Capítulo 139 – O Velho e o Novo
Tradutor: Cybinho
Bi De e Miantiao ficaram em silêncio enquanto caminhavam juntos. Enquanto juntos, era o estado normal das coisas. Miantiao era do tipo silencioso, e Bi De apenas apreciava a companhia da Serpente. Miantaio riu enquanto Yin provocava os macacos na brincadeira. Ela saltou ao redor das árvores e no telhado, para o riso estridente das criaturas. O próprio Mestre de Bi De estava imerso em uma conversa com o Mestre Gen, o velho macaco gesticulando ao redor enquanto ele preparava um dos pequenos e ocasionalmente estendendo a mão para dar uma tragada em seu cachimbo.
Era um pouco surreal, pensou Bi De, vagar por um lugar tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente de Fa Ram. O Qi ambiente aqui era maior. As Bestas Espirituais, ou pelo menos, as quase Bestas Espirituais faziam suas tarefas, ajudando o humano Song Ten.
Os macacos eram espertos. No entanto, como sua própria prole, a maioria parecia não possuir uma verdadeira centelha própria. Uma coisa mais chata e silenciosa. Como os servos de Chow Ji.
Bi De sentiu um leve desgosto pelas criaturas serviçais, mas havia pouca semelhança com aqueles ratos até agora. Os macacos pareciam bem cuidados, embora suas personalidades fossem menos travessas do que Bi De achava que deveriam ser. Outra parte das coisas que Bi De sabia, mas muitas vezes eram incorretas. As feras aqui eram relativamente sérias e diligentes, cuidando das minas e até se comunicando por meio de sinais com as mãos, além de suas chamadas e linguagem corporal usuais.
Os que estão sob o solo universalmente usavam capacetes e tinham berloques((Um berloque é um pequeno enfeite ou pingente normalmente pendurado em uma pulseira ou corrente)) de cristal sobre eles, feitos com amor por outros macacos.
Ele agora havia encontrado três bestas que tinham poder sobre seus próprios parentes; Chow Ji, aquele lobo que aterrorizou a vila de seu aluno, e agora Mestre Gen. Bi De se perguntou se ele tinha a mesma habilidade – comandar as galinhas menores.
Ele não sabia. Ele nunca tentou, realmente tentou dar ordens a elas como ele testemunhou. Ele poderia infundi-los mais com sua força? Uma questão interessante para explorar mais tarde.
Bi De e Maintiao vagavam pelos arredores deste lugar, esta Colina dos Cristais, como o Mestre Gen o chamava. O dia estava chegando ao fim e todos estavam descansando. Mestre Gen começou a criar a formação, derramando pergaminhos tão velhos que quase eram poeira, copiando as runas arcanas que faziam a cabeça de Bi De doer só de olhar para enquanto pedia que infundissem seu Qi na matriz.
Uma tarefa que era chata e desgastante em igual medida. Mas essa era a troca, hora de arriscar.
Trinta mudanças da temporada. Trinta invernos. Trinta anos. Bi De… Bi De não conseguia compreender. Ele conhecia os ciclos. Ele sabia do tempo. No entanto, muita coisa havia mudado em apenas dois anos. Ele não conseguia imaginar a transformação em trinta. Lembrou-se das aldeias queimadas que tinha visto. A própria década de vingança de Miantiao. O Bi De ainda existiria em dez anos? Ele esperava que sim.
E então, se algo acontecesse… ele teria esperado trinta anos pelo fracasso de qualquer maneira.
No final, não era uma boa escolha.
Ele queria saber do que se tratava essa formação. O que causou a calamidade.
No início, tinha sido apenas sobre as danças. Curiosidade. O que eles fizeram? Ele viu apenas uma pequena parte da formação e a presumiu inteira. Uma busca curta para aprender e crescer. Mas agora .. isso não era mais o caso. As danças e a formação estavam ligadas a essas visões passadas. A calamidade que tinha queimado a província em cinzas.
Ele saberia o que tinha acontecido. E depois disso, ele tinha um objetivo.
Para nunca mais deixar isso acontecer. Se isso ocorresse, então Fa Ram poderia ser engolido, ou Hong Yaowu, ou o Oitavo Lugar Correto.
A matriz estava morta e apodrecendo. Já era há milhares de anos. Recuperada pela natureza. Tomada por bestas espirituais.
Mas as imagens que ele tinha visto eram muito vívidas. Elas eram dolorosas demais para serem ignoradas.
Assim, ele aprenderia os segredos deste cristal. Ele os estudaria e não permitiria que os erros do passado surgissem mais uma vez. Mesmo que ele tivesse que arrancar cada pedra e mudar as danças que haviam sido ensinadas por mais tempo do que havia na memória.
Ele parou na beira da pequena fazenda, em seus próprios Grandes Pilares cobertos de cordas velhas e pedaços de cristal.
Alguma forma de proteção. Bi De podia sentir pouco com isso. Ele realmente não tinha notado isso. Houve um leve formigamento na borda de seus sentidos, mas nada que o fez parar e prestar atenção.
‘Uma construção interessante. É útil manter os indesejados fora.’ Miantiao sussurrou ao lado de Bi De, olhando para os cristais. Bi De conhecia bem seus arrependimentos e seu interesse. Se a aldeia de Miantiao tivesse isso, então Sun Ken nunca teria massacrado os habitantes ou acabado com o Mestre de Miantiao.
Bi De estava interessado, mas cético. Parecia bom demais para ser verdade.
“É uma grande coisa, não é?” Song Ten perguntou quando ele se aproximou deles. Um pequeno rosto azul apareceu por cima do ombro. O homem olhou para eles com interesse.
‘De fato. Como se faz tal formação? ‘ Miantiao perguntou levemente.
Song Ten deu uma baforada em seu cachimbo. Ele olhou para a formação, avaliando-a.
“Eu não tenho ideia,” ele declarou simplesmente.
Miantião piscou. ‘O que?’ a cobra perguntou, confusa.
“Nós a mantemos o melhor que podemos. Mas se há um registro de como foi criado, tal coisa nunca foi deixada para nós. Ou Mestre Gen. Nós não conhecemos todos os materiais, a base para o ritual, todos os requisitos para o alinhamento dos cristais…” Song Dez suspirou e deu de ombros.
‘Mas você não poderia tentar recriar este lugar, usando o que você sabe?’ — perguntou Bi De.
Song Ten balançou a cabeça. “Eu tentei uma centena de vezes. Nada. Continuou falhando. Foi o que me trouxe aqui em primeiro lugar, prestar meus juramentos ao Mestre Gen, e não estou mais perto agora, depois de quarenta anos, do que estava no começo.”
Tanto Bi De quanto Miantiao consideraram as palavras do homem.
“No meu tempo com Master Gen, uma coisa é clara. O tempo degrada todas as coisas. A Glória do passado nunca deve ser refeita. Tudo o que podemos fazer é estudar o trabalho deles e esperar imitar uma fração de sua glória.” Ele deu um pequeno sorriso sardônico. “Os cristais do passado eram maiores. Eram melhores, com menos defeitos. Você mesmo sabe. O cristal de gravação que você trouxe está além da qualidade que essas colinas produzem hoje em dia.”
Isso era verdade? Bi De franziu a testa. A grande formação que se estendia por toda a serra. Os cristais poderosos. As visões que ele teve do cristal que eles estavam tentando consertar. Suas palavras não eram inteiramente falsas, eram? Eles eram menores do que o passado.
Song Ten olhou para a expressão ponderada de Bi De. “Costumava haver centenas de Bestas Espirituais aqui, ou assim dizem os contos. Que eles poderiam até se transformar em humanos. Muitos partiram, para viajar para fora da província ou viver entre o povo. No entanto, agora… tudo o que resta é isso.”
Ele gesticulou para a frente para as terras. O vento soprava entre as árvores. Como tantos lugares nas Colinas Azure, era um resquício do que veio antes.
Song Ten parecia melancólico. “Espero que você encontre algum valor nesse seu cristal. A Profunda Sabedoria dos Antigos sempre supera a nossa. ”
Bi De franziu a testa para a antiga formação. Algumas das palavras de Song Ten eram verdadeiras. No entanto… eles tinham uma falha. Ele se voltou para seu Grande Mestre – que tinha um macaco nas costas passando por seu cabelo enquanto ele mesmo mexia no pelo de outro. Vários estavam pendurados em seus braços e dois estavam usando seus pés como assentos.
Song Ten riu com a vista enquanto o Mestre Gen os observava e fumava seu cachimbo.
‘Com todo o respeito, Mestre Song Ten, não acredito que o passado seja sempre o auge. Eu acho que eles podem ter crescido a uma altura elevada… Mas com o tempo podemos superar isso. Afinal, conheço uma Besta Espiritual que se transformou em humano, que mudou em menos de um ano.’
Song Ten deu uma baforada no cachimbo, considerando as palavras de Bi De.
“Vou acreditar quando vir”, ele finalmente disse, balançando a cabeça.
Houve um chamado para o jantar quando um macaco vestindo um avental saiu desajeitadamente da casa, para grande diversão do Grande Mestre.
Bi De soltou um suspiro e olhou para o céu. Amanhã seria outro dia inteiro de trabalho na formação antes que a transferência pudesse começar.
Tomara que termine bem. Esperançosamente ele teria suas respostas e veria seus companheiros novamente. Seu Grande Mestre havia dito que depois disso eles viajariam para Picos Duelantes.
Um torneio. Um lugar para batalhar. Tigu provavelmente estava se divertindo muito, cercada por outros que desejavam lutar.
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Tigu estava na beirada de seu assento enquanto observava a arena abaixo dela. Qi girou em torno dos combatentes. Seus rostos eram máscaras de concentração enquanto eles davam tudo de si lutando contra seu inimigo.
No entanto, houve um lapso de concentração, uma abertura.
Os olhos do jovem se arregalaram quando o Qi saiu do controle e a fornalha de pílulas começou a tremer e chacoalhar.
Ele a empurrou para fora do banco e mergulhou para o lado atrás da parede. A fornalha de pílulas atingiu o fundo da vala construída para esse propósito – mas em vez de simplesmente rachar e desencadear um baque abafado que aconteceu com o competidor anterior, seu topo explodiu e enviou a fornalha rolante direto para o ar, onde então explodiu em um flash de luz multicolorida.
“Ele tentou acelerar o processo e assumiu um risco calculado! Mas eu declaro que ele precisa estudar mais suas formações matemáticas!” o Locutor declarou enquanto a multidão uivava de tanto rir. “Acho que é o melhor que já tivemos!”
“Isso é ótimo,” Gou Ren declarou enquanto enfiava mais comida em sua boca. Ele não estava tão incomodado com a presença da Lagoa Úmida((Apelido da Tigu pra Xianghua))… e nem a Lâmina de Grama Menor. Mas isso era principalmente porque a mulher parecia que a morte havia andado sobre seu túmulo e estava estremecendo a cada explosão. O resto do Petalas estava de volta na casa e parecendo terrivelmente derrotado. Tigu já tinha visto suas expressões antes, quando os convidados vieram para o casamento de seu Mestre. Era uma “ressaca”, uma doença para a qual Ri Zu dizia não ter cura.
“Acho que eles viram isso na cidade do Lago da Lua Pálida!” o Locutor gritou quando outra fornalha explodiu.
Tigu riu e aplaudiu junto com os irmãos Xong. Isso foi espetacularmente empolgante, e os comentários do Homem Gordo estavam tornando ainda melhor. Houve Qi e explosões. Não foi uma luta real, mas foi divertido.
Ri Zu não parecia pensar assim. Ela descobriu que havia fornalhas de pílulas envolvidas e se recusou a vir, ficando na casa com o resto das Pétalas gemendo e olhando seus pergaminhos médicos. Pelo que Tigu viu ela estava olhando a estrutura das pernas e fazendo anotações.
Ela disse que se apresentaria a Lagoa Úmida e seu irmãozinho em breve. Tigu estava bastante orgulhosa dela!
Mas havia um pequeno defeito nas coisas.
“Eu gostaria que o Mestre estivesse aqui,” Tigu gritou acima da multidão para Xiulan. “Ele iria gostar muito disso.”
Xiulan riu quando o topo de uma fornalha de pílulas se abriu, cuspindo flâmulas multicoloridas de luz. “Sim, acho que Mestre Jin gostaria muito disso,” ela concordou.
Elas se acomodaram pelo resto do dia. Elas se encontraram com Garoto Barulhento novamente, assim como Trapos e Homem bonito((é estranho essa forma de chamar eles, mas é tudo apelido que a Tigu dá)), para ir ver a apresentação daquela noite.
O Conto do Primeiro Imperador era meio chato, mas ainda assim agradável.
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Um homem assistiu a uma gravação. Seus olhos estavam focados nele completamente. Os movimentos. As posições de seus braços.
Os olhos ferozes. O olhar de alegria em seu rosto enquanto ela golpeava seu oponente até a submissão. Lu Ban sorriu. Sim, ela era perfeita. Bem, não perfeita. Ela precisaria de algum trabalho primeiro, para cultivar adequadamente essa violência. Mas ela tinha potencial. A maneira como seus olhos se estreitaram em fendas e seu corpo se contorceu. E ela estava na categoria dos sem seitas. Ela tinha certeza de pular em sua oferta.
Rou Tigu era, no que dizia respeito a Lu Ban, ainda melhor que Cai Xiulan. Afinal, esta viagem não tinha sido desperdiçada.
Lu Ban sorriu, mesmo quando houve uma batida em sua porta.
“Jovem Mestre, o relatório que você pediu.” A voz de Chang atravessou a parede.
“Você pode entrar,” ele declarou, reiniciando a gravação. “Nada?” ele perguntou, fingindo tédio. Ele queria saber mais sobre suas futuras aquisições. Um banquete e um servo. Verdadeiramente os céus estavam sorrindo para ele.
“Eles não pareciam cientes de minha observância, Jovem Mestre. Pouco se notou. Ela é do norte da província. No entanto, Rou Tigu mencionou um mestre. Cai Xiulan se referiu a ele como Mestre Jin,” Chang disse, inclinando a cabeça.
A mão de Lu Ban teve um espasmo. “Mestre Jin?” ele perguntou, seu bom humor morrendo.
Do Norte. Norte, onde foi humilhado. Humilhado por um Jin.
“Sim, Jovem Mestre.”
A mão de Lu Ban começou a tremer quando ele cerrou os punhos.
“Eu vejo. Saia.”
Mestre Jin.
“Você conhece um Jin Rou?” o homem em seu quarto exigiu, a intenção inundando seu corpo. Seus olhos eram frios e resolutos, como a face de uma montanha que se erguia acima das nuvens.
Rou Tigu. Mestre Jin. Mestre Jin Rou? Rou Jin?
Ele cerrou os punhos até que o tremor parou.
O sangue pingava no chão, onde suas unhas haviam cortado a pele.
