Combo 81/100
— Tudo bem. — Lumian assentiu para o gerente René.
Lumian enxugou a boca com um guardanapo e se levantou. Ele caminhou em direção a uma das sacadas da cafeteria, lançando os olhos sobre o cenário noturno da Avenue du Marché.
Os postes de luz a gás lançavam um brilho suave e dourado, iluminando as carruagens e os pedestres que atravessavam a rua.
Naquele momento, as pessoas afluíram ao Salle de Bal Brise, uma após a outra, juntando-se à folia.
Para ser honesto, Lumian preferia a atmosfera aconchegante do bar do porão do Auberge du Coq Doré a este lugar. Isso lhe permitia relaxar e encontrar diversão.
Da perspectiva dele, os clientes do Salle de Bal Brise eram excessivamente autoindulgentes. Eles pouco se importavam com suas famílias ou seus futuros. Tudo o que buscavam era uma noite de folia, afogando-se em álcool, luxúria, dança e tumulto. Em contraste, os frequentadores do bar do porão eram, em sua maioria, inquilinos do Auberge du Coq Doré.
Eles retornavam por volta das 21h ou 22h e tinham que estar na cama à 1h. Eles bebiam, cantavam, se gabavam e brincavam, aproveitando ao máximo aquelas fugazes duas a três horas para encontrar sua própria fatia de alegria.
Só então reuniram coragem para enfrentar as árduas tarefas do dia seguinte e abraçaram a promessa de um novo amanhecer.
Era semelhante às lamparinas de querosene que precisavam ser reabastecidas regularmente para continuar a emitir luz.
Lumian examinou a Avenue du Marché por alguns minutos antes que sua atenção fosse abruptamente atraída para uma figura familiar.
Lá estava Charlie, vestindo uma camisa branca e um colete azul, envolvido em uma briga de rua, com seu casaco formal casualmente pendurado no braço.
“Agora sim…” Lumian sorriu, um toque de nostalgia e sentimentalismo tomou conta dele enquanto usava uma expressão que tinha ganhado popularidade recentemente.
Pressionando sua mão direita contra a sacada, Lumian saltou graciosamente do segundo andar, pousando agilmente na beira da Avenue du Marché. Com alguns passos rápidos, ele chegou à briga de Charlie.
Ele não fez nenhum movimento para intervir ou ajudar Charlie. Em vez disso, observou a luta com grande interesse.
A outra parte envolvida nessa briga com Charlie era um jovem magro de vinte e poucos anos, possuidor de pele escura e olhos fundos. Seus lábios eram grossos, e seu cabelo preto levemente encaracolado o marcava como um descendente da linhagem Ilhéu do Mar da Névoa. No entanto, comparado aos seus companheiros ilhéus, ele parecia um pouco mais apresentável.
— Trapaceiro! Seu maldito trapaceiro! — Charlie xingou, seus xingamentos entrelaçados com a briga.
O ilhéu, vestindo uma camisa azul e com uma caneta-tinteiro enfiada no bolso do peito, habilmente desviou do ataque de Charlie enquanto dava uma explicação.
— Eu também não queria que isso acontecesse. Eu também fui vítima de um engano!
— Vá se fuder! — O chute de Charlie errou o alvo.
Os dois se envolveram em sua briga amadora até que suas respirações ficaram irregulares. Simultaneamente, diminuíram seus movimentos e eventualmente cessaram sua luta.
Só então Charlie percebeu Lumian parado ao seu lado, observando a briga com um sorriso.
— Ciel, é Monette! Aquele vigarista! Aquele que me enganou e me tirou 10 verl d’or, quase me deixando morrendo de fome! — O rosto de Charlie se iluminou enquanto ele ansiosamente revelava a identidade de seu adversário. — Louvado seja o Sol por me conceder este encontro!
“O ilhéu que Charlie considerou merecedor de um destino terrível…” Lumian riu sozinho.
— Você também tem parte da culpa. Você nunca ouviu o ditado? ‘Nunca confie em um ilhéu.’
— Achei que fôssemos amigos, — Charlie murmurou, sua frustração evidente.
“Como você pode ser tão ingênuo e facilmente influenciado? Você também possui um certo talento para a travessura… Pessoas como você podem ser facilmente enganadas por indivíduos intrigantes, caindo em suas armadilhas sem ganhar nem a afeição nem as riquezas que deseja. Ah, você já foi vítima…” Lumian repreendeu, mudando seu olhar para o ilhéu chamado Monette.
Monette respondeu com um sorriso obsequioso.
— Eu realmente pretendia ajudar Charlie a encontrar emprego, mas eu também caí em um golpe e perdi todo o meu dinheiro.
— Não consegui encarar Charlie, então parti secretamente do Auberge du Coq Doré.
Enquanto falava, ele enfiou a mão no bolso e retirou um maço de notas, contando três notas de 5 verl d’or. Ele as entregou a Charlie.
— Voltei ao mercado para encontrá-lo e devolver seu dinheiro, junto com os juros.
As emoções de Charlie se acalmaram consideravelmente enquanto ele verificava a autenticidade das três notas sob o brilho dos postes de luz. Ele perguntou, ainda um tanto desconfiado, — Você é alguém que é enganado facilmente?
Desde que Charlie viu Monette até sua partida, só o viu enganando os outros. Ele nunca o viu recebendo tais acordos. Fiel à sua identidade de ilhéu.
Monette sorriu timidamente e respondeu: — Não só fui enganado uma vez, como caí na mesma armadilha uma segunda vez.
— Na primeira vez, encontrei um grupo de pessoas que alegava que o Salle de Bal Unique no Quartier de l’Observatoire queria se expandir e estava oferecendo ações para venda. Cada lote custava meros 200 verl d’or.
— Vocês todos sabem o quão lucrativo o salão de dança é. Não resisti em usar minhas economias, mas o certificado de subscrição de ações que recebi era falso!
— Eu os confrontei, apenas para ser enganado mais uma vez.
“Salle de Bal Unique…” As pálpebras de Lumian se contraíram involuntariamente.
O comerciante falido, Fitz, residente no quarto 401 do Auberge du Coq Doré, havia sido enganado em 100.000 verl d’or pelo proprietário do Salle de Bal Unique, Timmons. Fitz havia buscado a ajuda de Lumian para recuperar a quantia, mas Lumian havia investigado e consultado várias fontes. Ele achou as práticas do salão de dança duvidosas, possuindo uma rede formidável. Eles pareciam exercer um poder considerável, fazendo com que Lumian abandonasse a comissão.
Agora, ele havia encontrado outra vítima do Salle de Bal Unique.
— Você foi enganado por eles uma vez antes. Como você caiu nisso uma segunda vez? — Charlie não conseguia entender tamanha tolice.
Monette pigarreou duas vezes.
— Eles confessaram abertamente ser um grupo de vigaristas e se recusaram a devolver o dinheiro. Eles até disseram que denunciá-los às autoridades seria inútil. Impressionados com minhas habilidades, eles perguntaram se eu estava disposto a aprender a arte da enganação com eles, permitindo que eu recuperasse minhas perdas.
— No final, eles apenas me ensinaram o que eu já sabia. Eles só me deram algo mais.
— O que foi? — Charlie sempre foi curioso.
Num piscar de olhos, Monette tirou um monóculo transparente do bolso.
Ele colocou-o suavemente na órbita do olho direito. 1
Por alguma razão, Lumian sentiu uma mudança inexplicável em Monette assim que ele vestiu o monóculo. Era como se ele tivesse se transformado em um personagem completamente diferente.
Os cantos da boca de Monette se curvaram levemente enquanto ele posicionava o monóculo sobre o olho direito. Ele olhou para Charlie primeiro, depois voltou seu olhar para Lumian. Seus olhos mudaram do rosto de Lumian para seu peito e mãos.
Lumian sentiu um sutil desconforto, mas não detectou nenhum perigo imediato.
Monette sorriu e disse: — Você é Ciel, o cérebro por trás do Instrumento Idiota?
— Sim. — Lumian não negou e permaneceu silenciosamente cauteloso.
Monette ajustou o monóculo no olho direito.
— Devo dizer que sou muito hábil em pregar peças.
— Você gostaria deste monóculo? Ele não me serve para nada. Eu poderia trocá-lo por algum dinheiro. Com ele, você pode se disfarçar como um membro do Salle de Bal Unique e ganhar uma boa quantia de dinheiro lá.
“Eu pareço um idiota para você?” Lumian prontamente rejeitou a sugestão de Monette sem hesitação.
— Não tenho interesse em usar monóculos.
Ele sempre foi cético em relação às regras peculiares do Salle de Bal Unique, mantendo-se em guarda.
Decepcionado, Monette redirecionou o olhar, tirou o monóculo e se virou para Charlie.
— Eu lhe dei o dinheiro e os juros. Se você precisar de alguma coisa no futuro, venha me encontrar no Salle de Bal Unique.
Charlie zombou com desdém.
Ele ainda nutria suspeitas de que Monette havia pretendido enganá-lo no passado.
Depois que o ilhéu saiu da Avenue du Marché, Lumian se virou para Charlie.
— Lembre-se de manter distância daquele sujeito. Caso contrário, você pode acabar encontrando a mesma situação com Susanna Mattise.
A última parte de sua declaração foi uma invenção, principalmente para incutir medo em Charlie e garantir que ele levasse o conselho a sério.
Charlie ficou imediatamente alarmado. Sem questionar mais, ele rapidamente assentiu e respondeu: — Tudo bem, tudo bem!
…
À meia-noite, Lumian e Jenna, que esta usando um vestido vermelho brilhante, saíram do Salle de Bal Brise e seguiram em direção à Rue des Blouses Blanches.
Jenna não perguntou sobre o motivo da rota deles. Após um momento de silêncio, ela falou.
— Você já se sentiu como se nada importasse? Perdido e sem motivação?
— Claro, — Lumian respondeu casualmente, seu olhar fixo na rua à frente. — Em tais momentos, você deve redescobrir o significado da vida e determinar o que realmente importa para você.
Jenna ficou em silêncio mais uma vez. Depois de um tempo, ela perguntou: — Você já experimentou algo parecido com uma ilusão se despedaçando dentro de você? Um cosmos misterioso se materializando, adornado com estrelas de tamanhos variados?
— Não, — Lumian respondeu após uma breve pausa.
Ele havia experimentado a sensação de objetos ilusórios se desintegrando abruptamente. Isso ocorria toda vez que a poção era completamente digerida. No entanto, ele não sabia nada sobre o cosmos misterioso ou as estrelas brilhantes de diferentes magnitudes.
Jenna permaneceu em silêncio, pensando profundamente nas implicações desse fenômeno ou contemplando outros assuntos.
Logo chegaram ao apartamento 601, Rue des Blouses Blanches, nº3.
Franca já estava de volta e os observou com cautela enquanto eles entravam lado a lado.
Antes que ela pudesse perguntar, Jenna levantou o tópico das ilusões destruídas e do surgimento do cosmos misterioso.
Franca ficou surpresa, mas falou alegremente: — Sua poção Assassina foi completamente digerida! Assassinar um membro do parlamento em público e sob forte segurança certamente facilitou o processo de digestão.
“Isso é um sinal de digestão de poção?” Lumian não conseguiu esconder sua surpresa e perplexidade.
— Por que sinto apenas a primeira metade e não a segunda?
Franca o examinou com desconfiança.
— Você nunca experimentou isso antes? Como você progrediu então?
“O selo em mim não está apenas restringindo Termiboros, mas também restringe alguns dos meus sentidos místicos? Isso mesmo. O selo reside dentro de mim. É impossível que ele tenha impacto zero…” Lumian formulou uma hipótese vaga e casualmente a descartou.
— Não foi tão pronunciado.
Franca, mais preocupada com sua companheira, não insistiu mais no assunto e perguntou curiosamente a Jenna: — Então, você conseguiu resumir os princípios da atuação?
— Princípios de atuação? — Jenna ponderou por um momento. — Após o assassinato, aprendi muitos princípios. Sim, assassinato é uma questão de arriscar a vida. É a forma máxima de punição, uma calamidade para aqueles criminosos…
Mergulhando entusiasticamente no “método de atuação” e discutindo princípios de atuação com Jenna, Franca de repente se lembrou da presença de Lumian.
— O que… qual é o problema? — Ela olhou para seu companheiro, que havia se acomodado no sofá.
Lumian encontrou seu olhar e indicou que eles precisavam falar em particular.
Jenna entendeu imediatamente, pediu licença para trocar de roupa e foi para o quarto de hóspedes.
Lumian abaixou a voz e se dirigiu a Franca: — O que você acha de Hela? Que tipo de pessoa você acha que ela é?
- ai meu cu[↩]