Combo 02/50
Ao ouvir a pergunta de Lumian, Anthony Reid, com seu rosto redondo ligeiramente rechonchudo e sua pele levemente brilhante, fixou seus olhos castanhos escuros nele por um momento antes de responder: — Não tenho certeza do que você quer dizer.
As emoções do corretor de informações pareciam estáveis, e sua expressão parecia inalterada. Era quase como se a morte de Hugues Artois não o tivesse afetado nem um pouco.
O sorriso de Lumian se alargou, e ele não pressionou mais. Apontando para o nível inferior, ele sugeriu: — Deixe-me pagar uma bebida para você. Você me ajudou no passado, e nós lutamos lado a lado. Considere isso um gesto de despedida.
Anthony Reid coçou a linha do cabelo amarelo-claro com a mão livre, enquanto a outra segurava uma mala, ponderando brevemente antes de admitir: — Ok.
Descendo a escada estreita e iluminada a gás, a dupla entrou no bar no subsolo e se sentou no balcão.
— Qual é o seu preferido? — Lumian perguntou em um tom casual, como se tivesse acabado de entrar em sua própria casa.
— Absinto de erva-doce, — respondeu Anthony Reid sucintamente.
— Absinto, hein? — Lumian riu, tirando uma moeda de prata verl d’or e quatro coppet. Ele as jogou para o barman, Pavard Neeson, que ostentava um rabo de cavalo. — Duas taças de Somersault.
Somersault era uma gíria de bar que significava uma porção dupla de absinto de erva-doce e uma medida de “pequena múmia”.
Pequena Múmia custava sete licks, enquanto a dupla porção precisava de doze.
Pavard Neeson habilmente virou copos comuns e os encheu com um líquido verde para Lumian e Anthony Reid.
Enquanto Lumian tomava um gole, ele saboreou o amargor e a revitalização familiares. Ele observou Pavard Neeson, cuja barba castanha escura emoldurava seus lábios, murmurando em um tom baixo e insinuante,
— Ciel, você tem alguma dessas drogas peculiares?
O dono do bar e pintor amador acreditava que Ciel, um notório líder de máfia, certamente possuía algumas rotas para obter substâncias proibidas.
Lumian acariciou o vidro com o polegar e sorriu, perguntando: — Que tipo de droga você está procurando?
Reconhecendo que Anthony Reid era um corretor de informações frequentemente envolvido em negócios ilícitos, Pavard Neeson não se conteve, explicando em tom baixo:
— Drogas psicotrópicas proibidas. Fuuu, quando aquela árvore estranha me afetou, criei o rascunho do qual mais me orgulhava. Na verdade, não era apenas minha peça mais satisfatória; ela incorporava a estética que sempre busquei, mas nunca alcancei. Ela canalizava perfeitamente meus pensamentos e convicções. Desde então, essa sensação me iludiu completamente. Cada tentativa se transformou em merda de cachorro! Estou pensando em experimentar drogas psicotrópicas, na esperança de recapturar essa sensação.
Lumian tomou outro gole do absinto nebuloso, seus lábios se curvando em um sorriso irônico,
— Se eu fosse você, eu me afastaria completamente da pintura. Você não tem aptidão inata.
Sem esperar pela resposta de Pavard Neeson, ele riu e declarou: — Depender de drogas para criações aceitáveis significa sua falta de talento!
— Mas muitos pintores famosos recorreram a isso… — Pavard Neeson começou, apenas para ser interrompido por Lumian. Ele estalou a língua e interrompeu: — Isso é uma indicação de que suas faculdades criativas estão diminuindo, sua fonte de inspiração está secando.
— Isso não é trapaça? Colocar obras movidas a drogas contra as de outros artistas, mal conseguindo uma vitória. Ganhar um lugar em uma exposição e proclamar orgulhosamente a cada visitante: ‘Vejam, eu sou desprezível. Eu possuo um complexo de inferioridade. As drogas são minha proeza, e os demônios são meus pais.’
Ao ver o rosto de Pavard Neeson ficar pálido, Lumian abriu os braços ligeiramente, sondando: — Isso te enche de orgulho?
— Se você tivesse talento, não seria mais um pintor amador. Mesmo que a aclamação da crítica lhe escapasse, e a Associação Mundial de Artistas o desprezasse, galerias privadas viriam atrás. Você entende a dura realidade melhor do que eu.
Nesse momento, o sorriso de Lumian se alargou.
— Drogas não vão te salvar. Elas estão disponíveis para todos, como uma mercadoria comum. Quando todos recorrem a elas, não serão colocados contra suas habilidades e padrões inatos?
Os lábios de Pavard Neeson tremeram, mas ele permaneceu sem palavras.
Com uma expressão sombria, ele deu alguns passos para trás, afundando-se no assento, como se seu espírito tivesse deixado seu corpo.
Anthony Reid, que estava calmamente tomando absinto de erva-doce, virou seu olhar para Lumian. — Você não é fã dessas drogas psiquiátricas proibidas?
— Não sou? — Lumian zombou.
Anthony Reid desviou sua atenção para Pavard Neeson, visivelmente lutando com sua turbulência interna, e falou contemplativamente. — Você parece tê-lo influenciado.
— Eu apenas alimentei as brasas de sua culpa, — Lumian respondeu com calma e compostura.
Anthony Reid assentiu gentilmente. — Mas e se sua persuasão não for suficiente?
Lumian riu. — Eu não sou padrinho dele.
Se ele não conseguisse convencê-lo, que assim seja.
Anthony Reid fez uma breve pausa antes de voltar seu olhar para Lumian.
— Seu método de dissuasão se desvia de sua abordagem usual. Isso é atuação?
“Impressionantemente observador e astuto, como esperado de um Beyonder de Sequência Média do caminho do Espectador… Se eu puder acender o fervor interior dentro do coração de um Espectador, isso deve ajudar muito minha digestão…” Lumian refletiu internamente. Segurando seu copo de líquido verdejante, ele olhou para frente e respondeu: — Eu tropecei em alguns panfletos antes. Eles mencionaram que Hugues Artois desertou suas tropas durante a guerra contra o Reino Loen alguns anos atrás, levando a inúmeras baixas.
Anthony Reid permaneceu em silêncio, saboreando seu absinto de erva-doce em silêncio.
O olhar de Lumian se voltou para o balcão vazio do bar enquanto ele continuava: — Lembro que você lutou contra os efeitos persistentes do TEPT daquela guerra alguns anos atrás.
Anthony Reid tomou outro gole do licor verde.
Lumian optou por não trazer à tona o cartaz da eleição parlamentar encontrado na sala do corretor de informações. Ele olhou para o copo vaziu de Pavard Neeson e murmurou para si mesmo: — Se a única motivação é animosidade em relação a Hugues Artois, então a notícia de seu assassinato seria recebida com júbilo e ele beberia até cair no bar.
— Mas se alguém deseja desvendar a razão por trás das ações de Hugues Artois, entender como ele conseguiu entrar na política e concorrer ao parlamento apesar de seu passado e descobrir as cordas que estão sendo puxadas a seu favor, é preciso procurar outras migalhas de pão para conceder ao falecido alguma aparência de paz.
— Os Beyonders oficiais deveriam estar neste caso, mas eles trabalham sob muitas restrições. Eles não têm a ousadia indomável dos Beyonders não-oficiais.
Ainda sentado, Anthony Reid tomou outro gole de absinto de erva-doce.
Lumian riu.
— É realmente um enigma irritante. Os obstáculos são incontáveis, e os perigos são reais. A rendição se torna uma opção tentadora para todos. No final, porém, Hugues Artois jaz morto. O instigador daquela tragédia repousa no túmulo. As almas dos que partiram devem encontrar algum consolo.
Anthony Reid parou de beber, seu rosto de meia-idade não revelava nenhuma emoção.
Lumian olhou em sua direção, baixou o tom e sorriu com conhecimento de causa.
— Pessoas atormentadas por doenças mentais graves não conseguem ascender muito no caminho do Espectador. E mesmo que cheguem a um platô, estímulos externos podem desencadear lapsos catastróficos, transformando-os em monstruosidades. Neste mundo cada vez mais perigoso, a estabilidade é apenas um desejo distante para Beyonders falhos.
Nesse momento, Lumian controlou sua expressão e fixou seu olhar no perfil de Anthony Reid. Ele perguntou, sua voz ressoando com seriedade, — Você quer fugir carregado de remorso e relutância, definhando nas garras de se tornar um monstro, se afastando de seus antigos camaradas, ou ousa se aventurar em busca da verdade, cortejando o perigo e criando sua própria saga heroica?
Sem reconhecer a resposta de Anthony Reid, Lumian desceu graciosamente do banco do bar, pegou seu absinto de erva-doce e bebeu o restante de um só gole.
Com isso, ele sussurrou no ouvido de Anthony Reid: — Eu contribuí para a queda de Hugues Artois. Ainda estamos resolvendo o problema dele.
Observando o leve tremor de Anthony Reid, Lumian se endireitou e saiu do bar subterrâneo sem olhar para trás.
Ele voltou para o quarto 207, sem se preocupar em fechar a porta atrás de si, e acendeu a lamparina de carboneto.
Com um giro casual, girou a cadeira e se acomodou nela, sua postura relaxada enquanto ele se fixava no corredor escuro lá fora.
Lumian esperou em silêncio anormal, pois tinha certeza de que a figura que esperava se materializaria.
À medida que os minutos passavam, as vozes do casal aumentaram e se tornaram uma nova discussão, e os bêbados barulhentos começaram a aparecer na rua.
O som suave de passos hesitantes se aproximava do Quarto 207, cada som ecoando a incerteza.
Um sorriso malicioso surgiu nos lábios de Lumian, e ele se reclinou na cadeira, com o olhar fixo na porta.
Em pouco tempo, Anthony Reid apareceu, vestido com uma camisa verde-militar e calças combinando, finalizado por botas altas de couro. Seu cabelo estava curto e fino.
De pé dentro do círculo de luz lançado pela lâmpada de carboneto, ele olhou para Lumian sentado à mesa de madeira, um sorriso irônico adornando seus lábios. Suas feições dançavam em uma exibição contorcida.
Num timbre rico, ele entoou: — Eu sei que você está tentando me provocar. Eu sei que você está atuando, mas… você está certo…
Anthony Reid, de meia-idade e envelhecido, levantou a mão direita e a pressionou contra o peito, sua expressão era de forte determinação.
— Nos últimos anos, meu coração foi marcado pela angústia e pela raiva justificada.
Um sorriso culpado enfeitou o rosto de Lumian enquanto ele fechava os olhos momentaneamente, sentindo a poção de Piromaníaco sendo digerida um pouco.
Ele se levantou e se dirigiu a Anthony Reid, dizendo: — A verdade exerce o mais poderoso poder de persuasão.
Anthony Reid sentiu um peso sendo aliviado depois de falar, o conflito interno e a confusão diminuindo.
Ele entrou no quarto 207, a porta fechando-se com um clique atrás dele. Seus olhos analisaram os arredores em uma rápida avaliação.
— Você realmente eliminou Hugues Artois? Quão fundo sua investigação foi?
— Celia Bello, a que assassinou Hugues Artois, é uma amiga minha. Fui eu quem primeiro desenterrou os cultos heréticos que apoiavam Hugues Artois, — Lumian respondeu em um tom prático antes de estender um sincero pedido de desculpas. — Minhas palavras anteriores continham um engano, e por isso, eu sinto muito.
Anthony Reid ficou surpreso.
— Qual declaração?
Um sorriso travesso curvou os lábios de Lumian.
— Na verdade, ainda nem iniciamos a busca para descobrir as pessoas e as forças por trás de Hugues Artois.