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O cheiro de carne vermelha assada aflorava sobre o quintal florido da casa de Diana, localizada em uma área distante do centro da cidade.

Slezzy assava aquelas carnes em uma churrasqueira artesanal, enquanto Diana e Emmeline preparavam o restante da refeição dentro da cozinha, na grande mansão.

Era um sábado ensolarado, exatamente três dias depois de todo o incidente do assalto ao Banco Central.

Os meninos, Rainn e Harvim, brincavam de tiro ao alvo com alguns dardos magnéticos de brinquedo. Eles competiam entre si, disputando quem seria o primeiro a acertar o meio de um grande círculo, que ficava à pouco mais de dez metros de distância da posição em que se encontravam.

Rainn e Harvim, apesar de muito inteligentes, ainda eram crianças, e por isso competiam radicalmente em uma simples brincadeira. Slezzy notou aquilo e se aproximou dos garotos:

— O que acham de brincarem de outra coisa… até que o almoço esteja pronto? — disse com um tom elegante, estendendo sua mão para que Rainn entregasse o último dardo que restava. — Daqui a pouco, vocês estarão atirando dardos um contra o outro!

Rainn, emburrado, entregou o dardo

— Ei, Rainn! É normal gostar tanto assim de competir, mas você precisa aprender a se controlar! — alertou Slezzy, passando a mão sobre a sua cabeça.

Harvim, pensativo e com a mão sobre seu queixo, observava aqueles dois.

— Tenho certeza que ainda ganho de você no xadrez!

— O que você disse? — retrucou Rainn raivosamente.

Slezzy soltou uma leve risada. Logo, observou os dois correndo para dentro da gigante casa.

Rainn estava com uma regata, e mesmo que não gostasse daquele tipo de roupa, era necessário diante do clima ensolarado daquele dia. Contrariamente, Harvim sempre estava com o mesmo traje de sempre; uma roupa social com sua clássica gravata vermelha, que combinava com a cor dos fios de seu cabelo.

— Eles são verdadeiros prodígios! — era a voz de Haram.

Slezzy se assustou com aquelas palavras, se virando rapidamente.

Os Irmãos Sam estavam diante de si, desta vez.

— Vocês aparecem assim? Do nada!? — indagou Slezzy, sussurrando.

— Teoricamente, temos o dever de te acompanhar em todos os momentos. Mas, creio que você não suportaria, não é? — falou Hiram.

— Disso… eu tenho absoluta certeza! — confirmou o garoto, andando em direção à churrasqueira artesanal.

Slezzy retirou as carnes já assadas, organizadamente; colocando a última leva do mesmo alimento em seguida, dentro da churrasqueira.

Os meninos saíram de dentro daquela casa.

Rainn carregava um tabuleiro de xadrez. Já Harvim; uma caixa, que continha as peças daquele jogo.

Slezzy pôde ouvir a fala daquelas crianças:

— Eu jogarei com as peças brancas! — gritou Rainn.

— Tanto faz. Só não ache que o primeiro movimento vai garantir a sua vitória!

Desviando seu olhar, Slezzy puxou do bolso aquele dardo magnético que havia pego de Rainn. De repente; ele começou a lembrar de um dia específico do seu treinamento na FMA, de dias atrás. Suas memórias o dominaram.

*

   O barulho dos tiros sequenciados da arma de Kine dominavam toda a estande do clube improvisado de tiro ao alvo.

Os quatro integrantes ouviram o barulho de um apito, vindo de um dos militares do clube.

— Teremos que fechar mais cedo para os calouros! — alertou Saith. — Uma equipe de veteranos já está para chegar!

— Isso… é sério? — replicou Kine, indignada.

Kine e os outros integrantes suspiraram, juntaram suas coisas e saíram para fora do clube.

Eles se sentaram ao redor de uma árvore que tangenciava o grande campo. Todos portavam roupas brancas.

Ainda restava uma hora para o anoitecer daquele dia.

— O que faremos? As ordens do Capitão Roy foram de ficar até as seis horas treinando no clube; e que a recepção não liberaria nossa saída antes disso! — falou Clay, aborrecido.

— Você pergunta isso… logo pra mim? — desabafou Slezzy.

— Por que vocês não vão correr em volta do campo… me deixando sozinho!? — sugeriu Jean, sarcasticamente; puxando um celular, junto com fones de ouvido da sua mochila, deitando em seguida sobre o gramado. Logo, fez daquela mesma bolsa o seu travesseiro improvisado.

— Você vai ficar escutando música por uma hora? Esse vai ser seu passatempo? — indagou Clay.

Jean apenas o ignorou, agora ouvindo uma música barulhenta com os fones em seus ouvidos.

— Ah… não acredito nisso… — Clay se jogou sobre o gramado, suspirando.

Após alguns segundos, Kine sugeriu ao grupo:

— E se falássemos sobre o nosso passado? Nós estamos a mais de duas semanas treinando juntos…, mas quase não nos conhecemos!

— A não ser você e o loirinho! — comentou Clay, rindo em seguida. — Mas eu topo! Vale tudo para passar o tempo até que sejamos liberados na recepção.

— Tudo bem — concordou Slezzy, se ajeitando.

— Você começa, Clay! — ordenou Kine.

— O que? Por que… eu?

Slezzy e Kine o observavam sem responde-lo.

Jean retirou um de seus fones disfarçadamente para que pudesse escutar toda a conversa.

— Ok. Meu nome é Clay Usman…

— Não, não assim! Vá direto ao seu passado! Sua origem! — insistiu a garota.

Clay suspirou. Depois de alguns segundos, prosseguiu com sua fala:

— Nasci na Região Oeste da cidade. Na minha infância, os índices criminais ainda eram baixos. Lembro que não tínhamos sequer toque de recolher naquela época. Aos seis anos de idade, eu ainda via aqueles homens do exército especial… com roupas acinzentadas…

— Você fala do exército nacional? — perguntou Kine, surpresa.

— Exatamente! Eles vagavam por todas essas ruas; por todas as quatro regiões da nossa cidade! Porém, de alguma forma misteriosa, foram desaparecendo aos poucos. Na época, até disseram que precisavam do exército para as outras cidades de nosso país, o que não fazia muito sentido, já que os índices criminais dos outros lugares não eram tão discrepantes — Clay se levantou daquela posição, sentando-se na grama. assim como Slezzy e Kine. — Desde então; a criminalidade na nossa cidade começou a crescer disparadamente, por de baixo dos panos. Os meus pais tinham um mercadinho desde o meu nascimento naquela área, mas… que nunca alcançou a prosperidade devido a constantes assaltos e falta de segurança. Essa foi a minha maior motivação para seguir uma carreira militar, além, é claro, da ajuda financeira.

Um clima pesado dominou aquela conversa.

— Sua vez, Slezzy!

Slezzy, mesmo que ainda atordoado pela história de Clay, o respondeu?

— Eu não me lembro.

— O que? — retrucou a garota.

— Eu… não me lembro da minha vida anterior aos meus doze anos!

— Ah… Alguém por acaso removeu as suas memórias? — replicou Clay, rindo.

— Talvez…

— Certo… já que você está dando desculpas, que tal a criadora do jogo contar o seu passado? — propôs o garoto, fixando seu olhar em Kine.

Slezzy ignorou aquele comentário, escondendo a indignação por aquele insulto.

— Lembro de que quando tinha apenas cinco anos de idade… via meus pais conversando com um homem totalmente agasalhado. Era nítido que estavam negociando alguma coisa, já que havia documentos e dinheiro sobre a mesa. Eu observava aquela cena através de uma parte da porta que não estava fechada completamente. Eles gesticulavam e riam. Porém, em algum momento, a conversa tomou um rumo sério. As caras dos meus pais, ficaram repletas de tristeza. Aquele homem agasalhado por fim, apertou as mãos do meu pai, que ainda estava abalado.

— Não estou entendendo — comentou Clay.

— Não tenho total certeza, mas tenho a teoria de que eles estavam negociando por uma nova vida… em outro país… ou quem sabe outro continente; por conta do crescimento radical da criminalidade! E a partir do momento em que ficaram tristes… durante aquela conversa… é por que não teriam o dinheiro suficiente para todos os documentos, passagens e outras coisas… para o total de três pessoas — Kine começou a enxugar uma lágrima de seu olho em seguida.

Jean se levantou, e logo se assentou ao lado de sua amiga, abraçando-a durante alguns segundos, fortemente.

— Você… não precisa continuar — disse o menino loiro.

— Está… tudo bem! — respondeu Kine, sorrindo.

A garota continuou:

— Lembro de acordar no outro dia; sem qualquer barulho em toda a casa, sem qualquer passo. Eles haviam ido embora; me abandonando… sem nada. Levaram até as minhas próprias roupas! Toda a comida! Não tiveram nem a coragem de deixar alguma carta por escrito!

Slezzy e Clay olhavam para si, claramente desconfortáveis com aquela história.

— E, após dias sem comer… eu precisei sair… precisei vagar pelas ruas… até misteriosamente, chegar em um orfanato, que me acolheu junto com muitas outras crianças, essas também… que haviam sido abandonadas ou que tinham acabado perder seus responsáveis pelas mãos desses malditos criminosos!

Kine abaixou sua cabeça, ainda enxugando algumas lágrimas.

— Eu perdi meus pais… em um incêndio — comentou Jean, de repente. Ele ainda abraçava Kine com seu braço esquerdo, confortando-a.

Com os olhares fixados no gramado, o garoto loiro continuou:

— Eu devia ter a mesma idade da Kine na época. Foi logo no estopim da alta criminalidade. Havia assaltantes na Região Sul… que não encaravam meu pai com as melhores caras do mundo. Até hoje, também não tenho respostas sobre o motivo de terem ateado fogo na minha casa.

Jean prosseguiu com sua fala, desta vez retirando aqueles fones de seus ouvidos e jogando seu celular para longe de si:

— Lembro de acordar com os gritos desesperadores de meu pai, às duas horas da manhã. Alguns vizinhos tentavam alertar uns aos outros sobre o fogo. Quando me pus de pé… fui em direção ao quarto de minha mãe. Naquele ponto, a cama já estava completamente queimada, e consequentemente seu corpo também. Parecia que alguém havia jogado uma granada incendiária naquele quarto… através da frágil janela; mas meu pai trabalhava naquela noite… e só chegaria pela parte da madrugada!

Jean passou a encarar os outros dois garotos, enquanto concluía sua fala:

— Logo depois, consegui ouvir a porta sendo arrombada no andar debaixo; era meu pai. O fogo naquele instante já era intenso; lembro de não conseguir respirar com facilidade. Minhas últimas memórias daquele maldito dia… são as imagens de meu pai… me carregando em meio ao fogo… desde todos os cômodos até a entrada. Do lado de fora, era possível ouvir barulho dos serviços de emergência…, mas… já era tarde demais. Meu pai, dominado pela adrenalina e determinação de me salvar, me cobriu com todas as suas roupas e agasalhos, e correu em direção a porta repleta de fogo. Eu saí intacto de todo aquele incidente! Porém… meu pai, não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer ainda no caminho do hospital, em uma daquelas ambulâncias.

Jean ajeitou seu cabelo de fios amarelados e retirou seu braço em volta de Kine.

— Depois daquele dia, tudo mudou. Coincidentemente… fui parar no mesmo orfanato de Kine. Ela foi a minha única amiga desde então. Depois de alguns anos, ficamos sabendo de um projeto novo e secreto do governo: uma instituição de treinamento militar para crianças abandonadas. Logo, tomado por nossas devidas motivações, aceitamos essa oportunidade. E cá estamos.

A partir daquele momento, Slezzy não pensava em outra coisa, a não ser na frase daquele menino espadachim; após as histórias saídas da boca de cada um daqueles jovens.

   “…se uma pessoa está aqui, é porque ela merece e alguém reconheceu seu potencial. Além de que nós, recrutas, somos a última esperança.”

Olá, eu sou o Chris Henry!

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