O barulho do conjurar dos raios de Átomo Superior ecoava sobre toda a fábrica abandonada em que Slezzy treinava arduamente. O sol ainda nascia.
Já havia se passado quatro dias desde a operação na prisão antiga.
A cena de Salvador arremessando-lhe na parede daquela prisão passava em sua cabeça a cada conjuração.
Após algumas horas do intenso treino, Slezzy pôs-se a descansar, tirando a blusa devido ao suor do seu corpo. Ele se sentou em uma área seca do chão de concreto da fábrica, apoiando suas costas em uma parede. Os Irmãos Sam o observavam.
As palavras de Salvador ainda atormentavam sua mente:
“EU AINDA… VOU TE MATAR… SLEZZY… KALIMAN!”
Após dar o último gole na garrafa d’água, pensando naquelas palavras, o garoto amassou o frasco de plástico e o arremessou para longe, enraivado.
De repente, ele escutou alguns passos vindos de uma das entradas da fábrica, se levantando sem fazer barulho.
Os passos pesados e pares pareciam ser de apenas um homem.
Slezzy se posicionou na ponta da parede e começou a manipular uma porção de raios com sua mão esquerda. Seu braço se rodeou de raios alaranjados.
— Parece que temos visita! — alertou Hiram, entusiasmado.
Após alguns segundos, quando os passos da pessoa misteriosa se aproximaram o suficiente, Slezzy rolou pelo chão, saindo de trás da parede, descarregando todo o poder de seus raios na direção do desconhecido.
No mesmo instante, Slezzy ouviu o disparo de um único tiro.
O jovem se defendeu institivamente, colocando os braços na frente de seu rosto.
A colisão entre a única bala disparada e o poder de Slezzy fez com que surgisse uma pequena explosão no meio da fábrica, que logo se esvaiu rapidamente.
Logo, o rosto do desconhecido se tornou perfeitamente visível.
De cabelos cacheados, com um revólver prateado em sua mão direita, o Agente Sanches carregava uma grande caixa retangular com a outra mão.
— Agente Sanches? Como…? Como você anulou todo o meu poder com apenas um tiro da sua arma? Espera… o que você faz aqui? Como me achou?
— Se acalme, garoto! — Sanches guardou seu revólver em um coldre amarrado à sua cintura. — Isso é só um pouco do poder de um combatente!
Sanches se aproximou de Slezzy, observando todo o primeiro andar da fábrica. Grande parte daquele lugar já estava destruído.
O Agente colocou a grande caixa retangular e misteriosa no chão.
A caixa era revestida por uma madeira escura.
— Para falar a verdade, depois de todos esses anos trabalhando como Agente do NCC, não é difícil rastrear uma pessoa que não se preocupe minuciosamente em esconder a sua localização.
Slezzy sorriu antes de indagá-lo novamente:
— “Combatente”. Isso é uma das classes do Mundo dos Demônios, não é? Eles comentaram algo sobre isso, mas nada de muito profundo.
O garoto passou a encarar seus demônios.
— Vocês fazem isso… de propósito? — Sanches também os encarou.
— Além da nossa real falta de vontade, por que perderíamos tempo explicando algo para apenas mais um mentoreado que morrerá em breve? — provocou Hiram.
— Certo… — Sanches passou a mão sobre o cabelo. — Então, vocês são do tipo que fazem de tudo para convencer um ser humano a assinar o Preambulare, para depois simplesmente o abandonarem, tentando criar a percepção de que ele precisa necessariamente de outros contratos. Vocês devem ganhar bastante tempo de vida.
Slezzy se assustou.
— Não me diga… que você assinou mais contratos… — Disse Sanches.
— Han? Não é isso…
— Sim, ele assinou! — falou Hiram, cortando as palavras de Slezzy. — Durante o combate contra Salvador!
O outro demônio prosseguiu:
— Esse garoto nem deveria estar vivo. Aquele homem poderia ter simplesmente o matado ali mesmo, antes que Roy chegasse há tempo de salvá-lo.
— Espera, está querendo dizer que aquele maldito contrato não valeu de nada!? — indagou o garoto, furiosamente. — O máximo que eu senti após a assinatura… foi apenas uma sensação quente! Nada mais! Eu morreria do mesmo jeito!
Haram se aproximou de Slezzy, sorrindo e o respondendo:
— Você solicitou a quantidade necessária para que saísse vivo dali. Slezzy, nós realmente cumprimos com o que você desejou. Você assinou um “Midén” naquele dia, mas seu corpo não soube lidar corretamente com o poder que lhe foi cedido rapidamente, retardando todo o processo. Tudo isso… porque você é fraco!
— CALE A BOCA… DEMÔNIO MALDITO! — gritou Slezzy, enfurecidamente, direcionando um soco com sua mão direita no rosto de Haram.
O braço do jovem atravessou a face da criatura.
Sanches se aproximou de Slezzy, recolhendo seu braço, o afastando de perto dos Irmãos Sam.
A seguir, o Agente retirou de dentro dos bolsos da jaqueta uma grande corrente metálica, com uma argola em cada ponta, enquanto segurava o braço de Slezzy.
— Ei! O que você vai fazer?
— Me escute, droga — Sanches disse calmamente. — Temos cerca de cinco ou seis semanas até tomarmos uma atitude contra a Sociedade Nobre. Se nós vamos seguir o plano de Roy… eu vou ter que te treinar dolorosamente durante todo o tempo necessário, até que ele conseguir uma informação do tal mafioso capturado, para que… quando chegar a hora certa… você não cometa os mesmos erros do seu primeiro combate contra Salvador.
Sanches prendeu uma daquelas argolas no braço de Slezzy. Em seguida, prendeu a outra argola em seu próprio braço.
Slezzy percebeu uma figura negra e com chifres, vestido com uma grande manta cinza, atrás de Sanches. Era o demônio do Agente.
— Muito prazer, garotinho! — provocou a criatura.