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Slezzy começou a acelerar seus passos para fora da sala de operações.

— Para onde você vai? — confrontou Jean.

— Preciso ir para aquele hospital! Preciso ver o Agente Sanches! — respondeu o garoto, com um tom preocupado.

— O Hospital de Western fica há exatos vinte minutos de distância. Contando com o trânsito que enfrentará; isso se você for com algum carro. E antes de chegar lá, Sanches provavelmente já estará na sala de cirurgia — refutou Yuki, dessa vez virando-se para Slezzy. — E só poderá visitá-lo… daqui algumas longas horas.

— Eu não me importo! Eu ire até lá! Nem que seja a pé!

Slezzy tornou a caminhar para fora dali. Em seguida, Jean o acompanhou; porém antes que pudesse alcançá-lo, Yuki o indagou falando um pouco alto:

— Afinal… quem é esse cara, Jean?

Sem interromper seus passos, o garoto o respondeu:

— Você não se lembra da fofoca do NCC? Seu nome é Slezzy. Slezzy Kaliman.

— Ah… Interessante… Esse nome… “Kaliman”!? Tenho certeza que já o escutei  em algum lugar… — comentou.

Jean, com pressa, decidiu não estender a conversa; finalmente saindo da sala.

*

   — Ei, Slezzy! — dizia o agente amorenado, responsável pela portaria da FMA — Aonde… Você vai com tanta pressa?

Slezzy não estava mais com as roupas brancas do treinamento, pois havia se trocado no vestiário do décimo oitavo andar daquele prédio.

O jovem portava sua velha roupa social, com simples calças azuis.

— Preciso… ir para o Hospital de Western! — respondeu, ofegante.

— E você não está pensando… em ir a pé, não é?

— Está disposto a me ajudar, Agente Henegan? — falou Slezzy. — Creio que seria um ótimo presente de despedida!

— O que? Não me diga que você foi reprovado no exame final — disse o agente, surpreso.

Slezzy percebeu, pelo som de passos barulhentos, que Jean corria na sua direção, logo atrás, desde a porta principal do prédio.

— Han? O que você está fazendo aqui!? — perguntou Slezzy, se virando contra ele.

— É melhor ficar por aqui, Slezzy! — alertou, suspirando. — A cidade está um caos! Há manifestantes pra todo lado!

— Me desculpe, Jean, mas acho vou ter que ignorar suas palavras.

— O que esse agente tem de tão importante!?

O clima se tencionou a partir daquela pergunta.

Adiante; Slezzy deu alguns passos à frente, se aproximando do garoto loiro.

— Hum… Graças àquele homem… pude vivenciar todos esses últimos dias; bem aqui, nessa instituição; escapando da minha antiga rotina extremamente chata e tediosa, que nunca impactaria esta cidade — Jean passou a observá-lo com olhares compreensivos, enquanto o mesmo continuava falando. — Ele foi o único… quem correspondeu a minha atitude, no dia em que “enfrentei” os meus superiores, como dizem as fofocas. Mas, por outro lado, agora eu posso finalmente enxergar…

— O que? O que pode enxergar, Slezzy? — perguntou Henegan, seriamente.

— QUE NADA DISSO VALEU A PENA! A FMA e todas as outras instituições superiores sempre desprezarão aquilo que vem de baixo. Mas, até quando? Até quando vão deixar o trabalho pesado para os mais inexperientes? Isso é justo pra você?

— E deixar que os bandidos dessa cidade dominem todas as ruas? — refutou o garoto a sua frente — Por acaso, já viu o tamanho da nossa cidade? Todos os setores do NCC devem possuir, juntos, o quádruplo de soldados da FMA! Isso já não é justo o suficiente?

— Engraçado… você fala como se as ruas já não estivessem dominadas pelas máfias! — concluiu Slezzy, com um sorriso irônico.

De repente, um carro-forte se aproximou da portaria, enquanto os dois ainda se encaravam.

Dois militares com roupas esverdeadas desceram do carro e caminharam até o agente Henegan. Um deles era Saith; e ele segurava um rifle de porte pesado.

— Acho melhor deixar o portão aberto, Henegan. Todos os outros carros estão retornando! — afirmou o atirador.

— O que aconteceu? — indagou Slezzy ao homem forte que acabara de chegar.

— Com a chegada do anoitecer, perdemos todos os assaltantes restantes de vista.

— Então, aproveitando que está desocupado, você poderia ajudar esse jovem a chegar ao Hospital de Western — sugeriu o agente amorenado.

— Han?

— É uma longa história, senhor, mas eu realmente preciso ir! — complementou Slezzy. — Eu preciso ver como o Agente Sanches está!

— Ah, sim! Como eu poderia me esquecer? A nova cria do velho Sanches! Mas é claro, garoto! Entre no carro! A única coisa que me resta a fazer é preencher uma grande papelada, mas isso mal importa agora.

Saith e Slezzy caminharam juntos até as portas do mesmo carro-forte.

— Você sabe que isso vai repercutir pelo mundo inteiro, não sabe? — comentou Henegan, antes que Saith abandonasse o local.

— É. Infelizmente. Todos vão jogar a FMA contra a parede! — respondeu ele, coçando uma parte de seu rosto com a mão direita.

— Ei… Slezzy… — dizia Jean, enquanto Slezzy puxava a porta do veículo. —

Ainda não acabamos aquela conversa!

— Han? — Slezzy fixou seus olhares no garoto, através da janela de vidro da mesma porta.

— Então, não se trate de morrer para aqueles malditos criminosos… antes que eu possa concluí-la! — afirmou.

— Não se preocupe, Jean! — respondeu Slezzy, com grande convicção. — Eu provarei que a desigualdade militar dessa cidade não me impedirá de acabar com todos aqueles desgraçados!

Slezzy adentrou o carro-forte; e logo, Saith deu partida no veículo.

A seguir, eles seguiram rumo ao hospital.

Jean e Henegan se encararam brevemente, enquanto o carro-forte partia dali.

*

   Após vinte minutos, Slezzy estava dentro do Hospital de Western, no primeiro andar; acompanhado de Saith, que o levara até ali.

Eles se aproximaram de uma funcionária da recepção.

Saith retirou um cartão de um dos seus bolsos o mostrou para a mesma, dizendo:

— Preciso saber em qual quarto… o agente militar Sanches se encontra.

A funcionária analisou o cartão à primeira vista e logo o respondeu:

— Quarto de número oitenta e dois. No quarto e último andar! — afirmou com uma voz meiga.

— Muito obrigado, senhorita! — agradeceu o atirador, andando em direção ao elevador próximo dali, acompanhado de Slezzy.

Dentro do elevador, Slezzy questionou o seu novo companheiro:

— Desde quando você conhece… o Agente Sanches?

— Hum… já faz alguns anos… na verdade, longos anos. Chegamos até mesmo a treinar juntos uma vez. Porém, Sanches não teve seu devido reconhecimento; já que não há contestações contra as decisões supremacistas das organizações mais poderosas da cidade.

— Uau! Dentre todos os outros, você é o primeiro militar que possui esse tipo de ideia! Pelo menos… ao meu parecer.

— Muitos têm esse pensamento; mas preferem se esconder em pequenos casos e conviverem com seus salários consideráveis, sem qualquer tipo de atitude. É o suficiente para eles. Simples assim.

Slezzy se impressionou.

As portas do elevador se abriram.

Slezzy e Saith saíram dali, observando o corredor enquanto o destrinchavam. Ao mesmo tempo, o jovem bombardeava o atirador com perguntas provocativas:

— Saith… Já que você tem essa linha de pensamento, por que não toma alguma atitude?

O atirador riu instantaneamente.

— Você acha que é tão fácil assim, garoto? Por que não me sugere uma ideia?

— Hum… que tal… unir todas as instituições militares? Sabe!? Formando uma única… que recebesse as mesmas condições… o mesmo treinamento! … por que diabos temos tamanha diversidade? Nós somos um estado? Um país? Você não consegue entender isso?

— Você tem razão! Não somos nenhum estado ou país…, mas temos índices criminais maiores que a de alguns. Além do mais, mesmo que sua ideia esteja por dentro dos parâmetros éticos, nada disso se aplicaria de forma estável diante do tipo de governo em que vivemos atualmente; corrompidos e bajulados.

— Então, como consegue se conformar com isso… tão calmamente?

Saith não o respondeu.

Após alguns segundos procurando pelo quarto, finalmente o encontraram.

A porta possuía um tipo de visor de vidro, em que Slezzy e Saith utilizaram para observar Sanches, que estava sobre uma grande cama, com alguns fios conectados ao longo do corpo.

Aquele agente estava gravemente ferido. Ainda havia resquícios de sangue seco em seu rosto e peitoral.

Alguns médicos com roupas especiais cercavam aquela cama.

Um enfermeiro que estava do lado de dentro, se aproximou da porta e a abriu.

— Enfermeiro… como ele está? — perguntou o atirador.

Slezzy, triste, observava o estado que Sanches se encontrava, relembrando-se de todos os pequenos momentos que havia passado ao seu lado.

— Ele se encontra… em um estado extremamente grave…! — respondeu o enfermeiro, assustado diante das roupas de Saith. — Precisaremos fazer uma cirurgia agora, com urgência, para remover os dois projéteis internos que estão provocando a perda de sangue.

Repentinamente, um dos aparelhos conectados ao corpo do agente ferido, começou a apitar, causando grande euforia ao jovem.

A frequência cardíaca de Sanches começou a cair rapidamente.

— PRECISAMOS INICIAR A CIRURGIA AGORA! FECHE ESSA MALDITA CORTINA! — berrou um dos médicos.

O enfermeiro obedeceu a aquela ordem, fechando e trancando a porta do quarto; em seguida, também tampou o visor de vidro com uma cortina.

Do lado de fora, só era possível escutar os mínimos barulhos de conversas entre os médicos e enfermeiros, além dos aparelhos.

— Satisfeito? — perguntou Saith, com um tom de raiva e preocupação, dando passos para fora dali.

— Para onde você vai? — perguntou o garoto, desentendido.

— Não há mais nada a fazer aqui, imbecil.

— E aquele papo de tomar uma atitude? Você vai mesmo se conformar com toda essa grande merda? ENQUANTO UM VELHO AMIGO MORRE NAQUELA MERDA DE MACA!?

Saith se virou.

O atirador percebeu que Slezzy estava tomado pelas suas fortes emoções, em meio as lágrimas que caíam sobre seu queixo.

Então, o atirador o respondeu tranquilamente:

— Ah, é!? Por que você mesmo não toma alguma?

Aquelas palavras silenciaram o garoto, travando-o por completo.

Slezzy, sem se mover, apenas observava a saída de Saith por aquele corredor mal iluminado.

Por fim, a mente do jovem foi tomada por suas lembranças:

As imagens do primeiro dia que saíra para as ruas de Maple em nome do NCC; suas conversas com Sanches; o diálogo com Emmeline sobre a carreira policial; o momento em que foi indicado para o treinamento da FMA; a conversa com Shane e Helena; o momento em que foi reprovado no exame final por Roy; as imagens dos assaltantes que fugiam, nas telas da sala de operações, comandada por Yuki; o corpo ensanguentado de Sanches sendo colocado para dentro do helicóptero da FMA.

Por fim, o garoto se relembrou da visita daqueles demônios.

Slezzy se encheu de raiva. Ele não se conformava mais com aquela situação.

O jovem queria realmente mudar tudo aquilo, após as palavras de Saith.

De súbito; o garoto lembrou-se do contrato negro que tanto havia escondido em sua mochila, nas últimas semanas.

Assimilando todos os acontecimentos, Slezzy finalmente concluiu que tinha um grande motivo para considerar o acordo dos demônios.

Rodeando aquele mesmo andar, o garoto encontrou uma forma de acesso para o topo do hospital, através de algumas escadas de acesso privado.

Sem nenhum funcionário à vista, Slezzy subiu rapidamente ali.

Ao chegar no topo, o jovem retirou o contrato de sua mochila, e a jogou para longe na sequência.

Após observar e até mesmo reler aquele pedaço de papel negro, ajoelhado sobre o chão frio do topo do hospital; Slezzy encarou os céus, que estava repleto por várias nuvens sobrecarregadas

Algumas gotas de água começaram a cair. Era quase noite.

Dali, conseguia-se observar grande parte da cidade, e até mesmo as trovoadas que dominavam um céu distante a quilômetros de distância.

Observando melhor aquele papel, Slezzy notou algumas assinaturas grafadas à sangue, na parte detrás, que eram dificilmente visíveis. Adiante, ele retirou uma pequena lanterna da sua mochila, apontando-a contra a folha negra.

A partir daí; o jovem leu com nitidez, todos aqueles nomes:

   “Daheon, Mabil, Houl, Von, Falgar, Tarko, Falvo, Esel, Parim.” 

   “Que diabos é isso? Hum… talvez sejam assinaturas anteriores…”

Depois, o garoto puxou de sua cintura uma pequena faca, a posicionando em cima de sua mão, lentamente, ainda cogitando sobre tal ideia.

Devido ao tremor de suas mãos, o jovem se acidentou, cortando-se, derrubando um pouco de sangue sobre o contrato negro.

No cair da primeira gota de sangue, que se colidiu com o contrato; mediante um relâmpago repentino, as criaturas se emergiram diante de Slezzy. Os Irmãos Sam.

A aparência daqueles demônios não havia tido qualquer mudança, pois ainda portavam as mesmas vestimentas negras. Além de colares e acessórios de prata.

As luzes dos outros prédios próximos dali, provocavam um grande destaque às asas das criaturas.

— Ora… ora… Veja só, Haram! Quem reconsiderou a sua vontade! — exclamou Hiram, rindo em seguida, maleficamente.

— Me respondam uma coisa… — dizia Slezzy, ignorando o comentário daquele demônio, embora estivesse totalmente arrepiado. — Vocês me garantem… que eu mudarei o rumo dessa cidade, após a minha assinatura…?

Os irmãos o encararam por algum tempo, curiosos. Até que Haram se agachou, respondendo-o com um sorriso:

— Sinceramente!? Não podemos lhe garantir isso, Slezzy; mas tenho certeza de que as coisas ficarão muito mais interessantes daqui em diante!

Corajosamente, Slezzy cortou a mão superficialmente com sua faca.

A quantidade de gotas d’água, da chuva trovejante que se aproximava, crescia à medida que Slezzy aproximava sua mão direita do contrato negro.

Ao apoiar a faca sobre o contrato, o jovem traçou o seu primeiro nome, fazendo do sangue que escorria da outra mão como “tinta”.

Slezzy pausou sua assinatura no meio de seu nome, de repente; provocando os demônios, que nitidamente estavam ansiosos.

— Como posso assinar um contrato, sem saber com o que estou concordando? Como por exemplo… “Gankkai” ou “Coração das Sombras”!?

— Você nunca saberá… se não o assinar! — afirmou Hiram.

Slezzy encheu-se de fúria e determinação, tornando a assinar o restante de todo o seu nome.

Após o grafar da última letra de seu nome, Slezzy fixou seus olhares nos Irmãos, que estavam sorridentes.

Um tipo de áurea alaranjada saiu de dentro daquele pedaço de papel, cercando os três na sequência. Ela era flamejante, mas misteriosamente não queimava nada ao seu redor.

Após alguns segundos, toda aquela áurea começou a se dissipar sobre o ar; em meio a chuva, que agora já estava forte.

Slezzy sentiu uma fincada repentina em seu coração, que quase provocou a sua queda por completo sobre o duro chão.

— Está feito! — afirmou Hiram, sacando uma túnica negra em seguida; de tom fosco, composta por um tecido fora do comum, entregando-lhe ao jovem logo depois. — Ei! Vamos dar uma volta com o mais novo mentoreado do Mundo dos Demônios!

— Han? — retrucou o garoto.

— O que você acha, Slezzy… de conhecer a Ruína de Maple? — afirmou Hiram, nitidamente empolgado.

Olá, eu sou o Chris Henry!

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