimigos.
Sua lâmina rompeu facilmente a defesa de seu oponente, atingindo seu pescoço em um corte rápido e limpo, separando sua cabeça de seu corpo, que desabou no chão. O que restou foram espasmos de agonia.
Sem hesitar, ele continuou cortando. A cada minuto, um inimigo caía em frente à sua lâmina, à medida que uma pequena pilha de cadáveres rapidamente se formava aos seus pés.
As batalhas se estenderam das muralhas até as regiões internas do acampamento, com grandes massas de soldados colidindo entre si, enquanto os centuriões e legados travavam batalhas individuais onde os soldados comuns não ousavam intervir.
Erik lutou incansavelmente por mais de 20 horas, com seu coração de Aether sobrecarregado e suas veias ardendo. Ele sabia que não conseguiria mais lutar e finalmente parou sua lâmina, recuando um pouco. Seu corpo estava cheio de cortes profundos e prestes a colapsar sob o próprio peso, sendo mantido apenas pelo pouco Aether que ainda o reforçava.
Observando o campo de batalha, Erik percebeu que a batalha já estava perdida. Os corpos dilacerados de milhares de soldados, sejam legionários imperiais ou rebeldes, se acumulavam lentamente à medida que as forças rebeldes avançavam cada vez mais, até onde sua visão alcançava.
Olhando para a direita, Erik viu Argus, um centurião enfrentando de frente um legado inimigo. Seus olhos tinham um brilho vermelho enquanto sua aura carmesim dominava tudo ao redor, as veias de Aether em seu corpo brilhavam e ressoavam junto com sua aura, emitindo um poder que já não estava mais no nível de um mero especialista.
Erik observou a batalha feroz por alguns segundos antes de falar “Avanço forçado…”. Ele sorriu, sua visão apagando lentamente enquanto dizia “Idiota de merda…”
…
“Eu só fui acordar uma semana depois na casa de um conde do domínio real de Melintor, que me levou como prisioneiro de guerra… Desde então, acreditei que seu pai tinha morrido…” Erik disse melancolicamente. “Nessa época, o Império de Arthemis já tinha caído e o imperador e sua família já tinham sido executados, dividindo o império em três reinos: Melintor a leste, Greehold a oeste e Jarkan ao sul.”
Terminando a longa história, Erik olhou para Asterios, que parecia completamente imerso na narrativa que havia durado muitas horas. Seu rosto carregava sentimentos complicados de ansiedade, tristeza e curiosidade, mas ele não fez nenhuma pergunta, apenas olhou pensativo para o horizonte.
“Hmm… está ficando tarde, acho que é bom você ir ver seu pai. Nossas aulas começam amanhã, você já tem 8 anos, certo? É o momento adequado para aprender sobre o Aether e como manipulá-lo”, disse Erik.
“Tudo bem, senhor Erik… e muito obrigado mesmo pela história!”, respondeu Asterios, sua expressão demonstrava admiração e adoração pelo homem à sua frente.
Então, acenando levemente para Asterios, Erik se afastou, deixando o garotinho pensativo e ansioso pelo dia seguinte, quando finalmente aprenderia sobre o Aether.
Anna (Imagem gerada por ai)