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Mais uma semana se passou. Era o décimo quinto dia daquele treinamento.

Slezzy treinava na velha fábrica abandonada, aprimorando sua nova habilidade com a arma de gancho, utilizando aquele equipamento nas grandes paredes de cada andar, se deslocando entre diferentes posições do local, enquanto simulava possíveis situações de combate.

Era uma tarde chuvosa.

O jovem alternava os horários de acordo com cada tipo de treinamento, dentre as extensas atividades físicas até as manipulações de Arché Superior.

Naquele ponto, as conjurações de Slezzy estavam em um nível extraordinário. Seu treinamento com Sanches fez com que sua habilidade de manipulação fosse elevada ao extremo.

Slezzy, com certeza, já não era mais o mesmo.

Sanches se aproximava do seu aprendiz, que estava fazendo algumas flexões. O Agente segurava uma pequena mochila com a mão esquerda, enquanto caminhava sobre o chão cercado de poças de água em razão da chuva.

A preocupação de Sanches aumentava a cada instante, mas ele não demonstrava tal sentimento. Ele ainda não havia aceito completamente a ideia de simplesmente ignorar a fraqueza da Sociedade Nobre, em troca de treinar Slezzy; enquanto Roy tentava arrancar alguma informação do suposto mafioso capturado.

— COLOQUE O EQUIPAMENTO! — gritou ele, ainda longe de onde Slezzy treinava.

Slezzy interrompeu suas flexões, se levantando logo após.

— Colocar o equipamento? Por que? — perguntou ofegante.

Sanches retirou uma grande capa negra de dentro da mochila, e o respondeu:

— Quero testar… como estão as suas habilidades. Então, vamos para a Ruína!

Os Irmãos Sam riram baixinho.

Slezzy se espantou com a ordem de Sanches.

— Testar minhas habilidades… na Ruína?

— Creio que você já tenha visitado o lugar…

— Sim! Já visitei…

— Então prepare-se. Vamos checar algumas batalhas entre mentoreados!

Slezzy entendeu tudo após aquele comentário. Naquela tarde, ele estaria prestes a colocar tudo que aprendera nas últimas semanas em prática; em outras palavras, em combate.

Rapidamente, o jovem correu para onde estava sua mochila, que estava apoiada em uma das colunas que sustentavam a fábrica.

Sanches se vestiu com uma grande capa negra. Camuflando a face com o capuz logo depois. Apenas a sombra de seu rosto ficou à vista.

Slezzy se trajou; e colocou seu cinto especial, que carregava a bainha de sua mais nova espada juntamente com a arma de gancho.

Hiram retirou de dentro da sua grande vestimenta a velha túnica do garoto, que havia o dado no dia da primeira visita do mesmo à Ruína de Maple.

— VAMOS PARA A PRIMEIRA ENTRADA! — gritou Sanches, enquanto uma magia cinzenta o cercava.

Haram começou a conjurar o mesmo tipo de magia em torno de seu irmão e o mentoreado que os portava.

Após alguns segundos, Sanches desapareceu em um estalar de dedos, depois de um grande raio luminoso ser emitido.

— Afinal, o que é esse tipo de magia? — perguntou Slezzy, antes de serem teletransportados.

— Nós… demônios, podemos conjurar algumas coisas básicas de outras classes, como por exemplo o caso do teletransporte, clássico dos chamados conjuradores dos ventos. Quando elevado a dimensões extremas por um dos conjuradores dessa classe, esse tipo de poder pode alcançar a escala da Metáfora de Teretoran, mas esse assunto é bem avançado… até mesmo para nós! — explicou Hiram.

— É. Realmente bem complexo… — comentou Slezzy. A magia cinzenta que os cercava já estava completamente densa; e pronta para ser conjurada a qualquer momento, pela criatura de cabelos claros.

— E olha… que estamos falando apenas de uma pequena divisão dentre todas as classes! Slezzy! — falou Hiram, sorrindo. Foram as últimas palavras daquela conversa, antes que fossem teletransportados para a Ruína de Maple.

*

   Sanches, Slezzy e todos aqueles demônios, se reuniram novamente, na primeira entrada da Ruína.

Logo depois, os demônios tomaram a frente de seus mentoreados, em direção à grande porta de madeira dali.

Antes que Rayrack pudesse abrir a porta por completo, Sanches sussurrou:

— Fique tranquilo, garoto. Não há nada a temer ao meu lado!

Slezzy encarou aquele comentário com um pequeno sorriso.

“Com certeza, você voltou a ser o velho Sanches! Talvez sua preocupação com os Irmãos Sam tenha o abalado durante aquele pequeno período de tempo, mas agora, parece que tudo voltou ao normal”

Rayrack abriu lentamente a grande porta com as pontas de seus dedos.

Um grande feixe de luz vindo dali dominou a entrada por um instante.

Os demônios abriram espaço para que seus mentoreados assumissem a frente durante o trajeto.

A Ruína estava muito pouco movimentada em relação ao primeiro dia em que Slezzy havia a visitado.

Durante a caminhada com Sanches ao seu lado, o garoto observava detalhes da Ruína que não conseguira captar no primeiro dia, devido ao excesso de pessoas e outras criaturas.

As ditas arenas de batalha estavam em sua maioria vazias. Muitos livros e folhas rasgadas dominavam o chão rochoso.

As tochas com fogo avermelhado estavam fracas. Outros feixes de luz vindos daquela grande cobertura caíam sobre a Ruína, auxiliando na iluminação do local.

Mesmo que bem longe, Slezzy avistou a região daquele trono dourado. Nenhum mentoreado ou demônio circulava por aquela região, nem sequer o próprio Lorde Demônio Lyon.

— A Ruína possui um baixo movimento durante o período da manhã e da tarde. — afirmou Sanches.

Após alguns minutos de caminhada, Slezzy e os outros se aproximaram da única arena de batalha ocupada naquele momento.

Outros mentoreados e seus demônios assistiam a uma batalha aparentemente amistosa, entre dois mentoreados de classes distintas.

Slezzy se aproximou, a ponto de visualizar perfeitamente o combate.

Um grande mentoreado que lutava contra um de menor estatura, e que se aproximava em rápidos passos de seu oponente, acabara de desviar de um grande raio esverdeado. O mentoreado de menor estatura tentou manipular rapidamente outro tipo de magia, mas já era tarde demais.

O grande mentoreado o acercou, aplicando um soco firme e certeiro no meio de seu rosto, arremessando-o com brutalidade para fora daquela área.

As pessoas ao redor aplaudiram o grande mentoreado, camuflado numa grande capa negra, assim como todos os outros.

— QUEM SERÁ O PRÓXIMO? — gritou ferozmente aquele que acabara de vencer o combate.

Slezzy sussurrou para Haram:

— Você não havia dito que… era prioridade não revelar a voz ou algo do tipo?

— Alguns como esse aí… desafiam a própria morte com seu ego ou excesso de coragem! — respondeu Haram, também sussurrando.

— É uma boa oportunidade, garoto! — comentou Sanches.

— Han!? Quer que… eu desafie aquele cara? — retrucou Slezzy.

Eles conversavam em meio aos gritos do grande mentoreado, que comemorava sua vitória e desafiava todos ao redor da arena.

— Levando em consideração todos os fatores, a única área que você teria algum tipo de desvantagem seria no combate corpo a corpo, eu diria. Mesmo que você tenha treinado arduamente, a diferença entre as estaturas do seu corpo e daquele grandalhão é extrema. Porém, você teria clara vantagem à distância, utilizando de sua manipulação de Arché Superior, agora está refinada. E já que não há nenhum tipo de coluna ou estrutura ao redor da arena, sua arma de gancho seria inútil. E mesmo que fosse, eu não recomendaria utilizá-la, pois entregaria um grande ponto sobre sua identidade militar.

Slezzy encarava o dito grandalhão com coragem desta vez, após os comentários de Sanches.

— Você até poderia fazer o uso de sua nova espada, mas acho que ela quebraria ao invés de cortar aquele imenso corpo — Sanches riu um pouco alto depois.

— EI, VOCÊ! — gritou o grandalhão, sem se mover. — Por que não vem para a arena me desafiar!? Ao invés de ficar se divertindo, enquanto cochicha com esse pequeno verme ao seu lado?

Slezzy afrontou a fala do grandalhão com uma certa raiva, dando um passo à frente; porém, foi interceptado por Sanches.

O Agente bloqueou o jovem com seu braço direito, sobre o seu peitoral.

— Eu não sentia esse prazer há tempos, garoto. Então… deixe-me lidar com essa situação — afirmou Sanches, agora em voz alta, dando seus primeiros passos para adentrar a arena.

A arena era demarcada por um grande quadrado embranquecido no chão.

O grandalhão recuou para uma das pontas da arena, enquanto o Agente Sanches caminhava na direção da outra mais distante.

Um grande demônio musculoso, com uma aparência levemente estranha e alaranjada, estava por trás do grandalhão. Sua face remetia a aparência de um leão. Eles cochichavam algo, dando a entender que o grandalhão era seu mentoreado.

Slezzy, Rayrack e os Irmãos Sam ficaram apenas observando, assim como os outros ao redor.

— Então quer dizer que Sanches também desafia a morte? — sussurrou Slezzy.

Rayrack riu baixinho e o respondeu:

— Talvez sim. Não é de hoje que ele não esconde sua voz nesse lugar.

Um mentoreado de estatura média se aproximou do centro da arena e em seguida abriu seus membros, apontando com o braço direito para Sanches; e o esquerdo para o grandalhão. Era como se ele fizesse um papel de juiz ou algo do gênero.

Após algumas encaradas do mentoreado que estava no meio, para com Sanches e o grandalhão; cruzou seus braços e recuou rapidamente para trás.

De repente, o grandalhão disparou na direção de Sanches, enquanto dava gritos ensurdecedores. A distância entre os dois era de aproximadamente trinta metros.

Slezzy ficou angustiado quando viu que Sanches retirava lentamente uma arma de suas vestes.

— O que ele está fazendo? — murmurou Slezzy, apreensivo.

O grandalhão já estava na metade da arena; enquanto Sanches ainda conferia o compartimento das balas de sua arma.

O gigante mentoreado começou a rir em meio aos seus gritos.

Restando apenas uma pequena distância inferior a dez metros, Sanches apontou rapidamente o revólver na direção do grandalhão; disparando todos os seis tiros em sequência, contra seu adversário.

O grandalhão, subestimando aquele pequeno revólver, foi surpreendido.

O primeiro tiro havia pego em seu ombro, fazendo com que ele desacelerasse um pouco sua corrida e estranhasse o Agente. O segundo atingiu a parte direita de seu peitoral, causando um pequeno incômodo, forçando-o a utilizar de seu braço esquerdo para apertar aquela região, abrindo em seguida um pequeno espaço entre seu estômago, que logo foi atingido pelo terceiro projétil.

O grandalhão passou a apenas caminhar, ainda berrando.

Porém, os gritos foram retirados de sua boca quando Sanches disparou o quarto tiro no meio de seu pescoço. Naquele ponto, o grandalhão estava a apenas quatro metros de distância de Sanches, e não conseguia se mover devido aos ferimentos.

Os dois últimos disparos foram realizados na direção de suas pernas. Um tiro em cada.

— Seu… desgraçado… — o grande mentoreado resmungou em meio aos seus gemidos de dor.

Sanches começou a retirar outros seis projeteis, para recarregar seu revólver, de dentro de suas roupas. Em seguida, andou em torno de seu adversário, que estava completamente atordoado; enquanto recarregava sua arma.

Slezzy observava aquela cena quietamente, com olhos brilhosos e encantados diante de tudo aquilo.

Rayrack e os Irmãos Sam deram até mesmo um passo à frente, para apreciar todos os detalhes.

— Acho que você se esqueceu de alguns detalhes, grande homem…

— PARE A BATALHA, JÁ! — gritou o demônio musculoso e alaranjado, encarando o suposto juiz da arena, que logo o respondeu firmemente.

— Pela regra geral e que também está contida no livro do Coração das Sombras, as batalhas da Ruína de Maple só serão encerradas em caso de rendição, morte de um dos adversários ou a retirada de um dos oponentes da área da arena, durante o combate. E nesse caso, nada disso aconteceu até o instante.

— ENTÃO DESISTA! — gritou o demônio musculoso, novamente.

O grandalhão não o respondeu ou sequer demonstrou qualquer indício de que havia desistido. Muito pelo contrário, ele ainda tentava se reerguer, mas falhava miseravelmente todas as vezes naquele curto espaço de tempo.

Sanches prosseguiu:

— Primeiramente, não estamos na cidade! Naquele lugar, você pode subestimar qualquer pessoa armada diante de si… e aguentar até trinta balas de fuzis, sem qualquer preocupação, com esse seu grande corpo. Mas acho que no fim, você se confundiu.

Sanches recarregava sua arma lentamente, ainda recolocando a terceira bala do compartimento de seis.

— Você até poderia ter durado mais, se tivesse lutado contra o meu “pequeno verme” como nomeou. Mas é uma pena que seu ego e arrogância excederam os limites.

O demônio musculoso ainda implorava, aos berros, para que o mentoreado se rendesse.

Sanches, com sua arma completamente recarregada, cessou seu andar, ficando de frente para o seu adversário, que estava com a cabeça abaixada.

O Agente apontou seu revólver para a cabeça daquele mentoreado, indagando-o:

— Você ainda pode viver; será que hoje é o dia que você se curvará perante todo o seu orgulho? Se rendendo diante de um ser humano com um quarto de todo o seu tamanho!?

Todos ao redor observavam aquela cena, tensamente. Outros mentoreados que acabavam de chegar à Ruína se aproximavam rapidamente da arena, cochichado entre si.

O grandalhão levantou seu rosto e encarou Sanches. O revólver do agente estava praticamente grudado em sua cabeça.

Inesperadamente, o mentoreado retirou a parte superior de sua capa, revelando seu rosto em para todos ao redor. Quase toda a sua face era coberta de tatuagens. Seu cabelo era curtíssimo; e seus olhos castanhos.

Alguns olhares de outros mentoreados demonstraram medo.

Aquele homem era desconhecido para Sanches e Slezzy.

— Você acha mesmo… — O grandalhão tentava se expressar em meio aos seus gemidos; recorrendo de suas últimas forças para tentar transferir um rápido soco com seu braço direito, na direção do rosto de Sanches, gritando depois. — QUE EU VOU ME CURVARIA PERANTE ALGUÉM COMO…

Aquelas palavras foram interrompidas pelo barulho dos seis tiros disparados pelo revólver de Sanches, que ecoou ao redor de toda a arena.

Alguns dos que reagiam ao combate, passaram a tremer partes de seus corpos.

Slezzy se impressionou.

— Batalha finalizada por morte de um dos oponentes! — gritou o suposto juiz.

O corpo do grandalhão caiu por completo; com seis perfurações em sua face. Sem contar com as outras seis ao longo do resto de seu cadáver.

Sanches passou por cima do grande corpo, quase tropeçando devido ao seu tamanho; caminhando em direção ao demônio musculoso e alaranjado.

Aquele corpo, logo depois, passou a ser rodeado pelo próprio sangue.

— O QUE VOCÊ QUER? SEU DESGRAÇADO! — gritou aquele demônio, com um tom raivoso, diante de Sanches.

O agente o encarou por longos segundos, enquanto Slezzy e os outros demônios se aproximavam.

— Da próxima vez, ofereça seu contrato para alguém digno. Ou então… todos vão acabar da mesma forma! — afirmou o Agente, confrontando aquele demônio com seus olhares; depois, saiu de sua frente em lentos passos.

Slezzy e o Agente se reuniram. Em seguida, caminharam pela Ruína afora.

— Me desculpe por fazer você perder seu tempo, garoto. Mas tem certas coisas que eu não consigo aturar… — respondeu Sanches, em voz alta.

À medida que eles caminhavam, ganhavam olhares da maioria dos mentoreados ao redor, que naquele momento já fofocavam entre si a respeito da batalha.

— Vamos sair daqui! — ordenou o Agente.

Slezzy concordou, sacudindo sua cabeça.

Os dois mentoreados juntamente com seus três demônios, caminharam até outra entrada, do outro lado da Ruína.

Olá, eu sou o Chris Henry!

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